sábado, 30 de abril de 2016

horas esquecidas...

Horas esquecidas...

Passam horas esquecidas sentados nos bancos dos jardins.

Cansados da vida, descansam,
em vez de, em liberdade, girarem
pelo mundo que não conheceram.

Fatalidade de quem nasceu num país pobre e invertido.

Aqui, em Berlim e por toda a Alemanha,
ninguém é velho, esquecido e desprezado.

Pelos seus pés, eles correm tudo
e aparecem, lado a lado,
senhores de si,
sem pedir ajuda.
Nada lhes falta...

Seus olhos luzem
da sabedoria pura
que lhes vai na alma.

Bendita terra que assim trata
quem a manteve...

Berlim, 30 de Abril de 2016
13h7m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes



roseira da minha porta...

Roseira da minha porta...

Como ficou bonita a roseira da minha porta ao raiar da primavera.
Dá-lhe o sol de manhã à noite.
Cada dia é uma festa.

Ainda me lembro do meu avô José,
de sacho na mão,
a ter plantado,
plantinha tenra.

Cresceu comigo.
Me venceu no porte.
Era um regalo chegar a casa
e receber dela as boas vindas.

Eram vermelhas as suas flores.
Se impertigavam quando passava.
Pareciam dizer:
- Quero ir contigo.

Pegava em seis.
E minha jarrra verde
ponha em festa
a mesa da sala
de portas abertas.

E, toda a casa,
durante uns dias,
ficava alegre...
Uma alegra!

lindo dia de sol

Berlim, 29 de Abril de 2016
9h31m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

quinta-feira, 28 de abril de 2016

à descoberta...



À descoberta…

Solto as cordas que me prendem
e me abraço ao vento.
Vou com ele.
Até onde me quiser levar.

Não me importam os precipícios.
Me agarrarei bem à sua força.
Atravessarei os mares e
Chegarei ao outro lado
Onde as aves voam livres
E, na terra, se vive da Natureza.

Quero provar do mel imaculado
Das flores silvestres
Que por lá abundam.

Me banharei no mar
Ao luar das madrugadas.

Vou contar as estrelas todas
Que reinam naqueles céus
E decifrar os seus mistérios.

Serei mais um ser simples
No seio daquele paraíso.

Quero gastar a vida que me resta
Saboreando tudo
como se tivesse agora renascido…

Berlim, 28 de Abril de 2016
19h53m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 27 de abril de 2016

sol nascente...

sol nascente...

É deslumbrante este sol a nascer
vindo do oriente longínquo e misterioso.

Numa pincelada de luz põe todo o mundo brilhante
e pleno de cores.

O mar baloiça tão contente
como criança doce e feliz.

As montanhas se estendem verdinhas como alfaces e apetitosas,
clamando a paz para o mundo.

E os rios, fluindo nos seus leitos,
brincando ao esconde-esconde,
são comboios ininterruptos,
sinuosos,
que não páram nas estações...

ouvindo "o piano"

Berlim, 28 de Abril de 2016
7h9m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

minha vida...

Minha vida...

É a sinfonia de notas,
pretas e brancas
que vou escrevendo
nas horas de cada dia.

Tem andamentos suaves, luminosos,
onde reina o sol da alegria.
São adágios.

Tem-os sombrios.
Tantas nuvens de tristeza
toldaram o céu
da minha aurora.
Foram prestos.

Mas, teve alguns,
bem majestosos,
que a sorte,
generosamente,
me bafejou.

Os moderatos...
Quase deram para esquecer
aqueloutros, dos mais negros,
lá de trás.

E o final?
Só Deus dirá...

Berlim, 27 de Abril de 2016
15h29m

ouvindo sinfonia nº 8 de Dvorak

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes






alcanço da rua...

Alcanço da rua...

Alcanço da rua ao alto,
os telhados rendilhados das casas
que escorrem para a estrada.

Pelos cantos das paredes de fora,
trepam a eito
os caleiros calados
que se fartam de chuva.

Pelas valetas correm aos tombos
pedaços de latas,
ainda se lhe vêm as letras.

E nas soleiras das portas
jazem com sono
os tapetes de cordas
que limpam as botas.

E atrás das janelas,
há olhos escondidos, mirones,
vendo quem passa...

Berlim, 27 de Abril de 2016
9h6m

ouvindo Zeca Afonso

JLMG
Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 26 de abril de 2016

o amanhecer de Berlim

Parece estático...

Amplo e alto, parece estático
este céu de Berlim.
Em persistente mutação.
Um silencioso cortejo de nuvens pardas
vai passando como um filme.

Enquanto o sol do fundo o dardeja
anunciando que quem reina
é só ele e mais ninguém.

Calmas e pacíficas assistem as copas verdes como um mar encapelado
que ainda dorme.

Lá ao cimo, sobre as nuvens,
já fumega um clarão de labaredas sem calor.

Pelas ruas da cidade, a despertar, vai um rio incessante, em correria que nunca acaba.
Bem custa, mas tem de ser...
É a hora de pegar.

amanhecendo em Berlim

Berlim, 27 de Abril de 2016
7h11m

JLMG
Joaquim Luís Mendes Gomes

meu chapéu de palha...

Meu chapéu de palha...

Comprei um chapéu de palha na feira dos "vinte e três".
Era meu sonho de criança.
Com os dez tostões que me deu
o meu padrinho.

Olhei ao espelho e me gostei de ver.
Me fazia um ar sério.
Metia respeito.
Parecia d'homem...

Encaixava bem na minha cabeça.
Resistia ao vento.
Nem precisava de laço.
Nunca mais o larguei.

Chegado o verão,
levei-o para a praia.
Póvoa do Varzim.

Depois do banho,
deitei-me na areia,
a secar ao sol
e o chapéu ao lado.

Confiei no mar,
mesmo à beirinha,
atrás de mim.

O que fui fazer!...

Traiçoeira onda
mo roubou para sempre...

Berlim, 26 de Abril de 2016
17h 6m

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 25 de abril de 2016

visão total...

Ver bem...

É de longe,
no espaço e no tempo,
que tudo ganha a verdadeira dimensão.

Parcelares e ruidosas são as imagens
na proximidade,
quando se vê e ouve ao pé.

A balança só mede o peso
e o tempo a duração.
Tudo resta igual.
Nada diz do que se é.

Não julga.
Só a visão total,
de todos os ângulos,
nos dá a imagem
e não é real.

Depende de mim.
Como sou e estou...

Berlim, 26 de Abril de 2016
7h19m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

simpliidade...

A simplicidade…
Tudo na vida é simples
Como a gota de água.
Como uma pedra
Que se lança ao lago
Provoca ondas
E vai ao fundo.
Os nossos olhos ficam perdidos,
Presos a elas,
A perguntar porquê.
Arranjam teorias.
Fabricam tratados.
Num emaranhado louco.
Esquecem a pedra
Que não fica à tona.
E ficam os arcos,
A razão central.
Por explicar.
Chovem propostas
Das mais solenes.
Em duelo aceso.
Forjam-se teses,
Das magistrais.
Há promoções de gala
E conclusões finais.
De tão brilhantes
Até fazem escola.
Acerca dos arcos.
Esquecem o essencial
Que jaz nas trevas.
Ovar, 24 de Maio de 2013
Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes

carroça velha...

Derradeira jornada da
Carroça velha
Havia na aldeia um homem de muita idade e muito rico. Vivia numa casa grande, com um criado antigo. Tinha muitos cavalos e muitas terras. E tinha também duas carroças. Uma nova, a brilhar e outra parada lá num canto, muito velha. Já não andava nela havia muito tempo.
Fora a carroça dos seus tempos de criança.
Um dia, de manhã apeteceu-lhe dar um passeio na carroça da sua infância. Chamou o criado e mandou-o aprontar a carroça velha. Queria ir nela até à montanha.
- Ó meu senhor! Ela já não aguenta um quilómetro sequer!... Vai deixá-lo ficar mal.
- Não quero saber. Apresta-ma como deve ser e deixa o resto comigo.
- Está bem, meu senhor! O senhor é quem manda.
O criado arranjou-a como pôde. Trouxe as selas e correias. Pegou em duas parelhas de cavalos e aplicou-os aos varais da carroça.
Quando estava tudo em ordem, foi ter com o patrão.
- A carroça está pronta, meu senhor, como mandou.
O patrão, de bigode retorcido, todo janota, com seu fato de cavaleiro e botins altos a reluzir, desceu as escadas do palacete e dirigiu-se à velha carroça.
Os cavalos, contentes por irem sair, vaidosos com as crinas pretas a baloiçar, já estavam bem aplicados, nos seus varais, relinchavam impacientes por partir. Pareciam comungar da alegria do seu dono.
O patrão, ainda muito ágil e elegante, alçou o pé sobre o patim já gasto, em chapa grossa, muito poída e sentou-se impertigado no tamborete de madeira.
Puxou as rédeas e desfechou duas chicotadas brandas sobre o lombo dos cavalos. Era a ordem para avançar.
E, trote!... trote!...trote!...trote!... serpenteando à fresca por caminhos e valados em terra nua, lá foi sózinho o velho fidalgo, montanha acima, muito ufano por estar a reviver velhos tempos de criança.
Embevecido, olhava tudo em redor. Trote!...Trote!...E os cavalos também.
O vale verde e o riacho já ficavam lá ao fundo.
De repente, um grande estalo. Parecia um tiro de caçadeira. Mesmo ali ao pé. O fidalgo olhou para todo o lado…
Todo escaqueirado!...
Os cavalos assustados, fugiram desalmados, encosta fora.
- Bem dizia o meu criado…
Mafra, 25 de Abril de 2015
16h36m
Joaquim Luís Mendes Gomes

domingo, 24 de abril de 2016

um ritual...

Um ritual...

Tão simples, nem se dá conta.
Se repete. Este ritual solene.
Que nos abre o mundo.
Permite ver bem.
O céu e o chão.

Umas simples lentes de vidro.
Leves, sem devaneios,
dilatam as formas,
avivam os tons e as sombras,
sem alterar as formas.

Como fica mais belo o mundo.
Cheios de cor e luz.
Ao pé e ao longe.

Benditos óculos,
Companheiros bons
Que nos dão a mão
E nos fazem tão bem...

ouvindo concerto para violino nº 3 de Mozart
por Hilary Hahn

De novo em Berlim, 25 de Abril de 2016
6h9m

JLMG
Joaquim Luís Mendes Gomes

que mal fiz eu a Deus?...

"que mal fiz eu a Deus"?...
exclamava o meu irmão
que lutou na vida,
com honestidade.
conquistou o mundo,
em fortuna e prosperidade.
construiu um império
de riqueza e de domínio.
tudo venceu.
julgou-se um deus.
que conseguiu ser,
pensava,
por suas mãos...
e, de repente,
chegado de férias,
no melhor paraíso
que se pode ter,
ao fazer um exame,
ficou a saber
que podia ter um maligno
no pior lugar do corpo?...
dos fulminantes,
em quatro meses...
se sentiu um fraco,
um miserável,
a naufragar...
a pedir socorro,
no alto mar.
- quem me pode valer?...
olhou o céu.
cheio de estrelas.
lembrou o pai e a mãe
que Deus lhe levou...
há muito.
e rezou...rezou...
- que Vos fiz eu, meu Deus?...
e ouviu uma voz bem dentro.
e viu uma luz brilhante...
como nunca sentira.
- afinal, como é pequeno o mundo!...
e que posso eu?...
Margaride, rua da cabreira,
24 de Abril de 2015
3h14m
só o silêncio,
a madrugada e a minha fé em Deus...
Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado, 23 de abril de 2016

calendário...

calendário...
infatigável,
nunca adormeceu
este caminhante em marcha.
vem desde os primórdios,
mesma passada certa,
com a da humanidade.
ó que livro grosso,
bem encadernado,
infinitas folhas,
cada uma diferente,
a descrever a história,
até ao dia de hoje,
de todo o universo.
uma parte cheia,
já se pode ler.
a outra ainda parece em branco.
é o futuro infinito
que a vai escrever...
nascendo o dia
Mafra, 23 de Abril de 2015
6h29m
Joaquim Luís Mendes Gomes

sexta-feira, 22 de abril de 2016

c'os diabos...

c'os diabos...
cada vez mais as coisas fáceis
se enssarilham,
fazem nós,
ninguém desenlaça.

é na coisa pública.
é na privada.
é na íntima...
o que agora vale,
foi invectivado.
fonte de mal...
que o Senhor me livre!...
nunca esperei
ser espoliado
pelo próprio Estado.
fruto da Lei...
vê-se aflito?...
vai ter com os pobres
que ninguém defende.
os aposentados...
que descontaram,
para terem sossego
quando da velhice...
Ó que pulhice!...
é só cortar...
enquanto botar...
reino dos crápulas...
Mafra, 22 de Abril de 2015
13h02m
Joaquim Luís Mendes Gomes

quinta-feira, 21 de abril de 2016

vésperas duma viagem...

vésperas duma longa viagem...


As vésperas duma viagem longa...

Não são propícias as vésperas das longas viagens para escrever poemas.

Saem tortos porque não há serenidade.
Tudo fruto da imaginação.

Devagar, com sorte e atenção se vai ao longe.
Aqui vou, desde o mar,
por essa Europa dentro,
até Berlim,
onde fervilha a vida e a riqueza.
Porque reina a ordem e a segurança
e o poder serve o cidadão.
Está-lhe atento. Prevê os seus problemas. Antecipa-se-lhes.
Nunca lhes regateia a solução.
Em troca certa do seu contributo.
Ninguém está dele dispensado.
(Vou sentir saudades...)
Onde vale a pena viver...

Bar "Caracol" Mafra, 21 de Abril de 2016
18h15m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

desafio de viver...

o desafio de viver...
cada dia, um desafio.
se ganha ou se perde.
no final,
não tem meio termo.
vitória ou derrota.
nunca o empate.
cada hora é um passo.
sempre para diante.
não dá para enganar.
estamos sempre a tempo de corrigir.
apanhar sol.
parar não...
Mafra, 6 de Abril de 2015
8h36m
Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 20 de abril de 2016

quem desceu do céu?...

Quem desceu do céu?...
Quem desceu aquela cortina fumarenta e espessa
que não me deixa ver ao longe,
Sintra e a sua Pena?
Venha depressa e em força o Sol que a desfaça em pó que a brisa leve.
Venham do mar em ondas frescas
aqueles perfumes de algas que a terra não dá.
Fique azul o céu como o azul do mar.
Estes meus olhos já estão cansados de tanto negrume.
Reclamam luz para poderem ver...
Bar "Caracol" Mafra, 20 de Abril de 2016
9h31m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 18 de abril de 2016

renovar...é preciso

Renovar…é preciso…
Tudo é perecível.
O novo começa brilhante.
Com o tempo, vai desbotando a cor.
As peças, enferrujando,
Uma a uma,
Mal respondem.

O tempo urge.
A paciência esgota.
Para quê o remendo?
Em vez do sótão,
Aquela sucata…
Reciclagem é o que se impõe.
Renovar. Melhorar.
Se for possível.
O sabor a novo
Faz-nos felizes.
Só nos faz bem.
Fomenta o trabalho,
Estimula a iniciativa
Do querer servir
Para bem vender.
E contribui para o bem geral.
Renovar…até a mente…
É o preciso!
Ouvindo Mendelsson
Mafra, 18 de Abril de 2015
4h10m
Joaquim Luís Mendes Gomes

domingo, 17 de abril de 2016

tabernáculo das sinfonias...

Tabernáculo das sinfonias...

Montei uma tenda de pano.
Ampla. Bem presa ao chão.
No alto duma montanha.

Chamei os ventos.
E fiquei-me a ouvi-los.

Em rodopio, chegavam de todo o redor.
Como em duelo.

Eram de graves,
Quase soturnos,
Os ventos norte.
Cheios de neve.

Depois, os brandos,
Raiados de Sol,
Quentes,
Vinham do sul.

Grande refrega,
Eu assisti.

Quem apartou,
Encharcados de ondas,
Suave milagre,
Vieram do mar.

Por fim, os de leste,
Em cortejo lento,
Majestáticos,
Carregados de paz.
Encerraram tão bela sinfonia...
Como eu nunca ouvira.


ouvindo Plácido Domingo

Bar do "Caracol" em Mafra
17 de Abril de 2016

11h5m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes






os fracassos...

os fracassos...
são aparentes todos os fracassos,
por mais negros.
em qualquer momento da nossa caminhada.
enquanto há o pulsar da vida.
com esperança,
qual fénix, tudo renasce
e fica verde.
quantas vezes, com o passar dos anos,
se constata,
olhando atrás,
que, afinal,
o que aconteceu
foi muito melhor para nós...
não estaria a desfrutar, agora,
da plenitude que me inunda a alma...
ouvindo concerto de aranguês por Paco de Lucia
Mafra, 17 de Abril de 2015
7h35m
Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado, 16 de abril de 2016

A moda dos pára-quedas…
Subi a um desfiladeiro muito íngreme,
E abri as asas do meu pára-quedas.
Atirei-me à sorte para o abismo à minha frente.
Minha vida já estava suspensa.
Ficou só presa por um fio.
Leve e sublime,
Vagueei, rodopiei,
Como um condor,
Dominando inatacável e indiferente
Os desacatos mesquinhos
Da superfície da crosta terrestre,
Lá bem no fundo.
Desapareceram as pedras e os pedregulhos.
Que atolam a humanidade.
Só via um rio manso,
Tão calado,
Riscando o chão,
Como uma serpente
Ao sol.
Uma lufada vibrante
Pegou em mim,
Levou-me ao céu,
Ao pé dos anjos,
Na sua hora de recreio.
Juntei-me a eles…
Ficaram espantados
Como lá cheguei
Com aquele aparato leve de pano.
Às cores…
Até Deus mirou!..
.
Que grande festa!
Assim pegou nos céus,
A moda dos pára-quedas!...
Ouvindo Sibéllius
Mafra, 16 de Abril de 2015
5h34m
Joaquim Luís Mendes Gomes

sexta-feira, 15 de abril de 2016

fracasso dos espelhos...

O fracasso dos espelhos…
Nasceram ao nascer do dia,
Cobiçando tudo o que havia,
Entre o céu e a terra.
Por magia e vã glória,
Convenceram-se de que,
Ao seu olhar,
Tudo ficaria seu…
Seu reinado só durou um dia.
Tudo perderam ao cair da noite…
Mafra, 15 de Abril de 2015
23h25m
Joaquim Luís Mendes Gomes

quinta-feira, 14 de abril de 2016

tão suavemente...

Tão suavemente...

Queria acordar tão suavemente como ontem adormeci.
Foram cálidos e tão ternos os teus beijos
como de pombas brancas num idílio.

Me inebriaram de perfume ...
Sonhei estar no paraíso.

Não quero acordar mais...
Com medo de ser o fim.

Bar Caracol, arredores de Mafra, 14 de Abril de 2016

Dia chuvoso

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

desesperado. não vencido...

Desesperado…e não vencido
Como pintor desesperado,
Perante uma tela branca,
Cheio de cores na cabeça,
Sem saber onde as pôr,
Se retorce e olha,
furibundo,
Em seu redor,
À procura dum caminho
Que não encontra…

Assim me vejo,
Diante desta tela, muda e queda,
Cada tecla sua letra,
Minha ideia,
Qual abelha,
Em tentativas,
Batendo cega,
Contra o vidro…
Quase esvaio…
Mas não desisto.
Fico à espera.
Talvez ela venha,
Com o orvalho do amanhecer…
Ouvindo Dulce Pontes
Mafra, 14 de Abril de 2015
20h30m
Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 13 de abril de 2016

dolorosas...

Dolorosas...
São dolorosas as derradeiras folhas dum livro
que se gostou de ler.
Os últimos acordes dum concerto que se adorou ouvir.
E as palavras últimas dum poema que nos deixou encantado
E as derradeiras horas das férias que nos fizeram sonhar.
O acordar dum sonho onde se queria ficar.
De tão doloroso...nem se quer lembrar...
Bar "Caracol" arredores de Mafra
13 de Abril de 2016
10h10m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 12 de abril de 2016

loja dos sentimentos...

Loja dos sentimentos...

