quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Magia das manhãs

Magia das manhãs

É vaidosa a fidalga manhã.
Cada dia uma veste diferente,
Folhos compridos,
De seda ou de lã.

Indiferente à chuva e ao sol,
Avança impante pela avenida do dia,
Cobrindo-o de cor e de luz.
Corre as montanhas,
Desliza nos vales,
Se banha no mar.
Se enxuga ao sol, deitada na praia,
Como se fosse uma dama esbelta,
Sedenta e com fome.

Se despede ufana, à chegada da tarde,
Sua vizinha e da noite.
Viaja sózinha
E vai descansar.
Ninguém sabe onde fica.

Adora a missão.
À hora certinha ela aí está...

Berlim, 31 de Agosto de 2018
8h9m
Jlmg

Contas de cabeça

Contas de cabeça

Para quê as tábuas de Arquimedes
e as tabletes digitais da nossa era,
os algoritmos fenomenais dos astronautas,
os caderninhos sujos de capas pretas dos calotes  das mercearias,
dos saltérios de notas pretas que dão o norte das orquestras,
para quê os cálculos matemáticos que reduzem tudo à expressão mais simples,
e o astrolábio de Galileu que revelou ao mundo o que todos sabem,
para quê a árvore das patacas se é mais fácil ir ao banco,
e os votos nulos da democracia, se quem governa é sempre o capital,
e as memórias dos mortos que já viveram e bem sabiam que, um dia à sorte, iam morrer,

Para quê os raios das trovoadas se quem mete medo é o trovão
e tudo o mais que se sabe de cor e salteado sem mestre ou ir à escola,

Basta fechar os olhos e pôr a nossa mente em marcha:
dois mais dois são quatro, noves fora, nada...

Berlim, 30 de Agosto de 2018
11h38m
Jlmg

Apontamento

Apontamento
Este ano, no mês de Agosto, tivemos o gosto da visita do filho mais velho, por três meses, após uma ausência de três anos, por terras de África.
Impôs-se aproveitá-los bem, ao segundo.
Uma dessas vezes, foi fazer uma deambulação pelo norte, onde havia tanta recordação de infância a reviver.
Nós e os dois rapazes. As duas filhas, essas, com os filhos, estavam e permanecem, como tanta gente, e, ainda bem, radicadas na Alemanha.
Santo Tirso foi o nosso poiso por uns quatro dias. Só porque uma amiga dele nos facultou o seu andar vago que ali tem.
Embora sendo quase vizinho de Santo Tirso, conhecia-o só de nome e porque era a terra de vários companheiros de seminário que tive.
À noite, fazíamos lá o jantar e depois seguia-se um serão vivo e quente, mesmo com as janelas abertas.
Registo que a casa dela dava para uma fábrica de têxteis, vazia e abandonada, mas que foi um grande pulmão de empregos naquela zona. Creio que se chama: Atma.
Aquela revoada vermelha do gonçalvismo foi quem, inexplicàvelmente, a desbaratou. Como a tantas por toda a parte.
Deu que pensar ver aquele mastodonte morto, sobressaindo ao alto, no meio do casario denso, cercado de hortas e de campos verdes.
Ali perto fica o lendário colégio das Caldinhas, felizmente ainda activo, alfobre incessante de instrução para muita gente ilustre do norte do País.
E onde trabalha a amiga do filho mais velho, dona do apartamento.
Dali partíamos, depois do pequeno almoço, tomado num simpático café em frente à igreja matriz daquela aldeia.
Eles seguiam no seu carro à parte. Rumo ao ponto de encontro combinado.
Batemos aquele norte verdejante e laborioso, já revigorado, desde Caminha, Vila Praia de Âncora, Viana até às terras lendárias de Santa Quitéria em Felgueiras e Varziela onde repousam minhas raízes e ainda vivem alguns familiares.
Bons momentos. Muita alegria. Boa comida e muita pinga.
Não mais esquecerão...
Registo que fiquei sem guardar uma ideia clara de como é Santo Tirso e o emaranhado buliçoso de seus arredores.
Berlim, 30 de Agosto de 2018
1034m
Jlmg

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Pão quente

Pão quente

Pão quente de milho ou centeio,
Saído do forno aquecido
A cavacos e lenha.

Seis broas tostadas
Duma rasa de milho
São o pão da semana,
Comido às fatias,
Nas horas da ceia,
Com um copo de vinho,
Quando a fome aperta.

Ressuma a sagrado,
Benzido na gamela
Quando  foi amassado.

Um sabor especial,
Quase divino,
É Deus que lho dá...

Berlim, 29 de Agosto de 2018
12h53m
Jlmg



Primeira visita ao Motocas

Primeira visita ao Motocas

Brilhante dia de sol.
Buliçosas, as folhas das árvores
Refulgem à luz,
Em vários tons.

Espalhados pelas mesas,
Com ar amistoso,
Os motocas que passam
Tomam café ou bebem cerveja,
Conforme lhes apraz.

Por trás do balcão,
As mesmas caras de sempre,
Sem mãos a medir.

Nesta mesa corrida,
E boas cadeiras,
Renovo meus passos,
E escrevo meus versos,
Conforme me dá.

Correm pelo ar conversas sem fim.
Ainda bem que não as troco pelas que sei proferir.
Sinto-me em casa de novo,
Regalado da vida
E nada me dói...

Bar dos Motocas, arredores de Berlim
29 de Agosto de 2018
9h58m
Jlmg




Brilhantina espanhola

Brilhantina espanhola
Aos Domingos, depois da missa, vinha o adro.
O convívio com os da freguesia.
Roupas novas, muito bem brunidas.
Xailes compridos, vários temas.
Vestidos de seda, até ao chão, em grandes folhos.
Fatos de fazenda, em corte fino.
Camisas azuis em popelina.
E as gravatas variavam muito.
Largas ou fitas,
Segundo a moda.
E os cabelos, reluzindo ao sol.
Da brilhantina,
Vinha de Espanha.
Cruzavam-se olhares.
Olhos vivaços.
Moças trigueiras, crestadas do sol.
Seios ardentes,
Apetite à vista.
E os rapazes ariscos vinham de longe,
Desconhecidos, sem história.
Lançando a isca, 
Tentavam a sorte.
Se era um sucesso.
Primeiro o namoro.
Depois o altar,
Com brilhantina…
Berlim, 29 de Agosto de 2018
8h32m
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terça-feira, 28 de agosto de 2018

Minha casa

Minha casa
É tão linda a minha casa,
Aquela que a sorte me deu.
Em me cansando da terra,
Hei-de levá-la pró céu.
Tem uma horta sadia,
Onde cultivo de tudo.
Basta abrir o cancelo,
Um braçado de couves,
Um punhado de alfaces,
Duas cebolas bem gordas,
Fazem uma mesa bem farta.
Tem à frente um jardim.
Onde me crescem flores.
Bate-lhe o sol todo o dia
Como se fosse na praia.
Enchem-me a casa de cores.
Quando acordo na aurora,
Há tanto perfume lá dentro,
Nem sei se estou dentro ou fora.
Bendita a minha casinha,
Aquela que a sorte me deu.
Podem-me dar todo o mundo
Não a troco por nada...
Berlim, 28 de Agosto de 2018
17h20m
Jlmg

domingo, 26 de agosto de 2018

Comboio da poesia

Comboio da poesia

Passa à minha porta o comboio da poesia, altas horas da madrugada.
Se não o apanho,
Vem sempre cheio,
a abarrotar,
o da manhã.

Gente sonolenta.
Poesia, lá não vai.

Sento-me à janela,
vendo a lua e as estrelas,
se na noite houver luar.

Espero o nascer do sol
quando a noite acabar.

Revejo a terra colorida,
sob um azul celestial,
a acordar.

Alcanço bosques, clareiras.
Vejo campos, vejo montes,

Casas ermas e ermidas,
seus quintais.
Espalhadas ao deus dará.
Quem me dera lá morar.

Dou nele a volta ao mundo
como o sol ao redor da terra.
Só assim me dá sabor viver,
enquanto da vida arder a chama...

Berlim, 27 de Agosto de 2018
8h01m
Jlmg





sábado, 25 de agosto de 2018

De baixo para cima

De baixo para cima

De baixo para cima, crescem os caules das flores,
Para baixo, correm os rios e se infiltram as raízes na terra.
Em perene e sábio conluio,
Na busca das cores da vida.

Cada dia, nos erguemos do nada, em busca de tudo que nos faz falta.

O sucesso mora alto e longe.
Só se alcança, com esforço
e os pés bem presos ao chão.

Mas é bom reter:
Quanto mais alto se sobe, maior pode ser a queda...

Berlim, 26 de Agosto de 2018
8h00m
Jlmg



sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Notas pálidas

Notas pálidas

Ressoam notas pálidas daquele piano preto.
Ao toque leve daquelas mãos argutas.
Uma loa breve sai em lufadas de sonho.
Que encanto ouvi-las como as sente a moça que as chama donde?

Ó que doce encanto escutar Chopin a sonhar feliz, lá muito atrás.
Dotes divinos que a Natureza dá para enriquecer a vida com a cor da luz.

É só os querer ouvir...

ouvindo Balada de Chopin por Yuja Wang

Berlim, 24 de Agosto de 2018
17h20m
Jlmg

O essencial

O essencial
É fértil a natureza.
Só nos dá o essencial e
Chega para toda a gente.
Se nada mais houvesse, além do essencial,
estaria muito melhor o mundo.
É como o leito do rio.
Sem ele, não há rio 
porque esborda e se desfaz.
É vertical.
É o prumo do equilíbrio.
O secundário ou acessório
Só escurecem ou fazem sombra.
Os ramos adventícios são caducos e inúteis.
Sua poda atenta e constante se impõe para se conservar o tronco.
Nada sobrevive sem o essencial.
Berlim, 24 de Agosto de 2018
11h46m
Jlmg

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Não me vergo

Não me vergo...

Não me vergo ao peso dos anos que carrego.
Venham mais com saúde até ao fim.
Viver é a arte de resistir.
Desistir é a certeza de perder inutilmente.
Só vencerá quem arrostar de pé o dia-a-dia.

As folhas verdes só caem ao chão, depois de secas.
Ninguém vence quem lutar até ao fim.
Pegar em armas nunca seja para atacar.
Perdoar é ter a certeza de ganhar...

Bar do Reichelt em Berlim, 21 de Agosto de 2018
9h37m
Jlmg



segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Letra a lletra

Soletro meus versos, letra a letra

Como quem puxa a água dum poço à corda.
Encho o balde bem fundo e trago-o à tona.
Bebo dele e me refresco.
A outra parte sirvo à mesa dos amigos.

Suavize e mate a sede de quem chegue.
Sem olhar quem é.
Refresque e acalme a dor e o sofrimento que todos sentimos.
Ninguém está bem a cem por cento.
Minhas letras encham folhas de cor e luz.
Levem longe e sempre razões de esperança.
Lavem um pouco das muitas manchas que a sombra faz.
Embora não o pareça,
Nem tudo é mal no mundo.
O vença o bem e haja paz.

Berlim, 21 de Agosto de 2018
6h41m
Jlmg

Para que servem as palavras

Para que servem as palavras

Sonoras ou escritas
Têm cor, cheiro e sabor.
Podem ser pétalas ou espinhos de flor.

Umas graves outras leves.
Falam verdades
E falam mentiras.

Consolam a alma.
Magoam e
Curam feridas.

Malévolas,
Se trocam por tudo e
Se vendem por nada.

Tudo revelam
E guardam segredos.

Mudam de rosto conforme convém.
Defendem e atacam os fortes e fracos.

Paradas, vivem à espera de uso
E não cobram vintém.

Carregam nas cores quando convém.
Esquecem os caminhos por onde não passam ninguém.

Com justa medida, julgam os pobres e ricos.

Castas e púdicas se expõem ao sol.
Consertam as letras à sombra para parecerem baratas.

Sem elas não haveria portáteis

E os computadores nem sequer existiam...

Berlim, 20 de Agosto de 2018
19h59m
Jlmg






Espelho de mim

Espelho de mim

Olhei para o espelho de mim
e não me vi quem pensava..
Não tenho o que pensava que tinha.
Achei o que tenho e não tinha.

Pareceu que me via ao contrário.
Tal era a distância entre os dois.
Como seria melhor no passado
Se me visse ao espelho,
Antes de ser como fui...
Berlim, 20 de Agosto de 2018
16h29m
Jlng

Vaivém pendular

Andança pendular

De novo aqui, neste vaivém pendular.
Três mil km de amplitude.
Nunca mais Agosto será escolhido.
Pareciam moscas os carros na estrada.
Da França a Berlim.
Depois as "bichas". Foram mais de mil.

Mas, cá estamos. Por aqui tudo na mesma.
Ninguém perguntou por mim.
Como é bom ser só mais um.

Já fomos ao super buscar o básico.
Agora, é engrenar na mesma rotina.
Está-se bem por cá...

Berlim, 20 de Agosto de 2018
10h25m
Jlmg

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Nem melhor nem pior

Nem melhor nem pior

Sou como sou.
Defeitos. Virtudes eu tenho.
Ums nasceram comigo.
Outros apanhei-os do chão.

Às vezes eu ganho a luta.
Muitas fico ko.
O que importa é nunca afundar.
Se aprende mais errando.

Quem quiser saber ganhar tem de aprender a perder.
Mais vale uma só vitória na vida
que uma derrota total.
Nasceram pequenos os que se fizeram grandes com esforço.

O segredo do êxito está em nunca desanimar...

Roses, 17 de Agosto de 2018
Jlmg

Voltaram ao mar

Voltaram ao mar

As gaivotas esfaimadas voltaram ao mar.
A ressaca abrandou.
Résteas de azul espreitam entre as núvens paradas do céu.
Na areia da praia molhada corre um menino garoto enxotando gaivotas.
Pelos passeios enxutos já andam os pares amorosos se tirando fotos ao rosto.

Serenas as montanhas à volta descansam do susto.

As bolsa que bóiam ao largo demarcando limites esperam nervosas os botes.
No porto as portas abriram. Largando os barcos da pesca.
Pode ser que amanhã volte de novo a festa da paia.

Roses, 17 de Agosto de 2018
17h0m
Jlmg




Pingantes no mar

Pingantes à borda do mar

Escorrem pingantes das grades da minha varanda.
Foi-se o sol e veio o trovão.
Raios de luz faíscam no céu.

As gaivotas corridas tentam a sorte mesmo à bordinha das ondas.
Da praia debandaram as gentes que esperavam um fim de semana em grande.
Os banheiros à chuva recolhem as cadeiras-espaldares.

Lavados reluzem os carros parados no parque.
Há tormenta no ar.
Chora o negócio das esplanadas que ficaram sombrias.
Só os gelados em bola lambem os beiços gulosos das gentes.

Calou-se o comboio das voltas turísticas daqui até ao cimo do monte.
Bastou um leve clique do sol e tudo ficou do avesso...

Roses, 17 de Agosto de 2018
15h47m
Jlmg

Se alguém vier...

Se alguém me vier bater à porta não terei poema para lhe dar...

Passei o dia a palmilhar a estrada.
Seca e calcinada.
Como um foragido a fugir do sol.
Atravessando um mar de areia que já foi mar.
Agora é leito. Só Aragão.
Com muito trabalho, coberto de girassois e palha seca.
Abandonado, não.

Por fim a recompensa.
Rose e seu mar calmo e azul.
Brando, me banhei nele e afoguei o calor.
Tudo o mais esqueceu...

na minha varanda sobre o Mediterrâneo ao nascer do dia

Roses, 17 de Agosto de 2018
9h1m
Jlmg



quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Valladolid

Valladolid

Cidade de barro, espraiada ao sol, nas terras planas de Aragão e Castela.
Me acolhes tão bem, quando regresso a casa,
numa viagem sem fim.

Deixar Portugal e entrar em Espanha pelo Formoso Vilar,
é alargar horizontes pintados de azul.
Rever nossa história em Castelo Rodrigo;
Salamanca ilustre, irmã de Coimbra;
Passar Tordesilhas, apogeu português, dividindo o mundo em duas partes iguais.
O peito se enche de orgulho pelo Portugal que já foi.
Compensando a agrura de o ver tão pequeno e infeliz.
Me sinto em casa, quando passo por Espanha.
Se varreram de vez os preconceitos antigos, pregados na escola.
E a língua espanhola, sósia da nossa, me soa tão bem.
Dois países irmãos. Viveram demais de costas voltadas.
É hora de darem as mãos...

Valladolid, 15 de Agosto de 2018
18h57m
Jlmg

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Esperar que sim...

Esperar que sim...
Vamos fazer de conta 
De que está tudo igual.
O sol nasceu e se porá à hora.
Virá a noite, com sono ou não.
Haverá sonho se houver luar.
Mas um poema lindo 
Como havia outrora,
Só por milagre.
Porque não?
Esperemos que sim.
Não seria o primeiro nem sería o último...
Mafra, 14 de Agosto de 2018
16h6m
Jlmg

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Portão da Poesia...

Portão da poesia...
É de bronze o portão da poesia.
Está fechado. 
Um letreiro: 
- Quem procura já cá não mora.
Fiquei triste. 
Habituado a vê-la, mal batia à porta.
- Onde parará agora?
Faz tanta falta.
Atónito e aturdido,
Volto a casa.
Pela madrugada, liguei o rádio.
Antena 2.
Estava a dar um programa de " música e poesia".
A voz doirada de Vítor Nobre ia dizer um poema.
Depois duma introdução musical bem conhecida.
De Joaquim Luís Mendes Gomes 
" O comboio amarelo de Cascais"...
Senti um baque.
De olhos marejados fiquei a ouvi-lo e recordei como tudo se passou:
"Ano dois mil.
Um dia à tarde, quando fazia tempo, esperando alguém,
não sei que foi,
senti vontade de escrever poesia.
Olhei. Um comboio estava parado na estação de Algés. Esperando partir.
Conhecia-o tão bem...
Num girar sem fim, só o utilizava entre o Cais do Sodré e Algés.
Tinha comigo o caderno onde apontava as minhas prosas para os jornais.
Soltei o bico à caneta e deixei-o correr à solta.
Foi por onde quis. Foi só segui-lo.
Como ele sabia tão bem de tudo sobre aquele comboio amarelo que ia e vinha.
No fim, comecei a ler. 
As lágrimas explodiram nos meus olhos... 
"O comboio amarelo de Cascais" o meu primeiro poema. 
Nunca mais parei."
Mafra, 13 de Agosto de 2018
20h46m
Jlmg

domingo, 12 de agosto de 2018

Mar da poesia...

Mar da poesia
Banhei meu pensamento no mar da poesia.
Expu-lo ao sol e ao vento para secar.
Depois soprei-o e fiquei a vê-lo adejando versos como aves soltas a brincar no céu.
Como eram belos.
Quem os ditava não era eu.

Pus-me a lê-los.
Grandioso.
Um painel de cores.
Faiscando belo.
Lindas mensagens.
Sereno apelo.
De amor e esperança.
Oxalá o vissem de todo o mundo...
Ouvindo Sheherazade de Rimzky-Korsakov
No Bar "Castelão" em Mafra,
12 de Agosto de 2018
10h10m
Jlmg

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Salpicos da madrugada

Salpicos da madrugada

Cintilam no céu pontos pálidos de luz.
Brotam do mar lágrimas vivas de espuma.
Enfeitam a terra com laços e raios infindos.
Jorram das fragas perfumes sem cor e
banham as mágoas escondidas
que a vida nos traz.

Reverdecem de paz as almas perdidas no mar da vida sem esperança.
Reacendem os lares de fogueira apagada.
Crepitam as chamas de amor que trazem a paz.

ouvindo concerto de Aranguez
Mafra, 10 de Agosto de 2018
22h5m
Jlmg

Três dias de ausência...

Três dias de ausência...

Troquei minha ausência de Mafra por três dias de presença a velejar pela minha aldeia.
Profundas vibrações das pisadas que ali deixei iluminaram minha lembrança.
Figuras respeitáveis de gente ida. A que sabia bem o nome que me chamavam.
Vieram à minha saudade.
Com a ternura familiar da vizinhança sã.

Era o tempo da fidalguia pura e da honestidade.
Quando o sol nascente nos espreitava a arder pelas fragas longínquas do Marão.
Sorriam verdes as latadas altas, bordejando os campos e as searas.
E, nos rostos rubros das pessoas, refulgiam os sorrisos da honestidade.
- "O Senhor te abençoe..." - assim me dizia um desconhecido que passava.
Tudo me ressoou fremente, nestes breves dias de passagem...
Mafra, 10 de Agosto de 2018
10h7m
ouvindo Kathia Buniatisvili, tocando Grieg
Jlmg

domingo, 5 de agosto de 2018

Passou para trás...

Passou para trás...

Passou para trás o dia que, ontem, foi hoje
e não volta a ser.
Passam todos por mim enquanto eu vou.
Depois, serei do passado
como tantos que já não são.
Com outros, sem mim, continuará a passar.

Não sei donde vim e para quê.
Não sei para onde vou.
Só sei que, agora, sou...

Mafra, 5 de Julho de 2018
14h2m
Jlmg

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

As sombras...

Sombras...

Acendam-se todas as luzes e se apaguem as sombras negras que toldam o nosso mundo.
Brilhe o poder em esplendor nas mãos de gente capaz e bem formada.
Chova a riqueza nas casas pobres que perderam a saúde e não a encontram.
Uma vaga de paz inunde os países martirizados pela guerra atroz de que não são autores.
Se destruam todos os castelos do capital que escraviza o mundo a favor duma minoria desumana.
Venha enfim a paz e a concórdia na base firme da fraternidade universal...

ouvindo concerto nº 2 de Rachmanonov por Khatia Buniatisvilli

Mafra, 3 de Agosto de 2018
8h1m
Jlmg

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Minha sonda...

Minha sonda...
Andou perdida no universo a minha sonda.
Poisou à minha porta como um fiel amigo abandonado.
Fui ver-lhe a caixa preta.
Perscrutar-lhe os seus registos.
Estou atónito.
Durante esta vida inteira,
seguiu meus passos sobre esta terra.
Ali estavam nítidas as minhas brincadeiras de criança.
Quando a inocência ainda reinava.
As descobertas todas que fui fazendo.
No meu corpo e minha alma.
Para quê as diferenças?
Afinal, nem todos somos iguais.
O porquê dos pais.
Depois a escola.
Primeiro salto nas aventuras.
Tantos feitios diferentes do meu.
A melhor forma de viver com eles.
Aprender a contar e ler.
Quando se abriu o mundo.
Muito maior que o pequeno terreiro das brincadeiras.
As disputas por ser melhor.
Faziam doer.
E aquele casarão estranho onde se ditava a missa e rezava a Deus...
Que queriam dizer?
E, por aí fora. Até ao dia de ontem.
Em que meu filho partiu um dedo.
Irei concentrar-me, por dentro dela e decifrar tudo
até ao meu derradeiro dia...
Bar "Os sete momentos" , Mafra 2 de Agosto de 2018
10h2m
Jlmg

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Oração ao sol


Oração ao sol...

Lanço-me ao caminho.
Depois duma noite mal dormida.
Sopra forte e ameaçador o vento.
Andam folhas pelos ares.
Está negro o céu.
Tempestade.

Onde andará o sol?
Sem ele a terra é morre.
Venha de novo a luz e a serenidade.

Baloicem alegres as ramagens verdes.
Floresçam vergéis túrgidos de amoras silvestres.
Que os rebanhos subam abundantes pelas encostas e encontrem pasto.

Se extingam as carências que afligem a nossa vida.
Sejam seguros os caminhos que o destino nos abrir.
Sorria de novo o sol e ilumine a nossa mente.
Sirvam de bom exemplo os rastos que traçarem os nossos pés.
Renasça sempre a esperança quando a fogueira pareça apagar...

ouvindo Lawrence da Arábia

Mafra, 1 de Agosto de 2018
8h3m
Jlmg