Lausperenes da Catedral
Aquelas procissões longas de sobrepelizes brancas a esvoaçar,
desde as escadas do seminário.
Fornadas de fogo clericais que se destinavam a alimentar de crença a diocese.
Jovens fogosos, no despertar da vida, sonhando com um horizonte de felicidade e afirmação.
Enchiam de brancura alvinitente as bancadas solenes junto ao altar.
Entre salmos lamuriados,
de pranto e de fervor,
chegava o bispo empurpurado,
numa mão o ceptro poderoso,
enquanto a outra abençoava.
Núvens de incenso toldavam os ares da catedral.
Depois a sequência de louvores em coro, acompanhava a missa,
desde o kyrie e da glória até ao fim.
E, no meio, vinha a esperada prédica do prelado,
sobre as escrituras do momento,
insufladas de divina inspiração.
Enquanto o povo selecto da cidade, espalhado pelos bancos, se regalava de indulgências.
Era assim. Eu vi.
Nos anos sessenta.
Berlim, 25 de Janeiro de 2019
10h18m
Jlmg
Sem comentários:
Enviar um comentário