quarta-feira, 31 de outubro de 2018

1 de Novembro



1 de Novembro
Retinem os sinos tristes pelas colinas de Lisboa.
É dia dos finados.
Se foram cansados desta terra sofrida e benta.
Choram lágrimas as saudades.
Se vestem de preto, como a alma,
Em lânguidas orações.
Rezam os pobres pelos ricos e os ricos pelos pobres.
Na fraternidade universal
É o fogo da cidade
Que arde quente
Pelas ruelas estreitinhas,
Com janelas e portas,
Dia e noite sempre abertas.
Ouvindo Amália em "Gaivota"
Berlim, 1 de Novembro de 2018
7h22m
Jlmg

Suaves plangências...



Suaves plangências.
Brisas do mar. Ondinhas no Tejo.
Telhados vermelhos.
Bairros com cor.
Muitas colinas.
Expostas ao sol.

Latadas de praças.
Roupas lavadas,
Estendidas em fios.
Janelas abertas.
Bancos corridos.
Novos e velhos.
Ditosa fraternidade.
Tempos passados.
Dias vindouros.
Vizinhos sentidos.
Sangue doirado.
Corre nas veias.
Gente boa.
Sempre haverá.
Lisboa antiga.
Seara madura.
Nos alimenta de amor e de paz...

Ouvindo Carlos Paredes a tocar "Verdes anos"
Berlim, 31 de Outubro de 2018
16h31m
Jlmg

Um passarinho poisou...



Um passarinho poisou na minha varanda

Vi um passarinho poisado na minha varanda.
Debicando migalhas esquecidas.
Sabiam-lhe a pão.

Olhitos nervosos.
Biquito aberto, picando no chão.
Deixou tudo limpinho.

Saltou para a mesa.
Nada achando,
Lançou-se a voar.

Com o frio que faz,
A vida está má.
Daqui em diante,
Vou cuidar que não faltem migalhas na minha varanda.
Vamos ver no que dá...

Berlim, 31 de Outubrode 2018
13h34m
Jlmg

terça-feira, 30 de outubro de 2018

O caminho da frustração





O caminho da frustração

Quem, por qualquer motivo, deixou o caminho certo e foi atrás duma ilusão,
cai num caminho, enviezado e azarento.
Nunca mais vai dar certo.

Voltar atrás, se for possível.
É o melhor.
Se não, dar um salto, nem que seja uma cambalhota e endireitar a rota.

Não nascemos por mero acaso.
Temos um papel a executar.
Recebemos os talentos adequados.
É só confiar e fazer o melhor possível.
O resto virá por si.
Assim dá certo.

O patrão é tolerante e compassivo.
Sempre à espera e à nossa disposição.
Se alegra com a nossa vinda.
E nada cobra...

ouvindo ALBINONI: ADAGIO - XAVER VARNUS PLAYS THE INAUGURAL ORGAN RECITAL OF THE PALACE OF ARTS OF BUDAPEST

Berlim, 31 de Outubro de 2018
7h32m
Jlmg

Não há mais espaço...




Não há mais espaço...

Neste mundo tão boçal já não há mais espaço para imbecilidade.
Ela se apoderou das cadeiras mais altas do poder e do dinheiro.
Poluiu tudo, até as consciências.
Enterrou bem fundo os valores do bom e mau.
Arvorou em fé o lema do vale tudo para dominar.

Destruiu os laços da solidariedade.
Cada um se "desenrrasque" como puder.
A justiça se rendeu às forças do poder.
A partir daí, é o abismo e a escravidão...

Berlim, 30 de Outubro de 2018
15h50m
Jlmg

Poesia da poesia

Poesia da poesia

Escrever poesia sobre a poesia é abrir o coração para ouvir o que vai na alma.
Falar da alegria que o inunda e da tristeza que o aflige.
Espalhar a paz se nele ela reinar.
Saborear a harmonia da temperança e equilíbrio.

Regar o jardim da consciência com o bálsamo das virtudes.
Colorir o céu com as cores do arco-íris.
Aliviar as dores de quem sofre, por amor ou injustiça.
Tratar as feridas que o mal deixou.
Ouvir quem vem para desabafar.
Repartir do que há mesmo que que não de para sobrar.
Saber calar até que a verdade acabe por falar.
Esperar em paz até que chegue tarde a boa hora.

Berlim, 30 de Outubro de 2018
9h1m
Jlmg

domingo, 28 de outubro de 2018

Lentamente...



Lentamente...

Lentamente o dia vai elanguescendo,
despindo sua manta outonal.

Paradas no céu plúmbeo,
as núvens assistem ao cerrar das cortinas
sobre o palco.
E, os corvos negros tiritando, levam nos seus bicos, as últimas carradas de pão quente aos seus filhos que ainda não voam.
Encasacadas nos cachecóis, regressam a casa as mães e seus filhos dos parques da brincadeira.

E, uma a uma, as janelas cerram suas portadas, resguardando o calor ardente das lareiras.
É a hora do sossego para toda a gente.
Vem aí a noite com seu silente escurecer.

Até as almas penadas se vão por esse mundo,
penando, inglórias, os seus pecados.

Venha a paz e o recolhimento,
Enquanto a noite espalha a sua bênção pelas casas.

ouvindo Mozart: Requiem in D minor, K626 | Gardiner
Berlim, 28 de Outubro de 2018
17h7m
Jlmg

Bateria



Bateria
Bem matraca a bateria, só, contra aquele bando encantador de violinos de cordas tensas.
Destoa tanto da melodia. 
Nada a ver. 
Não tem voz.
Se sente a mais.
Apenas rufa.
Thrunthun...Thrruntun...
Thum e Thum...
Só metralha, sem tom nem cor.
Nem mais nem menos.
Tem paletó, com paus nas mãos,
o seu autor.
Se sente importante.
É um senhor.
Bater pancadas,
O seu papel.
Thrrun thunn thun...
Refreia a orquestra.
Marca-lhe o ritmo,
Com pundonor.
Tem jus às palmas
Como os demais...
Berlim, 28 de Outubro de2018
10h15m
Jlmg

sábado, 27 de outubro de 2018

Gravetos...



Gravetos...

Andei à procura de gravetos na mata.
Daqueles secos.
Só ardem. Não deitam fumo.
Sem eles meu serão é gelo.
Tive sorte. Trouxe um braçado.
De eucalipto, do Verão.

Vou regalar-me, logo à noite.
É de pedra minha lareira.
Mantém um borralho minha cozinha.
Dá gosto vê-los a arder.
Amodorrado no preguiceiro.
O baile das labaredas.
Ao sabor do vento da chaminé.
Os estalos que elas dão.
Espargem chispas.
Uma guerra quente que não tem fim.

Habituei-me a ela. Imprescindível no rigor dos Invernos.
Com vinho quente ou aguardente.
Ouvindo o vento a bramir no monte.
Sózinho ou não...

Berlim, 27 de Outubro de 2018
15h3m
Jlmg

sexta-feira, 26 de outubro de 2018



Na minha varanda, ao amanhecer...

Na minha varanda, ao amanhecer, há tal suavidade no subir do sol e tanta a harmonia
que apetece lá ficar, em jeito de oração
ao bendito Criador,
agradecendo a graça de mais um dia.

Tantas cores a ressumar. Desde as sombras que a noite deixou de ter até aos tons de verde exuberante do denso arvoredo.

Mesmo que as soubesse pintar na tela, com a mestria dum bom pintor, muito ficaria por mostrar.

Um caudal de perfumes brota da terra, em suave combustão.
Ondas túrgidas de brisa verde, passam fugidas do mar além.
Cheiram às algas que o mar não quis.

Que saudades sinto, aqui tão longe, da varanda que lá deixei...

Berlim, 26 de Outubro de 2018
16h36m
Jlmg




Feliz combate

Viver é combater.
A gravidade que nos prende ao chão.
As barbas que não páram de crescer.
O calor e frio que nos espicaçam.
A fome e sede sempre a espreitar.
A chave da casa. Convém nunca perder.

O guarda-chuva que se deve ter quando a chuva ataca.
O cão de guarda para se dormir mais descansado.
O mau olhado dum mau vizinho.
Uma nota sempre à mão para evitar ir prá prisão.

O azedo IRS, não bastasse o que o Estado nos tira em cada pão.
A malvadez dum partido errado que ao povo bem enganou.

E tantos mais. Nem é bom acrescentar...

Bar dos Motocas, arredores de Berlim, 26 de Outubro de 2018
10h51m
Jlmg

Enigmas

 
 
Os enigmas

No começo, tudo está bem.
O sol e o vento são bons.
A chuva e o mar se dão bem.
Não pergunto o que haverá para lá daquela serra.
Me contento com o que tenho ao redor do meu quintal.
Uma bola, de trapos me contenta. De borracha será melhor.

Não importa a cor da camisola ou da camisa.
O que interessa é brincar.
O comer aparece sobre a mesa quando vem a fome.
Se alguém me fez mal digo ao meu pai.
É tão bom viver.
Sem perguntas. Está tudo certo.

Mas, depois vem a escola.
Letras e algarismos trazem dúvidas.
Traduzir a voz em sinais gráficos é uma meada muito envencilhada para decifrar.

Vem a história com suas histórias.
Os réis que já não há.
Suas façanhas sempre a mal.
A geografia a falar de rios e de continentes.
Já me bastava o regato da minha aldeia
e o lago de Sestais.
A aritmética das contas sempre a dar erradas.
Escrever sem erros é uma epopeia.
Depois, a religião a falar do que se não vê.
Para que serve acreditar?

De vez em quando há alguém que morre.
O corpo vai para o chão.
Para onde vai a alma do pensamento.
Dizem que é imortal.
Acreditar sem ver não é bem do nosso agrado.

Os preceitos do bom viver. Qual a fonte?
Porquê o prémio e o castigo, já me chega o que chamam a consciência?

Enfim. Um emaranhado de mistérios.
Se não fossem bem explicados,
Mais valia não haver...

ouvindo Secret Garden- Música para el espíritu - Luty Molíns

Berlim, 26 de Outubro de 2018
8h 56m
Jlmg





quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Entusiasmo





Entusiasmo

Não se compra nem vende o entusiasmo.
É um estado de alma.
Não se sabe donde vem.
É luz acesa. Sem ele, tudo apaga.
Nada tem sabor.
A apatia vem.

Reagir é o remédio.
Dar um passeio.
Pela montanha ou até ao mar.
Refrescar os olhos. Ver além.
Ouvir música.
Alegre e colorida.
Um bom vinho.
Abrir a janela.
Olhar o céu.

Tomar um duche.
Ir ao café.
Na esplanada.
Ver gente.
Ir a uma feira.
Estou certo.
Fica melhor.
Pode ser que tudo passe
E volte a sorrir...

Berlim, 25 de Outubro de 2018
8h33m
Jlmg


Cada rio tem seu leito...

Cada rio tem seu leito

Cada rio tem seu leito.
Ninguém imagina o Tejo
no vale do Douro.
Sua água cobriria a ponte
e alagaria a Foz.

Mais pequeno o Porto.
Sem marginal e sem a Ribeira.
E o Douro no vale do Tejo?
Nem chegaria ao mar.
Se iria a pé dum lado ao outro.
Coitados dos cacilheiros.
Morreriam na sucata.
A torre de Belém seria um santuário, frente à Trafaria.
E o Cristo-Rei nem sequer havia.
Uma avenida larga iria de Oeiras ao sul.
Não haveria ponte.
Um frondoso bosque iria de Cacilhas até Vila Franca.
Ainda bem que cada rio tem o seu leito...
Berlim, 24 de Outubro de 2018
12h49m
Jlmg

terça-feira, 23 de outubro de 2018

A seguir, vou eu...


A seguir, vou eu...

Nunca se sabe se, a seguir, vou eu.
Por isso, o melhor é confiar.
Quem me pôs cá sabe quando me há-de levar.
Assim, fico bem e vivo tranquilo.
Saboreando o bom da vida, sem prejudicar ninguém.
Tudo seria negro se, assim, não fosse.

É uma escada esta vida.
Tem de ser subida para ver aonde dá.
Um degrau de cada vez e bem.
Sem olhar para baixo.

Convém ir leve.
Só quem chega ao topo verá o que depois há.
Para quem tem fé, é o além.
Melhor que cá.
Para quem não tem,
Apenas o fim.

De que valeu subir?...

ouvindo  Janine Jensen - Mendelssohn Violin Concerto in E minor Op. 64

Berlim, 24 de Outubro de 2018
8h43m
Jlmg








Um dia, quem sabe...





Um dia, quem sabe...

Um dia, quem sabe, voltarei a ser ave de migração.
Deixarei de ser um estranho.
Deixarei de ser ninguém, pelas terras onde andei.

Poisarei no meu telhado da casa que construi.
Por um sonho que me alimentou.
Voltarei prá terra onde nasci,
me fiz um homem.
Como foi o meu pai.

Não levo nada, senão a saudade e a alegria de regressar.
Vou trilhar os caminhos da minha escola.
Onde colhi amoras doces sem nada ter de pagar.
Beberei da fonte da água corredia que me matava a sede no verão.
Vou sentir o prazer de dormir sobre um colchão de palha.
Sentir o calor dum cobertor de lã,
tecido pela tecedeira única da minha aldeia.

Ouvir o piar da agoireira cotovia no carvalho do meu quintal.
Cheirar o perfume dos lençóis corados ao sol da tarde na minha eira.

Rezar ao Deus meu criador que me fez nascer onde cresci...

Berlim, 23 de Outubro de 2018
16h44m
Jlmg

Outra vez prá cova...

Outra vez prá cova...
Meu santo avô morreu há cinquenta anos,
Resolveu fazer-me uma visita.
Apresentou-se na hora de jantar.
Disse-lhe que também já era avô.
Só três.
O outro,
- eu sei está lá comigo.
Ele teve umas muitas dezenas.
Recordamos tudo.
Quando eu ia com ele tocar os sinos a finados.
Dar corda ao relógio da torre.
Dos morteiros que ele arranjava pelas festas de Agosto.
Enfim, tantas recordações boas.
E, o avô como passa lá no céu?
- Uma paz eterna. Até cansa. 
Por isso, pedi licença ao São Pedro e vim.
A televisão estava acesa. No telejornal.
Guerras aqui. Guerras além.
Incêndios medonhos.
Como os do inferno.
- Meu Deus, como se pode viver aqui?
Vou voltar para a cova...
Berlim, 23 de Outubro de 2018
12h50m
Jlmg

O serrador


O serrador

Duas serras e dois cavaletes eram a ferramenta.
De colete e botas.
Trabalhava à jorna.
Dois preços.
De comer ou a seco.

Chegava ao monte pela manhãzinha.
Pelo chão, espalhados, estavam os toros do eucalipto.
Mais os ramos.
Um cheirinho de invejar.

Escolhido o sítio, vinha a tarefa de pôr o toro sobre os cavaletes.
Sem ajudas.
À altura dum homem.

Em dois lances, uma força bruta,
e o toro jazia pronto para a serração.
Lá no alto, um pé à frente e outro atrás,
Derreado, apontava a serra ao tronco,
Já descascado.
E, vai de força, de cima abaixo,
Daquele jeito que só o mestre sabe,
Zás...Zás...Zás...
O serrim caía no chão e fazia tapete.
Uma tábua surgia e depois outra
E outra, até à última.
Aí, umas dez, conforme a grossura.

Era o primeiro.
A seguir o descanso. O suor escorria.
Ia ao bornal.
Uma caneca de tinto, um naco de broa e um chouriço.

Ao fim do dia, vinha o patrão.
Tarefa pronta.
Satisfação de ambos.
Madeira prá casa.
Quinze mil réis.
Graças a Deus!...

Berlim, 23 de Outubro de 2018
10h8m
Jlmg








segunda-feira, 22 de outubro de 2018

O impossível





O impossível

É preciso explorar o impossível.
Não nos ficarmos pela aparência.
Quem nunca lança a rede nunca sente a alegria de pescar.
Para atingir o cimo temos de dar o primeiro passo.
Para saborear o prazer da amêndoa temos de esmagar-lhe a casca.
Só trepando a escada se alcançam as alturas.
Só transpondo as fronteiras que nos esmagam, se ganha a liberdade.
Quando se tem fé, por bem, tudo se torna possível.
Nossa força nunca está nas armas.
Só sou grande quando ultrapasso as minhas forças.
Se queres vencer abraça a lei da humildade.
Berlim, 22 de Outubro de 2018
14h38m
Jlmg


domingo, 21 de outubro de 2018

Mineiro do chão





Mineiro do chão

Regresso cada dia do passado como o mineiro do chão.
Venho sujo e suado das poeiras em que o vento me sepultou.
Só os meus olhos brilham à doçura da saudade.
Andei pelos caminhos verdes da minha infância.
Quando o perfume dos jardins me enchiam o peito de esperança.
O piar das andorinhas por debaixo dos beirais do meu telhado.
Quando as noras pela tarde regavam de mel os milheirais embandeirados.
De Agosto em diante, havia festas por todo o lado.
Com foguetes e noitadas.
Era bom visitar os avós, saborear-lhes  a doce marmelada, mais doce não havia.
Descer em algazarra a costeira de Pedra Maria na minha mota de madeira.

Descobrir os ninhos do passaredo, nos sítios mais recônditos, só eles os sabiam.
Aquelas noites estivais a contar estrelas, à noitinha, na soleira.
Acordar pelas manhãs ao cantar dos galos na capoeira.

Foi tão lindo o meu passado, no dealbar da minha vida.

ouvindo Chopin Piano Concerto No. 1 Op.11 Evgeny Kissin

Berlim, 21 de Outubro de 2018
19h48m
Jlmg



No meu cadastro...



No meu cadastro

Não tenho no meu cadastro, coroas de glória nem medalhas de excelência.
Caminhei na sombra pelas veredas desta vida.
Moveu-me a paz e a modéstia dos meus actos.
Contentei-me em chegar no pelotão, independentemente do lugar.
Nunca sobressaí em nenhuma arte nem habilidade.
Em tudo procurei a luz da seriedade.
Também deixei para amanhã o que devia fazer ontem.
Mesmo assim só me resta pedir desculpa a quem, sem querer eu ofendi.

Berlim, 21 de Outubro de 2018
11h35m
Jlmg

Tudo morre...


Tudo que nasce ...

Tudo que nasce morre.
Os papas, imperadores e os do dinheiro.
Se afundam no esquecimento as vitórias de quem viveu a explorar.
De quem se dedicou e dedica à vil actividade de fazer experiências medicamentais, visando o lucro, nos corpos de gente humilde que foi roubada.

Cidades da opulência ficaram soterradas sob as dunas dos desertos.
Jazem mortas todas as pirâmides à vã espera da eternidade.

Dispersaram e se esboroaram todos os exércitos poderosos.
As secretas descobertas que arrasaram Hiroxima e Honolulu
e que ainda são pavor da humanidade.

Para quê a ONU e as magnas assembleias onde vicejam os germes da violência e opressão, se tudo rui e cobre de poeira virulenta?

Abaixo todas as ditaduras e tiranias.
Cresçam em abundância as flores da paz e fraternidade.
Para sempre.

Berlim, 21 de Outubro de 2018
9h47m
Jlmg







sábado, 20 de outubro de 2018

Por caminhos sinuosos...



Por caminhos sinuosos...

Por caminhos sinuosos, o comboio negro e cansado,
fugindo à negritude dos vales sombrios,
subiu aos cumes planálticos da montanha.

Ficou deslumbrado com a alvura leve e transparente do horizonte, largo e infinito.

Ali instalou sua estação principal.
E, num sobe e desce, se pôs a transportar gente das planícies.
Partilhando aquele inaudito deslumbramento.

A pouco e pouco, foram surgindo casas e albergarias.
Hoje é um farto burgo moderno e reluzente onde se respira a paz e o silêncio sideral.

ouvindo Rachmaninov: Piano Concerto No. 4 in G Minor, Op. 40 - 1. Allegro vivace (Alla breve)

Berlim, 21 de Outubro de 2018
7h55m
Jlmg





sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Preciso da morte


Preciso da morte...

Preciso da morte para me explicar a vida.
Tantas perguntas dão que pensar.
Não me interessa viver por viver.
Saber donde vim, para onde vou.
Que vim cá fazer?
Quem me chamou?

Alegre ou triste,
No meio do mundo,
Só respondo por mim,
Caminho sózinho.

Vou para o além,
Não sei onde fica ou acaba.
Uns dizem uma coisa,
Outros dizem outra.
Quem fala verdade?

Fui procurar.
Ouvi os Antigos.
Do Oriente até cá.

Confúcio e Buda.
Não chegaram para mim.
Zeus e Zenão de nada serviram.
Em Atenas e Roma, foi tudo terreno.

Parei em Belém.
Contaram-me uma história.
Prendi-me a ela.
Ouvi Abraão e Moisés.
Muitos profetas, voltados para o Messias.
Humanidade perdida,
Carecendo ser salva.

Uma Virgem bendita,
Cheia de graça,
Concebeu do Espírito.
Um menino nasceu.
Nem Ele sabia a missão.

Quando a hora chegou, começou a prégar.
À humanidade perdida Ele iria salvar.
Oferecendo a vida,
Vencendo a morte.
Fiquei tranquilo...

Berlim, 19 de Outubro de 2018
13h38m
Jlmg





quinta-feira, 18 de outubro de 2018

No meio da geometria


No meio da geometria

Vivemos mergulhados na geometria.
Geometria das flores e das galáxias.
Das esferas e planetas.
Das dunas e dos vulcões.

Somos massa e pedra multiforme.
Temos ossos e temos carne.
Somos frágeis em demasia.

Átomos e moléculas de carbono em ebulição.
Temos pés e temos mãos.
Seria o fim do mundo se também tivéssemos asas.

Descontentes, tudo lamentamos.
Até o ar gelado que nos dá a vida.
Nos fingimos doces, só por fora.
Cá por dentro, tão amargos.

Insaciáveis. Queremos tudo.
Prometemos e não cumprimos.
Ortorrômbicos e octaédricos.
Nem um só ângulo recto...

Berlim, 19 de Outubro de 2018
8h 32m
dia de sol, frio
Jlmg




Quem diz?...




Quem diz...?

Quem diz que aquela mulher, com o canito pela trela, acabou de escrever um poema lindo antes de sair à rua?

Com palavras simples e lindas cores,
Traçou um quadro de beleza e fantasia,
Só a imaginação concebe e uma mente luminosa acende com seu fogo que é divino.
Fala do lago verde, ao pé da sua casa,
Onde em menina e moça foi, em sonho, bailarina.
Refrigério das horas cálidas que o Estio afogueava, de meter medo aos corajosos.

Povoado de cisnes albos, de tão felizes, em constante rodopio.
Cercado de frondosos ulmeiros dançarinos que o sol nunca vasava.
Um oásis sério ali à mão para as gentes da aldeia, onde a inspiração sorria aos poetas e aos pintores...

ouvindo Denis Matsuev, Rachmaninov piano concert no.1

Berlim, 18 de Outubro de 2018
13h07m
Jlmg

Uma varinha seca

Uma varinha seca

Sobraram apenas duas folhas verdes e uma varinha seca naquele vaso só.
Parecia morta.
Não resistiu à sede de três meses.
Mortas, caíram ao chão as suas flores.
Eram lindas.

Deitar fora e comprar outro?
Confiei na esperança.
Vamos ver o que dá.

Água a horas cada semana.
Ao cabo dum mês, surgiram uns grânulos negros.
Lentamente foram-se desenvolvendo.
Um dia, a cor chegou.
Uns atrás dos outros.
Pareciam à porfia.
Até que, perfeitas, ali estão três orquídeas lindas.
Um milagre à vista!...

Berlim, 18 de Outubro de 2018
9h23m
Jlmg



quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Punhados de beleza

Punhados de beleza
Em pleno Outono,
Onde quer, há punhados de beleza.
Luzem ao sol todos os matizes das folhas preparadas para cair ao chão.
Fofos tapetes que apetece chutar.
Uma mãe a pedalar de bicicleta com um atrelado atrás, onde leva seu bebé de colo para o infantário.
Um pai que leva pela mão seu menino à escola.
Uma jovem, de cores berrantes, auscultadores nos ouvidos, à espera do autocarro.
O camião soberbo, à esquina, que abastece o supermercado.
Enquanto um corvo negro saltita pelo passeio procurando comida para o seu ninho.
Uma mulher madura que vai, segura e lesta, na sua cadeira de rodas eléctrica.
A meiguice do sol que para todos brilha, alegrando o dia…
Berlim, 17 de Outubro de 2018
9h24m
Jlmg