sexta-feira, 31 de julho de 2015

minha tenda...

minha tenda...

montei minha tenda no cimo do monte.
ao pé duma ermida.
a bênção do santo.

suspenso no tempo.
penso e medito.
quem fui e quem sou.
o que esperava ter sido.

uma distância infinita.
outro caminho tomava
se voltasse atrás.
sabendo o que sei.

uma teia escusada
ensarilhou os meus passos.
um mar de preceitos,
pseudo-divinos,
pareciam ser leis.

a ferrugem do tempo
os desfez em poeira.
que o vento levou.

só ao cabo dos tempos,
derrubei as paredes
e os corredores-labirinto.
só aproveitei os caboucos.
ficaram de pé os pilares.

uma casa mais simples,
só com luz natural,
como esta tenda onde estou,
tem tudo quanto preciso.
chegou bem para mim.


Mafra, 31 de Julho de 2015
21h17m
Joaquim Luís Mendes Gomes


aquele banho de mar...

Aquele banho da tarde…

Mesmo só apanhar as ondas dum mar em guerra.
Sentir a espuma se esfarelar nas pernas.
A brisa fresquinha
Banhando as narinas.
E os cabelos a dançar ao vento.

Fitar ao longe, a perder de vista.
Encher o peito a fervilhar de gozo.

Esfregar os olhos e as rugas do rosto,
Que sabem a sal.

Não tem mais preço.
É mesmo bom,
De chorar por mais…

Praia Ribeira d’Ilhas, perto da Ericeira,
31 de Julho de 2015
18h15m

Joaquim Luís Mendes Gomes

caprichos do tempo...

Os caprichos do tempo…
Quem pensar que o tempo não tem caprichos
está enganado.
Fica perdido.
Acha um desprezo.
Detesta que alguém o perca.
Tem o seu ritmo.
Calmo e certo.
Ninguém o engana.
Cada coisa tem seu tempo.
Chega a horas.
Se enfurece,
Se o fazem esperar.
Não faz favores.
E cobra igual.
Ao rei dos reis
E aos pobres.
Como Deus quer.
É frio, insensível.
Não calculista.
Não ri nem chora.
Não se enfadonha.
Simplesmente é tempo.
A tempo inteiro.
Não diz porquê.
Mafra, 31 de Julho de 2015
13h24m
Joaquim Luís Mendes Gomes

canário da madrugada...

Canário da madrugada...

Solitário, cantando no bosque pela madrugada,
entoa loas ao luar.

tão serenas, maviosas,
tão plangentes,
escorrem lágrimas,
de emoção,
faz tão bem
as poder ouvir.

Ninguém resiste.
Até os lobos,
mesmo com fome,
se quedam mansos,
encantados,
querem ouvi-las
para uivar...

Que bem canta aquele canário.
Da gaiola aberta,
se escapuliu...


Bar " o caracol" arredores de Mafra, 31 de Julho de 2015
9h16m

Joaquim Luís Mendes Gomes

quinta-feira, 30 de julho de 2015

meu cavalo correio...

Meu cavalo correio...

Corre apressado,
voa,
só precisa de velas acesas,
asas de fogo,
crinas de vento
e patas de arado,
sulcando o céu.

É um cavalo-correio.

Atravessa as nuvens.
Devassa as trevas,
veloz,
faiscando de luz.

A trote e galope,
Me transporta fogoso,
encantado,
com a leveza do ar.

Escreve e descreve
arcos e flechas,
em forma de versos
e dita poemas,
em estrofes,
são escadas degraus.

Apontam os céus,
onde dormem as estrelas,
princesas com sonhos
esperando mensagens
da Terra,
sejam de paz e amor...

ouvindo Rachmaninov em concerto nº 2, por Ana Fedorova ao piano


Mafra, 31 de Julho de 2015
6h19m

amanhecendo cinzento

Joaquim Luís Mendes Gomes

esquecido do tempo...

Esqueço as horas do tempo...

Me esqueço do tempo,
diante do mar.
Nem um soluço,
ou lamento
se solta de mim,
apesar de grande e pesado,
o fardo final
que a vida me deu.

Doce enlevo.
Olhar infinito.
Cercado de azul.
Horizonte no céu.

