sábado, 31 de outubro de 2015

descarrego no mar...

Descarrego no mar…


De olhos fechados,
Descarrego no mar
Os meus sofrimentos.
Minhas saudades,
Tormentos,
Lavo as feridas e saio puro e feliz.

Vivo de sonhos,
Almejo os montes eflúvios,
Roço nos campos semeados de verde.
Cresço outra vez,
Como se fosse a primeira.
Sigo em frente,
Cabeça erguida e cara lavada.

Há tanto para ver neste mundo de Cristo.
É maior o bem do amor
Que reina na Terra.
Embora pareça que não.

Há tanto oculto
Por nuvens no silêncio do peito,
Fogo a arder,
Seara de pão.

Lanço sementes,
Em cada manhã.
As leva o vento onde quer.
Hão-de dar fruto.
Nem preciso saber.

Por segredos e artes,
Só Deus os conhece.
Sua presença total.
Cheia de graça.

Chega para mim
E sobra para vós…

Ouvindo Beethoven na madrugada escura

Berlim, 1 de Novembro de 2015
5h51m

Jlmg


Joaquim Luís Mendes Gomes

cemitério...

Cemitério…

Quis a sorte crescesse a uma centena e meia de metros dum cemitério.

Um muro alto à volta,
Não fosse eles fugirem.

Ia a ele, de vez em quando.
Campas rasas. Só uma cruz.
Havia tantas.

Havia sepulcros.
Com muito mármore.
Eram os mais ricos.
Sabia de cor as suas fotos.

Gente passada,
Da minha aldeia.
Igual a mim.
Ali dormiam
O sono eterno.

Havia os Sousas.
Havia os Pinto.
Os Magalhães.
Os Sampaio
E os Mendes Gomes.
Eram dos meus.

E lá ao fundo,
Um mausoléu solene.
Era do Padre,
Ilustre figura,
Um benfeitor,
Amorim de nome.

Via-os passar,
Costeira acima,
Derradeira viagem,
À minha porta…

Berlim, 31 de Outubro de 2015
19h47m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes




finados...

FINADOS
Alto, largo, imenso,
A perder de vista.
Fundas janelas
dum azul intenso,
Rasgam as alturas.
Olhos,
Em sangue,
O toldam
de amargura.
É de Outono o céu,
Último dia.
Amanhã é o deles.
Os sinos dobram.
Está molhada a terra
De silêncio verde
E chora.
O céu também.
Aradas, 31 de Outubro de 2005
Joaquim Luís Mendes Gomes

viver em suspenso...

Viver em suspenso…
Nossa sina é uma folha do tempo.
Será suspensa na hora dum dia dum ano sem nome
Que o tempo não sabe.
A forma mais certa da vida com gosto e com cor.
Fogueira a arder enquanto arder.
Que sentido teria se se soubesse ao começo
Desse termo fatal…
Berlim, 31 de Outubro de 2015
15h51m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

folhas de Outono...

Folhas de Outono…

Por todo o lado, há folhas de Outono caídas no chão.

Acabou-se-lhe o reinado,
Vestidas de tons,
Do verde ao amarelo,
Bailando felizes,
Ao sol e ao vento.

Cumpriram seu tempo,
Julgavam eterno.

Alegraram o mundo, à volta,
Sorrindo no baloiço dos ramos,
Encanto dos olhos
E regalo de ninhos.

Presas querendo voar
Como viam as aves.
Bradavam ao vento,
Sentiam-se tristes.

Um dia, não sei que lhes deu,
Viram-se livres.
O ar as levou.

Mesmo sem asas,
Ora subindo
Ora descendo,
Em dança macabra,
Voo de cisne,
Cumprindo o destino,
Para sempre,
Poisaram no chão…

Ouvindo Richard Clayderman

Berlim, 31 de Outubro de 2015
8h25m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes






quarta-feira, 28 de outubro de 2015

doces recordações...

Doces recordações…

Saboreio agora as doces lembranças
Do meu passado.
Distante e perto.

Suave brandura de esperança morta.
Hálito de folhas e de flores caídas.

Me abraçam fervorosamente.
Eu as puxo a mim
Em desespero.

Brasa ardendo.
Me queimam e ferem.

Resguardo meu peito
Para que o fogo não volte.
Me resguardo prostrado,
Neste chão seguro.

Me prendo as mãos
Para que se não tornem asas
E não voem mais…
Seria alta a queda.

Ó brandura ardente
Desta sede eterna!

Minha saudade que nunca mais morre…

Ouvindo André Rieu em Adágio

Berlim, 28 de Outubro de 2015
11h44m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes


doce alegria de...

Doce alegria de…

Viver amando e sendo.
Vã glória de ganhar perdendo.
Pobres reis sem reino.

Palácios fartos de tanta vaidade.
Só nos píncaros mora a verdade.

Almas gémeas se dêem bem.
A vida corre e a saudade vem.

Tanta morraça lá nos mora em cima.
Queimemos tudo antes que o fogo chegue.

Não basta querer.
É preciso agir.
Ficar parado é o fim de tudo.

Semeemos bem para colhermos bem.
Como bom seria o mundo
Se o amor reinasse…

Berlim, Bar dos motocas,
28 de Outubro de 2015
11h02m

Que lindo dia de sol e luz

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

amar...e bem

Amar e bem…

É preciso amar… e bem.
Regar o chão
Até florir.

Até o deserto floresce
Ao amor da chuva.

Um mar de sonho.
Cheio de sol.
Um céu azul
Que faz sorrir.

O frio gela.
A neve cai.
A morte vem.
A vida vai.

Seguir em frente.
Amando sempre.

Só com amor,
Vale viver…

Ouvindo “história de amor”
Em violino

Berlim, 28 de Outubro de 2015
8h42m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes



terça-feira, 27 de outubro de 2015

só com palavras...

Só com palavras…

Pintar quadros belos,
Sem tintas nem telas,
Só com palavras.

Compor sinfonias de sonho,
Sem notas nem pautas,
Só com letras d’oiro encadeadas.

Construir castelos,
Palácios e catedrais,
Bordados de ameias,
faustosos zimbórios,
E flamejantes rosáceas,
Em arcos de ogiva.

Sem ter um prego
Nem usar martelo.

Só com estrofes,
Odes e poemas.

Essa é a força e o brilho da beleza
Que dimana e comunica,
Alma a alma…

Berlim, 27 de Outubro de 2015
8h37m

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

meus hábitos velhos...

Rechacei os meus hábitos velhos…

Como se fossem meus ossos ancestrais.
Os ordeno em sequência
E os forço a caminhar sob  meus pés.

Percorro troços em velocidade vertiginosa
Sem, alguma vez, olhar para trás.

Arremesso ao vento os destroços e faço penitência, de joelhos ensanguentados.

Por todos os pecados que cometi.

Meu corpo tisnado fica nu.
Como o dum mártir que sobreviveu à morte para viver tal qual agora sou.

Me alimento das sombras dos meus sofrimentos
Que secaram.

Me sinto, agora, são e consciente
Como nunca o fui.

Sei o que tenho e o que valho
Porque senti a força de acreditar…

Ouvindo Yann Tiersen ao piano

Berlim, 26 de Outubro de 2015
22h30m

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes
Abraçando o vento…

Vivo um deserto abraçado ao vento
Que vai e vem.
Lavo minhas dores
No soluçar das ondas
E seco-me ao sol.

Trago em mim a ausência,
Uma sombra do que fui e sou.
Ergo meus olhos sedentos para o infinito,
Buscando a luz para tamanha escuridão.

Ressoam-me vozes das minhas reminiscências.
Me parecem salmos gregorianos,
Pelos claustros onde passei.

Revisito os meus arcanos,
E soletro os versos decanos
Dum poeta principiante e sonhador.

Me revejo neles como a minha face no espelho dum lago à sombra.

Teço agora as minhas baladas com as rendas vãs
Do meu bragal…

Ouvindo Somewhere over  The Rainbow

Noite de bruma

Berlim, 26 de Outubro de 2015
21h16m

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

bem me lembro...

lembro-me bem...
éramos miúdos de escola.
íamos e vínhamos pelos mesmos caminhos,
sob as latadas de videiras verdes.
eram de terra negra e musgo.
havia figueiras.
havia bordas túrgidas com cochilos coloridos.
pareciam tochas.
as valetas pareciam rios.
os muros eram pedras encasteladas.
o sol raiava
e, de vez em quando, dava connosco a dar abraços e muitos beijinhos..
ficávamos vermelhos.
mas não desistíamos.
fomos crescendo.
te fizeste moça linda...
agora és a mulher formosa do meu encanto...
ouvindo Romeu Violeta em violino
Berlim, 26 de Outubro de 2015
17h35m
JLMG

domingo, 25 de outubro de 2015

tudo tem sua hora..

Tudo tem a sua hora…

Fora do tempo certo,
Nada cresce, por mais sã que a semente seja.

Quem quer colher bom
Tem de cuidar a terra
E semear na hora certa.

Não basta querer.
Cada encanto tem o seu tempo e o seu preço.
Só se alcança o que se pode.

É preciso escolher bem,
Com todo o senso.

Quem com gosto corre,
Corre muito e bem
E nunca cansa.

Só chegará ao fim
Quem se lançar ao seu caminho
E que tudo seja favorável.

E se tudo estiver certo,
Nunca se acabe a nossa esperança.
Há-de chegar a nossa glória…

Ouvindo violoncelo

Berlim, 26 de Outubro de 2015
7h18m

Clareou de sol

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes




nos fins do Outono...

Nos fins do Outono…

Das árvores tristonhas
Vão caindo as folhas.

Dormem calados
Os caminhos de terra sombrios,
À espera da neve.

Corvos e pombos cirandam cansados.
Fazem reserva das larvas do chão.

Vagas de frio soprando aquecem as lareiras dos lares
E abrem no sótão as arcas
Dos agasalhos de lã.

Os cantoneiros das câmaras
Recolhem nos carros
As folhas caídas.

Pelos céus sem cor,
Vagueiam perdidas as nuvens,
Tingidas de sol.

Das encostas das serras
Descem os rebanhos de ovelhas e cabras
Que foram passar o Verão.

Ao pé dos celeiros,
Se elevam afoitas
As medas das canas do milho
Que hão-de dar para o Inverno.

Ouvindo Hélène Grimaud ao piano

Berlim, 25 de Outubro de 2015
14h48m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes


praças ocultas...

Praças ocultas…

Há praças desertas ocultas
E becos abertos que dão
Para elas.
Ninguém os escolhe.

Há leitos sem rio que servem de parques aos carros.
Há serras mecânicas nas encostas das serras que desnudam as pedras.

E gritos que jorram de aflitos,
Sem ninguém que os oiça.
E traves bem fortes segurando a fraqueza que ameaça.

E tanta fome escondida,
No meio da riqueza devassa.

Quando chegará a Justiça e a Ordem
Que apague tamanha diferença?...

Berlim, 25 de Outubro de 2015
11h59m

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

com trapos e trastes...

Com trapos e trastes velhos…

Aproveitei uma trégua,
Subi ao sótão,
Peguei nos tarecos,
Trapos e vestes,
Enchi o meu barco
E avancei pelo mar.

Vieram piratas.
Subiram a bordo.
Ficaram perdidos.
Com tanto valor.

Assim me salvei.
Uma lembrança de sorte.

Tudo tem préstimo.
O valor duma vida
Para quem o quiser.

Me assusta este tempo
Que passa a correr.
Um ano passou,
Quase morria,
Não deu para viver…

Ouvindo Hélène Grimaud ao piano

Berlim, 25 de Outubro de 2015
8h19m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes





sábado, 24 de outubro de 2015

O suspiro...

O suspiro…

Quando o fôlego está quase a chegar ao fim
E o cantor conseguiu apanhar o tom
E não mais parou,

Quando o equilibrista que vai num fio,
A cem metros de altitude,
Preso a uma grande vara
E resvala, quase no fim,
Sobre o vale,
Mas não cai.

E quando o pára-quedas
Se negou a abrir,
Em queda livre,
Até ao derradeiro segundo
Que podia,
- Foi a sorte que o salvou!  

Irrompe um grito,
Tão forte e fundo
Da plateia
Que é de alívio
Como o suspiro aflito
Dum moribundo
Que não morreu...

Berlim, 24 de Outubro de 2015
21h38m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes




frutos da minha horta...

Os frutos da minha horta…

Guardo um segredo comigo.

Tinha pedras a minha horta.
Limpei-a toda.
Pus terra sã.
Reguei-a bem
E deixei-a ao sol.

Parecia morta.
Apenas dormia.

Certo dia, pela manhã,
Desabrochou o verde.
E cresceu com fruto.

E que surpresa bela!
Havia morangos.
Muitas videiras.
Até palmares.

Chegaram aves.
Fizeram ninho.

Que sinfonia!
Que chilreada!
Foi a alegria.
Estava a chegar.

Cavei-lhe um lago.
Um chafariz.
Enchi-o de peixes.
Todos os matizes,
Cheios de cores,
Bem tropicais.

E o passaredo,
Esvoaçando as asas,
Com o bico na água,
Matava a sede,
À volta do lago.
Foi tudo verdade.
Um milagre na horta.
Não era só minha....

Berlim, 24 de Outubro de 2015
10h17m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

contradições...

As contradições…

São como telhas.
Cobrem e tapam as casas
Da chuva e do sol.

Botões que unem e abrem
As bandas contrárias.

Enganam os olhos,
Escondendo a alma.

Pintam de cores,
Conforme os sabores.
Por vezes sorriem
Ou fazem chorar.

Dizem caladas
O que fingem ouvir.

Começam no fim
E são começo.

São a porta do fundo
E a janela da entrada.

A chave que abre e que fecha.
Tudo alcançam,
Perdendo seu tempo.

São traves ocultas,
Entravam paredes.

Só dizem quem são
Mentindo quem foram.

Só dizem mentiras,
Parecendo verdades.

Aves nocturnas,
Dormem de dia
E vivem na noite.
Sossegam os mortos
E atormentam os vivos.

São com as nuvens,
Se desfazem ao vento.

Amanheceu com sol

Berlim, 24 de Outubro de 2015
8h58m

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

fiz-me à pista...

Fiz-me à pista…

Fiz-me à pista contra o vento.
Abri as minhas asas.
Acelerei a fundo
E num instante,
Atravessei as nuvens
E, em júbilo,
Serenamente, eu vi o sol.

Me libertei da gravidade.
Deixei lá em baixo
A terra em desvario.

Mudei de rumo.
Rumo ao outro hemisfério.
Onde, quem brilha mais,
Depois da Lua, é o Cruzeiro
E a força centrífuga
Puxa ao contrário.

Chegou-me ao fim
A paciência para suportar
Os desvarios e a loucura
Desta Europa velha e escravizada
Pelas malhas do petróleo.

Onde a cultura dos valores
Jaz morta nas areias dum deserto.

Irei poisar e ser mais um
Onde os indígenas vivem simples,
Como irmãos maiores da Natureza…

Ouvindo Vanessa-mãe ao violino

Berlim, 23 de Outubro de 2015
01h22m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes




quinta-feira, 22 de outubro de 2015

crepúsculo das trevas...

Crepúsculo das trevas…

Tantas sendas cobertas de cinza Negra ficou das nossas caminhadas
Pelas trevas desse mundo.
Desde a hora cândida e pura
Em que viemos à luz.

Então, tudo era lindo e perfumado.
Havia prados cheios de rosas e jasmim.
Poisavam serenos sobre os lagos,
Longos mantos de nenúfares.


Se acordava com o gorjeio matinal
Da leda passarada,
Pelos quintais.

Se ouviam, espalhados pelas aldeias, os toques ritmados das trindades.

E das chaminés de todos lares
Brotavam grinaldas de fumo branco
Para os vales.

E pelos montes, reluziam brilhantes e cintilando,
As pérolas de orvalho sobre as urzes.

Se pedia a bênção de Deus a toda a gente que passava,
Como se fosse nossa família.

Quem diria que
Tudo foi só o crepúsculo destas trevas hodiernas…

Ouvindo Hélène Grimaud ao piano

Ainda não nasceu o dia

Berlim, 23 de Outubro de 2015
6h25m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes



rescaldos da vida...

Os rescaldos da vida…
Trouxe para a praça
Meus rescaldos passados.
Pu-los em fila,
Peça por peça,
Como se fosse uma horta.
Cerquei-a de canas do rio.
Não fossem roubá-los.
Reguei-os de água.
Como se houvesse sementes.
E não foi que um dia,
Uma manta verdinha
Despontou de verdura
Em crescendo.
Ao cabo de dias,
Era um jardim,
Com tantas flores,
De todas as cores.
Era tal o perfume.
De todos os lados,
Chegaram abelhas,
Borboletas em bando,
Assentaram arraial.
Foi tal o festim.
Até a lua no céu
Bailou de encantada
E feliz…
Berlim, 22 de Outubro de 2015
23h50m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

na adversidade...

Na adversidade…

Que fazer à vida
Quando a adversidade em ondas,
Nos bate à porta,
Como um mar em fúria?

E as águas bravas,
Num tormento insano,
Nos fazem cerco a toda a volta?

E, de negro, o mundo
Nos rouba a esperança
De nem mais um dia?
E, de tanto sorriso
De tanto rosto,
Nem um só nos toca?

O que fazer da vida ?...

Entrar de greve,
Baixar os braços,
Fazer de morto,
Como se fosse o fim?

Isso é que nunca.

Orar com calma…

E saber esperar…

Amanheceu luminoso…só por instantes

Berlim, 22 de Outubro de 2015
8h36m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes




terça-feira, 20 de outubro de 2015

a chave do carro...

A chave do carro…
Estou farto de mexer e remexer,
À procura da chave.
Sem ela o carro,
( mini ou jaguar)
Não pega.
E aqui fico na berma da estrada.
Carteira cheia e depósito a abarrotar.
De nada servem.
Um simples objecto,
De chapa,
Com forma bizarra,
Me entope.
Invejo as asas negras dos corvos.
Basta-lhes um toque
E eles lá sobem e vão.
Não precisam de chave para nada…
Berlim, 20 de Outubro de 15
9h25m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

caminho das dúvidas...

Caminho das dúvidas…

Sigo em frente,
Pisando dúvidas.
As pedras seguras,
Onde poiso meus pés.

Tudo à volta é terra,
Negra e opaca.
Que esconde sementes,
Certezas que hão-de crescer.

É preciso escavar e regá-las.
Tapá-las do sol e do vento.
Rapar as ervas daninhas.
Só devoram alimento.
Estorvam e escurecem.
Não servem para nada.

Na hora marcada,
Colho e recolho,
Encho o celeiro
E guardo bem dentro.

A ele recorro
Quando a fome vem,
Para ti e para mim…

Berlim, 20 de Outubro de 2015
7h49m
O dia acordou de chuva gelada

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

domingo, 18 de outubro de 2015

simetria do rosto

A riqueza do rosto…

É aparente a simetria das faces do nosso rosto.
Porquê?
Terá um sentido e sua razão.

Como não o são as duas metades do corpo.

Como não será esta força interna
A que chama nossa alma.

Não o são as labaredas, nem as nuvens.
Nem as estrelas.
E o sol e a lua também não são.

Nem as ondas ou o ritmo das marés.
Como também as quatro estações do ano.

Tudo é ritmo sobre um eixo em movimento.

Bem no fundo, por misteriosa luz,
É tudo a revelação da vida,
Em todas as suas ordens,
Desde a mineral à espiritual,
Assim o quis o Criador…

Ouvindo Hélène Grimaud ao piano


Lentamente amanhece de cinza o dia

Berlim, 19 de Outubro de 2015
7h15m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes


horas grátis...

Horas grátis…
Não são iguais as horas do dia.
Há-as alegres.
Há-as sombrias.
Umas deitadas.
Outras de pé.
Umas são pagas.
Outras gratuitas.
Caídas do céu.
Há-as opacas.
Bem negras.
Há-as tão tristes,
Só dão para chorar…
Saudade daquelas,
Cantavam as aves,
Se ouviam as folhas,
Tão doces e quentes,
No colo da Mãe.
Fico a vê-las...
Tão longe...
Berlim, 18 de Outubro de 2015
16h56m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado, 17 de outubro de 2015

a hora dos catrapázios...

A Hora dos “catrapázios”…

No despertar da nossa vida,
Depressa se chega à hora dos “catrapázios”.

São tantas as interrogações.

Donde vimos e para onde vamos.
Que fazem nos céus tanta estrela  e constelações.

Porque anda o sol num corropio louco,
A brincar connosco ao esconde-esconde.

Que será esta coisa latente em nós
Que nos acompanha sempre e chama à pedra.

Porquê esta coisa de ter de viver em sociedade,
Onde há gente rica que não faz nada e gente pobre que só trabalha e sofre.

Donde me vem esta força enorme de ser alguém com nome,
Nem que seja preciso perder metade desta vida tão curta.

Porquê as guerras e tanta matança de inocentes,
Quando os culpados vivem fartos na opulência.

Onde estão os sábios com os livros e os “catrapázios” que nos expliquem isto?...

Berlim, 18 de Outubro de 2015,
7h24m


Domingo de chuva
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Joaquim Luís Mendes Gomes


hora dos arquétipos...

Hora dos arquétipos…

Esquálidas se esvaem estas horas tépidas.
Nem são carne nem são peixe.

Foram fora todas as migalhas secas.
Até as toalhas, mesmo plásticas.

Retornamos ao homem das cavernas.
E ao híper-urânio.
Ou seja, ao mundo das ideias.

Com Platão e Aristóteles.
Da Grécia antiga.

Nada mais sabemos do que eles souberam.
Apesar das técnicas.
Melhor que a Acrópole,
Nem a Torre Eifel
E o Farol de Amesterdão.

Melhor que a matéria e a forma,
Não foi o Leibniz, com suas gónadas.
Nem sequer os átomos
E toda a relatividade.
Melhor que todos,
São só os arquétipos
E nossa hora da eternidade…

Berlim, 17 de Outubro de 2015
13h31m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes






sexta-feira, 16 de outubro de 2015

a velhice é já ali...

A velhice é já ali…

Quem disse que morava longe a velhice?

Enganou-se.
Fica logo a seguir
Àquela serra.

Primeiro, sobe-se.
É tanto o esforço.
Depois, descansa-se.
Se come uma bucha…
De novo o bornal

E é sempre a descer.
Até ao vale.
Ali se dorme…

Berlim, 16 de Outubro de 15
9h40m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes