sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Uma manta de penugem...


Tomo uma escada…
Tomo uma escada
E subo no céu azul,
Banhado de sol,
Fugindo ao gelo
Desta terra molhada.

Alcanço o infinito
E vejo como tudo
É pequeno e escasso.
Se fecho os olhos,
Fico no centro do mundo…
Berlim, 31 de Dezembro de 2016
9h53m
Jlmg








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Uma manta de penugem, gelada e branca…
Revestia o chão negro de folhas desfalecidas.
Um melro calado e independente
Debicava em cadência sóbria
A comida que encontrava.

Meus passos batiam firmes
E das narinas saía em baforada,
O calor interno,
Como se fora uma chaminé.
Resistentes em painel de cores,
Havia florinhas tímidas e resfriadas
Pelas moitas de arbustos
Que sobraram.
E, depois, num pequeno lago,
De água negra
Brincavam gansos
Em fogosa brincadeira.
À sua volta, uma manta branca
Se estendia.
Aos pares, em perfeita camaradagem,
Corriam cães atrás das pedras
Que seus donos lhes atiravam.
Ó que harmonia de natureza
No dealbar de mais um dia
Que nascia!...
Berlim, 30 de Dezembro de 2016
Jlmg

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Cada manhã...

Cada manhã...

Cada manhã abro a janela
e vejo a manhã.
Me lanço à vida....
Me puxa com força.
Deixo-me ir.
Viver com os vivos.

O dia começa.
Me traz novidades.
Saboreio o momento.
Não olho para trás.
Somam os anos.
O balanço é bom.
Não me arrependo de nada.
Fazer por viver
o melhor que puder.
Quem manda sou eu.
Jlmg

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

A apatia...

A apatia...

Convida a ficar quieto
Esta apatia matinal.
Reagir.
Pegar nos pés e dar uma caminhada.
O ar fresco.
A vida em curso.

O canito branco, preso a uma trela
Que se recusa a dar mais um passo
Num cruzamento.

A moça a fumar enquanto espera
e dedilha o fone.
E a senhora bem maquilhada.
Lá vai altiva na sua cadeira
De duas rodas.

Tudo é a vida em movimento.
Nada estático.

Até o ramo da silva em arco
Que pende sobre o passeio
Me afugenta e eu respeito.

O mesmo caminho da caminhada.
Se insurge e não quer que eu vá.
Mas vou, sem o encurtar.

O corpo aquece.
E eu espevito.
Aqui quem manda é minha vontade.

Regresso a casa.
Me sento à mesa.
Foi-se a apatia
E a nuvem espessa...

Berlim, 29 de Dezembro de 2016
8h49m

Jlmg


o peito duma mulher...

O peito duma mulher…


Aquele mar encapelado
Onde apetece mergulhar.
Aquele barco engalanado,
Não há onda brava
Que o atemorize.
Aquele farol aceso
Que, de longe,
Ilumina o mar.
Aquela vela panda
Que só o vento faz vibrar.
Aquela montanha branca
Que de longe brilha ao sol.
Aquela muralha forte
Que abriga um coração.
Aquele regaço aberto
Onde apetece adormecer.
Não há nada nem ninguém.
Por mais forte ou por mais fraco,
Seja pobre, seja rico,
Capaz de lhe resistir…
Berlim, 27 de Dezembro de 2016
00h10m
Jlmg

Choram as pedras...

Choram as pedras...

Aves perdidas,
Choram as pedras,
Bate-lhes o sol,
A fonte secou.

Folhas caídas,
Cansadas da vida,
Presas ao caule,
Querendo voar.
Um rio em fúria,
Sua sina é fugir
Correndo no leito.
Um jovem sonhando,
Deixou as alturas,
Em procura do mar...
ouvindo Wagner...
Bar dos motocas, arredores de Berlim, 27 de Dezembro de 2016
11h30m
Jlmg

A sopa do dia anterior...

A sopa do dia anterior…


Uma tigela de barro.
Um copo de vinho.
A sopa a ferver.
Do último dia.

Depois, roupa velha,
Com laivos de azeite.
Um naco de broa.
Rodelas-chouriço,
Bigodes de sopa.
Olhos brilhantes.
Arfantes de amor.
A lareira em chamas.
Alegria geral.
Família unida.
Um Natal que passou.
A hora tão grande,
Carregada de luz.
Nos enche o peito.
Relembra o passado.
Infância feliz…
Berlim, 27 de Dezembro de 2016
20h8m
Jlmg

O terror da amizade...

O terror da amizade…
Ninguém sonha o que ela faz
Quando é a sério.
Desfaz distâncias.
Os nós e os preconceitos.

Abraça o mundo.
Não olha a custos.
Torna iguais os seus irmãos.
Gera o encanto.
Suaviza a vida.
Dá vontade de acordar.
É como o sol.
Aquece.
Sempre atenta.
Não vive só.
E, quando nasce,
É para todos.
Não tem idade.
Apenas nasce.
É imortal.
Prolifera.
Muitos frutos.
De qualidade.
Não usa químicas.
São biológicos.
Quem os provar fica freguês…
Berlim, 28 de Dezembro de 2016
9h15m
Jlmg

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Terça-feira de natal...

Esta terça-feira molhada...

Chuva cinzenta escorrendo no chão.
O vento molhado soprando raivoso.
A neve prometida
Que tarda e não vem.
Só este bar com cor
Consola e convem.

Um estranho sabor
Me invade e domina.
Um navio sem norte,
Sem azul e sem mar.

Um ano que acaba
E apetece esquecer.
O outro que vem.

A esperança que nasce,
A manta de verde,
Raiada de sol...

Bar Motocas, arredores de Berlim,
27 de Dezembro de 2016
10h50m

JLMG

A força da emoção...

A força da emoção…
Aquela têmpera brilhante e rubra
Que só o arder da labareda alcança.
Aquele encanto íntimo
Que nos encanta de sublime.
Aquela magia inefável
Que envolve a vida
De fulgurosos cambiantes.
O abraço forte e incandescente
Que inflama de amor
Os corações mais arrefecidos.
A derradeira chama acesa capaz
De atear o mundo.
Aquele veleiro quimérico
Que, por fim, nos transporta ao
Fim do mundo.
Aquela bênção divina
Que sempre cai na derradeira hora.
A esperança viva que sustenta a alma
Nas intempéries do mar da vida.
Nunca alguém se apaga,
Enquanto sua chama arde…
Berlim, 26 de Dezembro de 2016
22h36m
Jlmg

sábado, 24 de dezembro de 2016

A nudez do espírito...

A nudez do espírito...

Através do manto espesso da realidade
eu vejo a nudês translúcida do espírito.

A forma multíplice que reveste o ser de todos os seres.

Os arquétipos imaginados pela sabedoria e arte mágica do Criador.

O sopro misterioso que tudo inflama,
com beleza e infinitude de mestria universal.

A prova inexorável da bondade e fulgor do Criador...

Berlim, 23 de Dezembro de 2016
14h31m

JLMG

Espírito de natal

Espírito de Natal…
Aquela magia divina da noite de Natal.
O presépio aceso com as prendas do amor.
Aqueles sorrisos puros de crianças…
Nunca mais iguais voltam a ser.
Uma mesa farta de iguarias.
Que sabor!...
O abrir de embrulhos.
Que surpresa!
Tudo era alegria
Como nunca mais volta a haver.
Os pais e avós ali à volta.
Que sabor!
E Jesus nasceu…
Berlim, 23 de Dezembro de 2016
13h6m
JLMG

domingo, 18 de dezembro de 2016

Meu pinheiro de Natal

Está seco meu pinheiro de natal.
Ficou lá fora todo o ano ao tempo.
Agora, nem a neve.
Só lhe luzem as bolas
Que a chuva dá...

JLMG

Cicatrizes do monte

Cicatrizes do monte…
A encosta do monte tem cicatrizes.
Pedreiros a monte,
Roubaram-lhe as pedras.
Deixaram-lhe feridas.
Com o tempo secaram.
Caíram as chuvas.
Choveram sementes,
De tojo e de urzes.
Duma manta de cores
A primavera as cobriu.
Reluzem ao sol
E dançam ao vento.
Repasto de abelhas,
Searas de mel.
Às vezes das chagas,
Com a bênção de Deus,
Renasce com vida
Uma fartura sem fim…
Berlim, 18 de Dezembro de 2016
13h39m
JLMG

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Sorriso das folhas...

Sorriso das folhas...

Caídas no chão,
sorriem as folhas ao sol.

Se despedem da vida
onde bailaram de verde,
depois amarelas,
pintando os ramos
às cores,
como se fossem flores.

Uma manta de neve
há-de cobri-las,
seu sono eterno,
entranhas do húmus,
repasto dos vermes.

É o ciclo perene dos seres,
dotados de vida,
quer queiram ou não...

Bar dos Motocas, arredores de Berlim,
16 de Dezembro de 2016
11h23m

JLMG

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Inquietude...

Inquietude...

Até os corvos negros andam inquietos.

Não param quietos sobre os telhados.
Sarapantados, quebram arcos
E poisam no chão,
Remexendo as folhas.

Perante as carências,
Nunca inertes,
Não cruzam os braços.
Nada reclamam.
Se dão à luta,
Com toda a alma.

Suas crias, de bico aberto,
Os esperam inclementes.
Bem presente
Que já foram assim.

Como são tenazes
Estes corvos negros!...

Bar dos Motocas, arredores de Berlim
14 de Dezembro de 2016
11h25m

JLMG


Esperando o indefinido...

Esperando o indefinido…


Suspenso na minha órbita,
Eu busco o indefinido,
Sem algemas.
Como um pescador teimoso, de cana em punho a desafiar o rio.
Ou cavalo selvagem
Que só amansa
Quando alcança a pradaria.
Em meu redor, tudo rodopia,
Na sua senda,
Por lei da vida.
Nunca me chego à beira dum abismo.
Só por respeito da minha integridade.
Solitário, caneta em riste,
Eu só espero a hora
De me sentir rei.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Um poema...

Um poema...
Escrever um poema que chegou.
Lê-lo e sentir, cá dentro uma onda de emoção,
subindo,
entalando a garganta,
uma lágrima que cai,
o coração que acelera.
É a felicidade que vem...
Berlim, nos Motocas,
12 de Dezembro de 2016
11h58m
JLMG

Suave milagre...

Suave milagre…
Eis que no céu,
Uma estrela brilhou
E o Rei apareceu nas palhinhas deitado,
Um simples bebé,
Chorando e mamando
Nos peitos da Mãe,
Ao pé do seu pai,
Ninguém mais o cuidou.

Cresceu e brincou,
Correndo e caindo,
Esmurrando os joelhos,
Tal qual como nós.
Sorrindo para a Mãe,
Durante seu banho.
Se amodorrando ao peito,
Embrulhado num pano.
Suas vestes vestindo
Sempre a brincar.
Menino ladino.
Sem manhas,
Almoço à espera,
Fingindo não ouvir
O pai e a Mãe…
E demorava a chegar.
Aprendeu um ofício
Se preparando para a vida,
Ajudando lá em casa.
Até que um dia,
Homem já feito,
Se deu conta.
Seu rumo era outro.
Cumprir a missão,
Inscrita no peito:
Salvar todo o mundo,
Pregado na cruz.
Torná-lo perfeito,
Com vida imortal…
Seu nome Jesus!
Ouvindo Rachmaninov, concerto nº 3
Por Kathya Buniatishvilli
Berlim, 12 de Dezembro de Dezembro de 2016
18h7m
JLMG

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Estrada molhada...

De novo, a estrada molhada...

Chovem salpicos com lama.
Vidraças ofuscas.
Nervos em riste.
A estrada vai cheia.
A velocidade latente.

A vida constante
De tanta gente igualzinha.
Táxis, polícias
E o socorro da estrada.
A luta da vida
Assim o impõe.

Há quem passeie e descanse.
Quem cumpra o dever
Visitando ausentes,
Por bem e por mal.

Assim foi e será.
Oxalá que em paz...

Bar dos Motocas, arredores de Berlim,
12 de Dezembro de 2016
11h6m

JLMG




Mar das emoções...

Arrosto o mar das emoções


Como um barco afoito,
No rebentar das ondas,
Em mar irado, me lanço e arrosto,
Sem olhar para trás.

As domino e venço.
E o mar largo e imenso,
Se abre em frente.
Cumpro a minha rota
Até alcançar o cais.
É ao largo que é alto e fundo
O céu.
Só o cintilar das estrelas
Me ofusca e inunda os olhos
E, por eles a alma.
Como astronauta,
A voar na altura,
É do mar que a nitidez da Terra avulta…
Ouvindo Susan Boyle
Berlim, 11 de Dezembro de 2016
18h0m
JLMG

domingo, 11 de dezembro de 2016

Lema de vida...

Um lema para toda a vida

Dócil.
Submisso.
Atento e compassivo.
Grato.
Combatente.
Aberto e acessível.
Reservado,
Mas risonho e circunspecto.

Misericordioso e penitente.
Religioso a cem por cento,
Sem dar nas vistas.

Constante,
Fiel e apaixonado.
Interveniente e positivo.
Carinhoso e apaixonado.

De tudo um pouco,
Com peso e com medida.

Seja o lema para uma vida cheia...

Berlim, 12 de Dezembro de 2016
8h49m

Jlmg

Clamam pelo sol...

Clamam pelo sol...
Clmam pelo sol,
desfraldadas ao vento,
as bandeiras molhadas
que convidam paragem.

Um luminoso café,
cheio de gente,
acolhe quem chega,
se come e se bebe
do bom e melhor.
Não falta a alegria
de gente madura.
Reina a fartura,
por fora e por dentro.
O espírito se espraia,
esquecendo negrumes.
O corpo descansa sentado,
esperando as ordens do dono.
Lá fora,
não importa que chova
ou que neve
e o tempo não conta,
mesmo que as bandeiras
clamem por sol...
Bar dos motocas, arredores de Berlim,
11 de Dezembro de 2016
11h2m
JLMG

sábado, 10 de dezembro de 2016

Travo seco e amargo...

Travo seco e amargo…
Vem do fundo.
Cortante.
Abrasivo.
Não há suco.
Favo ou mel
Que o adoce.
Pior que fel.

Não tem cor.
Se tivesse, só breu
O pintaria.
Borbota. Faz espuma.
Tem escamas duras.
Quartezianas.
Suplício.
Só um sol em brasa o queima
E, de novo, purifica…
Berlim, 10 de Dezembro de 2016
10h6m
Jlmg

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Salão docafé...

Salão do café


Adoro presenciar os casais sentados à mesa,
frente a frente num café.
As horas correm e eles, indiferentes,
conversam, sorriem, olhos nos olhos,
segredam-se os sonhos,
prometem amores sem favor.

Tempo sadio. Banhado de amor.
Flashes raiados de cor.

Adoro ver os casais em meninos,
se descobrindo por sendas, ignotas,
onde moram
O desejo e a fome
Do corpo e da alma.

Morrem temores em abraços, quentes,
Fervem os corpos trementes.
Lampejam os ossos.
A pele se arrepia em frémitos
E jorram dos olhos
Desejos escondidos...

Lá fora, caídas no chão,
Jazem amarelas, molhadas,
As folhas.
É Dezembro sem neve ...


Bar dos Motocas., arredores de Berlim, 9 de Dezembro de 2016
11h. 52m
Jlmg

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Não sei que diga ou faça...

Não sei que diga ou faça...

Tanto desatino desfaz e despedaça o mundo nesta hora!...
Não sei que faça ou diga.
De oriente ao ocidente.
No norte ao sul.

Até as calotes brancas, endurecidas
pela eternidade em ambos os polos,
se vão desfazendo e enchendo os mares.

Caem aviões e chocam comboios por motivos vis.

Cabeças sem tino conquistam os poderes dos povos como piratas e tudo escaqueiram sem qualquer respeito.

Escorre a injustiça dos tribunais supremos rasgando as leis.

E as religiões milenares que,
decantando a fé,
cimentaram certas,
os caminhos da humanidade,
estão a ser ofuscadas por nuvens espessas,
de erros crassos,
adulterando os fins.

Se estudam sondas para devassar os céus,
com objectivos perversos.
Enquanto, desvairadamente,
se arrasam cidades totais,
dizimando gentes
e se matam à fome populações inteiras.

Para onde vai o mundo?...
Só as divindades sabem.

Berlim, 8 de Dezembro de 2016
8h53m

JLMG






terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Apegado à vida...

Apegado à vida...

Surgi no mundo sem saber
quem sou, donde venho
e para quê.

Fui crescendo e olhando em redor.
Gostei tanto e cada vez mais.
Aquele Pai e aquela Mãe
me cuidavam, com tanto desvelo,
tudo me davam,
eram divinos.
A minha irmã, de olhos brilhantes,
sempre a brincar.
Os meus primos todos e tios
e os meus vizinhos.
Uma família, tão alargada,
de portas abertas.

A humanidade inteira só podia ser assim, também.

É tão bom viver.
Me apeguei à vida com tanta força.
Me sinto colado a ela,
como unha e carne.

Dou topadas.
Às vezes sangro,
mas tudo sara.
E eu prossigo, parece eterno.
Como me engano!

Tantos partiram
dos que me embalaram.
Meus pais e avós,
irmãos, amigos da escola
e tantos mais...
São só lembrança!

Se nada mais houvesse
para além da morte,
o ter nascido,
para todos nós?...

Maior desgraça
não poderia haver...

Berlim, 7 de Dezembro de 2016
7h37m

JLMG

Sem destino...

Sem destino...
Me lanço ao caminho sem destino.
Só páro no infinito.
Atestei de fé e esperança
o depósito do meu carro,
último grito.
Confio nele e no poder das minhas forças.
Nada temo.
Muitas estrelas no céu,
atentas,
me guiam e defendem.
Vou seguro...

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Abstracção...

Abstracção...

Abstraio dos ventos e das marés.
Me lanço ao mar da ilusão
com os pés bem assentes,
não vai cair ao chão.

Me guindo às profundidades infinitas
do meu ser.
Mo deu a divindade com seu saber infinito e o calor do seu amor.

Oiço baladas de melodia, desprendidas do indefinido,
me chegam e arrebatam o coração.
Desfalecido pelas ventanias e intempéries
que o cercam e querem soçobrar.

Do que em mim recebo gratuitamente,
eu quero partilhar igual e pronto.
Nada do que tenho e sou
é meu...

ouvindo o sublime das melodias

Berlim, 6 de Dezembro de 2016
8h40m
JLMG

domingo, 4 de dezembro de 2016

Minhas vértebras...

Minhas vértebras…

Terráqueas me rangem as vértebras.
Correm sulfúricos meus anelos profundos.
Raivosos esbracejam os corvos
Sem nada no chão.

Nas praias desertas dormitam as algas
Enquanto as ondas soltam bocejos.
Da espuma do mar se evolam fumaças.
Nuvens em bando avançam para a serra.
Pelos campos de estio
Chovem ameaças
Que o sol não chegue.
Das casas aflitas sobem as preces.
Faz tempos não chove.
Que grande desgraça!
A Deus que nos valha…
Berlim, 4 de Dezembro de 2016
11h13m
Jlmg

Funéreas vertigens

Funéreas vertigens...


Correm pelas escarpas das serras
funéreas vertigens.
Pairam desgraças,
no mundo,
em nuvens latentes.

Soam os gritos das almas famintas.
Bramem as feras com medo do homem moderno.
Nada respeita.
Até queimou a cama lavada
onde nasceu!
Só a clemência de Deus
lhe pode valer...
Berlim, 4 de Dezembro de 2016
16h1m
Jlmg

Adormeci...

Adormeci...

Sentei-me no degrau da escada,
sei lá, cansado ou triste.
Adormeci.
Me vi sonhando.
No raiar da aurora.
Um céu alto e rondo.
Iluminado em fogo.

Ao longe o Marão alvinitente.
Ao perto os campos.
Os montes verdes.
Telhados rubros,
Aqui e ali.

Torres com cruzes.
Que davam horas
E mais as bênçãos,
Cheias de cores.

Não havia fome.
Havia paz.
Rostos alegres,
Olhares acesos.
Corpos sadios.
A trabalhar nos campos.

Subiam cantares
Que tinham réplicas.
Havia lágrimas,
Só das saudades.

Se davam abraços,
Pagos a pronto,
Tanta fartura,
Sem cobrar preço.

Um dia, porém,
A voz dos mandantes,
Ordens da pátria,
Soou de longe,
Chamou para a guerra.

Os jovens partiram.
Se foram dos cais,
Pelo mar sem fim.
Choveram as lágrimas,
Choro das mães.
Das namoradas.
Uns que se foram.
Nunca voltaram.
Tudo mudou...

Berlim, 5 de Dezembro de 2016
7h47m

JLMG

Não consigo devassar...

Não consigo devassar...

Às golfadas me entra pelas janelas
o nevoeiro de Berlim.
Não se consegue devassar.
É o prenúncio-mensageiro
que bate à porta.
Vem aí a manta branca
que no Inverno irá usar.
Já ciranda ansiosa pelas ruas
a frota alegre dos limpa-neve,
já cansados de esperar.
E os meninos, lá em casa,
desesperam por usar as botas novas
e jogar à bonecada,
com a neve que há-de cair...
Berlim, 4 de Dezembro de 2016
9h53m
JLMG

Oração dos pássaros...

Oração dos pássaros…


Pássaro esquecido,
Saltito tristonho
Na minha gaiola.
Portelha fechada,
Água na celha,
Milho no chão.

Bate-me o vento
Carregado de frio.
Cerro meu bico
De asas cerradas.
Escorrem-me as lágrimas,
Meus olhos molhados.
Peço uma manta,
Ninguém que ma dê.
Tremem-me os ossos,
Doem-me os pés.
Arde-me a esperança
Em meu peito com dor.
Salve rainha,
Na paz do Senhor!...
Berlim, 4 de Dezembro de 2016
12h21m
Jlmg

A Terra é negra...

A terra é negra…


Celeste é a luz.
Negra a Terra.
Se conheceram no céu,
Se dão tão bem.
Parecem casal.

Forjaram estrelas,
Pintaram os mares.
Vestiram de verde.
Estrela polar.
Cruzeiro do sul.
Teceram de rios,
Seus corpos terrenos,
Sopraram-lhe uma alma,
Ventos alísios,
Monções sem fim.
Arca de aliança
Entre o eterno e o fim.
Imaginação dos deuses,
Deixada à mão.
Para nosso bem…
Berlim, 4 de Dezembro de 2016
10h53m
JLMG

Nevoeiro de Berlim

Não consigo devassar...


Às golfadas me entra pelas janelas
o nevoeiro de Berlim.
Não se consegue devassar.
É o prenúncio-mensageiro
que bate à porta.
Vem aí a manta branca
que no Inverno irá usar.
Já ciranda ansiosa pelas ruas
a frota alegre dos limpa-neve,
já cansados de esperar.
E os meninos, lá em casa,
desesperam por usar as botas novas
e jogar à bonecada,
com a neve que há-de cair...
Berlim, 4 de Dezembro de 2016
9h53m
JLMG

sábado, 3 de dezembro de 2016

Poesia...

Poesia...


Caia do céu uma chuva branda de poesia iluminada.
Raie o sol em arco-íris.
Fecunde a terra com flores e frutos.
Seja abundante e farte a fome e  sede que a devoram.

Um imenso manto de justiça a envolva e cubra.

Que o hino da paz se entoe por toda a parte
e a felicidade seja a rainha...

ouvindo Rubinstein ao piano tocando Chopin

Berlim, 3 de Dezembro de 2016

9h16m

JLMG


quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Aldeias da serra...

Aldeias da serra...

Gosto das aldeias da serra.
Aldeias totais.

Nasci numa delas.
Feitas de pedra talhada, saída da terra.

Têm casas de pedra espalhadas.

Com poços e hortas tratadas
onde se cria de tudo.
Leiras de pão
e ramadas de vinho.

Casas vizinhas,
sem muros,
cheirando a fumo da lenha.

Bordadas à volta,
Com as cores,
de flores que crescem à solta
seguindo à risca as regras do tempo.

Têm caminhos em pedra
e bordas bravias.
Regos e sulcos,
por onde escorre a água das chuvas.

Matas e bosques onde habitam as aves
e cantam os cucos.

Por debaixo das telhas,
se guardam segredos e lendas
vindos de antanho...

Berlim, 1 de Dezembro de 2016
16h3m

JLMG