Ponte de madeira carcomida
Tantos projectos. Tantos sonhos.
são como pontes de madeira carcomida.
Basta um sacolão e ela derruba.
Se precipitam e se desfazem.
Arquitectamos grandes obras.
Tantas quintas e palácios.
Cercados de altos muros.
Não toleramos nenhum incómodo.
Dum intruso ou dum mendigo.
Como se o céu azul e o sol
fossem só nossos.
Queremos fabricar as nossas alegrias,
por maneiras insólitas e rebuscadas.
Diferentes do que é vulgar.
São de longe e importantes
os nossos convidados.
Se enchem os nossos terreiros
de grandes carros luzidios e sumptuosos.
Grandes festas, com orquestra e salões de baile.
Tantos brindes encomiásticos.
Como se toda a riqueza fosse o fruto
do nosso labor.
E não de herança.
De repente, a tempestade duma doença
nos desfaz e reduz a pó...
escura madrugada
ouvindo " moonlight" de Beethoven por Hélène Grimaud ao piano
Berlim, 27 de Janeiro de 2016
6h39m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes