quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Meu pensamento

Meu pensamento

Largo ao vento meu pensamento livre.
Qual condor, de asas abertas,
Sobre os penhascos das escarpas imensas.
Procurando a presa.

Desfaço em pedras minha mole inerte,
Como brasa a arder.
Queimo no chão a lenha inútil.
Garimpo na areia pepitas d'oiro,
Sonhando ser rico.

Incendeio na eira toda a palha seca e para nada serve.

Exponho ao sol minha alma a arder.
De olhos fechados, subo aos céus e contemplo o infinito.
Inibrio meu espírito sedento, de perfumes de alabastro.
Enlevo-me a ouvir acordes sublimes de beleza.
Nem a tela nem a pena conseguem traduzir...

ouvindo HAUSER - Song from a Secret Garden

Berlim, 1 de Fevereiro de 2019
8h25m
Jlmg


Porto, na madrugada

Porto na madrugada

Cheguei ao Porto de madrugada.
Estação de São Bento.
Um palácio aberto ao vento.
Uns painéis de sonho no salão de entrada.
Cenas campestres. Da região nortenha.

Saí para a rua. Vadiei perdido pelas ruas sós.
Iluminação feérica. Um silêncio fundo.
Não vi viv'alma, mas não tive medo.
Todo o mundo dormia.

A praça maior, frente ao Município.
Muito elegante. Cheia de luz.
Prédios solares, com majestade.
Colunatas altas. Janelas em arco.
Um jardinado ao centro.
Muita limpeza.

Fui aos Clérigos. Que o Nazoni ergueu.
Frontaria soberba.
Uma torre atrevida.
Portais cerrados.
Contra os ladrões.
Amanhã vou vê-la.
Orar lá dentro.

Depois, à Sé. Lua no céu.
Terreiro deserto.
Pelourinho ao centro.
Lá em baixo o Douro, a fluir dormente.
Lá longe Gaia. Cheirando a vinho.

Desci à ponte que o Rei Luís,
À custa do Povo,
Em boa hora ergueu.

Que deslumbramento!

Da Ribeira à Foz.

Uma avenida de água, como Deus mandou.

Berlim, 31 de Janeiro de 2019
19h28m
Jlmg


Empatia e afinidades

Empatia e afinidades

Quando há empatia e afinidades, no gosto e modo de ser e ver o mundo,
tudo fica mais próximo e fácil no conviver.
Há terreno bom para o entendimento.
Não há reservas nem zonas ocultas.
Se adivinha fácil o que agrada e o que não cai bem.
Não há que esperar para ver.
Há mais solidez e certeza na relação.
Fica muito mais fácil o caminhar lado a lado.
Mais leve a vida e mais fresco o amanhecer.

Se são diferentes as origens e os valores,
aí, há uma distância enorme a vencer para se chegar a um entendimento, mas é maior o enriquecimento.

Só com cordas desiguais se consegue a cor e a harmonia duma harpa ou dum piano.

Berlim, 31 de Janeiro de 2019
9h7m
Jlmg

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Capelinhas e ermidas de Lisboa

Capelinhas e ermidas de Lisboa

São tantas e espalhadas por Lisboa, as capelinhas e ermidas.
Onde o sagrado se adora e a alma reverdece na fé e na esperança.

A luta é dura. Esfacela o corpo e a alma sofre.
Ali se adoça. Com as bênçãos que vêm dos céus.
Pequenos espaços de liberdade onde não imperam as forças do mal.
Embaixadas onde mora Deus o Salvador.

A elas acodem os amargurados e aflitos.
Saem leves. Seus rostos brilham.
Como o nascer do sol.
Suas portas se abrem todo o ano.
Sem marcação.
E, num dia certo,
Lisboa inteira se veste em festa,
Tanta alegria.
Ppelo Santo da devoção.

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 30 de Janeiro de 2019
8h37m
Jlmg

Pela tardinha...

Pela tardinha...

Como o pastor que busca a ovelha perdida, saí de casa à procura dum poema.
Trepei encostas. Desci aos vales.
Fui às fontes de água pura.
Bebi. Enchi meus pulmões.
Preparei-me para o infortúnio de voltar sem encontrar.

Por veredas sinuosas, entre urzes bem cheirosas, senti um halo quase divino de escrever.
Sentei-me numa pedra e peguei na pena.
Dei-lhe plena liberdade. Fiquei a vê-la a desenvolver meu pensamento em palavras coloridas, tingidas de sonho e de alegria.

Rendi-me a elas. Eram de verdade tão cristalinas como a da fonte a àgua que eu bebera...

Ouvindo Andamento da 7ª sinfonia de Beethoven

Berlim, 29 de Janeiro de 2019
19h54m
Jlmg

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Acridoces...

Acridoces...

Acridoces são as saudades de Lisboa.
Distante, para lá dos Pirinéus.
Onde o sol se põe em cada dia.
E o mar é o fim do mundo.

Me rendo ao esplendor dos seus clarões.
Me consolo com a memória dos dias doces que por lá andei.
Aquelas descidas à Baixa pelo Chiado.
Ao Rossio engalanado de verdura.
À Rua Augusta que é augusta e elegante, com suas vitrinas.
O Elevador altivo donde se alcança Lisboa para todo o lado.

Subir a Avenida larga e saborear a doçura da liberdade.
Aquele Parque solene ao cimo, que nos transporta até ao céu.
Girar de eléctrico por toda a parte, no meio das gentes atarefadas.
Como se está à janela da nossa casa.

Quem me dera, agora, sentar-me à mesa e tomar uma bica com o Pessoa...

