sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Por uma côdea de pão




Por uma côdea de pão



Por uma côdea de pão e a migalha dum tostão,
Andrajosos, pareciam velhos,
Andavam em bandos,
Os mendigos da minha terra.

Vinham ao sábado. Pela encosta acima.
-seja pelas alminhas de quem lá tem!
Como bem os lembro, era eu miúdo
Não percebia nada.
A fartura duns. A miséria muita.
De quem era a culpa?...
Tantos palacetes, cercados de terras tantas
Tantas telhas negras de casinhas pobres.
Não havia sobras.
Até as valetas serviam de cama.
Era tudo a senhas.
Havia guerra à porta.
E o que era a guerra?
Só sobrava a missa…

Berlim, 30 de Setembro de 2017
7h22m
Jlmg

Festejar a vida

Festejar a vida...
Vamos festejar o nascer o dia, depois duma noite de luar de lua cheia,
Sorver a brisa verde que vem do mar.
Bailar ao vento, como dançam as andorinhas, em graciosos arcos de beleza.
Vem aí o sol da abundância semeando calor e vida nas planuras mais agrestes.
Abramos nossos braços, em abraços verdadeiros.
Sirvamos o amor da amizade a todo o mundo.
Brindemos à alegria que brota fresca em fonte pura.
Abramos os nossos olhos vivos aos fulgores tão belos do horizonte.
Cultivemos a arte da simpatia com sorrisos francos de abundância.
Sejam puros nossos instintos no rigor severo da amizade.
Sejam doces nossas palavras para quem vai ao nosso lado.
ouvindo Love Story
Berlim, 30 de Setembro de 2017
5h53m
Jlmg

O castelo do medo



O castelo do medo

No alto do monte, sobranceiro à vila,
Havia um castelo,
Cheio de ameias,
Cercado de valas,
Cobertas de silvas.

Quem lá morava,
Rei ou príncipe?
Ninguém o sabia.

- Ali há fado!
Se dizia na vila.

Sem chaminé.
Nem fumo nem fogo.
Só morto,
Se é que há alguém.

Num dia cinzento,
Não nascera o sol,
A vila em peso se tomou de coragem.
Avançou pelo monte acima.

Incendiaram as silvas.
Descobriram-lhe a porta.

Ao cabo de horas,
Às machadadas,
Carregados de medo,
Entraram lá dentro.
Tudo deserto.
Só as calçadas.
Grande ilusão.

Viraram as costas.
Voltaram para casa.

Quando desciam a encosta,
Um medonho trovão
Caíu no castelo.
A terra tremeu.

Estarrecidos de medo,
Só pararam em casa.

Daí em diante,
Ninguém mais da aldeia
Subiu ao castelo,
Cercado de silvas…

Berlim, 29 de Setembro de 2017
10h5m
Jlmg














quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Um galgo a correr



Um galgo a correr

A beleza dum galgo a correr,
Disparado como flecha, encosta acima.
A elegância de um cavalo.
A graça bailarina duma fada.

Olhos vivos e penetrantes.
Vencendo a distância como a do sol a chegar à terra.
Com a certeza infalível da vitória certa.

Sua história é servir com prontidão.
Não hesita um ápice só, para não perder.

Seu lema é seguir em frente até ao fim.
Seu estandarte é a fidelidade ao dono
Que dele cuida até morrer.

Berlim, 29 de Setembro de 2017
Jlmg

Barcos em terra

Barcos em terra

Rolam em toros os barcos em terra.
Não precisam de remos.
Só da força dos braços e troncos,
Tisnados ao sol.

Lhes curam as feridas.
Se lhe avivam as cores.
Calafetam as brechas.
Lhes preparam as redes.
Como palmeiras ao alto,
Dormem ao relento da praia.
E, pela madrugada, arregaçam os remos e rasgam as ondas,
Avançando no mar.
Casquinhas de noz.
Bailando ao vento,
Seguem afoitos,
Buscando um cardume.
À ordem do mestre,
Descem as redes
Em jeito de saco.
Quando as gaivotas se abeiram,
Por instinto fatal,
Puxam as cordas.
Enchem o bojo e regressam cansados, felizes.

Berlim, 28 de Setembro de 2017
9h14m
Jlmg

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Os pescadores



Homens amados

Homens amados avançam destemidos sobre as ondas pelo mar sem fim.
Vão armados. Muita fé e muita esperança.
Virá cheio o seu barco.
Cobrirá a praia no regresso de fartura.

Afugentarão a fome dos seus lares.
Seus filhos irão à escola tão alegres.
Brincarão o dia inteiro.
Enquanto os pais andam na faina, desde a madrugada.

Suas mulheres comprarão na feira, de chita alegre, suas blusas e saias rodadas.

O forno a lenha dará o pão para a semana inteira.
E, aos Domingos, haverá almoço farto e melhorado.

Bendito mar da esperança e da fartura.
Bendita a Senhora da Boa Hora,
Na capela frente ao mar!...

Ouvindo concerto nº 2 de Rachmaninov por Hélène Grimaud e Cláudio Abado

Berlim, 28 de Setembro de 2017
8h22m
Jlmg



Escalar a vida



Escalar a vida

Desde o primeiro vagido a vida é uma escalada.
É duro o choque com o ar da atmosfera.
Melhor fora a osmose natural desde o ambiente.

Depois o vencer o chão com sua atracção estúpida.
E o equilíbrio para andar de pé.

A seguir falar. Dizer aos outros o que, cá dentro, é tão claro.

Entrar na escola para encher a cabeça de inutilidades.
Ir à missa a ver o padre.

A prender a bola para se sentir gente.

Ir à guerra sem ter a culpa.
Matar ou morrer.

Aprender a arte de ficar escravo no trabalho do dia a dia.

Vencer a morte a toda a hora.
E por fim, dizer adeus a tudo, quando nos para o coração…

Ouvindo concerto para violino de Tchaikovsky

Berlim, 27 de Setembro de 2017
22h30m
Jlmg