Ao meio duma avenida larga e comprida,
fica imponente uma loja, fechada de grades.
Uma catedral.

Se compra e vende, se dão,
em horário seguido,
mercadorias tão raras,
indispensáveis à vida,
sem mãos a medir.

Se formam cortejos.
Vêm de longe.
Com fome e com sede
Como se fosse de pão.

Abundantes, renascem.
Quanto mais saem.

Me ponho a vê-los.
Entram tristonhos.
Não sei que lhes fazem.
Saem risonhos,
com brilho nos olhos.

Parece uma fonte incessante que brota de vida.
Não seca.

Sem opas nem círios lá dentro...

Café "Castelão" Mafra 12 de Abril de 2016
9h37m
dia de sol com chuva

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes





segunda-feira, 11 de abril de 2016

uns trocados só...

Uns trocados só...
Apenas quero ter no bolso
uns trocados
que me cheguem para o essencial de cada dia.
Não quero cofres nem sequer alforges
que apenas pesam ou me roubam espaço.
Para meu corpo e minha alma.
Quero andar tão leve
e me sinta livre
que baste uma brisa branda
para me despegar do chão.
Quero ver os pássaros cada manhã
a poisarem suas patitas
nas grades de ferro da minha varanda
para me dizerem olá!
Quero sacudir só o pó dos pés
quando vier a hora de entrar no paraíso...
amanheceu de sol
Mafra, 11 de Abril de 2016
8h10m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

domingo, 10 de abril de 2016

Porto Covo...

Porto Covo...

Porto Covo de Agosto em Abril
é verde e amarelo nos campos
e azul no céu e no mar.

Tem recantos singelos,
banhados de espuma.
E casinhas branquinhas,
debruadas de azul.

Ruelas estreitinhas com parques de vendas.
Coisas da terra, feitas à mão.
Esplanadas, cafés.
Caravanas paradas,
esperando seus donos.

É tão brando o ar.
O sol já brilha.
Apetecia ficar...

Porto Covo, 10 de Abril de 2016
14h56m

Com o Luís Daniel em Porto Covo

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes


nada adianta esbracejar...

Nada adianta esbracejar...
Se não chegou a hora.
Se não há inspiração
Mais vale ficar mudo e quedo.
A onda alta irá passar.
De novo, virá a calma
e a luz serena.
Os olhos se abrirão
ao clarão da paz.
A ordem tudo supera.
Até a guerra.
Sem paz, é a confusão.
Bar "Caracol", arredores de Mafra
10 de Abril de 2016
dia de chuva
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado, 9 de abril de 2016

chuva na madrugada...

chuva na madrugada...
tomba forte sobre o telhado,
uma torrente de água.
tudo lava.
tanto pólen anda no ar.
e na terra arada,
as sementes lançadas
querem sair.
feitas em caules.
para crescerem,
darem fruto,
encherem de pão,
sorrindo ao sol.

é a natureza fiel
a cumprir o seu dever
para com a humanidade.
milagre da vida,
sempre presente...
que bom assistir,
com todo o conforto,
no calor duma cama,
que a minha gente
aqui me emprestou,
tornando grata esta romagem...
Margaride, rua da Cabreira,
10 de Abril de 2015
5h 26
ouvindo concerto nº 2 de Rachmaninov
Joaquim Luís Mendes Gomes

dia sem luz...

Dia sem luz...

Foi um dia sem luz.
Nasceu com sol.
Cobriu-se de nuvens
E pôs-se a dormir.
Bem o esperei.
Esqueceu-se de mim.

Ficou por escrever
O poema do dia.
Um dia sem luz...

Mafra, 9 de Abril de 2016
20h58m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

sexta-feira, 8 de abril de 2016

quando no céu...

Quando no céu...
tudo esgaça e parece desabar,
Eis que, duma simples nesga,
um mar de sol irrompe
e tudo sorri, de calor e luz.
Refulgem de branco os cumes mais altos.
Se vestem verdes as encostas.
Florescem as pradarias.
E os rebanhos famintos
correm das suas cercas,
montanhas acima.
De novo a passarada, em cardumes extensos,
percorre os céus,
cantando alegres.
Em grandes baforadas,
as chaminés dos lares,
expelem toda a fumarada
que fazia arder os olhos.
Se ouvem os sinos
tilintando as horas,
agora, de esperança.
Hossana! A tormenta negra passou, enfim...
ouvindo Filândia de Sibelius
Bar Caracol, arredores de Mafra,
8 de Março de 2016
8h45m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 5 de abril de 2016

minha forja...

Minha forja acesa

Acende pela madrugada
com o sol a arder.
A carvão e lenha.
Dá-lhe o vento
e fica em brasa.

Afio meus versos ardendo
e os malho
com toda a força,
na minha bigorna.

e dou-lhe a têmpera rija
em água pura.

Depois se vão afoitos,
A correr mundo.

Ora cavando a terra negra
ora a penedia dura
para que a semente nasça
e a obra fique.

Berlin, 17 de Junho de 2015
22h25m
Joaquim Luís Mendes Gomes







segunda-feira, 4 de abril de 2016

consolação das águas...

Consolação das águas...
Me consolo e lavo minhas mágoas
com as águas deste rio brando e leve,
onde flutua minha embarcação.
Fito as margens.
Choram tão tristes,
de presas às amarras
que as prendem.
Pendem do ar
Tantos cachos de ramos verdes, com vontade de voar.
Lá, ao longe,
vagueia esquecido
um rebanho de ovelhas.
Não sabem elas a sorte negra
que as espera.
Até as sombras choram sombrias,
ao verem nas águas,
a sua imagem.
Todo o mundo espera
que a chuva páre
e venha o sol...
Bar "Castelão" em Mafra, 4 de Abril de 2016
11h5m
Lmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

nunca o desespero...

Quando uma fatalidade, horrenda e lancinante, nos acontece...na vida...só há um caminho. Nunca o desespero. Erguer os olhos para o Céu...e serenar, a pouco e pouco.
Tudo passa...e melhora...É verdade! mas não esquece.

sábado, 2 de abril de 2016

desconfiado e tristonho...

Desconfiado e triste...

Olho-te, desconfiado e triste,
ó nascer desta manhã de Abril,
um duelo extremo entre as nuvens espessas
e um sol fogoso
que quer subir.

Grandes rasgões nessa cortina d'aço.
Clarões em chama duma fogueira ardente.

Assistem pasmadas estas copas verdes.
Sem saberem ao certo
o que hão-de vestir.

Só indiferentes, rapando a relva,
se mantêm de pé, os mansos cavalos ,
como se não passe nada.

Reina o silêncio da algaraviada.
Como eu, sózinho aqui,
Torcendo com força
que vença o sol ,
Se esboroem as nuvens em debandada...

Mafra, 3 de Abril de 2016
7h31m

...o sol já rompeu...aleluia!

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

Castelo da Pena...

Castelo da Pena

Neste fim de tarde, luminosa e calma
que a natureza caprichou em dar,
se divisa daqui, ao longe,
sobre as altas cumeadas,
poisado,

o recorte fino e ténue,
de muralhas e ameias
dum castelo.

Será de Sintra?

São de cinza as cores
E de silêncio as suas lendas.

Se cobre de nuvens,
Com muitas penas,
São dos piratas,
Dos sarracenos,
Barcos à vela,
Vindos do mar.

Galgaram as pedras.
Tantas refregas.
Tanta barbárie.
Que mortandade!
Para reinarem.
Todos morreram.
Ninguém ficou.
Só as muralhas.
Só as ameias.
Fino recorte,
No horizonte!

Será de Sintra,
Castelo das Penas?...

Bar caracol, arredores de Mafra, 1 de Abril de 2016
18h49m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes




sexta-feira, 1 de abril de 2016

milheiral ao sol...

Milheiral ao sol...

Milheiral de espigas.
Seco ao sol.

Serão grão e farinha.
Depois, pão.
E alegria. Com vinho.
Nos lares.

Das canas,
Em molhos,
As medas.
Expostas
à chuva,
ao sol e ao vento.

Suculento repasto,
Dum ano,
para o gado da carne.

Mafra, Bar caracol, 23 de Agosto de 2015
10h24m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes