terça-feira, 31 de março de 2015

chuva das horas...

chuva das horas...

não há abrigo seguro
contra este cair de chuva
que começou há muito
e não pára...

tão cadenciada e persistente,
ontem e hoje,
eternamente.

umas vezes, granizo.
outras, farrapos de neve.

rio largo.
ora tão brando.
outras, enxurrada.
tudo à frente...

ninguém resiste.
folhas caídas,
ora boiando, serenas,
ora aos encontrões.
tanto de inverno,
como verão.

mas há as abertas.
sem nuvens no céu.
o sol raiando.
uma vida de festa.

noitadas de sonho.
um filho nascendo.
muitos sorrisos.
muitos abraços.
apetecendo viver.

Mafra, 1 de Abril de 2015

cuidado com as mentiras...

Joaquim Luís Mendes Gomes




grande acidente mortal...

o passos coelho ficou-se num acidente da estrada...

finalmente...

meus erros...

admito errar em muitos passos que dou...
mas, mesmo assim, não deixo de andar.
parar é ficar.
é perder o bom que está perto
e ficar com o pouco já gasto.
vazio de ser.

é preciso andar,
mesmo com riscos.
parar é morrer.
há tanto para ver,
do lado de lá.
diferente e melhor.
temos tão pouco.
com o pouco de muitos,
ficamos mais ricos,
e somos melhores...
Mafra, 31 de Março de 2015
8h2m
Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 30 de março de 2015

dois anos de poesia...

cidade triste e abandonada...

crónica duma cidade triste e abandonada...

crescera deitada numa encosta soalheira.
passava-lhe um ribeiro manso,
quase um rio,
a seus pés.

tinha ruas e vielas,
tecidas numa manta
de calçadas.
 tinha casinhas baixas
com janelas de madeira
e postigos.
com um buraco próprio
para o gato.

os telhados eram de telha francesa,
em meia lua.
chaminés muito bem pintadas,
a fumegar.
noite e dia.
das lareiras.

havia cães e gatos
que ladravam e miavam,
perante estranhos.

era uma família quente e unida.
onde a gentes
se conheciam desde o berço.

era uma paz e uma alegria jovial
em cada dia.
principalmente nas festas da ermida
e pelos natais.

rebentou a guerra.
distante e com trincheiras.
vieram buscar os pais
e os moços mais espigados.
só ficaram mulheres
repletas de tristeza...

e nos lares, nunca mais,
brilhou a luz alegre
dos serões e das noitadas.


maldita guerra mesmo ao longe...
o que ela fez...

Mafra, 30 de Março de 2015
18h26m

histórias inocentes...

Joaquim Luís Mendes Gomes

desfeitas em cacos...

desfeitas em cacos...

só desfeitas em cacos
todas as armas do mundo,
despontará a paz e a alegria fraternal
da humanidade.

só reduzindo a pó
os tetramilhões de quilos de dinheiro
que correm de mão em mão,
seja nota
seja metal,

e convertidas em catedrais,
de culto ao espírito,
todas as magnas agências
bancárias infernais,
onde se vendilhava a alma,
por meia dúzia de tostões.

se rarefaçam as auto-estradas
desse cortejo odioso
e pestilento
de charretes e camiões.
que nos devoram o oxigénio.

se sequem de vez,
todos os postos fundos
de petróleo
e se derrubem no chão
todos os falanstérios
dos Dubais.

e toda a imponência reverente
dos tribunais,
se derreta na harmonia
das consciências...

então, sim.
o mundo será um oásis
de paz e felicidade,
onde se possa viver a eternidade...

Mafra, 30 de Março de 2015
17h29m

delirando numa tarde amena e soalheira...

Joaquim Luís Mendes Gomes


domingo, 29 de março de 2015

com arte e amor...

com arte e amor...

as duas excelências admiráveis,
desta arquitectura universal.
obra prima do Criador.
para glória Sua
e ao nosso dispor...

mistério inefável,
cuja razão ninguém atinge.
mas é assim que é.

este dossel de azul
e prata,
onde, majestosas,
gravitam as estrelas
em cachos de divindade.

os astros se circundam
puros e em serenidade,
inebriando nossos olhos.

e as nuvens bailam perenes
como dedicadas jardineiras,
semeando a vida,
e matando a sede
aos oceanos.

as serras se erguem ao alto,
como arautos de luz,
em camadas sucessivas
de eternidade.

e o vento correndo o mundo,
abraça de som,
como sereia,
o silêncio universal.

e a humanidade, em plateia magna,
assiste e toma parte,
como convidada de honra!...

Hossana e para sempre...
Deus seja louvado!...

ouvindo "claire de lune"

Mafra, 30 de Março de 2015
5h33 m

a madrugada dorme...com arte e amor

Joaquim Luís Mendes Gomes



como o pião...

como o pião...

só me mantenho de pé,
se estiver a escrever.
como ele a rodar.

se páro,
perdido de tédio,
caio no chão
e fico a dormir.

só uma baraça,
ao pescoço,
abraçando a garganta,
me enche de corda
e põe a cantar
versos e prosas
que me fazem viver
e mantêm de pé...


Mafra, 30 de Março de 2015
0h42m
Joaquim Luís Mendes Gomes


cada vez que...

cada vez que se encontra...

um amigo antigo
que há muito não se via,
há um mergulho
no passado.
bom ou não,
conforme a história
o registou.

tantas horas da mesma marcha,
lado a lado.

os mesmos anseios.
os mesmos receios.
ora sonhos,
ora pesadelos.

pedaços de nós.
compartilhados.
ficaram para trás.
pareciam perdidos.
viviam nas mentes
de cada um de nós.

não há indiferentes.
como parecia ter sido,
quando decorria a marcha.

tudo emerge.
já decantado
de todas as sombras
que faziam sofrer.

impera a saudade.
tempo vivido.
comum de tantos,
com tantas cores.
só se miram agora.
com realidade.

Mafra, 29 de Março de 2015
19h35m

final da tarde

a propósito dum recém-grato encontro...

Joaquim Luís Mendes Gomes

flores da alma...

as flores naturais da alma...

têm cor e perfume.
em tom e intensidade, variantes.
sua força é eterna e
irresistível.

não há escudo
nem muralha.

não há portada
nem janela envidraçada
que as impeça de entrar.

dão-se bem em toda as terras.
ricas, pobres.
ao sol e sombra.
qualquer lugar.

germinam e luzem.
cheias de frutos.
na humildade
ou abundância
de qualquer jardim.

se cultivam e se tratam
como plantas...
são qualidades.

tais:

como o amor,
a compaixão,
a gratidão,
a alegria,
o humor,
a coragem,
a sabedoria e o entusiasmo.

O amor,
em toda a forma.
é a principal virtude da alma.
tem a força curadora do universo.
é sua própria essência.

alguém já disse:

"O amor é o dom supremo, tem que prevalecer”.     Betty J. Eaddie

"Quando o amor vos acenar, segui-o, embora seus caminhos sejam árduos e íngremes”.    Kahlil Gibrain

"Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda ciência,
ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes,
se não tiver amor, nada serei”.  
Epístola de São Paulo aos Coríntios


A alegria
é das maiores a maior virtude.

Ser alegre é mostrar e dar graças a Deus pela dádiva de viver.


"O primeiro caminho directo a Deus
é a oração.
O segundo
é a alegria”.
Paulo Coelho  

"Sê alegre, pois a alegria atrai a luz”. 
Michael J. Eastcott 

“Seja alegre, tenha fé e farás milagres”. 
Lobsang Rampa

"Regozijai-vos e sede alegres, porque dentro de vós está a luz do mundo”.  Versículos do Nirvana


A coragem
é terceira das virtudes da alma.

ter coragem para romper as barreiras
e criar um mundo novo e melhor para todos.
É para isso e por isso que estamos aqui.


"É preciso romper as normas e o sistema para enxergar de um jeito novo e criativo”. 
A. Winter e R. Winter

"A alma com medo da morte nunca aprende a viver”. 
Thereza Winter

"Ao destruir o medo é ativada a curiosidade”.  Robert A. Monroe

"Estamos aqui para aprender, experimentar e cometer erros."
Betty Eadie

"A dúvida e o medo são as duas portas que todo ser humano tem que atravessar para conhecer e obter sua plena e completa liberdade”. 
Saint Germain
coligido em Valmor Vieira

Mafra, 29 de Março de 2015
nasceu de cinza...

Joaquim Luís Mendes Gomes 





sábado, 28 de março de 2015

dum bom tema...

dum bom tema...
surja um bom tema
e tudo se ordena
para dar um bom poema.
com ele à frente,
se desencadeia
um clarão na mente...
dum mundo oculto,
num processo interno,
se desenrola
e se desvenda
a linha ténue do pensamento.
segundo um nexo.
enigmático,
de ideias,
que a vontade não domina,
nem sequer a inteligência.
irrompendo,
ora em fogo,
ora em fumo,
com centelhas faiscantes,
de verdade e fantasia.
são reflexos
daquele espelho
que é só nosso,
onde bate o sol
das reminiscências.
umas herdadas,
chegam das sombras.
outras adquiridas
pela luz da nossa mente.
se transformam em palavras.
têm a cor
e o sabor
dos sentimentos
e das figuras
de cada hora
que teceu a nossa vida.
se entrelaçam
e associam,
ganham forma,
em labareda.
e, num segredo oculto,
cheio de arte,
ganham corpo
e ganham alma.
com a forma maviosa
dum poema...
Mafra, 29 de Março de 2015
2h57m
mudou a hora...
Joaquim Luís Mendes Gomes

mar de gaivotas...

um mar de gaivotas...
sobrou na areia,
na borda do mar,
um manto de penas.
molhadas.
foram gaivotas.

caíram cansadas
de tanto voar.
já não davam para nada.
levaram.-nas as ondas.
pareciam formigas,
para servirem de cama,
nos fundos do mar...
Ericeira, 28 de Março de 2015
18h31m
ao cair da tarde
Joaquim Luís Mendes Gomes

sexta-feira, 27 de março de 2015

mar da Ericeira...

mar da Ericeira...

anda ao longe,
no mar,
uma traineira.
tristonha e calada.

saltita nas ondas,
se esconde e surge,
olhando em redor.

há horas,
espera erguer
as redes do sonho,
mergulhado no fundo.

oxalá venham cheias...
há bocas famintas,
passaritos no ninho,
à espera,
na borda da praia.

trazem açafates,
secos, lavados.
querem enchê-los.
cobertos de sal,
erguê-los ao alto,
subir a encosta.
ir pela a aldeia,
gritando,

- peixeira!...
ó minha gente!
- há peixe fresquinho...
chegadinho do mar!...

Mafra, 28 de Março de 2015
5h57m
ouvindo Tshaikowsky

lá fora há escuridão

Joaquim Luís Mendes Gomes

o sucesso...

O sucesso...
é um rei distante.
mora alto.
num monte agudo.
alcantilado.
só com esforço.
muita força e raiva.
seguindo em frente.
sem desânimo.
se alcançará.

a coroa de glória.
que ilumina.
dá sentido a cada dia
e cada passo.
se assim não fosse...
que insípida seria a vida.
um negrume...uma secura...
um deserto
de cinza e lava,
tudo apagado.
mas a Lei suprema
que tudo dita
manda diferente.
bem dentro,
inscrito,
na caixa negra,
um rumo certo,
feito à medida.
um ideal.
a atracção do bom.
a sedução do belo.
a comunhão do ser.
combustível à justa.
é só acender
e pôr-se a caminho.
o prémio é certo,
bem lá no topo...
manhã cinzenta
Mafra, 27 de Março de 2017
7h13m
Joaquim Luís Mendes Gomes

quinta-feira, 26 de março de 2015

o tractor parado...

tractor parado...

está parado,
na borda da estrada,
frente ao café.
mil quilos de aço.
um potente motor.
quinhentos cavalos de força...

olha para o lado,
um campo tão extenso
precisando de lavra...
lhe revolva a terra.

espera seu dono
beba uma bica,
num trago...

ouvindo Chopin...

Mafra, bar caracol,
26 de Março de 2015
9h9m
Joaquim Luís Mendes Gomes

muralha de cinza...

muralha cinzenta e pesada...

preferia fosse de pedra
esta muralha de nuvens
que me esconde o sol.

ou fosse apenas cortina escorrida
que o vento levasse.

há uma bruma negra e sombria,
muralha de pedra,
cinzenta e pesada,
presa no alto,
derramando tristeza,
com lufadas de frio
que gela.

coitadas das pedras
deitadas dormentes,
espalhadas no monte.
sózinhas,
esperando o sol.

nem as ovelhas trepam a encosta,
sem ânimo,
mesmo com fome.

preferem a cerca,
caladas,
esperando a bruma se vá...

Mafra, 26 de Março de 2015
7h59m

amanhecer frio e cinzento

Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 24 de março de 2015

adoração da madrugada...

adoração da madrugada...

nauta da madrugada,
perdida no universo,
quando o silêncio é o sol
e a lua é uma estrela,

minha alma vagueia,
solitária,

de galáxia em galáxia,
procurando onde mora
o Autor desta maravilha
que estonteia...

quer render-Lhe sua singela homenagem,
eterna.

prestar-Lhe vassalagem.

adorá-lO, prostrada para sempre, à Sua porta,

quando, um dia,
cessar sua viagem...

Mafra, 25 de Março de 2015

na madrugada...

Joaquim Luís Mendes Gomes

nada...é por acaso...

nada acontece por acaso...


passa o carteiro e toca a carta.

abre-se a janela e a porta.
se alvoroça o peito.
há tanto, partiu.
a saudade doía...
tanta noite...
tanto dia...
esperando uma carta.

vinda da África distante.

já não foi para a guerra.
como fora o pai...

foi para o trabalho.
sustento.
da vida e do tempo...

porque a terra de perto, estiola.
morre de seca...

Mafra, 24 de Março de 2015
18h45m
Joaquim Luís Mendes Gomes

te conheço bem...

te conheço bem...

conheço tua história
desde o começo.

vi-te nascer.
a aprender a andar.
balbuciar papá.
a chamar mamã.

tuas cores da voz.
sei-as bem de cor.

tuas faces rosadas.
tuas lágrimas de choro.
teus olhos brilhando.

teu sorriso doce.
essas mãos estendidas.
para aprenderes a andar.

tuas quedas livres.
e logo a levantares.

como comias o pão.
sem o deixares cair.
como o repartias
com o amigo fiel.
esse canito ligeiro
que só te queria bem.

agora, já és um homem.
a praticar o judo.
levas tudo à frente.

os mesmos olhos doces.
mesmo sorriso leve.

és meu sucessor.
nesta terra breve.
que me está brindando
com horas de sonho,
como sempre sonhei...

Café "sete momentos" arredores de Mafra
24 de Março de 2015
8h23m

dia de chuva e vento

Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 23 de março de 2015

invasão do coton...

invasão do coton...

avassaladora invasão.
cobre as lombadas nas estantes carregadas de livros.
mortos.
sem mãos, sem olhos.
cerrados.

um ermo de secura
impera nas mentes sem nada.

jazem desfeitos, rasgados,
os hábitos talares
da leitura,
clássica e moderna.

preferem os faróis
das boites,
na borda dos cais.
lufadas de fumo,
trovões de ruido,
estrondo e torpor.
rebentam os tímpanos
e ardem os olhos.
nuvens opacas
entontecem as mentes.
mirram os sonhos
nos corpos sem alma.

as noites devassas
consomem os dias.

só os raios de sol
atravessando as vidraças,
banham os livros,
fantasmas,
carregados de pó
e as mesas desertas...
onde a pobreza é rainha.

Mafra, 24 de Março de 2015
3h48m
Joaquim Luís Mendes Gomes

nada nem ninguém é perfeito...

nada nem ninguém é  perfeito...

carregamos em nós o peso da imperfeição...
por mais que nos impertiguemos.

somos uma mescla de claro e escuro,
no que pensamos e no que dizemos.

usamos palavras soltas
que não dizem tudo.
soltamos sons para transmitir o pensamento.
nossos olhos só vêm metade..o que está adiante.
 o que vem atrás, ignoramos e nos surpreende.

nem o espelho fala direito.
mostra o avesso da realidade.

é na consciência oculta
que sentimos certo.
e é no coração que a alma sente...

bar " o caracol" perto de
tarde luminosa de sol com nuvens altas...

Mafra, 23 de Março de 2015
16h00m
Joaquim Luís Mendes Gomes




domingo, 22 de março de 2015

furei o céu...

furei o céu cinzento e frio...

de novo, furei o céu.
de baixo ao alto.
para lá das nuvens.

passarão gigante...
levava mais de duzentos.
o mesmo rumo.
fugir ao frio
e ver o mar.

em poucas horas,
tudo era luzente.
o mar azul.
o céu ebúrneo.
incandescente o sol.
e a terra verde.

já vejo os cavalos.
continuam os mesmos.
sacudindo as moscas,
ruminando a erva,
sem querer saber
do que o homem quer.

adejam os pássaros,
em voos cruzados.
semeando alegria.

brotam flores
por todos os poros.

reencho meu peito.
mato saudades.
renovo as forças...

Mafra, 22 de Março de 2015
8h42m
Joaquim Luís Mendes Gomes



sábado, 21 de março de 2015

ninguém é de ninguém...

ninguém é de ninguém...

ninguém se pertence
nem é de ninguém.
o tempo passa por nós
como o sol atravessa o corpo.

cada dia é um sopro de vida.
que Alguém acendeu um dia em nós.
cabe-nos mantê-la a arder.
e a dar calor.
alumiando em volta,
o nosso chão.

e o de quem vai connosco.
nosso fruto ou companhia...

ouvindo Teresa Tarouca em
"deixa que te cante um fado..."

amanheceu fosco

Berlin, 21 de Março de 2015
7h46m
Joaquim Luís Mendes Gomes

sexta-feira, 20 de março de 2015

clara e gema...

clara e gema...

a unidade de dois contrários.
na cor e na função.
o começo dum ser.
como uma árvore
duma semente.

a vida a florescer em combustão.

a continuidade e a permanência,
em universal simbiose,
no tempo e no espaço.

o palco da terra,
onde a humanidade
opera sua história.

com derrota e com vitória
do bem e mal.
com a luz da inteligência
e a força ingente da sua vontade,
a clara e gema,
em perfeita união...
obra perfeita.

Berlin, 21 de Março de 2015
2h31m

madrugada dormente

Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 18 de março de 2015

elegância dasformas...

A elegância das formas...
há um véu de tule
que cobre as formas da natureza.
em todos os reinos.
do mineral ao animal.
harmoniosas combinações de linhas finas,
prismáticas,
cristalográficas,
firmam as rochas.
quase as animam.
elegância máxima...
duma tenra erva,
rentinha ao chão,
em seara verde,
ao embondeiro gigante,
se bamboleando ao vento,
na imensidão das estepes
e florestas virgens,
reina a finura de linhas,
em suprema elegância...
e no microcosmos ao macrocosmos,
em geometria idêntica,
se formulam formas,
as mesmas linhas,
as mesmas normas.
universo exacto.
e as passadas longas
duma girafa,
e a cadência sóbria
do elefante.
a graça astuta
dum mar de golfinhos.
a sinfonia inebriante
dos grandes cardumes.
as constelações das aves
nas migrações celestes...
e o baile solene das nuvens gigantes,
à volta do espaço,
namorando o sol
e abraçando a terra!...
Berlin, 18 de Março de 2015
21h44m
Joaquim Luís Mendes Gomes

madrugada...

saio sempre de madrugada...

como o pescador
que vai para o mar.
sem bússola,
nem carta de marear.

só levo a rede fina
para pescar a maresia.

preciso inspirar o ar
que anda bailando
sobre as ondas.

me inflame as velas
e que meu barco vá
de vento em popa.

me chega um só poema,
seja belo,
mesmo sem rimas...
para eu levar à costa.

quero soltá-lo a bailar ao vento.
seja um regalo lindo
para toda a gente.

quem é que não gosta?...

Berlin, 18 de Março de 2015
8h46m
Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 11 de março de 2015

compassos de espera...

ompassos de espera...

a pressa é o avesso da perfeição.

tudo em nós vem do pensamento
e passa pelas nossas mãos.

o pensamento, mesmo fulminante,
é lento e progressivo.

se desenrola de trás para frente.

cada argola na sua corrente.

se se puxa com muita pressa,
e no seu lugar.

se se baralham as argolas
é um novelo de confusão
que se forma embaraçado.

só com paciência e muito desgaste,
se põe em ordem...

fluem as ideias
e a criatividade.

que as mãos docemente
põem em prática.

numa pauta de música.
numa tela pintada.
num poema verde.
numa obra prima...

manhã cinzenta e fria

Berlin, 12 de Março de 2015
7h14m
Joaquim Luís Mendes Gomes

compassos de espera...

ompassos de espera...

a pressa é o avesso da perfeição.

tudo em nós vem do pensamento
e passa pelas nossas mãos.

o pensamento, mesmo fulminante,
é lento e progressivo.

se desenrola de trás para frente.

cada argola na sua corrente.

se se puxa com muita pressa,
e no seu lugar.

se se baralham as argolas
é um novelo de confusão
que se forma embaraçado.

só com paciência e muito desgaste,
se põe em ordem...

fluem as ideias
e a criatividade.

que as mãos docemente
põem em prática.

numa pauta de música.
numa tela pintada.
num poema verde.
numa obra prima...

manhã cinzenta e fria

Berlin, 12 de Março de 2015
7h14m
Joaquim Luís Mendes Gomes

nem a gasolina nem a carvão...

29º poema da casa nova
nem a carvão...nem a gasolina...
tenho um coração de carne.
igual ao de toda a gente.
sessenta badaladas por minuto.
se cansa e arfa.
sofre e ama.
me serve fiel,
desde o começo.
sem nada exigir.
sempre pronto.
nunca se negou a trabalhar.
por isso o guardo bem dentro,
lugar seguro.
seu alimento vem-lhe da alma.
e do Sol aceso
que me alumia...
Berlin, 11 de Março de 2015
16h24m
Joaquim Luís Mendes Gomes

minha arca de noé...

8º poema da casa nova
minha arca de noé...
subo à varanda de minha casa em madeira,
na encosta da montanha e alcanço ao longe, o céu azul, voando com as nuvens...
lanço ao mar com ondas,
minha arca de noé...
subo ao ar sem fim,
num balão de sonhos,
e vou correr o mundo...
onde quer que eu esteja,
dou largas ao pensamento
e me ponho a rezar...
Berlin, 11 de Março de 2015
8h26m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Gosto ·  · 

terça-feira, 10 de março de 2015

edito das formigas...

edito das formigas...

tresmalhadas se perderam pelo mundo
e ficaram tresmalhadas.

uma convocatória geral
para se encontrarem num ponto da terra.

em grande caminhada,
por vales e por montes,
se meteram a andar.

para onde fossem,
desiludidas,
esbarravam com o mar.

voltavam para trás.
subiam ao topo da montanha.

algumas ganharam asas
e foram pelo ar.
mas o vento as dividiu e se perderam...

ainda hoje,
ao cabo de tanto tempo,
diz a lenda,
vagueiam pelo mundo,
com o edito por cumprir...

Berlin, 11 de Março de 2015
Joaquim Luís Mendes Gomes


com duas asas apenas...

duas asas apenas...
com duas asas apenas,
não se faz um passarinho.
mesmo de penas.
é preciso um bico.
e uma cauda.
duas patinhas
e um troutinar,
horas a fio.
aquela melodia própria e única
que lhe ofertou a natureza.
e, com duas mãos ágeis,
não se faz um pianista.
é preciso alma de artista.
e a paixão ardente
que nunca apaga.
nem com dois poemas
se faz um bom poeta.
só com a inspiração.
um raio de sol,
sempre a brilhar,
num mar de ondas,
cheio de algas,
com muitas cores...
em verde pinho.
Berlin, 10 de Março de 2015
16h39m
ouvindo Paganini/Liszt
Joaquim Luís Mendes Gomes

pedaços de mim...

26º poema da nova casa

desfaço meu ser em pedacinhos de mim...

vou moê-los tão fininhos,
como a farinha do grão da espiga
que há-de ser o pão.

vou peneirá-los bem.
separar o joio e a sua casca.

não os deito fora.
nem do bom ou não.

vou estudá-los todos.
qual a sua origem.
e se ainda há raíz.

as que são de mim,
das que são herança.

para alimentar,
até o farelo dá.

dos restantes,
a maior fatia,
farei prendas
e lembranças lindas
para ofertar
a quem as quiser.

sejam marcas.
sejam selos.
duma amizade grande...
não poderá morrer.

Berlin, 10 de Março de 2015
8h37m
Joaquim Luís Mendes Gomes











segunda-feira, 9 de março de 2015

abasteço-me de força...

25º poema da nova casa

abasteço-me de força e ânimo...

Sulcando os trilhos agrestes da vida,
por encostas e cerrados,
verdes,

sorvendo a brisa,
regalando os olhos,
cantando e sorrindo.

venero a sorte
de ter o mar e o campo
como meus vizinhos.

enxergo as distâncias do horizonte
e recebo em feixes,
os raios do sol.

enriqueço o mar
com meus afagos.
resplendo a luz
que banha meu rosto.

faço versos doirados,
com algum brilho.

solto-os ao vento,
conforme a sorte
e o destino derem.

me prendo ao céu,
minhas amarras.
veleiro azul,
ondas do mar...

desfraldo bandeiras
da alegria.
também da paz.

nunca esmoreço...
só quero viver.

ouvindo "moonlight" de Beethoven

Berlin, 9 de Março de 2015
8h6m
Joaquim Luís Mendes Gomes

domingo, 8 de março de 2015

da minha nova varanda...

da minha nova varanda...

o céu é um mar de nuvens,
paradas.
quase transparentes.

só alcanço telhas pretas
do casario
e aflorações de ramos.

oiço o roncar profundo
dos aviões irados.
em levantamento,
se erguendo ao ar.

pelas ruas ao pé,
passam lufadas de carros
sem conta.

em vez dos corvos,
em voos picados,
chegam de longe
os trinados sonoros
dos rouxinóis.

não tem a calma
da outra varanda.
mas tenho o gosto da família ao pé...

Berlin, 8  de Março de 2015
17h36m
Joaquim Luís Mendes Gomes


sábado, 7 de março de 2015

o jogo e a cola...

a cola e o jogo...
duas realidades
que a natureza esqueceu de criar.
duas vias supremas:
uma, de unir o que surgiu distinto,
forçando a lei da semelhança,
apenas no reino da matéria sólida;
no da líquida
reina a mistura que unifica.
outra, de alterar o curso da história,
gerando acontecimentos
que não ocorreriam.
ambas são malabaristas.
se unem os corpos de qualquer tamanho,
quase em fusão,
originando outros
com utilidade diferente.
se, com folhas,
se fazem livros.
se com rochas,
se erguem castelos,
se elevam as torres
e muralhas da china.
parecem unidades.
resistem a tudo,
até ao tempo...
e quase à morte.
há simulações de histórias.
se travam batalhas,
se fazem guerras,
se elaboram disputas,
como se fossem reais,
se ganha e perde,
segundo a lei da fantasia.
uma outra história
que depressa acaba.
ambas as engendrou o homem...
Berlin, 8 de Março de 2015
8h20m
lindo dia de sol e céu azul
Joaquim Luís Mendes Gomes

quinta-feira, 5 de março de 2015

esquivo-me dos golpes...

esquivo-me ...

minha atitude é atenta.
a todos os golpes.

mal desperto,
se abrem os olhos
e oiço o barulho dos carros,
filtrado pela dupla vidraça
e, mesmo assim, passa.

primeiro golpe.
não posso fugir.

acabei de sonhar.
um julgamento infernal.
dum processo sem fim,
cheio de golpes alheios da vida,
que assumi como meus.

liberto,
de olhos acesos,
faço contas à vida
que corre e não pára.

me situo onde estou,
dividido no mundo
que roda e me leva,
vezes sem conta,

me ameaça e estonteia
com golpes,
facadas nas costas,
às vezes no peito.

dentro de casa
e na do vizinho da porta
e não me posso esquivar.

faço o que posso,
não caminho sózinho.
recebo e ajudo
o mais que eu sei.
o passado não conta.
só o futuro.

me levanto
e preparo para o dia.
mesmo sem sol
e com frio,
a vida é um bem
com muito valor.
oferta gratuita.
tem golpes e prendas.
não se podem perder...

Berlin, 6 de Março de 2015
7h21m
Joaquim Luís Mendes Gomes

lampião sem história...

vigésimo poema na casa nova



lampião com história...

cada dia acende e apaga 
pronto na mesma hora.

à esquina ao fundo,
ao pé do rio.

ninguém lá mora.

só os cães vadios 
que não têm dono
ou a estudantada à solta
que se embriagou sem regra
pelas noitadas da ribeira.

ninguém lá desce,
pelas escadinhas estreitas
que vêm da cidade.

só as almas penadas
para ouvirem o canto das cotovias.

diz a lenda
que dali partiu um rei sem história,
para a outra vida...

Berlin, 5 de Fevereiro de 2015
17h32m
Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 4 de março de 2015

saltitão...nas urzes

saltitão...nas urzes
como um saltitão dos montes,
entre giestas e urzes,
meu pensamento saltita
apressado.
em poucos instantes,
mexe e remexe,
cavalo alado,
crinas ao vento,
em voo picado.
mergulha,
navega
e sonha no ar.
entre o passado,
o presente
e o futuro.
assim se alimenta,
enchendo e vasando,
canecos de nora,
regando searas,
hortas, jardins.
pintando de verde
o milho tenrinho,
secando de oiro,
em espigas, maduras,
expostas ao sol.
um mar de bonanças,
com muitas tormentas.
uma vida encantada,
com sonhos,
com paz e amor...
por vezes com dor.
ouvindo Adágio de Albinoni
Berlin, 5 de Fevereiro de 2015
7h55m
o sol já brilha num chão molhado,
que ontem viu neve...
Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 3 de março de 2015

na rua dos impossíveis...

rua dos impossíveis...

vim viver em Berlin.
ao cabo da minha vida.
na rua dos impossíveis.
não vim por mim.

foi o destino
do meu país
que o quis assim.

preferia ser feliz,
naquele pedacinho de terra à beira-mar.

atravessado de serras, lezirias e rios belos.
povoado de muitos pinhais
e bons vinhedos.

onde o sol nasce sempre a nascente
e se vai deitar no mar poente.

onde se ergueram no cume de montes,
tantos castelos possantes
e fortalezas.

uns em pedra,
resistentes.

outros de sonhos.
que um vendaval desfez.

tantas igrejas e catedrais.
ermidas brancas,
com procissões de culto.

foi um império.
multicontinente.

de lá partiram caravelas,
rumo ao ignoto,
com muito arrojo,
descobrindo o mundo.
ligando os povos.

gerou um épico,
dos luminares,
Luís de Camões.
e dois prémios Nobel.
até um papa em Roma.

foi grandioso.
cultivou a honra.

até à hora presente
do infortúnio.

uma horda louca
de gente incauta,
tomou o poder
pela democracia falsa,
e se fez tirana.
espoliando o povo.

só sobreviverá
quem conseguir fugir...

Berlin, 3 de Fevereiro de 2015
23h23m
Joaquim Luís Mendes Gomes





segunda-feira, 2 de março de 2015

criação...

criação...

durante uma quase eternidade,
o mundo não existia.
nem sequer o dia.

só havia a Causa
e a razão de ser...

nem o Criador gostou da solidão.

quando achou por bem,
eliminou o nada com um acto perfeito.

e concebeu os seres.

desde os inertes
até aos dotados de vida.
material e imaterial.

inscreveu-lhes as leis gerais
para lhes sustentar o ser.

em duas grandes ordens.

a da exactidão,
segundo as leis matemáticas
da física e do instinto.

e a da liberdade.
segundo as leis da inteligência
e da vontade.

tudo, em duas grandes ordens.

a dos seres minúsculos
e a dos grandes seres.

quando achou perfeito,
foi num instante,
que tudo o que há
passou a existir.

junto a Si,
uma coorte incomensurável
de espíritos,
de tão perfeitos,
quase divinos.
vivendo do Amor
e da contemplação.

e ao centro do universo,
quase infinito,
num oásis de paz e tranquilidade,
colocou a mulher e o homem
como seu rei...

ouvindo Tanhauser de Wagner

Berlin, 3 de Fevereiro de 2015
8h21m

o sol está a brilhar...
Joaquim Luís Mendes Gomes












domingo, 1 de março de 2015

sopro de piano...

sopro de piano...
basta um breve sopro de piano,
das mãos de Lang Lang,
a vibrar Liszt,
para se acender a chama
e irromperem labaredas,
no meu espírito...
vulcão latente,
em toda a gente,
o nosso baú,
com nossas pérolas.
lá se vão somando,
das horas doiradas,
dos nossos dias.
não se esvaem,
nuvens de fumo.
folhas caídas.
são nosso celeiro,
nossas reservas.
como as formigas.
quando há festa,
vem um amigo,
arranja-se a mesa,
com iguarias.
o melhor que temos.
vai-se ao presunto.
mais um chouriço.
vinho da pipa.
broa caseira.
acende a alegria.
brilham os olhos.
se inebriam as almas.
se matam saudades.
se esquecem os males.
nasce a riqueza.
moeda de troca
no giro da vida.
e a que sobra fica guardada...
Berlin, 2 de Março de 2015
7h54m
dia de chuva
décimo quinto poema da nova casa
Joaquim Luís Mendes Gomes