segunda-feira, 30 de novembro de 2015

os nossos fantasmas...

Os nossos fantasmas...

São medonhos e muitos
os nossos fantasmas.
Envoltos em fumo,
Vêm de longe,
de nossos antanhos.

Se alimentam de sangue,
e vivem nocturnos.
Tremendos.
Destroem caminhos.
Arrasam os sonhos.
Criam abismos.

Roubam-nos as forças.
O peito rebenta.
Falta-lhe o ar.
Devoram a mente.
Prendem os braços.
Fazem suar.

Parecem que o mundo
está mesmo a acabar...

Mas, no desespero final,
do fundo de nós,
irrompe um estrondo.
Um trovão explode.

Abrimos os olhos.
Pelas janelas, jorra o sol.
O céu é azul e sem nuvens.
A vida lá fora é uma festa.
Mais um dia começa.

Lentamente a bonança domina.
Invade-nos o corpo e a alma.
Nasce a verdade.
Somos os mesmos.

Amantes da vida
com medo da morte...

ouvindo " Cavalgada das Valquírias" de Richard Wagner

ainda é escuro e gelado

Berlim, 1 de Dezembro de 2015
6h00m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes




tudo mudou...

Tudo mudou...

Enquanto fui e vim,
tudo mudou.
para pior.
mais valia ter ficado.
assim já não.

era um jardim.
agora é mato.
há tanta silva,
até em belém.
tanto coelho.
e tanto rato.
nem um só gato.

havia portas.
há só buracos.
até submarinos.
mas não temos água.

há só pardais
e patos bravos.

acabou-se o milho.
meteram-se na politica.
escavacaram tudo.
uma desgraça.

só à pedrada!...

Berlim, 30 de Novembro de 2015
16h37m

ouvindo "habanera" de Bizet

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

domingo, 29 de novembro de 2015

como foi possível?...

Como foi possível?...


Como foi possível,
de entre miríades e combinações harmónicas de sons e cores,
chegar aqui,
a este cume de tanta beleza e harmonia?

Não é obra do homem. Algo mais tem de haver
que comanda e dita esta corrente de luz e cor,
na sequência das notas dum piano e violinos.

Não estamos no mundo das ideias,
nem de quadros belos dum museu.

É outro reino de sapiência.
Tem traços de humano e de divino.
num enlace fecundo de beleza
que nos inebria e enche a alma,
como um mergulho no mar azul,
numa tarde cálida.

Nossa pele se arrepia e delicia
com a frescura e o sal
das ondas.

Uma onda suave de interna alegria
se espraia em nós
e nos atira ao chão.

Ó majestades!
Ó rei ou rainha que ordenais
o desabrochar das primaveras
para encanto de nossos olhos,
por amor ou sei lá porquê!

Tudo ficaria pobre, por mais rico, sem esta maviosa sensação feliz...

ouvindo Chopin ao piano

Berlim, 30 de Novembro de 2015
6h10m

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

minha musa e minha amante...

Lisboa, minha musa e minha amante...

Deitada em sete colinas,
do Castelo até Monsanto,
uma Estrela em diadema.

Tem o mar e tem o rio,


Cacilheiros sempre a bailar.
Tem boites, cabarés.
Duas pontes, do norte ao sul.

Tem comboios e tem eléctricos,
num constante corropio.

Tem a graça duma mulher
e os queixumes duma viúva.

O fado é o seu hino.
Só a ama quem ela quer.

Tem a Estrela e tem a Sé.
Onde mora o Omnipotente.

Tem o sol e tem a lua.
Só lhe falta ter amante...

ouvindo melodia do "titanic"com André Rieu

Berlim, 29 de Novembro de 2015
23h38m

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

lago azul...

De vez em quando...

Vou sózinho até ao lago.
aquele espelho azul,
de águas mansas.
uma coroa à volta,
de cetim em chama.

a paz dormindo, numa cama branda.

sonoros sons
rodopiam em volta.
enxugo os olhos.
se de emoção ou lágrimas...

ouvindo "Romeu e Julieta" por André Rieu ao violino

Berlim, 29 de Novembro de 2015
22h49m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

renascer...

Renascer...

Desaparecer do torrão onde se nasce
porque a vida assim ditou
não quer dizer esquecimento.
Poucos anos tenham sido
os que lá se viveu.

É tão forte o apelo daquela terra,
donde sairam as ínfimas partículas vitais
que alicerçaram o nosso ser
e formam as traves mestras deste corpo iluminado.

Bem se sente, cada vez que a ele se regressa,
depois duma longa ausência.

Parte de nós são a terra e suas gentes.
Porque de todos foi a matéria prima.

Tudo o que vem depois
são apenas as telhas do telhado,
suas portas e janelas.
Bem se trocam
como as roupas que vestimos.

É único o perfume da terra negra,
depois de arada.
Nunca esquece.

E as cores das sementeiras
quando brota a primavera.

Os zunidos que se ouvem,
quer de dia quer de noite,
do passaredo e das abelhas.

O mesmo compasso das horas quentes
e horas mortas.

As mesmas formas de sorrir e de falar,
os mesmos ditos que se trocam
na vizinhança.

Quem faz bem o que se precisa,
sem o risco de enganar.

Quem acudiu pronto,
nas nossas horas de aflição.

Tudo isto e tanto mais
é uma voz aguda e um forte apelo
que nos chama dentro,

estejamos onde estivermos,

só nós ouvimos
e mais ninguém,
em cada dia,
muito mais na hora do regresso...


ouvindo Mendelsshon, sinfonia nº 3

Berlim, 29 de Novembro de 2015
21h24m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

melopeia das madrugadas...

Melopeia da madrugada...

É benigna esta melopeia doce
da madrugada.
Minha companheira fiel e pronta
Das horas piores que o tempo traz.

Me enleio nas suas doces e etéreas melodias.
Alcanço nelas os píncaros das estrelas.

Sou um peregrino perdido nas ondas brandas do luar.
Oro preces e teço as minhas contas
De arrependido.

Venero as almas daqueles meus que já partiram.
Às vezes penso. Seria melhor nunca findasse este refrigério doce e manso das madrugadas...

ouvindo " O claire de Lune" ao piano

Berlim, 29 de Novembro de 2015
17h51m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado, 28 de novembro de 2015

eminente e inesgotável...

Eminente e inesgotável...

Como uma garça elegante e leve,
avança para o piano,
de cauda longa e aberta,
sob uma chuva de palmas quentes
da assembleia sôfrega de a ouvir.

Faz-lhe uma vénia reverente.
Ajeita a si o banco.
Se concentra.

E seus dedos poisam suaves
sobre as teclas ainda dormentes.
Faz-se silêncio.

Surgem sons trinados.
Se evolam pelo ar em labareda.
Dum piano e uma orquestra.

E nossas almas, de tão sedentas,
de paz e harmonia,
se inebriam
e voam com eles,
num bailado de cores e luzes,
como quando se apaga a dor,
dum eterno sofrimento.

Tudo ali é o nosso mundo.
Não há mais nada,
senão nós e elas.
Em graciosa cavalgada.
Encosta acima.
Cabelos ao vento.
Sem descanso, até ao cimo.

Ó magnífico deslumbramento
da vitória
que é só nosso
e do firmamento azul,
em fulgurosa majestade!...

Abençoadas horas.
Estas em que não há tempo.
Arde o nosso peito.
Já não somos nós.
Só temos alma
e não o corpo.

Bendito Brahms que concebeu para a gente
este concerto belo!...
E aquelas mãos de artistas sábios
que o interpretam assim bem
como mais ninguém...

ouvindo concerto nº1 de Brahms para piano e orquestra

Berlim, 29 de Novembro de 2015
5h47m

ainda reina a madrugada fria

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

se tornam lúgubres...

Se tornam lúgubres nossos desejos...

Insatisfeitos. Deixam rasto
que fazem ferida e dor.
Custa a curar.
Se tornam crónicos.
Insaciáveis.
Como rios que se tresmalham
de seu leito.

Tudo inundam.
Lançam morte
Por afogamento.

Não há mais salvação...
Tudo acaba sem remissão.

Berlim, 28 de Novembro de 2015
21h1m

ouvindo " summertimes" ao piano

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes


gaiola dos insucessos...

Gaiola dos insucessos...

Prendi numa gaiola os insucessos da minha vida.
Só os solto quando na vida
emendo o que fiz de mal.

Há uns, são bem antigos.
Quase os esqueço.
Bem me esforço
E viro do avesso.

Complicadas são suas razões.
Umas minhas.
Outras não.

Só o tempo, o melhor mestre,
Os resolverá.

Os demais são sazonais.
Cada um sua estação.
São mais de inverno.

Talvez do frio
Ou do torpor da minha lareira.
A cabeça fica tão tonta...

Também os do outono,
Pelas saudades do verão.

Os menores são os da primavera.
Há no mundo tanta cor
E tanta luz...
Dá tudo certo à primeira mão.

E, no verão, lá fica um só uma noite.

Tal é a vontade e força para o emendar...

Berlim, 28 de Novembro de 2015
12h59m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes





sexta-feira, 27 de novembro de 2015

sedução do mal...

Sedução do mal...


Fujo do mal como o diabo foge da cruz.
Me persegue como uma sombra
que me esconde.

Vou para o sol para a afujentar.
Fica nítido o limite
Entre o bem e  o mal.

Mesmo assim, volta e meia,
Aparecem as miragens
E o fulgor da sedução.

São insidiosos nossos desejos.
Pintam de cores que a realidade
Não tem.

Minhas passadas são pé-ante-pé
Para não cair em alçapão.

Cuidado com as planuras.
Onde mora a facilidade.
Preferível a rugosidade
Da ascensão pela encosta duma serra.

Nos levam sempre às alturas
Onde se divisa longe
E tudo aparece no seu lugar.

ouvindo Kimmy Kota, com André Rieu

Berlim, 28 de Novembro de 2015
8h42m

amanheceu brilhante com sol gelado

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

sou cristal...

sou de cristal...

transparente e cristalino,
atravessado pelo sol.
não sou planeta
nem sou estrela.
reflicto a luz.
se não houver nuvens negras.
nem as mágoas do sofrer.

cavo fundo no meu ser.
à procura do amor.
linha de água.
minha nascente.
nunca a deixo se secar...

Berlim, 27 de Novembro de 2015
11h46m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

meu barco...

meu barco...

meu corpo é um barco.
a natureza é meu mar.
me leva a todo o mundo.
suas ondas me embalando.
só me apetece navegar.

nele amo. nele oro.
não ando ao deus dará.
me deito com a lua.
as estrelas, minhas fadas.
suas histórias, suas lendas.
os meus sonhos.
tão lindos, de encantar...

quero bem a este corpo
que é meu barco
ele me leva a navegar...

bar dos motocas, 27 de novembro de 2015
11h33m

ouvindo Maria Betânia

jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

não sou de algodão...

não sou de algodão...

tenho uma casa fechada.
suas chaves na minha mão.
tem aldrabas e aluquetes.
suas portas são de ferro.

está cercada à volta.
ninguém consegue ultrapassar.

só me chamando.
vou logo abrir.
se vier por bem,
entra e come à minha mesa.
pão e vinho.
queijo e broa.
como brotou da natureza.

tem lareira fogo,
sempre acesa.
canapés.
tapetes de algodão.

minha viola toca
as minhas mãos
e eu canto as badaladas
como me brotam,
sem querer.

minha casa, junto ao rio.
adormece de prazer ouvindo
o marulhar de suas águas.

gosto dela.
me faz feliz.
nela amo
a vida e tudo
que ela me dá.
sem eu pedir...

bar dos motocas, arredores de Berlim, 27 de Novembro de 2015
11h13m

ouvindo Maria Betânia...ninguém melhor

jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes


quinta-feira, 26 de novembro de 2015

foi há tantos...

O dia em que minha Mãe morreu…

O dia em que minha Mãe morreu,
Pereça.
Tinha doze anos,
Cobriu de noite minha vida inteira.

Era Novembro. Frio e vento.
Ficou mais negro.
Ficou gelado.

Daí para a frente,
Grande vazio
Me encheu a vida.

A solidão, nas horas tristes.
Secou a fonte
Que me matava a sede.

Ó que secura!
Porquê a mim?...

Fiz-me à vida
Com toda a força
Que me vinha dela.

Sempre presente.
Venci.
Se sou quem sou
A ela o devo.

Hoje a lembro…

Foi há tanto.
Ó que saudade!

Berlim, 27 de Novembro de 2015
00h.22m

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

quem sou eu?...

Quem sou eu?
não mereço o pão que como.
não foi minha a farinha
donde saíu.
nem sequer o fogo que o cozeu.
só o forno poderia ser meu.
e esta fome que me persegue
e me atormenta,
se não lhe acudo,
não sou eu quem a fomenta.
e este corpo sólido e líquido
que me transporta,
tanto me apraz como traz tormento.
sou eu sei...
nele mora a luz escondida
que me alumia.
fala comigo e canta
com uma voz do outro mundo.
me segreda sons
que eu traduzo em voz.
me dá ideias claras,
com muitas cores
para eu pôr em verso,
como eu souber,
sem pedir contas...
afinal quem sou eu,
sou só de mim,,,
se não de quem?...
Berlim, 26 de Novembro de 2015
22h10m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

o verdadeiro amor...



O verdadeiro amor…

Muitas vezes não é o primeiro.
Porque realmente não era real.
Tinha forma dele
Mas não a alma.

Não tinha o fogo puro.
Que vem do fundo.
Nos envolve o ser.
Um vulcão da terra.
A lava apaga e nasce a vida,
Abundante e verde.
Como abunda numa cratera.

Aquele lago calmo,
De flores bordado,
Que é só nosso,
Onde se mira o céu
E não chega o vento…

Ouvindo “adágio” de Mozart por Hélène Grimaud

Berlim, 26 de Novembro de 2015
11h36m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

só depois...



Só depois…

Só depois, as palmas e as flores.
É preciso muito.
Provar e ser.
Sentir e expressar o belo.
Com a tinta e a palavra.
Criar um quadro
Quase igual à natureza.

Brindar um violino
De champanhe puro e de beleza.

Deslizar sobre um piano,
Como o faz tão bela
Esta bailarina a tocar Schumann.

Encher a sala e as galerias
Do perfume, supremo e excelso
Duma magnífica sinfonia.

Fazer ruir as brumas da tristeza,
Enchendo a sala prenhe
De coloridas gargalhadas.

Arrebatar aos céus
Os corações ardentes
Duma magna assembleia peregrina
Que acudiu de longe
Só para, horas a fio e sem dar conta,
Ouvir as vozes d’oiro
Dum Plácido ou Pavarotti
E o retinir dos violinos,
Das harpas e dos tambores…
Ouvindo Kathia Buniatischvili ao piano e a orquestra

Amanhecendo cinzento e frio

Berlim, 26 de Novembro de 2015
7h14m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

fiz-me ao mar...

Fiz-me ao mar…

Pus meu barco à água e fui.
Subi as velas. Havia vento.
Deixei-o ir.
Manta azul, imensa e mansa.
Deixei de ver a terra.
E a noite veio.
Fazia luar.

Estrela do norte
Me guiou certo.
Até aqui.

Pareceu um sonho.
Bendita a hora
Em que deixei a terra
E fui ao mar.

Nada pior que ficar dormindo
Sem poder sonhar…

Ouvindo André Rieu em “ canção do Volga”

Berlim, 25 de Novembro de 2015
21h38m

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

não sou fruto do acaso...

Não sou fruto do acaso...


Não sou fruto do acaso.
Sei a hora e sei o dia
em que tudo aconteceu.

Tenho pai e tenho mãe.
Sei meu nome,
De cor e salteado.
Baptizei-me e fui à missa.

Aprendi a ler e a escrever.
E sei contar.

Casei e dei meus frutos.
Dei-lhes rumo.
Os espalhei por este mundo.
Com minha bênção.

Fui à guerra e vi a morte.
Tive sorte.

Trabalhei no que não quis.
Para meu sustento.

Agora, descanso
e sou feliz.

Por quanto tempo?...
Só Deus sabe.

Bar dos motocas, arredores de Berlim, 25 de Novembro de 2015
10h48m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes


terça-feira, 24 de novembro de 2015

armistício...

Armistício…

Finalmente, de repente,
Acabou a guerra.
Serenaram as águas revoltas
Carregadas de desprezo
Pelo bem comum.

Reatou-se um contrato d’oiro
Que assinamos todos
Na constituição geral.
Onde só o Povo é rei
E os governantes,
Os seus vassalos.

Foram embora os detractores.
Que nos delapidaram a fio,
Por quatro anos.
Escavacaram tudo.
Tanto destroço
E dor por essas ruas.

Chegou a hora de voltar a ser
Quem é este País digno e nobre.

Vamos todos reerguer os valores
Que foram espezinhados.
Sem eles, não há lei nem roque
Na família.

Nova bandeira limpa
A desfraldar.
Vamos cantar de pé
O hino da liberdade.
Porque os opressores-carrascos,
Para todo o sempre,
Se foram destronados.

Ouvindo Rachmaninov

Berlim, 25 de Novembro de 2015
7h33m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes


Notas Políticas

Hora crucial esta que vivemos em Portugal.
Durante quatro longos anos, fomos devorados, os que vivem do trabalho, por uma frente desenfreada de políticos sem preparação política nem qualquer ética ou sentido de Estado.
Cometeram as maiores atrocidades.
Destruiram o resto do aparelho produtivo.
Eliminaram toda a vontade de investimento.
Endividaram o País como nunca antes se viu.
Erigiram o capital financeiro como rei e dono. Sobre a Lei.
Os governantes e detentores de cargos públicos enriqueceram à custa do erário público.
Tudo se vendeu. Até os anéis de noivado.
Tudo com o beneplácito e a descarada cumplicidade do presidente da república.
Pouco faltava para que a situação fosse irrecuperável.
Eis que, por inesperado golpe perpetrado pela democracia, o Povo, sem o saber, desferiu uma jogada de mestre.
Possibilitando uma coligação de esquerda onde nenhum dos partidos coligados poderá impor a sua vontade, desvirtuando o rumo vencedor.
Todos sabemos que nas alas do PS, há muita gente conspurcada pela maçonaria, ressurgindo aliada à figura mais que sinistra de Sócrates. Apesar da falta de provas documentais, que ninguém tenha ilusões...
Que os restantes do PS sejam fortes para se unirem e encetarem uma nova rota neste partido. Evitando os mesmos erros e enveredando por uma política semelhante à da coligação terrorista que se foi embora.
Podem fazê-lo, apoiados na força do BE e do PCP e no apoio do Povo atento e que só quer voltar a viver com dignidade e cabeça erguida...
Todo mérito e esperança está nesta coligação.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

ave morta...

Ave morta…

Está inerte. Caída no chão
Esta ave morta.
Não resistiu ao frio.
Suas penas não conseguiram
Aquecer-lhe o corpo.

Ali jaz.
Sob um manto leve
Que a neve teceu.
Mortalha breve
Que o sol apaga.

Depois a água o leva
Como folhinha seca.
Que já não voa…

Berlim, 24 de Novembro de 2015
7h46m

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

parto dum dia em Berlim...

O parto dum dia em Berlim…

Vi-o nascer.
Das profundezas escuras do negrume,
Emergiu a luz em lufadas d’oiro e prata,
E uma coroa de nuvens em diadema.

O dia nasce lento,
Sem lamentos nem queixumes.
Acima do silêncio dos telhados.
Sobre as copas negras
Dos bosques assombrados.

Um clarão vasto e iluminado
Vem à frente a anunciá-lo.
A aurora raia entoando
O hino da manhã.

Pouco a pouco o sol,
Vai surgindo,
Na linha horizontal.
Imponente e fulgurante.
Ele é rei omnipotente.
Tem a coroa doirada
Incandescente.
Suas vestes são os raios luminosos.

Parece ouvir-se ao longe
Os anjos e querubins,
Com trombetas,
Seu exército imperial,
Em majestade.

O seu trono raia.
É todo feito de glória.

Nasceu o dia

Berlim, 24 de Novembro de 2015
7h8m

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

passadas na madrugada...

Passadas na madrugada…

É no silêncio e paz das madrugadas
Que eu caminho imaginando.
Não há nuvens pelo céu.
Só estrelas brilhando
E um luar doce e brando
Que banha os meus olhos
Sem magoar.

De dia, ardem. Choram.
Encandeados de fogo e cinza.

Minha mente voa, asa delta.
Sobre as fragas e cumeadas,
Sorve o ar.

Minha alma dentro,
Se ilumina e esparze raios,
Versos lindos,
Pensamentos oriundos
Do infinito,
Para lá das estrelas.

Quem me dera viver só na madrugada,
Inundado de silêncio e paz.
Onde o mundo perfumado
Só tem as cores da alma
E minhas passadas são brandas e radiosas…

Ouvindo Dvorak ao piano e violino

Berlim, 24 de Novembro de 2015
5h52m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes




onde é que isto vai parar?...

Onde é que isto vai parar?...

Tanto mal por esse mundo.
Tanta dor e sofrimento.
Tanta lágrima inocente.
Sem sinais de melhorar.

Depois das grandes guerras quentes,
Vieram as guerras frias.
Tanto medo universal.
Do fim do mundo.
Explosão nuclear.

Mal sabíamos o que estava para vir.
A queda do muro.
Uma aberta de paz apenas.
Muita esperança.
Tudo ruiu.

Novos ventos.
O terrorismo.
Aviões e torres abaixo.
Milhões de vidas
Se vão num ápice…

Agora o Islão.
Um alçapão medonho.
O terror dos bárbaros.
E o pior…
Em nome de Alá!

Ouvindo canção da terra de Michael Jackson, André Rieu e Carmen Monarcha

Berlim, 23 de Novembro de 2015
16h57m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes



domingo, 22 de novembro de 2015

lavo meu rosto...

Lavo meu rosto…

Cada manhã, lavo meu rosto,
Nas águas do rio.
Fico a vê-las fluir,
Naquela corrente sem fim.
Da nascente até ao mar.

Lanço-lhe prendas.
Como barquinhos sem vela,
Descem e vão.
Me dizem adeus e eu a elas.

Boa viagem!...
Lhes desejo.
Já que eu fico
E elas vão.

Fico lavado.
Peito arfante.
Ganhei as forças
Para mais um dia.
Oxalá com neve.

Queria brincar,
Como fiz criança.
Tantas bolas.
E a bonecada.

Que alegria, enquanto havia.

Depois, era esperar.
Só para o ano.

A neblina. Mantinha de pérolas.
A raiar ao sol.

Vinha o rebanho.
Ó que fartura!
Tão lindo a vê-lo.

Ouvindo o “ concerto Aranguês”

Berlim, com neve, 23 de Novembro de 2015
8h18m

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

na madrugada...

Na madrugada…

Desço a encosta, voltada para o mar,
E vou passear na pontinha,
À beira do cais.

Fico a vê-lo. Espelho da lua,
Banhada no mar.
Os paquetes dormentes,
Carregados de gente,
Presos por cordas,
Servem de hotel e de igreja,
Nautas seniores,
Que vagueiam pelo mundo,
Saboreando o final
Duma vida intensa
De cansaço e labor.

O Senhor os acompanhe!
Senhora da Guia!
Rainha dos mares!...

Me volto para trás.
Que deslumbramento feliz.
Tantas pintinhas de luz.
Que belo dossel!
O João Gonçalves Zarco
Não viu…

Ouvindo “silêncio” de Beethoven, na madrugada, frente ao Funchal

Berlim, 23 de Novembro de 2015
6h11m

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

primeira neve...

Primeira neve…

Esta tarde, caiu a primeira neve.
Primeiro, em farrapinhos, tão leves,
De tímidos, nem chegavam ao chão.

Depois, mais arrogantes,
Se desembaraçando das ondas de vento,
Começaram a atapetar o chão.
E uma manta branca,
Extensa e leve,
Escorreu dos ramos,
Por já estarem nus,
Cobriu as casas,
Como se fosse um véu.

Acabou-se a chuva.
Não é preciso guardá-la.
Sai-se à rua.
Tudo é calmo.

A criançada delira.
Atirando neve.
Faz bonecada.
Dá gargalhadas.

E os mais velhotes,
Com suas bengalas,
Tacteiam o chão
E escrevem pegadas.

O frio foi-se.
Fins de Novembro.
Parece verão!...

Berlim, 22 de Novembro de 2015
17h4m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes



grandiosidade das essências...

A grandiosidade das essências…

Não me fico pelas aparências.
Indago fundo,
Até ao âmago da essência.
Aí mora a verdade nua e crua.
A realidade…

Por ela meço e congemino.
Se bom ou não.
Basta-me o ar que respiro,
Tal qual é.
Porque incapaz de o filtrar.

Onde minha vontade alcança
Eu me acautelo.
Poiso e moro só ao pé do bom vizinho.

Prezo a paz e a harmonia.
Não quero inquinar minha existência
Com as brumas da mediocridade
Ou as trevas da ignorância.

Meus olhos respiram a luz
E os meus braços só abraçam a pureza,
Real e vera, na sua inteira profundidade…

Ouvindo a “nona sinfonia” de Beethoven

Berlim, 22 de Novembro de 2015
8h58m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes