No mundo das silhuetas
Vivemos numa caverna,
num mundo de silhuetas.
Preenchem tudo desde o céu ao alto
até ao fundo cá na Terra.
O que vemos e sentimos
não é como nós vemos.
É muito mais, muito diferente.
Não tem a cor dos nossos olhos
nem o cheiro que cheiramos.
Por mais apurados que eles sejam,
somos míopes,
como nos revela o telescópia,
quando amplia em muito,
todas as formas.
Eram muitas mais e bem maiores
as coisas alcançadas.
Outras cores, novos tons.
enriquecem a nossa vista.
Até dá vontade de sonhar.
Nos arrasta. Nos seduz.
Queremos tocá-las
com as nossas mãos
e pisá-las.
Tantas estrelas.
Tantas serras,
lá ao alto
e lá ao longe.
mais e mais.
cada vez maiores
e mais brilhantes.
Fazem estradas
de Santiago,
vão da Terra às galáxias.
Vão da brandura do beira-mar,
sulcam os vales,
encalçam as encostas
dobram montanhas,
como folhas dum livro
aos capítulos.
Pelos caminhos e pelas estradas,
se movem vultos
de gentes que não vemos
nem sabemos bem no fundo.
Nem de longe nem de perto.
Só o tempo e suas obras
nos revelam o seu tamanho
e dimensões,
até certo ponto.
Tão diferentes do que eram ou pareciam.
Para melhor ou menos...
Até nós mesmos nem a nós nos conhecemos.
Só o tempo e as circunstâncias do futuro,
imprevisíveis,
revelam melhor quem somos,
o que podemos e valemos.
umas vezes gigantes,
outras pequenos.
Afinal, são mais ricos,
são mais belos os cenários
e os vultos das silhuetas,
que nos circundam e envolvem.
ouvindo Hélène Grimaud ao piano,
tocando Beethoven, sempre brilhantes...
Berlin, 3 de Junho de 2015
6h45m
o sol já queima na pele
Joaquim Luís Mendes Gomes
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