sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Um trago de água


Um trago de água

O tempo está frio e cinzento.
A mente enregelada se nega a pensar.
Bebo um trago de água a ver se me acordo.
Nem uma caminhada através do gelo me deu a vontade de escrever.
Pairam escondidas as ideias.
Uso a força para rasgar as cortinas que as tapam.
O resultado foi que, apenas destroços me apareceram.
Pedi às pombas um pouco da sua combatividade.
Não páram de espiolhar o chão apesar de frio.
Mais um pouco e a noite chega.
Afinal, para que deu o dia?...

Berlim, 30 de Novembro de 2018
15h33m
JLMG

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

As guitarrras e as vozes de Lisboa

As guitarras de Lisboa

Quis o destino que o fado de Lisboa fosse cantado pelas cordas da guitarra.
Aquela melodia que, como nenhuma, traduz bem a alma de Lisboa.
Seus desaires e desamores.
Alegrias e tristezas.
Tem as cores e os acordes, suaves e plangentes
que embalam os sonhos e as saudades.

Serviram-nas, no passado, vozes e artistas
Que nasceram para o fado.
Fizeram lenda. Fazem história.
Perdurarão imortais, no imaginário de quem teve a dita de nascer nas ruelas de Lisboa.
A "Severa" a Amália.
Carlos Paredes e Chaínho e tantos mais,
uma pléiada de expoentes inexcedíveis, na arte mestra de o cantar...

Berlim, 30 de Novembro de 2018
8h12m
JLMG


quarta-feira, 28 de novembro de 2018

A alma de Lisboa

A alma de Lisboa

A alma de Lisboa vagueia sobre o Tejo, reclamando entrada donde, um dia, saíu por esse mundo.

Sentidas suas gentes, lhe negaram recebê-la.
Enquanto, à sua frente, não penasse sua falta.
Tantas lágrimas derramadas terão ainda de secar.
Nada pior para um amado, ser abandonado pela sua razão de ser.
Avassalada em escuridão chorou perdida.
Maldisse a sorte do viver.
Agora que vive em paz habituada, recusa voltar a ser abandonada.

Ouvindo a guitarra de Carlos Paredes

Lisboa, 29 de Novembro de 2018
7h58m
JLMG

As boas ideias

As boas ideias

Surgem na mente as boas ideias.
No pobre e no rico.
No fraco e no forte.

Postas em prática, dão fruto.
Perduram no tempo.
Servem de exemplo.

Um plano urbanístico.
Um viaduto, encurtando o espaço.
Arborização de um parque.
Como Monsanto.
Era um deserto.
Hoje, um bosque.
Duarte Pacheco.

Uma larga avenida rasga a cidade.
Surgem relvados.
Com lagos no meio.
Árvores frondosas.
Se erguem os prédios.
Ferve o comércio.
Fervilham os bares.
Quiosques da sorte.
Bancos à sombra.
Fazem encanto a milhões de pessoas.

E tudo nasceu duma ideia bendita.
Não morreu na cabeça...

Berlim, 28 de Novembro de 2018
10h29m
JLMG

terça-feira, 27 de novembro de 2018

As colinas de Lisboa


As colinas de Lisboa

Leves e bem moduladas são as colinas de Lisboa.
Uma seara ao vento onde habitam e trabalham os alfacinhas.
Varandas floridas expostas ao sol e mar, com o Tejo sublime a seus pés ajoelhado.
Sua graça é um altar de bênçãos onde os deuses e as fadas se banqueteiam.
Noites ledas de luar.

Duas pontes são as arcadas que unem e abraçam as duas margens.
Um Cristo-Rei altivo e bondoso derramando as suas bênçãos infinitas.

Ao longe, fica azul o mar para onde foram as caravelas.
e, pelas ruelas, na madrugada, se chora plangente o fado e as guitarras de Lisboa.

Berlim, 28 de Novembro de 2018
8h28m
JLMG

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Os terreiros de Lisboa


Terreiros de Lisboa

Abundam terreiros espalhados por Lisboa.
Sobranceiros ao horizonte e ao Tejo sossegado.
Onde os vizinhos se encontram e falam da sua vida e labuta.

Bancos corridos ostentam uma visão de sonho, sobre o rio e o mar.
Despertando as saudades dos velhos tempos de meninice, ao pé de seus avós.

Marejam-se os olhos da contemplação.
Aquele céu azul que não tem fim.
Sabem a céu as horas ali passadas.
Cresceram árvores que bem fazem com sua sombra.

Reina ali a paz e a harmonia.
Que lindas floreiras espreitam nas janelas.

Deitados na relva dos jardins, se espreguiçam os gatos e os canitos se entretêm com suas traquinices.

Vêem-se ao longe os transatlânticos abarrotados de turistas sequiosos.
Mais um pouco e eles ali vêm subindo de eléctrico e elevadores as encostas até a estes espaços celestiais, os terraços de Lisboa.

Berlim, 27 de Novembro de 2018
8h5m
JLMG

Pareço um tolo...

Pareço um tolo...

Pareço, não. Sou um tolo no meio da praça.
Batendo às portas. Buscando um tema.
Há dias, se esconde de mim.
E, sem ele, faça o que faça,
O poema não vem.

Nunca perco a esperança.
Sei que, dum momento para o outro,
Quando menos espero,
ressalta-me à frente.
Ofusca-me o olhar.
Acende a fornalha.
Viro e reviro.
Baralho as ideias.
Busco palavras.
Atiço-lhe o fogo.
Eis que aparece, em forma,
Um poema feliz.
Revejo-me nele.

Donde é que ele vem,
Isso não sei.
Só sei que ele vem.
Basta aguardar.

Há tanto cá dentro,
No fundo da alma,
Ninguém imagina.
O que fica guardado,
Da vida real...

Berlim, 26 de Novembro de 2018
13h9m
JLMG

domingo, 25 de novembro de 2018

O amanhecer de Lisboa



O amanhecer de Lisboa

Claro e luminoso o amanhecer de Lisboa.
Um clarão incandescente vem lá de longe, de além Tejo,
Espalhando luz no céu e nas verdes águas.
Como ali, um mar.

Faíscam-lhe as velas ancoradas.
Baloiçam lentas as proas dos grandes barcos ali dormentes.
E as janelas minúsculas dos cacilheiros iluminam-lhe os bancos, a abarrotarem de gente que vai e vem trabalhar, ganhando o pão de cada dia.

Pelas ruas e ruelas, sobem apressadas para os empregos, as pessoas.
Algumas, poucas, sobem as escadas para rezarem uma Ave-Maria, no banco da igreja.

Os cafés e padarias a regorgitar, distribuem ao balcão, as bicas e os bolos fofos de arroz, o carvão que faz mexer, por dentro, o coração.

E, o mercado da ribeira, ali ao sair do comboio, fervilha de gente, como a festa duma colmeia, na busca das verduras para o almoço.

Enquanto os eléctricos amarelos, sobem e descem, apinhados até às portas, no bom ofício que escolheram...

Ouvindo as guitarras de Lisboa

Berlim, 26 de Novembro de 2018
8h3m
JLMG






Céu de Lisboa

Céu de Lisboa

Nunca vi no mundo assim um céu azul como o de Lisboa.
Diáfano e transparente, leve, suaviza os olhos,
Aquece o peito e faz-nos sonhar.
Olhar o céu, olhar o rio e ver o mar,
Tudo uma varanda que dá para o céu de quem acredita e sonha.
Que, um dia, lá há-de chegar.

Borbulham as cores dos telhados do casario.
Tons de ocre e cinza.
Uma borda extensa à beira Tejo, tingida às cores, cheia de casas e arvoredo.
Desde Cacilhas e o Seixal aos longes límpidos do Montijo e Atalaia.
Uma constante brisa fresca nos beija o rosto embevecido.
Apetece ficar por aqui para sempre, saboreando as delícias deste mundo belo…

Ouvindo a guitarra de Carlos Paredes
Berlim, 25 de Novembro de 2018
7h52m
Jlmg

sábado, 24 de novembro de 2018

A timidez no rosto


A timidez no rosto

A timidez da alma espelha-se no rosto límpido.
O brilho ligeiramente embaciado dos olhos.
As rugas ténues sobre os sobrolhos.
Na inclinação expectante da cabeça.
No descair dos braços por não saber o que fazer.
Na boca entreaberta sem saber o que dizer.
Na horizontal posição dos pés por não saberem como avançar.
No abrandar da respiração para os ouvidos ouvirem melhor.
E, sobretudo, na manifesta arrogância do ignorante que finge saber tudo...

Berlim, 24 de Novembro de 2018
10h5m
JLMG

A velhice à espreita...



A velhice à espreita
A velhice espreita nas rugas sofridas dum rosto.
Nas cãs brancas da cabeleira negra e espessa.
No cansaço das pernas que se negam a subir as escadas.
Na dor das costas quando a coluna se dobra ao chão.
Na ponte em ferro que enferruja ao vento da idade.
Nas pedras das calçadas que se descolam com as chuvas.
Nas modas do vestuário espampanante que deixaram de seduzir.
Nas linhas arquitectónicas dos palácios que deixaram de deslumbrar.
Nas locomotivas românticas a carvão que foram ultrapassadas pelo diesel.
Nos sedosos sapatos de pala que se envergonharam com os de pano vulcanizado.
Mas é no avançar da idade que as sombras se desvanescem e floresce em chama a sabedoria...
Berlim, 24 de Novembro de 2018
9h15m
JLMG

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Sé de Lisboa



Sé de Lisboa

Cátedra maior da igreja em Lisboa.
Templo sagrado, erguido em pedra, estilo romano, com rosácea colorida e luminosa.
Três naves em arco, com abóbodas de pedra bem cerzida, com uma leveza de encantar.

Altares sumptuosos, tecidos a oiro,
Onde se venera o sagrado, com humildade reconhecida.

Um órgão orquestral de mil tubos onde cabem todas as notas.
Alto coro majestático, donde ecoam vibrantes as vozes coloridas dos corais.
A pia sacra baptismal de granito, onde se abrem as portas eternas aos inocentes baptizandos.

Igreja-mãe das gentes de Lisboa, implantada na encosta luminosa frente ao Tejo.

ouvindo a guitarra de Carlos Paredes

( A neve anda mesmo a aparecer)

Berlim, 24 de Novembro de 2018
7h23m
JLMG

O cuco do Bar Motocas




O cuco do Bar Motocas

Às horas certas, sai da toca alegre o cuco e canta.
--Cuh-Cuh...
Tantas quantas horas.
Saúda a gente.
Depois, recolhe.
Sua casinha é bela.
Duas abas e uma varanda.

Em marcha certa o pêndulo
vai puxando o peso.

Uma presença rica.
Nos suaviza as horas.

Quando me vejo longe,
de vez em quando lembro.
Quando as horas batem.
- Lá estará o cuco a chamar por mim...

Bar dos Motocas, 23 de Novembro de 2018
10h19m
JLMG

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Terramoto de Lisboa

Terramoto de Lisboa
Gritos lancinantes. Desespero. Inundaram o solo de Lisboa naquela manhã negra de Novembro.
Ruíram despedaçadas as vetustas e majestosas construções, casas, palácios e igrejas.
A terra irada tremeu alucinadamente.
O mar e rio em convulsão descarregou nela suas ondas tenebrosas e mortais.
Para sempre desapareceram sepultadas nos escombros as gentes da nossa grei pelo infortúnio de ali viverem.
Restam ao ar velhos esqueletos de igrejas assinalando aquele dia de tanta dor, para os seus vindouros ficarem a chorá-los…
Ouvindo a guitarra de Carlos Paredes
Berlim, 23 de Novembro de 2018
7h38m
Jlmg

Dei por mim...


Dei por mim a vaguear...

Dei por mim a vaguear pelas margens do rio Tejo, em doce liberdade,
vendo além, os cacilheiros na sua faina do dia a dia.
O Cristo-Rei de braços abertos abraçando o mundo.
A ponte vermelha a ir e vir, numa correria insana.
De cá para lá. De lá para cá.

As gaivotas pensativas, fitando o rio.
Esperando sua hora de pescar.
As pessoas se engalfinhando nos barcos que vão para o Montijo.

Os turistas, de sacola às costas, fotografando tudo para depois mostrar.

Os ministérios sombrios e muito medonhos, digerindo o sangue do povo, em proveito de uns tantos, só.

O comboio amarelo de Cascais que vai e vem.
A abarrotar de gente. Que foge para longe para esquecer o corre-corre louco da cidade.
Espraio os meus olhos, cidade acima, da marginal à Estrela e ao Castelo.
No fim me abalanço e vou de barco à Trafaria, num sonho breve que sacia e alimenta...

Ouvindo as guitarras loucas de Lisboa

Berlim, 22 de Novembro de 2018
13h37m
JLMG


Uma lágrima, só...


Uma lágrima só

Uma lágrima só, vinda do coração, tem a força dum trovão e cala a dor.
Sara a ferida. Esquece a sombra e a mágoa da indiferença e esquecimento.
É divina.
Água pura e fresca. Mata a sede.
Degela o gelo nos corações.
Aquece. Sossega.
Uma lágrima, só,
Se é sincera,
É prenúncio de muita paz e bom viver...

Berlim, 22 de Novembro de 2018
9h56m
JLMG

Nossa terra, nosso País

Nossa terra, nosso País

Nossa terra tem castelos seculares e pontes romanas.
Tem palácios e catedrais.
Os Jerónimos e a Belém.
Mesquitas e horizontes siderais.

Tem limites e fronteiras.
Custaram sangue a traçar.
Um mar imenso. Tanta riqueza.
Terra fértil, pradarias.
Muito sol.
Um passado glorioso.
E um destino para viver.
Gente humilde muito nobre.
Uma língua muito rica.
Deu Camões e deu Pessoa.
Ensinou as Áfricas, pelas Ásias e o Brasil.
Muitos milhões.
Tem génios, na ciência e no saber.
Campeões. Maratonistas.
Bailarinos.
E tanto mais.
Para que serve tanta riqueza se o Povo é pobre e infeliz?...
Ouvindo Lord of The Rings (Calm Ambient Mix by Syneptic)
Berlim, 22 de Novembro de 2018
9h21m
JLMG

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

As gaivotas de Lisboa

As gaivotas de Lisboa

Deixaram o mar e se prenderam a Lisboa as gaivotas do mar alto.
Extasiadas com sua beleza, fizeram casa nas margens longas do Rio Tejo.
Seus dias são passados cirandando sobre as águas, pescando suas presas, em mergulhos tão certeiros, fazem raiva aos pescadores.

Poisadas sobre as pedras, espanejam suas asas de contentes.
Sobem no ar e fazem corridas  em alegres voos planados.
Parecem crianças na brincadeira dos recreios.
De vez em quando se atrevem curiosas a atravessar o Tejo, vão a Cacilhas e Trafaria, medindo suas forças.
Se multiplicam suas famílias em doces enlaces aos olhos dos lisboetas atarefados. Nem ligam.
As mais atrevidas se poisam sobre o cavalo real de Dom José, sacudindo de lá as pombas.
Ficaria triste Lisboa sem gaivotas...

ouvindo a guitarra de Carlos Paredes

Berlim, 22 de Novembro de 2018
7h4m
JLMG

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Encantos de Lisboa





Encantos de Lisboa

Não têm fim os encantos de Lisboa,
a princesa do rio Tejo e do mar.
Desde os tempos imemoriais de Ulisses e de Penélope.
Por aqui passou, esqueceu a Grécia e assentou arraiais.

Se protegeu dos bárbaros com um castelo alto em pedra imortal.
Seu reino alastrou para além do Tejo e para as regiões nortenhas.
Tornou-se um império, a luz do mundo.
Agora, vive feliz e sossegada, até aos confins verdes de Monsanto e das sete colinas...

ouvindo a guitarra de Paredes

Berlim, 21 de Novembro de 2018
6h50m
JLMG

De olhos no ar...

De olhos no ar

Não dá jeito andar na cidade de olhos no ar.
Se perde a beleza das janelas e varandas.
Suas grades de ferro rendilhadas.
Suas flores perenes.
As cortinas bem bordadas a crochet.
De vez em quando, o rosto triste dum idoso. Já não anda.
O gato preto ao pé.

Brilham só os batentes e maçanetas de latão.
As portadas em madeira grossa mui bem pintada.
Uma fenda nelas para o correio.
Sobram ninhos das andorinhas sob os beirais.

Pela janela aberta sai bela a voz da Amália, cantando a "Gaivota".
Dos médicos e advogados as placas oferecendo o seu serviço em letras d'ouro.

E, na ombreira em pedra, há botões à farta de campainhas.
Não tem preço uma passeata a qualquer hora pelas ruas belas de Lisboa.

Berlim, 20 de Novembro de 2018
10h22m
JLMG

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

A terra e o chão


A terra e o chão

Amo desesperado a terra e o chão.
Eu lhes dou a força e o engenho.
Deles me vem o vinho e o pão.
Meus pés lhes traçam os caminhos.
Subo e desço. Parado é que não fico.
Minhas arcas e a adega só se enchem
Se eu der o meu suor.
Que lindas ramadas verdes. Carregadinhas de bagos de uva.
São de oiro as searas loiras que ao sol brilham.
Este ano vai ser farto o São Miguel.

São férteis os vales e as colinas.
Se alegram na Primavera de urzes e de boninas.
É tão suave o rio que lhes mata a sede.
Nunca diz que não.

Que lindo painel de cores nos pintou a natureza.
Dele nos vem a alegria e a fome de viver...

Berlim, 20 de Novembro de 2018
8h16m
JLMG


Não há sobreviventes


Não há sobreviventes...

Chora Lisboa teus filhos naufragados no Tejo.
Giravam na sua vida, ganhando o pão para viverem.
O alvoroço descomedido das águas os precipitou sem rasto.
Agora a desgraça caíu sobre as famílias.

O destino marcado venceu-lhes as forças inclemente.
Ó triste sorte de quem tem de lutar para viver...

Ouvindo a guitarra de Carlos Paredes

Berlim, 20 de Novembro de 2018
6h46m
JLMG

Mesa posta




Mesa posta

Toalha branca, tecida a linho.
Bordada às cores.
Rendas pendentes.
Com laivos d'oiro.
Um centro ao centro.
Um bosque verde.
Silvestres flores.
Talheres de prata.
Loiça d'ançã.

Convidados alegres.
Com porte fino.
Ninguém é mais.
Todos presentes.
A mesa oval.

Primeiro, uma prece.
À moda antiga.
Começa a festa.
Os empregados servem.
Abunda o vinho.
Faíscam os copos,
Cristal mais puro.
Tiritam talheres.
Cruzam-se as vozes.
Fazem-se parelhas.
Com tema à sorte.
Jorra a alegria.
Brilham olhares.
Fogem as tristezas.
Consolação geral.
Toca a orquestra.
Aquecem os ânimos.
Correm as horas.
Surgem os pares.
Toques de dança.
Vêm desejos.
Chovem os sonhos.
Momentos felizes.
Consolação geral.

Berlim, 19 de Novembro de 2018
10h10m
Jlmg




domingo, 18 de novembro de 2018

Campanários brancos...


Campanários brancos, pontiagudos

Campanários brancos, pontiagudos das igrejas espalhadas pela cidade.
Ostentando as cruzes do sofrimento que impende sobre a humanidade.
Casas abençoadas pela graça do Divino.
Onde as almas se purificam.
Despem seus vestidos de pecado.
A água benta rega e limpa a nossa mente.
Se vergam os joelhos dos poderosos e dos humildes.
Onde se recortam nítidos nossos limites limitados.
E a paz de Deus chove do céu em bátegas de graça e favores.
Quem a elas entra sai melhor do que quando entrou.
Como visita que se faz aos pais…
Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 19 de Novembro de 2018
6h54m
Jlmg

O outro mundo




O outro mundo...

O grande e imenso armário onde se guardam nossas memórias.

É outro mundo

Depressa esquecem, mas ficam milimétricamente guardadas no nosso armário.
Nem nós lhe temos a chave.
Vagueiam no seu mundo de liberdade.
De vez em quando, quando lhes dá, aparecem em nossos sonhos.
Ora doces ora pesadelos.

Se as puxamos, resistem.
Não querem vir.
Há-as tão profundas.
Vêm gravadas de nossos antepassados.
E tanta influência têm em nós.
Muito do que somos a elas devemos.
Aquele jeito para cantar ou rir.
Gostar ou não de alguém.
Até o gostar de sal.
A cor do céu, tanto depende de nós.
Alegre ou triste sem saber porquê.
Tudo fechado no nosso armário...

Berlim, 18 de Novembro de 2018
18h01m
JLMG





sábado, 17 de novembro de 2018

Santa Apolónia







Santa Apolónia

Ponto de partida e terminal das grandes viagens para o mundo.
Ali ao pé do Tejo onde atracam grandes navios transatlânticos com gentes doutras paragens.
Onde o Tejo quase é mar.
Frente ao Sul além com seus mistérios.

Se mantém aberta todo o dia e noites,
acolhendo bem quem chega e vai.
Onde, por esmola e compaixão, também se abrigam na solidão das noites e inclemências, os desamparados e vadios da cidade.

Lugar de festa, de abraços e despedidas.
Tantos sonhos, à partida e à chegada.

Por ali passei, vindo do Norte, a caminho de África, sem saber se um dia ali voltava...

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 18 de Novembro de 2018
8h51m
JLMG




sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Romagem a Lisboa

Romagem a Lisboa

Afastaram-me de Lisboa as forças cegas do destino.
Vagueio perdido neste mundo.
Minhas raízes estão bem vivas.
Meus pés sangram de saudade.

Só de longe a longe lá regresso.
Nem chego a aquecer-me nos seus lençóis.
Tomo as malas e me ausento angustiado.
Foi assim traçado meu destino.
Desvarios de quem comanda nosso barco,
Atirando para o infortúnio da emigração,
Negando-lhe o direito de permanecer no seu torrão natal.

Só os desterrados sabem quanto dói
E a só temos uma vida para viver...

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 17 de Novembro de 2018
8h7m
JLMG

A página mais negra...



A descolonização que Portugal fez em 74, foi a página mais negra da sua História multi-centenária.
Bastou a assinatura dum presidente destituído de sentido patriota ( até pisou a sua Bandeira Nacional em Inglaterra para o mundo ver...) e se abriram as comportas às potências ocidentais para devorarem e destroçarem aquilo que com muito orgulho e sacrifício defenderam milhares de jovens e suas famílias durante 13 longos anos.

As três colónias estavam no caminho certo do seu desenvolvimento e justo enquadramento. Respeitando os lídimos interesses dos autóctones e daqueles milhares de retornados que foram expulsos e saqueados do seu património.
Angola e Moçambique eram uns territórios muito prósperos e asseados. A Guiné não. Mas havia paz e os guineenses eram respeitados nos seus costumes.

Em pouco tempo, tudo ficou destruído. A voragem dos cubanos e soviéticos precipitou os povos noutra senda de morte e sofrimento.

E os jovens que lá morreram ficaram ali esquecidos. Os sobreviventes foram atirados para a sombra como uns vermes indesejados.
Há tantos a viver à míngua pelas ruas como sem abrigo...

As escolas trataram de apagar tudo às jovens gerações.Para não serem por elas censurados.

Pouco depois, pelas mesmas cegas e antipatriotas, Portugal e os portugueses foram atirados para às feras da Comunidade Europeia, com promessas de igualdade.

Só miragem. Perdemos a nossa moeda e com ela um rombo descomunal nos nossos rendimentos mensais. Quem ganhava 400 contos/mês passou a ganhar 2 mil euros!...

Grande negócio para os políticos e bancos desumanizados. É assim vamos. Até à exaustão total...

JLMG

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Daqui olho Lisboa...


Olho para Lisboa...

Aqui de longe, olho para Lisboa e sinto saudades.
Daquele amanhecer suave ao sol nascente glorioso vindo do além.
Daquele manto extenso de casario em ondas largas de colinas.
Aquele formigar de gente pacata pelas ruas e avenidas descendentes e sinuosas,
de autocarro ou eléctrico, a caminho do trabalho.

Daquele espelho azul do magno rio, em constante correria que, prazenteiro, nos leva ao mar.
A incessante procissão de barcos-cacilheiros abraçando as duas margens.
As duas pontes longas levando e trazendo, num instante, gente nova.
Os braços divinos de Cristo-Rei a abençoar Lisboa e Almada.

Aquelas noitadas longas no mistério cativante das guitarradas.

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 16 de Novembro de 2018
8h5m
JLMG


Versos com trapos...





Versos com trapos...

Se há chama cá dentro, não importam palavras nem versos.
Vem tudo corrido.
As ideias se cosem.
Fios de linho.
Pedaços de trapos.
Tudo serve para tecer um poema.
As cores é o sol que as dá.

No final, ficamos a vê-lo.
Saboreamos-lhe o belo.
Esquecemos os trapos...

Berlim 15 de Novembro de 2018
17h51m
Jlmg

Velhas amizades




Velhas amizades

Caixinhas esquecidas que guardam lá dentro pedaços de nós.
Em tempos, estiveram presentes.
Os mesmos caminhos. As mesmas esperanças.
O tempo e a vida as separou.
Mas viveram latentes, reflectindo quem fomos.

Até que, um dia, sorte ou destino,
se encontram de novo e reatam tudo para trás.
Passado distante que parece tão perto.
Um abraço apertado põe tudo de pé.

-Por onde andaste? Foste feliz? Conta-me lá.
Olhos nos olhos, emoção a ferver.
Passam as horas. O coração rejubila. Há tanto a dizer...

ouvindo Sibellius

Berlim, 15 de Novembro de 2018
17h25
Jlmg

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Igrejas de Lisboa



Igrejas de Lisboa

Semeadas pela cidade, segundo a lei do bem e da oração, ali estão erectas.
Suas portas se abrem aos que passam e querem sossegar orando ao Criador.
Seus sinos multissonantes cantam horas e trindades, em suaves melodias.
Seus adros muito parcos são espaços de sadia convivência e encontros benfazejos.

Cada uma tem sua sala ornamentada de altares.
E a catedral, de pedra erguida na encosta, sobre o Tejo e a cidade, comanda todas com sua cátedra cardinal.
E, nos pontos mais elevados, sobressaem as ermidas dos devotos aos santos, com sua especialidade intercessora perante Deus...

ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 15 de Novembro de 2018
7h6m
Jlmg

Flores de Lisboa


Flores de Lisboa

Lisboa florida, princesa do Tejo, engalanada.
De avenidas e de praças, cheias de flores.
Jacarandás.
Se veste de frescura e de brisa matinais.
De vez em quando, uma manta de nevoeiro a cobre e adormece, depois da farra das madrugadas.
Seu diadema é o castelo, cercado e muralhas.

Seus miradouros e terraços são as varandas onde, moura encantada, fica a sonhar eternamente, se ninguém acordar.
O rio Tejo é seu noivo. Com ele quis casar depois de um passeio à beira-mar...

Berlim, 14 de Novembro de 2018
19h36m
Jlmg

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Sobre o joelho




Escrever sobre os joelhos

Apressado vai à vila
E pelo caminho,
Toma a nota sobre o joelho.
É o recoveiro.
Na vida dele.
Não escolheu.
Seu pai o era.

Leva e traz.
Uma saca às costas.
De manhã e à tarde.

Dedais. Fios de linha.
Agulhas.
Até recados.
A marcar serviços.

Uma figura querida
Da vizinhança pobre.

E, se adoece, vai a mulher.
Tanto faz.

Era a vida simples
Quando não havia carro.
E, para telefonar,
Havia bicha...

Berlim, 14 de Novembro de 2018
8h29m
Jlmg




Fardas e batinas...


Fardas e batinas...

Fardas e batinas,
Vestes chiques,
Fraques de cerimónia,
Lunetas e óculos escuros,
Lantejoulas,
descem vaidosos as calçadas de Lisboa,
Chiado e Madragoa.

Espiolham as vitrines,
Mercam cravos e flores,
Tragam bicas e fumegam cigarros e cachimbos, pelos cafés,
Bons vivants,
Uns snobs.

E, na esquina,
empertigado,
Um homenzarrão,
Corda ao ombro,
É só chamá-lo,
Um bruta-montes,
Carrega às costas
O que for preciso,
Por uma migalha.

Pelas valetas dos passeios,
Escorre a chuva, leva tudo adiante,
Até ao Tejo.

E, na Praça nobre, dos ministérios,
Um Arco triunfa aos tempos,
Canta glórias e desditas,
Feitos idos.

Umas escadas leves, em mármore eterno,
Desce ao rio e lava os pés,
Olhando além.

Incansáveis, os eléctricos amarelados,
Trilham as linhas de aço,
Brilhando ao sol.
Fervilham de gente que não quer ficar.
É asim Lisboa, enquanto Deus quiser...

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 14 de Novembro de 2018
7h15m
Jlmg





Bilha de sonhos



Bilha de sonhos

Despedaçou-se à minha frente uma bilha de sonhos.
O céu toldou-se de negrume e pó de cinza.
Desfaleci contemplando o seu fugir pelo céu acima.
Amargas quimeras dum passado sofrido que não brilhou.
Tragos amargos dum cálice que tive de beber a custo.
Aqui esmoreço triste sem lenitivos.
É vã a esperança dum desesperado.
Nunca brilha o sol neste céu de chumbo.
Só me restam cacos e ouriços secos...


( meras pinceladas...)
Berlim, 13 de Novembro de 2018
8h43m
Jlmg

Melaço das amoras





Melaço das amoras

No tempo das amoras havia melaços e melopeias de cigarras.
Quando as urzes multicolores seduziam as abelhas libidinosas.
E as mariposas teciam docemente os laços entrelaçados das gavinhas.
E irrequietos, saltitavam os chascos, por entre os punhados verdes das giestas.

E das tílias, em garbosas ramalheiras, choviam badoradas inebriantes de perfume.
Era a hora incandescente em que só na sombra fresca das carvalheiras se sobrevivia.
E, pela tardinha, desciam as encostas, em divina brincadeira, os rebanhos de ovelhas e suas crias.
Era o tempo feliz das horas verdes da meninice...

Berlim, 13 de Novembro de 2018
10h18m
Jlmg


segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Bilha de sonhos


Bilha de sonhos

Despedaçou-se à minha frente uma bilha de sonhos.
O céu toldou-se de negrume e pó de cinza.
Desfaleci contemplando o seu fugir pelo céu acima.
Amargas quimeras dum passado sofrido que não brilhou.
Tragos amargos dum cálice que tive de beber a custo.
Aqui esmoreço triste sem lenitivos.
É vã a esperança dum desesperado.
Nunca brilha o sol neste céu de chumbo.
Só me restam cacos e ouriços secos...


( meras pinceladas...)

Berlim, 13 de Novembro de 2018
8h43m
Jlmg

Indizível saudade...


Indizível saudade...

Uma manta de saudade, indizível, tolda minha alma ausente.
Suaves lamentos minoram minha dor.
Navego nas asas da memória sobre aquele pedaço de terra molhada à beira do mar.
Sorvo-lhe a brisa acridoce de maresia.
Bebo-lhe a espuma de vinho mosto.
Me embebedo com a seiva verde do amanhecer nas quebradas longínquas das montanhas.
Suas planícies são o mar da erosão desértica deste Outono em queda lenta.
Respiro a custo a poeira que me tolda os olhos e agrava minha garganta...

ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 13 de Novembro de 2018
6h8m
Jlmg

Escaparates coloridos...




Coloridos escaparates de...

Coloridos escaparates de frutas variadas.
Longos armários com tudo o que é preciso.
Balcões de carnes expostas sem distinção.
Uma infinidade de garrafas ao gosto do freguês.
Uma panóplia de doçaria para adoçar mais este dia, além do pão.

Um espaço reservado com mesas perfiladas onde se come e bebe do que se quer.

É este o espaço onde me encontro, disfrutando a riqueza de ainda cá estar...

Bar do Edeka em Berlim, 12 de Novembro de 2018
10h26m
Jlmg

domingo, 11 de novembro de 2018

Ouvem-se tamancos...




Ouve-se tamancos...

Pressurosas, ouve-se os tamancos das varinas pelas calçadas de Lisboa.
Adormecida, descansa a festa da madrugada.
As estrelas albas se despedem lá no cimo.
Roncam pelo Tejo os motores mortificados dos cacilheiros laboriosos do Cais do Sodré e pró Barreiro.

Holofotes mortiços passam a ponte avermelhada de lado a lado, saudando cá debaixo o Cristo-Rei.

Pela barra dentro, sobe o Tejo, um grande transatlântico iluminado, em busca do cais de Alcântara.
Acena-lhe as boas vindas em reverência, a magna Torre de Belém.

Espalhados pelo mar da palha, ruminam em surdina, os mastodontes dos cargueiros.

Ressoam pelas colinas as badaladas religiosas das igrejas.

Um novo dia, oxalá em paz, um novo dia começa para Lisboa.

ouvindo as guitarras de Lisboa

Berlim, 12 de Novembro de 2018
7h3m
Jlmg




sábado, 10 de novembro de 2018

O voar das andorinhas




O voar das andorinhas

Bailam andorinhas em bando sobre as colinas de Lisboa.
Delineiam figuras majestosas de bailados, na mais perfeita harmonia.
Chamando os olhos das pessoas escravizadas que se prendem ao mar do chão.
Alertando que, além da terra, há o céu e seus misteriosos encantos.

Benditas andorinhas que apenas esperam que não lhes façam mal como elas não fazem.
Doces mensageiras da Primavera.
Só pedem que, boas vizinhas, as deixem fazer seus ninhos  sob os beirais das nossas casas.
Seu fado é só voar espalhando alegria...

Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 11 de Novembro de 2018
7h6m
Jlmg


sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Notas da guitarra





As notas da guitarra

São vibrantes e luminosas as notas frescas da guitarra de Paredes.
Purificam o meu espírito no começo da manhã.
Vibrações telúricas doiradas pelo rio Tejo.
Um incenso religioso se desprende das suas cordas que me perfuma o coração.
Pairam sobre Alfama e a Mouraria as vozes do fado de Lisboa.
Terraços sobranceiros na encosta das colinas espreitando as sereias do Tejo em marcha.
Que suavidade benfazeja vem daqueles infinitos do Alentejo!...

ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 10 de Novembro de 2018
7h18m
Jlmg

Como chuva de orvalho...


Como chuva de orvalho...

Chovem notas de guitarra como chuva de orvalho pelas ruinhas e pátios de Lisboa.
Conversas tagarelas das donas curiosas no intervalo da sua lide.

Pregões astutos das varinas, querem vender depressa para ir para casa.
Escorrem sal suas canastas mas é bem fresca a pescaria.

E, pelas esquinas, gritam alto, com vozes esganiçadas, os ardinas dos jornais.

Um caudal incessante de carros e camionetes escorre pelas avenidas obedecendo ao sinaleiro.
Pelos passeios chiques do Chiado cirandam frementes as fidalgas e as meninas à procura da toilette.

Perfiladas junto ao Tejo esperam ladinas as gaivotas suas presas.
Enquanto os velhos cacilheiros vão do Cais até Cacilhas num vai-vém...

ouvindo a guitarra de Carlos Paredes

Berlim, 9 de Novembro de 2018
16h47m
Jlmg


quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Com granizo e trovoadas...



Com granizo e trovoadas...

Com granizo e trovoada se alisam as calçadas de Lisboa.
Seus pátios amplos expostos onde vegeta ao sol a fraternidade.

Ruelas e ruinhas onde se bebe água-ardente e canta o fado.
Telhados vermelhos escorrendo paz pelos lares das gentes sãs de Lisboa.

Torres e zimbórios altos das igrejas e da Basílica sagrada da Estrela
onde o Deus criador é adorado.

Castelo vetusto e altaneiro guardado a pedras pelas muralhas robustas que o defendem.

Rio Tejo que vem de Espanha abençoando as terras e lezírias ribeirinhas.
Ó mar ignoto que nossos magnos antepassados desvendaram assombrosamente, dando a conhecer o mundo a todo o mundo.

Vos bendizem e cantam estas cordas tensas com a toada do fado a toda a hora...

ouvindo a guitarra de Carlos Paredes

Berlim, 9 de Novembro de 2018
7h3m
Jlmg

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Tentei escrever..



Tentei escrever...

Tentei escrever na hora em que toda a gente dormia.
Fui impedido. Leis escondidas regendo a harmonia universal que não se vêem.
Esperei o sol e as ideias fervilharam, iluminadas.

Bendigo este final de Outono luminoso,
Em que a natureza se despede para o silêncio.
Amarelecidas, as folhas vêm caindo descarnando os ramos negros.
Desfaço em mim saudosamente aqueles dias de praia celestial no mar de Roses.
Me aconchego no quentinho do meu lar e contemplo tranquilo a marcha do tempo impiedoso.

Sigo atento ao que de bom e mau acontece pelo mundo.
Interpelo a Divindade para que se compadeça e o livre do abismo.

Berlim, 8 de Novembro de 2018
8h42m
Jlmg




Desafio aos deuses


Desafio aos deuses

Desafio todos os deuses magnos da Antiguidade.
Desçam dos pedestais e venham a esta terra moribunda.
Sob o jugo da guerra e da avareza.
Fizeram dela um covil de ladrões.
Estragaram seu equilíbrio.
Deram cabo dos mares e florestas.
Desconjuntaram a serena tranquilidade dos pólos onde dormia em paz o gelo de reserva.

Agora, querem ir para Marte.
Nem a lua já os contenta.

Vinde com vossos poderes e amainai esta tormenta.
Dai a paz à Humanidade...

ouvindo "Ave Maria de Gounod"

Berlim, 7 de Novembro de 2018
17h00m
Jlmg

Declamar um poema


Declamar um poema
Declamar um poema com fogo 
Inflama quem ouve 
E eleva a alma às instâncias do belo.
Um suave milagre que dá mais vida ao poema.
Uma arte tão rica que as escolas esqueceram.
Encurta a visão focando-a no chão.
Ensombra o poema e lhe esbate o brilho da luz.
Há tons escondidos que só se vêm cantando.
Um poema rezado, mesmo que belo, 
Fica mais frio porque lhe falta o calor.
Berlim, 7 de Novembro de 2018
12h51m
Jlmg

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Vasos vazios




Vasos de barro

Vasos vazios de barro sem cor.
Exibindo flores. Secas de sede.
Desejos calados de fome,
Penúria da sorte,
Bem faz a quem quer.

Sementes perdidas que o vento espalha.
Germinam na terra banhada de sol.
Ardentes de sede, secam sem flor.

Aves cansadas vindas de longe,
Procurando ciosas seu ninho,
Onde foram felizes.

Lágrimas sofridas que secaram de dor.
Mesas bem postas, fartas de tudo,
Os filhos não vêm.
Arrecadas de oiro, luzindo no busto.
Estrelas caladas chamando a luz.
Árvores ao ar, batidas do vento,
Perderam as folhas,
Nuas para sempre.

Ouvindo Carlos Paredes - Verdes anos

Berlim, 7 de Novembro de 2018
7h31m
Jlmg

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Rpicam de saudade e dor



Repicam de saudade...

Repicam de saudade e dor os sinos e as cordas duma guitarrra.
Se assemelham às folhas caídas que tombam e não voltam a voar.
Asas de aves desfalecidas cansadas de voar.
Balidos de dor e fome que desgraçam os rebanhos.

Rios fulgurantes dizimados pela poluição.
Exércitos destroçados pela metralha atroz duma guerra inglória.

Moinhos altaneiros, espalhados pelos montes, sem vento que os movimentem.
As multidões de refugiados inocentes, atirados para a morte, por interesses malévolos internacionais...

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 6 de Novembro de 2018
6h8m
Jlmg



Recuperar...

Recuperar...

Quem me dera recuperar o tempo perdido.
Somava-o agora e vivia supremo.
As vezes que errei sem aprender.
Os passos que dei e não quis emendar.

Lições que recebi e não soube aprender.
Agora é tarde.
Viver para a frente, enquanto puder e o melhor que souber é o que se impõe...

Berlim, 5 de Novembro de 2018
9h24m
Jlmg



domingo, 4 de novembro de 2018

Começar...



Começar...

Custa começar. Vencer o peso da inércia.   
Arrancar as raízes que nos prendem ao chão.
Depois, a sensação de voar.
Se olha para baixo. Tudo mais pequeno, no tamanho real.
O cimo e além nos chama.
Cada vez mais alto e mais leve.
A mente se ilumina.
A alma levita.

Chegam ideias e sonhos.
Visões encobertas reluzem ao sol.
Novos mundos.
O assombro, a harmonia e a paz.

É preciso começar e subir!...

Berlim, 5 de Novembro de 2018
7h20m
Jlmg

Pôr do sol





Pôr do sol

Cansado de caminhar, à volta da terra,
Desce do céu, se cobre de noite e se deita no mar.
Recolhendo seus raios, obreiros da vida,
se enrosca nas brumas,
mergulha nas ondas no lado de lá.

Se despede vermelho, cumprindo a lei do fogo que se apaga,
qual fénix fingida que promete voltar.
Esperança acesa que passa caiando de verde a terra sem cor.

Ave migrante, de leste para oeste, portadora da luz, se apaga poisando.

Fabricante do tempo forjando os dias e horas, tecendo as eras.
Tão presente se fez na vida das gentes,
lhe chamaram de deus.

Berlim, 4 de Novembro de 2018
17h46m
Jlmg

sábado, 3 de novembro de 2018

Ninhos de cegonhas





Ninhos de cegonhas

Arquitectas sem escola, com ramos e gravetos,
sem pregos nem cordames,
amarrram seguros seus ninhos,
sobre as naves agudas e sobre as torres.

Resistindo ao vento e à chuva, neles criam seus filhos,
perduram dum ano para o outro e as mesmas voltam.

Nada pedem, nada rogam.
Ostentam ufanas sua arte.
Prodigiosa natureza
Que de graça é professora.

Berlim, 3 de Novembro de 2018
16h41m
Jlmg



Sem açúcar...



Sem açúcar...

Deixei o açúcar no café.
No princípio, se arrepiou o gosto.
A pouco e pouco, me fui abeirando da pureza do café puro.
Vi claro.
Nunca mais açúcar no café.
Só assim leio sua mensagem.
Que inebria e só faz bem.

Seu aroma arrasa.
Seu sabor é divino.
Eleva a mente ao infinito.
Nunca me arrependi...

Berlim, 3 de Novembro de 2018
12h53m
Jlmg