sábado, 31 de março de 2018

Escrevinhando enigmas

Escrevinhando enigmas...
Me dedico à escrita. Escrevinhando poemas.
Resistindo à vida que corre e não pára.
Dedilho passadas dum livro crivado de enigmas.
Devasso ideias paradas. Soletro as letras sem espera. 
Ressinto as horas mais sôfregas que a vida me dá.
Sustenho meu ânimo, deambulando à sorte.
Aguardo meu termo quanto mais longe melhor.
Foi boa a surpresa.
O regalo da escrita. Abrir a minha alma ao reino do sol e me pôr a sonhar...
ouvindo Chopin, concerto para piano nº 1, por Marta Argerich
Berlim, 31 de Março de 2018
16h57m
Jlmg

O medo


O medo

Nevoeiro denso nos envolve.
Tudo fica espesso e cheio de sombra.
A desconfiança vence e enreda.
Nossa defesa é fechar a porta.

A solidão é triste.
Depois chega o desespero.
Nos encerramos.
Só a fome nos faz sair.

Olhar sombrio.
Para afugentar o mau olhado.
Cá por dentro é o avesso.
A amizade é o nosso preço.

Só ganha quem der o primeiro passo.
Afinal, tudo era fácil.
Andar às voltas para chegar ao mesmo ponto.
A felicidade é o fruto da simplicidade.
Só a sente quem se despe do medo
E se abre ao outro…

Berlim, 31 de Março de 2018
11h30m
Jlmg

sexta-feira, 30 de março de 2018

Concerto de piano



Concerto de piano ...

Um piano preto.
Sobre o palco, aberto.
A sala, cheia, espera.
Sentada, a pianista se concentra.
Seu espírito se solta e, toques leves,
seus dedos poisam suaves nas notas frias.
Como fogueira que se acende, sobem pelo ar, as primeiras ondas de baforadas.
Se inflamam as suas cores com os raios belos da harmonia.
A assembleia atenta deixa-se elevar.
Doces ondas de mar e maresia.
Ternos eflúvios.
Vindos do fundo de cada alma.
Estavam sedentos.
Aturdidos pelas hecatombes de ruídos
que se abatem no dia a dia.
Os corpos se apagam de presos aos seus martírios.
Arfam os peitos de olhos semi-cerrados.
Já se vêem ao longe as margens negras da terra verde.
Uma amplidão de cores num delicioso rodopio,
nos pega ao colo e vai ardente,
pelo céu de estrelas em magia consteladas.
Se esquece o tempo.
Se calam longe todas as agruras.
Nossa alma brilha ao sol da esperança e da alegria.
Navio ao vento sobre um oceano longo
onde o silêncio há tanto por nós esperava.
É a magia em chama que nos afaga numa doce e suave madrugada...

ouvindo o Concerto nº 2 de Rachmaninov, por Hélène Grimaud
Berlim, 31 de Março de 2018
8h27m
Jlmg

quinta-feira, 29 de março de 2018

Fatalidade universal


Fatalidade universal

Tudo o que se agenda a médio ou longo prazo,
Acaba por chegar ao pé.
Na imperceptível cadência do dia a dia.
Depois, se faz ou não.
Conforme a hora.

Foram sonhos as grandes obras da antiguidade.
O Coliseu de Roma.
As pirâmides.
A Torre Eifel.
E, tantas que estarão soterradas.

O formigueiro de gente que vai por esse mundo.
Onde nos incluimos.
Onde quer que vamos.
Com seus sonhos e suas histórias.

Deixei ontem o Báltico duma visita fugaz.
Ao pé da praia.
Tantos rostos da minha idade.
Casais mais novos com sua prole.
A cirandar alegres.
Com suas histórias.
Nunca mais verei.

Sempre assim foi e sempre será…

Berlim, 30 de Março de 2018
8h33m
Jlmg


segunda-feira, 26 de março de 2018

Sobrescrito


Sobrescrito

Por fora, está escrito teu nome e morada.
Por dentro, é segredo. Bem guardado.
O debruei a oiro.
E o selo é uma caravela.

Vai atravessar o mar.
Oxalá não haja tempestade.
Depois te chegue em boa hora.
Abre, sem rasgar.
Guarda bem.
Mais tarde, haveremos de o reler os dois,
Com a saudade de quem muito viveu…

Berlim, 26 de Março de 2018
11h37m
Jlmg