Ouvindo Tchaikovsky - Hymn of the Cherubim - USSR Ministry Of Culture Chamber Choir

Berlim, 29 de Janeiro de 2019
8h28m
Jlmg

Asas de sonho

Nas asas do sonho

Nas asas do sonho, envolto em saudade, voo até aos céus da cidade do Porto.
Urbe alegre, banhada de mar e de rio.
Cercada de pontes. Arcadas de amor.
Margens unidas.

Nascida do nada. Cresceu tão afoita.
Foi berço de reis e infantes.
Palácios de sonho.
Casebres rurais.
Ermidas, igrejas.
Muralhas de pedra.

Chamariz do progresso.
Encheu-se de fábricas.
Bordada de verde.
Doirada de pão.
Regada de vinho.
Atraíu meio mundo.
Afirmou-se no norte.
De Lisboa rival.

Uma alma lavada.
Franqueza e verdade.
Entra quem quer.
Só fica quem sua gente deixar...

Ouvindo Brendan Perry - Wintersun
Berlim, 28 de Janeiro de 2019
9h41m
Jlmg


domingo, 27 de janeiro de 2019

O Céu de Lisboa

O céu de Lisboa

De safira refulgente é o céu de Lisboa.
Suave e transparente, envolvendo quem lá está, seu ar é dom divino.
Sorriem todos os rostos de alegria e vontade de existir.

É estrelado de oiro e prata nas noites de luar.
Vêem-se a olho nú as galáxias e constelações.
A estrela polar é sol.
Cassiopeia, Ursa Maior e Menor se divertem no recreio, toda a noite, até amanhecer.

E, ao nascer da lua, fica um rasto de luz imensa, sobre o Tejo largo e fundo.
Na imensidão do horizonte, navegam, de vez em quando, núvens alvinitentes, parecem caravelas.

Sob ele o Tejo ali dormita e sonha, ao chegar de Espanha, carregado de cansaço.

Ouvindo Zeca Afonso

Berlim, 28 de Janeiro de 2019
8h48m
Jlmg


Fado de Lisboa

O fado de Lisboa
Rezam as lendas que, vindo da Grécia,
deixou o mar, subiu o Tejo, numa madrugada de luar.
Era Ulisses. Deixara Ítaca e sua esposa.
Lisboa era uma urbe humilde.
Estendida pela colina que, hoje, é do Castelo.

Extasiado com sua beleza, aqui ficou.
Por ela andou e cirandou.
Fez-se um seu.
Saíam à porta a ouvi-lo as gentes
quando, pela madrugada, passava entoando loas, em voz sonora.
Ninguém entendia.
Eram saudades.
Faziam chorar.
Até que um dia, de madrugada,
não resistindo,
desceu o rio e se fez ao mar.
Penélope o esperava, longe.
Tão forte e belo era o seu canto,
calou profundo na alma das gentes.
Ainda hoje perdura nas suas ruelas,
nas casas de fado.
À guitarra:
- Ai, Mouraria, na velha rua da Palma...
- Foi Deus...
- Mãe negra...
Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 27 de Janeiro de 2019
10h27m
Jlmg

sábado, 26 de janeiro de 2019

Praças de Lisboa

Praças de Lisboa

Espaços, largos e abertos, abundam espalhados pela cidade.
Recheiam rotundas.
Locais de confluência, cada um o seu destino.

São pausas forçadas.
Compassos de espera.
Circundam e andam à volta.
Ninguém as evita.

São tantas espalhadas,
Na teia da urbe.
Uma matilha de carros.
Parecem formigas.
Trava e entope quem entra e quem sai.
Dizem mal do progresso que não programa e regula.
Um trânsito infernal.
Sem público à mão, avança o privado.
O resultado é mau...

Berlim, 26 de Janeiro de 2019
19h41m
Jlmg




Palácio das ausências

Palácio das ausências

Salões principescos.
Candelabros d'oiro, com reflexos de vitrais.
Pinturas sumptuosas entranhadas nas paredes com cenas silvestres, senhoriais.
Mesas longas em madeira retorcida.
Toalhas alvinitentes, bordadas em traço fino.
Cadeirões e sofás em mogno, revestidos a damasco.

Há muito desapareceu o príncipe e seus acólitos.
Sua atmosfera é o esquecimento e a ausência.
Nada diz o que se viveu ali.

Cravado firme numa encosta alta e sobranceira.
Um palácio belo.
Quem o vê do vale inveja a sorte de quem lá vive.
Morreria de tristeza se soubesse que foi a ausência que o herdou e nele habita.

Berlim, 26 de Janeiro de 2019
16h58m
Jlmg


sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Lausperenes da Catedral

Lausperenes da Catedral

Aquelas procissões longas de sobrepelizes brancas a esvoaçar,
desde as escadas do seminário.
Fornadas de fogo clericais que se destinavam a alimentar de crença a diocese.
Jovens fogosos, no despertar da vida, sonhando com um horizonte de felicidade e afirmação.
Enchiam de brancura alvinitente as bancadas solenes junto ao altar.

Entre salmos lamuriados,
de pranto e de fervor,
chegava o bispo empurpurado,
numa mão o ceptro poderoso,
enquanto a outra abençoava.

Núvens de incenso toldavam os ares da catedral.

Depois a sequência de louvores em coro, acompanhava a missa,
desde o kyrie e da glória até ao fim.

E, no meio, vinha a esperada prédica do prelado,
sobre as escrituras do momento,
insufladas de divina inspiração.

Enquanto o povo selecto da cidade, espalhado pelos bancos, se regalava de indulgências.

Era assim. Eu vi.
Nos anos sessenta.

Berlim, 25 de Janeiro de 2019
10h18m
Jlmg


Andorinhas de Lisboa

Andorinhas de Lisboa

Caravelas de saudade vão e vêm a Lisboa.
Poisam nos beirais. Soluçando de alegria de voltarem.
Ali moram os seus ninhos.
Abrigados da intempérie.
Ali nascem seus filhinhos
E aprendem a voar.

Em bandos pelas ruas, sobre os ares,
pintam o céu, com volutas harmoniosas,
infalíveis ao milímetro.
São o regalo dos alfacinhas enquanto giram pelos passeios.

Poisam alinhadas sobre os fios, cantarolando lenga-lengas.
Planam aprumadas pelas encostas,
desde o Castelo à Baixa.

E, pelas horas mortas da tardinha,
rasam o chão em cabriolas.
Parecem folhas secas desgarradas que o vento atroz despegou em lufadas, de rancor.

Alegres mensageiras da Primavera que só o Outono faz regressar às suas terras.

Ouvindo "Concerto Aranjuez" de Albinoni
Concierto de Aranjuez - II. Adagio - Pablo Sáinz Villegas - LIVE
Berlim, 25 de Janeiro de 2019
Jlmg



quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Cidade do Porto

Cidade do Porto

Porto, cidade do norte,
banhada pelo Douro,
regada de sol,
espalhada por montes,
voltada para o mar.

Nascida dum burgo,
à volta da Sé.
Catedral de granito,
estilo românico,
duas torres altaneiras,
uma rosácea frontal,
bordada de cores.
Naves de pedra,
cercadas de altares.
Um pomposo capítulo,
junto ao altar.
Um púlpito ao meio,
para o bispo prégar.

Cidade muralha
que os séculos ruiram.
Sobraram pedaços
que o tempo não quis.

Estendeu-se para norte,
com os ventos da história.
Atraíu as riquezas vindas de Espanha.
Dedicou-se à terra,
cultivando o pão.
Rodeou-se de fábricas,
para o fabrico de tudo,
em ferro e madeira.
Entregou-se ao comércio,
regado de vinho.
Ligou-se ao mundo,
cheia de pontes, saltando o rio.

Encheu-se de igrejas ao culto divino.
Flamejaram as torres,
carregadas de sinos.
Dedicou-se à escolástica,
cultivada de monges.
Criou hospitais com medicina apurada
onde acodem as gentes, vindas de longe,
clamando socorro.
Impôs-se no norte como cidade potente.
Cercou-se de praias, a norte e a sul.
Fez-se rival de Lisboa distante.

Cultiva um sotaque.
Quem é do Porto entende.
Cidade frontal.
Registou sua marca:
 - Ou é ou não é -
que a faz imortal,
se queira ou não queira.

Ouvindo Rui Veloso
https://www.youtube.com/watch?v=G6p8dyKG1XQ&index=10&list=RDsYSYPBAKiQQ
Berlim, 24 de Janeiro de 2019
14h55m
Jlmg





Jardins de Lisboa

Jardins de Lisboa

No meio do casario da cidade, há salpicos de verdura e jardins extensos.
Com palmeiras, árvores variadas vindas das colónias,
com cisnes e nenúfares abundantes à superfície.

Belos espaços de paz e de harmonia,
um refúgio ao bulício poluído e ao descanso da terceira idade.
Centrais de verde, em actividade permanente, de purificação e renovação do ar.
Oásis puros do deserto onde apetece permanecer.
Verdadeiros santuários da cidade que bem merecem a devoção de toda a gente.

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 24 de Janeiro de 2019
8h56m
Jlmg

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Fugacidade da vida

No princípio é o infinito. Dá para tudo, até para a ociosidade.
Joga-se ao faz de conta. E, no fim, dá sempre certo.
É alto e pleno o monte das ilusões.

Fazemos tudo para ganhar e ser melhor que todos.
Sofremos com a derrota.
A vingança é uma companheira oculta e disfarçada.

Havemos de ganhar. Dê para o que der.

Sobram forças na algibeira. As pernas correm como gamos.
Os braços são hercúleos.

Adoramos uma refeição farta.
Bebemos até cair ao chão.
Insaciável nosso apetite.
Rebuscamos sabores.
Caimos na gulodice dos rebuçados.
Um para cada momento.

A pouco e pouco, tudo desvanece.
A memória vai esquecendo cada vez mais.
A vista enfraquece.
Vêm os óculos e as diopterias.
Ficam opacos os ouvidos.

Vestir as calças de pé já não é fácil, sem um encosto.
Pede-se que nos apertem os cordões dos sapatos.
Os pés ficam longínquos.

Os cabelos os levou o vento.
Impiedosamente.
Já não temos o desvelo de nossa mãe.

Cá por dentro se sente o fim à espreita.
E, rico ou pobre, é esta a nossa condição.
Ninguém lhe escapa.

Bar do Edecka em Berlim, 23 de Janeiro de 2019
14h58m
Jlmg

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

As Naus e Caravelas

Naus e Caravelas

Carregadas de sonhos e engalanadas de esperança e muita fé, desceram o Tejo e partindo. pelo mar, para o mundo, vasto e desconhecido.

Seus mastros desfraldavam ao vento, a bandeira deste povo destemido e ambicioso.

Atravessaram mares e venceram adamastores,
enfrentaram ventos e tempestades,
dobraram cabos e continentes, do longínquo asiático e sul-americano.

Espalharam pelo mundo o nosso falar português.
Pregaram a Fé da nossa crença.
Transmitiram nosso jeito de trabalhar a terra e de viver a vida.
Recolheram sementes e especiarias, caldeando nossas culturas e saberes.

Por lá deixaram a força e a cor do nosso sangue.
Ainda hoje, perduram no imaginário daqueles povos, como lendas, as lembranças duma história que nos louva e engrandece.

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 23 de Janeiro de 2019
8h57m
Jlmg

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

As Calçadas de Lisboa

As Calçadas de Lisboa

Vetustas e cansadas sobem e descem as calçadas de Lisboa.
O que elas sabem das horas mortas de ida e vinda do trabalho das gentes sãs e laboriosas.
Ruas estreitas e apertadas entre prédios com janelas e varandas.
Onde o sol pálido só entra enviezado e a sombra chove o dia todo.

Com lojas e oficinas que fazem de tudo.
Mercearias e cafés.
Quiosques e escaparates.
Tantos maços de cigarro que dizem matar quem os comprar e se vendem tanto.
As vitrinas que se vestem e despem ali à vista, sem vergonha.

Leitos mortos onde se deita a madrugada.
E cirandam os vadios que, há muito,
por desgraça ou por destino,
ficaram sem eira nem beira.

Tantas histórias elas guardam.
Lindas heranças que vão passando,
de pais a filhos e dão orgulho à vizinhança.

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 22 de Janeiro de 2019
8h40m
Jlmg


As telhas da cidade

As telhas da cidade

Sossegadas, dormem as telhas sobre as casas.
Cansadas, descansam as gentes para a luta da vida de cada dia.
É a noite com seu afago que acalenta os sonhos de cada lar.
Juras e promessas de carinho semeando a seara de calor.
Ardem quentes as lareiras.
Servem-se quentes as doces refeições à mesa.
Tilintam copos e talheres. E os olhitos da pequenada brilham alegres para os pais.
Que pena!
É quase a hora de deitar.

E, no rescaldo do fim do dia, quando já dormem os pequenitos,
ainda à mesa, saciados, trocam gestos de carinho e dão-se as mãos, contando as lutas de mais um dia que passou.

É o quadro de Lisboa que adormece.

Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 21 de Janeiro de 2019
9h23m
Jlmg

sábado, 19 de janeiro de 2019

Zimbório da Estrela

Zimbório da Estrela

Erguida do chão, seu zimbório flamejante de luz, roçando as estrelas,
sobranceiro ao Tejo e mar,
aponta a Lisboa a direcção da luz.

Um espaço de oração louvando a Deus, o Criador.
Um extenso jardim verde à frente lhe suaviza a frente, refrescando seu fervor.
A realeza terrena a mandou erguer em agradecimento.
A encimam duas elegantes torres majestáticas.
Uma nave alta e bem iluminada, com o rico altar-mor ao fundo, ladeada de muitos altares aos santos e de frescos primorosos, na arte suprema da pintura.

Basílica da Estrela. Onde oram em segredo, os lisboetas e por onde passam os restos mortais de quem partiu para o Além.

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 20 de Janeiro de 2019
8h49m
Jlmg


sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

As lágrimas de Lisboa

As lágrimas de Lisboa

Foram tantas as tristezas de Lisboa que o Tejo encheu de lágrimas
e inundou o mar.
Naquela manhã inesquecível para quem sobreviveu
e todas as gerações que lhes sucederam.

Foi um abraço infinito de solidariedade que perdura hoje
e faz das suas gentes um exemplo de fraternidade.
Tantos laços as prendem à terra onde nascem que partilhar é seu modo de ser, na alegria e na tristeza.

Amam Lisboa como a uma mãe.
A veneram cada ano enchendo sua avenida maior com a alegria esfuziante das marchas coloridas de cada bairro
e com a chama ardente das procissões.

Regressa a casa com saudade, com devoção, em cada ano, cada filho que tem de ir correr o mundo para ganhar a sua vida quando nela, por infortúnio ou vil desgovernança, lhes escasseia o pão.

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 18 de Janeiro de 2019
8h56m
Jlmg

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Reconciliação


Reconciliação
Vamos sentar-nos à mesa.
Ponhamos de lado nossas reservas mentais.
Exponhamos nossas razões com verdade.
Abramos nossas mentes.
Há sempre uma razão oculta.
Só nós sabemos.
É mesmo nessas que se agarra a teimosia e a relutância.
Se desfeitas, tudo ficará mais fácil.
Tudo começa por um mal-entendido
que nunca foi abordado.
A divergência é inversamente proprcional ao entendimento e reencontro.
Só com um gesto abrupto. 
Uma decisão unânime e vertical se poderá pôr fim a uma desavença que só empobrece e nunca leva a nada...
Ouvindo Christina Sandsengen - Spanish Romance
Berlim, 17 de Janeiro de 2019
22h12m
Jlmg


As voltas da vida

As voltas da vida

Tantas passadas na senda dum futuro com êxito.
De casa para a escola.
O lápis e o ponteiro. A tabuada.
Tantas cópias. Linhas duplas.
E ditados com dificuldades.

Os calhamaços de história antiga.
Geografia e biologia,
Matemática até doer.

O primeiro emprego.
O aprender a viver com todos.
Para vencer na vida.

Ser alguém. Deixar bom rasto.
Sonhar. Dar boa sombra.
Saber sofrer.
Sem magoar ninguém.

Subir aos cumes.
Divisar ao longe.
Escolher caminhos,
Com boa bússola.

Desafiar a sorte.
Sem arriscar viver.
Saborear a vida.
Respeitando a morte.

Entregar-se todo.
Não olhar para trás.
Poupar as forças
Para que no fim não faltem.

Se assim for, valeu a pena.

Berlim, 17 de Janeiro de 2019
13h15m
Jlmg




quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Noitadas de Lisboa

Noitadas de Lisboa

Passadas perdidas nas madrugadas de Lisboa.
Fases da vida onde a sorte desapareceu.
Procurando remédio para os males.
Buscando arrimo nos braços de alguém.
Espaços solitários que o destino esvaziou.
Fontes de água doce para o azedo do dia a dia.

O encontro que se procurava nos meandros negros das passadas.
Eis que, enfim, um fado e um abraço na madrugada, servidos na casa certa, suavizam a mágoa e arribam o sabor da vida.

Toadas plangentes de cantos sentidos por alguém que encanta curando agruras e saram chagas.

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 17 de Janeiro de 2019
8h35m
Jlmg

Escuridão da mente

Escuridão da mente

Há momentos em que a mente se abate na escuridão.
Nem uma réstea luz.
É a noite cega e erma.
Sensação de quem se perdeu no bosque ao voltar para casa.

Desfalecimento e desânimo.
Nos prostramos no chão de qualquer jeito.
Buscando recuperar as forças.
Um pesadelo.
Só o despertar nos livra.

Estonteados.
Que diferença.
Entre a noite e o fulgor do dia.
Que alívio!
Afinal, não acabou o mundo.

Foi assim a minha noite.
Porquê?...

Berlim, 16 de Janeiro de 2019
9h50m
Jlmg

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Ausência

A ausência

A ausência ameaça na calada das noites.
Trava duelos vencidos.
Esquece amizades benditas.
Esmaga a saudade. Não a deixa viver.
Fabrica a distância.
Tece o desespero com pedras.
Rasga as chagas.
Desprende lamentos.
Bendiz a morte sem lei.
Fica roendo escamas.
Parece um duende roçando as trevas com arte.
Dá cor à fome.
Brota do chão.
Expõe-se à luz mas permanece sem cor.

Ouvindo Christina Sandsengen - Spanish Romance

Berlim, 15 de Janeiro de 2019
13h53m
Jlmg

Obra de arte

Obra de arte

Brilha e sobressai aquela obra que sai da arte.
Tecendo linhas.
Conjugando formas.
Dando volumes.
Pintando cores.
Exalando sonhos.
Perfumando o belo.

Imagens ocultas que a mente cultiva
na sombra da alma.
Pinturas gravadas que o talento dita
E o tempo não apaga.

Sulcos traçados na rocha perenes.
Heranças deixadas ao tempo futuro.
Valem fortunas sem preço.
As marcas da alma que falam caladas.

Ouvindo Comptine d'Un Autre Été- Die fabelhafte Welt der Amélie Piano

Berlim, 15 de Janeiro de 2019
11h43m
Jlmg

Bairros de Lisboa

Bairros de Lisboa

Salas de visita da cidade de Lisboa.
Engalanadas de surpresas.
Umas alegres. Outras tristes.
Como as soleiras quentes de suas casas.

Gerações e gerações neles nasceram e cresceram, dando cores e vida à tradição.
Da Graça à Madragoa.
Bairro Alto e Mouraria.
Do Castelo a Alcântara-Mar.

Em despique harmonioso disputam ser maiores.
Cada a seu jeito  e forma de olhar a vida.
O bairrismo são é um desporto.
Suas marchas pela a Avenida são seu hino à sorte grande da liberdade
de Lisboa.

Berlim, 15 de Janeiro de 2019
9h13m
Jlmg

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

As camélias

A outra face das camélias

Aparecem em pleno Inverno,
quando a chuva e o frio apertam,
engalanando alamedas,
cores garridas e folhagem verde.

Largam pétalas sobre o chão.
Se ofertam à pequenada, de sacola às costas que vai para a escola.
Dão-lhe ares de importância.
Alguns dos ramos são para a professora.
Fica feliz.

Com as flores faziam-se guerras às raparigas pelo recreio dentro.
Até os pavões da Casa da Estrada se armavam em festa e vinham à rede para a folia da raparigada.
Em Varziela.

Berlim, 14 de Janeiro de 2019
11h17m
Jlmg

domingo, 13 de janeiro de 2019

Na doce suavidade...

Na doce suavidade do despontar do sol...

Na suavidade doce do despontar do sol,
Visto meu corpo para as lides do novo dia.
Fecho os meus olhos e elevo minha alma às alturas da divindade.
Me cerco dos meus apetrechos e parto, com fé e confiança de que tudo vai dar certo.
Só voltarei à noite, com mais um dia ganho, para o regalo do meu lar.

Aqui sou eu apenas mais os que escolhi para companhia.
Os mesmos sonhos e sofrimentos.
Uma unidade onde a lei é o amor e a vontade de viver
e a paz o nosso mar...

Ouvindo P.I TCHAIKOVSKY : hymn of the cherubim by The USSR Ministry Of Culture Chamber Choir

Berlim, 14 de Janeiro de 2019
8h48m
Jlmg

Momentos cruciais

Momentos cruciais

Vi-me grego para explicar e demonstrar ao meu neto, quase a fazer 14 anitos, que Deus existe e é nosso Pai.
Tinha acabado de me dizer com a mior das naturalidades, que só acredita na história. Não acredita em Jesus Cristo.
Convem dizer que frequenta uma escola alemã, desde os 5 ou 6 anos. Independente como é, por temperamento, foi fácil solidificar na descrença e nos valores de ser religioso.

Senti-me no dever de aproveitar bem aquele momento.

Tremi por dentro. Pedi ajuda a Deus e avancei.

Lembrei a primeira vez que ouvi meu abade velhinho, pároco da minha aldeia. O abade joão. Guardava sua cabrinha ao cair da tarde num monte ao pé de minha casa. Ao pé do "cruzerinho".
Eu teria uns 6 para 7 anos.

Falou-me do sol, da lua e das estrelas que nós víamos. Do mar e das serras. Do nascer e colher do milho com que se cozia o pão.
-Sabes quem criou tudo?
- Não.
- Foi Deus. Um ser muito rico que existe e nós não conhecemos. Mas é real e verdadeiro.
Sim. Ele fez tudo isto para nos dar a nós.
- E porque não O podemos conhecer? - perguntei.
- Olha. Se fechares os olhos podes falar com Ele. Fica a ouvir que Ele te responde.
Nossos ouvidos não O ouvem, mas a alma, sim.
- E o que é a alma?
Ele fitou-me e, por momentos, ficou calado.
Depois avançou.
- Para sentires a tua alma é melhor fechar os olhos. Pergunta-lhe quem és. O teu nome e de quem és filho. Ela sabe tudo de ti. O corpo não. Porque te sentes triste ou alegre.
Pois é. Ela é a presença d'Aquele Deus em ti. É por ela que Ele te fala. Te explica o que quiseres saber.
Senti-me encantado com o que estava a ouvir.
Desejei ficar sózinho para experimentar por mim.

Entretanto a noite caíra. Havia muitas estrelas brilhantes no céu. Passei a olhá-las com outros olhos.

Só sei que, depois daquele encontro com o Senhor Abade João, senti a presença de Deus em mim. Para sempre. Senti-me transformado noutro Quim Luís...

Berlim, 13 de Janeiro de 2019
20h16m
Jlmg




Militância...


Minha militância...

Minha militância é ganhar a vida, num dia de cada vez.
É vencer sorrindo para o fim que há-de vir.
Fazer amigos que me queiram assim como amigo.
Levar ao fim a tarefa de benfazer.
Conservar em mim a doce lembrança do dever cumprido.
Sentir-me firme no baloiçar do mar onde navego.
Querer cumprir o que de mim espera quem me quer bem.
Sirva de exemplo aos meus cada passo que eu der na vida.
Me levante sempre mais forte de cada erro que eu cometer.
Me deitar tranquilo ao fim de cada dia.

Se assim fizer, ganharei o bom combate e nada temo...

Berlim, 13 de Janeiro de 2019
17h27m
Jlmg

Minhas mágoas...



Que são as minhas mágoas?...

Que são minhas mágoas ao pé de tantas que alguém sofre por esse mundo?
Aquele que tem de abandonar sua casa e seu país para salvar a própria vida.
Tomar um barco a abarrotar e arrostar a travessia até terra firme e acolhedora.

A dor dos pais a quem raptaram seu filho sem deixar rasto.
O telefonema ao nascer do dia aos avós a dizer que, dum dia para o outro, inesperadamente, lhes morreu o netinho de dois anos.

Tudo horas de dor lancinante a que todos estão sujeitos pelo simples facto de estarmos vivos.

Uma realidade que só nos leva a saborear a doce paz e riqueza das horas sãs...

Berlim, 13 de Janeiro de 2019
10h40m
Jlmg

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Liberdade de parar

Liberdade de parar
Assim que nasce o rio não tem mais liberdade de parar.
Vai correndo e vai crescendo.
Salta escarpas.
Branqueia as pedras.
Faz-se largo. Entumecido.
Circunda o monte.
Vagueia o campo.
Faz açudes.
Fabrica areia.
Tece praias.
Quase adormece.
Marcha em frente.
Rega aldeias.
Campo de arroz.
Se perde em lezíria.
Quando dá conta, entra no mar.
Já não é rio.
Berlim, 11 de Janeiro de 2019
16h11m
Jlmg

Liberdade do bem e do mal

Liberdade do bem e do mal

Ficará por desvendar o segredo porque é assim.
Temos o bem e o mal à nossa mão.
Porque existe o mal?
Porque atrai nossa vontade para o fazer a nós e nosso irmão?
Se assim não fosse o mundo seria um céu.
Porque nos deu Deus a liberdade?
Mistério que só Ele sabe.
Porque Ele é bom, será melhor assim.

Nem sempre somos livres ao fazer o mal.
É da nossa condição.
Não falha. É exacta Sua balança quando chegar a hora do julgamento.
Tudo joga a nosso favor.
Sua misericórdia é tão infinita como a justiça.
Mesmo sem fé.
Nunca nos nega a oportunidade...

Berlim, 11 de Janeiro de 2019
10h2m
Jmg

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Varandas de Lisboa


Varandas de Lisboa

Varandas de Lisboa,
em ferro gradeadas,
com vasos floridos.
Viradas para o Tejo.
Perfumadas de brisa fresca.

Que encanto vê-las
Por quem passa em baixo,
mirando o céu.

Sois a marca da alegria lisboeta
e a Primavera sempre presente.
A entrada do sol em cada casa.
Visita de cada dia, do nascer ao pôr do sol.
A luz permanente que as inunda benfazeja.

Altar de preces nas horas tristes de aflição.
Que lindos rostos envelhecidos delas espreitam curtindo saudades do passado
quando corria vivo o sangue nas suas veias.

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 11 de Janeiro de 2019
7h22m
Jlmg


Minhas passadas

Minhas passadas

Soletro minhas passadas no caminho da solidão.
Mergulho no infinito em busca do passado.
Me arrependo dos passos perdidos.
Meus desvios da verdade.
Ilusões que o oculto nunca desvendou.

Imagino o que eu seria no presente, não fora a sorte ou a fraqueza que me avassalou.

Cada um é o que foi capaz.
Tantas são as forças e influências.
Até as que nasceram connosco e correm em nosso sangue.
Separar quem sou do que poderia ter sido não compete a nós, mas a quem nos criou
E nos respeitou a liberdade…

Ouvindo “Tanauser” de Wagner

Berlim, 10 de Janeiro de 2019
18h14m
Jlmg

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

O arco do Triunfo

O Arco do Triunfo

Porta larga e alta sempre aberta.
Passa por ele o mundo
na busca curiosa de Lisboa.
Tem um arco de volta inteira.
Duas colunas fortes o sustentam.
Tem a força da paz e liberdade.
Sua sombra não chega ao chão.

Recebe o sol logo ao nascer.
Se despede dele ao cair da tarde.
Saúda o Tejo seu forasteiro desde outrora.
O convida a ver o mar.

Ponto de chegada e de partida para quem vem e vai.
Se banha de alegria vendo as gentes que o contemplam.
Seu gesto é sempre o mesmo:
-Voltem sempre!

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 10 de Janeiro de 2019
7h8m
Jlmg


terça-feira, 8 de janeiro de 2019

De Rosáceas e de Vitrais

De Rosáceas e de Vitrais

Na aspiração para o alto que caracteriza o homem,
tingiu o vidro de todas as cores, sem perder sua transparência.
Obteve flores. Bosques luminosos de ninfas povoados e divindades.
Enfeitou com eles palácios e catedrais.
Decorou janelas e rosáceas.
Filtrando as cores da luz e espelhando-as
pelos salões e pelas naves, num deslumbramento pictórico que sugere as belezas celestiais.

Imitando estrelas esparzindo luz e brilho nas noites belas das madrugadas.
Tecendo véus e mantas com a beleza das flores para vestirem as damas palacianas se passeando pelos jardins em majestosas posições.

Foi a era do culto puro ao sublime, sem recurso aos floreados de mau gosto que o futuro, embriegado de pobreza imaginativa, haveria de consagrar.

De tudo se vêem recheadas os palácios e as paredes das igrejas de Lisboa.

Berlim, 9 de Janeiro de 2019
7h2m
Jlmg

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Alfacinhas


Alfacinhas

Não se sabe donde veio este nome aos lisboetas.
Não importa.
O aceitaram bem todas as gerações.
Algo diz da sua alma.
Talvez a esperança verde.
Sua frescura nas emoções.

Diz bem o que eles são.
São tenros e ternos nas suas relações de vizinhança e solidariedade.
Falam de porta a porta.
Se socorrem nas dores e aflições.

Sentem igual a nostalgia do passado.
Suas memórias se mantêm acesas.
Fazem lenda os seus fadistas e letrados.
Pessoa e Eça.
Júlio Dantas.
Um rosário.

Sentem-se em festa na alegria diária dos mercados.
A freguesia que os alimenta e lhes merca todos os verdes que vêm das hortas.
Nada sobra ao fim do dia quando fecham as portas.
Ficam secas todas as bancadas.

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 8 de Janeiro de 2019
7h46m
Jlmg

domingo, 6 de janeiro de 2019

Sementes de lusitanidade


Sementes de lusitanidade

Caíram, há séculos, as sementes de lusitanidade nas ruas de Lisboa.
Cresceram, floriram, frutificaram e se expandiram por todo Portugal.
Cobriram as encostas e os vales, desde a montanha até ao mar.

Um país laborioso e destemido, de operários, lavradores e marinheiros
se fixou e afirmou.
Adoptou a cruz de Cristo como bandeira branca e azul.
Se abalançou aos mares e, pioneiro, devassou os continentes, se cobrindo de glória.

Assimilou povos tão diferentes na cor e nos falares.
Se caldeou tão profundamente que, ainda hoje, se ouve o falar de Camões por essas paragens tão longínquas
e todos nos querem bem.

Quando a história os recolheu a casa, mesmo assim, seus talentos se espalham por todo o mundo,
sendo reconhecidos como os melhores dos melhores,
no campo das artes e das ciências.

Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 7 de Janeiro de 2019
7h18m
Jlmg

É de aço minha armadura


É de aço minha armadura

É e aço minha armadura contra as garras do desespero.
Trepo às alturas para me desviar das tentações.
Me deito ao sol para secar minhas amarguras.
Exponho ao mundo a censura franca dos seus desvarios.
Alcanço a pulso o pão nosso de cada dia.
Cada vez mais me sinto desfalecido.
É feroz a luta pela sobrevivência do corpo e alma.
É difícil esta prova em que Deus me pôs.
Minha esperança e fé me acompanham para todo o lado.
Se assim não fosse, já teria feito minha sepultura...

Ouvindo "Ave-Maria " de Schubert

Edecka em Berlim, 6 de Janeiro de 2019
10h29m
Jlmg

https://www.youtube.com/watch?v=JuDGFBsA_As

sábado, 5 de janeiro de 2019

Revolta das areias da praia

Revolta das areias da praia

Cansadas de serem pisadas pelas ondas, se revoltaram as areias da praia.
Nelas se resplandavam desde sempre, sem um agradecimento.
Deram as mãos. Se ergueram em muralha.
Bem em frente ao mar.
Um pinhal de pinheiros lhes cresceu por detrás.
Uma manta de urzes as cobriu de cores.

O mar vacilou.
Especou irado.

Vamos ver o que vai dar.

Ninguém se atreva a desafiar o mar...

Berlim, 6 de Janeiro de 2019
6h43m
Jlmg


Revolução dos cravos

Revolução dos cravos

Numa madrugada de Abril,
deflagrou em Lisboa uma revolução.
Em vez de sangue, uma núvem de perfume encheu todas as ruas.
Foram cravos rubros que cobriram o chão, as lapelas e os canos das espingardas.

Para trás ficaram sepultados todos ódios e vexames.
Uma nova aurora boreal banhou de esperança a noite negra em que se vivia.
Enormes vagas de entusiasmo varreram as almas dos lisboetas.
Pouco a pouco se espalharam por todos os campos e aldeias.

Uma era nova se abriu.
Ficou mais perto o mundo inteiro.
Um sonho lindo.
Um sonho apenas que não mais esqueceu...

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 6 de Janeiro de 2019
7h3m
Jlmg

As pontes de Lisboa


As pontes de Lisboa

Duas de ferro outra de massa, unem as duas margens do Tejo.
Dois laços que abraçam o norte e o sul.
Três faxas que vão e vêm.
Longe e perto.

Vila Franca.
Vinte e cinco de Abril.
Vasco da Gama.

Cada uma tem sua história.

A primeira.
Tantos anos única.
Passagem firme em ferro.
Das lezírias e do gado bravo.
Às matas densas de pinheiros mansos,
Das azinheiras e dos sobreiros.
Um ermo verde.
Do Alentejo até ao Algarve.

A segunda.
Mais a sul.
Também em ferro.
Colossal para as nossas forças.

Vi-a nascer.
Suspensa em cordas.
Desde o paquete Timor que nos levou para a guerra.
Estava aberta quando voltei para casa.
1966.
Se realizara um sonho.
Lisboa e Almada. Duas irmãs.
Se abateu de vez, a fronteira entre o sul e o norte.

A terceira.

Ponte sem fim.
Rentinha à água.
Lisboa ao longe.
Se calhar, errou.
De pouco serviu...

Se navega nela como se no mar.

Berlim, 5 de Janeiro de 2019
14h32m
Jlmg





quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Tejo abaixo

Tejo abaixo...

Tejo abaixo, desde as alturas de Espanha, até à foz no Atlântico.
Fogoso como um gamo que se soltou,
Desce as lonjuras alcantiladas de Castela.
Se espraia dominante nas planícies verdes de Toledo, Aranguez e Talavera de la Rena.
Serve as gentes de água à farta,
para os campos e verduras.
Faz represas energéticas com pujança.
Enche ramos de canais vivificadores, bem para longe.

E o que sobra vem em força Portugal dentro.
Agora manso e benigno.
Rega campos e lezírias.
Sacia famintas centrais eléctricas.
Bordeja as terras verdes de Santarém e Vila Franca.
O gado bravo se embriaga nele.
Suporta ufano as pontes que abraçam as duas margens.

É repasto dos grandes paquetes e dos dinossauros cargueiros das mercadorias.

Cansado e devoto, saúda Cristo-Rei, que o acolhe como um Pai, vai entregar-se ao mar.
Onde repousa em descanso eterno...

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 4 de Janeiro de 2019
8h1m
Jlmg

O poder das sombras


O poder das sombras

É mágico o sombreado num quadro belo e colorido.
Se apagam para realçar os tons e lhes dar brilho.
Seu mundo é o silêncio.
Nunca alardeiam o poder que têm.
Se apagam pelo essencial.
São as hastes dum jardim suspenso.
São a chave das galerias do museu do Louvre.
Até as cores vivem das sombras.

Berlim, 3 de Janeiro de 2019
9h26m
Jlmg

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Fogueiras de Lisboa

Fogueiras de Lisboa

Há fogueiras e baladas nas latadas de Lisboa.
Noites de folia. Regadas de alegria.
Corre vinho pelas mesas.
Gargalhadas em baforadas se despegam céu acima.
Jorra a farra.
Se escorraçam as tristezas que escurecem as almas.
Trocam-se sorrisos por abraços.
Renasce o amor e a fraternidade pelos jardins da mocidade.
É a tradição secular que se alimenta para que nunca morra.

Lisboa acorda renascida e vigorosa, depois das noitadas festivas de Santo António e São João.

Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 3 de Janeiro de 2019
Jlmg

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Olhares enviezados


Olhares enviezados

A linha recta nunca une os olhares enviezados.
São tortos aqueles olhos que tudo distorcem a seu jeito.
Não brilha neles o sol da verdade.
Calculistas. Elitistas.
Interesseiros.
Só o que lhes dá lucro.

Se desculpam sempre se chamados a participar.
Pesos mortos.
Sem eles tudo gira melhor.

E se tropeça neles em cada esquina.
Obstáculos ao nosso progresso.
Mas, também nos torna mais ágeis.
Mais atentos.
E isso é bom.
A facilidade é terreno fértil para os ociosos.
Sem arestas ou asperezas, escorregar é um risco certo.

Berlim, 2 de Janeiro de 2019
8h45m
Jlmg

As cores de Lisboa

As cores de Lisboa

Do lilás ao azul e violeta,
Lisboa tem as cores do arco-íris.
Azulíneo o céu de dia.
O verde-esmeralda no rio Tejo.
São doiradas suas janelas ao sol.
Uma manta imensa de telhados rubros.
A alvura alvinitente no amanhecer de nevoeiro.
O ar tem a cor da transparência.
Nada custa olhar ao longe na busca do Alentejo.
É sinuosa e sem fim a linha prateada das praias, lá para o sul.

Quem a mira desde o morro do Cristo-Rei pode contar, uma a uma, as portas e janelas de cada casa, em cada bairro.

Salpicada do verde das avenidas e jardins, sorri ao vento, graciosa bailarina, aos devaneios amorosos de Monsanto.

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 2 de Janeiro de 2019
6h43m
Jlmg