Se desprendem louvores,
saindo de dentro,
carregados de luz.

Um fumo de paz,
Recai sobre mim.
Peregrino cansado.
Nas horas do fim.

Olho para trás.
Tudo tão escuro.
Não sinto saudade...

Mas queria ficar,
assim leve e feliz,
como estou,
diante do mar...

ouvindo serenata de Schubert

Mafra, 30 de Julho de 2015
20h45m
Joaquim Luís Mendes Gomes

a festa de viver...

A festa de viver...


Deveria ser uma festa cada dia
levantar para viver.

Olhar o céu.
Sentir o sol.
Ver as serras longe.
E estar na praia
com o mar em alvoroço.

Uma mesa posta à nossa espera,
quando vem a hora
do almoço.

Um bom sono em cada noite.
De consciência bem tranquila.

Com saúde e viajando.
Outras terras,
Outras gentes,
Outros trajes,
Outros gostos de viver...

Uma dor de vez em quando,
como o sal na comida,
dá sabor e faz sorrir.

Bar " O caracol", arredores de Mafra, 30 de Julho de 2015
9h35m

um perfumado mercado saloio...ao lado das mesas

Joaquim Luís Mendes Gomes



quarta-feira, 29 de julho de 2015

desenfreadamente...

Correr desenfreadamente…


Em busca do tempo perdido.
Ingloriamente. Esbanjado.
Atrás de futilidades.
Coisas sem cor.
Sem cheiro.

Compassos de espera.
Que custaram a vida
Que se perdeu.
Falsas quimeras.
Como sempre são.
Se esvaem em nada.

Fica o vazio.
A insatisfação.
Pareciam vitórias.
Coroas sem valor.
Se desfizeram em pó.

Há que reter o que temos.
Nas nossas mãos.
Depende de nós.
Fazer tudo e bem.
Para bem de todos.
Começando por nós
E quem vai ao pé…

Saber aceitar
E saber oferecer.
Sem humilhar.
Esmolar, nunca.
Sorrir e olhar nos olhos
De igual a igual.
É o segredo da fraternidade pura.

Só nela, haverá alegria
E a vida valerá viver…

Ouvindo Chopin em piano,

Amanheceu de nevoeiro cerrado

Mafra, 30 de Julho de 2015
7h15m

Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 28 de julho de 2015

fracasso dos engenhos...

Fracasso dos engenhos…

Aquela geringonça
Do tamanho duma bicicleta,
Ali vinha ao vento,
Como um pimpão no ar.

Bem refastelado.
Corria as praias todas,
Desde Mira à Barra.

Cada Sábado ou Domingo,
Como um mosquito,
Ao vento,
Olhando cá para baixo,
Sem medir alturas.

Sem um pára-quedas.
Nem sequer capacete.

Ó que valentão!

Terá valido a pena?...
Bastou uma rabanada de vento.
O atirou ao chão.

Mafra, 28 de Julho de 2015
19h32m
Joaquim Luís Mendes Gomes








segunda-feira, 27 de julho de 2015

Nova Ordem Universal...

Nova Ordem Universal

Acordei a pensar numa Nova Ordem Universal.

A que vem de longe e reina
Chegou ao termo.
Com a ameaça duma hecatombe.
Basta uma centelha!...

Que a Humanidade inteira desperte à uma.

Uma nova Lei. Com o Homem ao centro.
Mas bem igual.
Como nasceu.


Uma era nova,
Era de paz.
Em que a luz do Amor
Seja seu Sol…

Demos as mãos!

Está nascendo o sol…

Mafra, 28 de Julho de 2015
6h45m
Joaquim Luís Mendes Gomes

rastos e restos...

Rastos e restos da praia...

Tem fraca memória esta praia deserta.

Tanta pégada gravada.
Dum dia para o outro,
o mar e o vento tudo levou.

Apenas os restos,
que as ondas trouxeram,
numa renda sem fim,
bordam a areia molhada.

Penas largadas das asas,
que as gaivotas perderam.

Pedaços de algas,
conchinhas sem conta,
expostos ao sol.

Plásticos sem cor
e farrapos de rede
que caíram dos barcos.

Por vezes, pedaços de cascos e espinha dorsal.

Um dia partiram,
andaram à solta,
e morreram no mar...

Bar Caracol, arredores de Mafra, 27 de Julho de 2015
8h51m
Joaquim Luís Mendes Gomes

domingo, 26 de julho de 2015

passam à minha porta...

Passam à minha porta…

Quase sei de cor os rostos De quem, em cada dia,
Passa à minha porta.

Os madrugadores.
Caminham apressados.
Vão compondo a roupa.
Alinham seus cabelos.
Parecem fugir da noite.
Vão para o autocarro.
Querem chegar a horas.

Os das oito horas
Saem engravatados.
Têm o carro à porta.
Ali passou a noite.
Olham para o relógio.
Carregam no acelerador,
Saem despassarados
Nem olham para o lado,
Para fugirem à bicha.

E aquelas janotas,
De sapato alto,
A bater no chão,
Ajeitam o penteado,
Puxando o baton,
Para parecerem bonitas.

Vão tão convencidas
Toda a gente repara.
Só olham para o chão.

E os varredores da rua,
Sempre à mesma hora,
Seu carrinho de mão
E a vassoura ao alto,
Ainda vão comendo
O que sobrou do pão,
Lendo o pensamento,
Tantas folhas caíram,
Onde vão varrer…

E há tantos mais.
Já lhes perdi a conta.
Só me lembro deles,
Mal lhes ponho a vista…

Mafra, 27 de Julho de 2015
5h48m

Ainda é escura a noite

Joaquim Luís Mendes Gomes








hospital...

O HOSPITAL, NA CIDADE…
No tumulto da urbe,
Esquecida da vida
E cega
P’la vida de luta,
Ergue-se, p’rós céus,
Como os demais,
Um casarão, de silêncio,
Com muitas janelas,
Fechadas.
Quem passa cá fora,
Na luta da vida,
Não saberá, nunca,
O que vai, do lado de dentro…
A não ser, quando,
A vida,
Maluca e madrasta,
Sem regra ou cuidado,
Ao fim e ao cabo,
Por, fado, partida,
Ou sorte malvada,
O atira p’ra lá…
Às portas da morte
Ou à espera daquela vida
Que, só, ali,
Nunca pareceu
Tão rica, tão bela,
Perdida e estragada
No meio da luta,
Tão cega,
Da vida maluca
Que corre, lá fora,
Do casarão,
De janelas fechadas…
…É bom visitá-lo,
…Enquanto, é tempo!…
Algés, 7 de Outubro de 2000
22H 00M
Joaquim Luís Mendes Gomes

sacos de pano

Os sacos de pano

Eram de pano.
Feitos dos restos
Que o alfaiate talhava.

Ficavam as cores.
Muito bonitos.
Luziam ao sol.
Pareciam um jardim.

Quando iam a feira,
No dia da feira.

Traziam rosquilhos.
Pães de ovelhinha.
Queijinhos de cabra.

Ó que cheirinho!

Quando chegava a mãe.


Saquinho das compras
Feito dos panos
Que sobravam do giz.

Havia-os grandes.
De corda ou sisal.

Serviam para tudo.
Tudo levavam.

Só braços possantes
Os carregavam às costas.

E quando chovia ,
Viravam capuz.
Enfiados na nuca.
Pendentes atrás.

Melhor que um oleado.
Como se fosse um capote.

Depois o plástico.
Que revolução.
Do rei do petróleo.
Uma invasão.
Tudo venceu.

Do pano ao papel.
Usa uma vez
E joga-se fora.

Rimas de restos
Pela berma da estrada,
Entupindo valetas.
Sujando os rios.

A poluição a reinar.
Lixeira da morte.

Mafra, 26 de Julho de 2015
19h52m

Joaquim Luís Mendes Gomes

minha caverna...

Vivo no sossego da minha caverna...

Cavei na encosta minha caverna.
Longe do mundo.
Sem nevoeiro,
nem sol.
Só o calor da lareira.
Sempre a arder.

Não tenho gás nem internet.
Só o perfume das estrelas
e o luar de Janeiro.

Me visto de folhas,
colhidas ao vento.
Coradas ao sol.
Regadas de cheiro.

Bebo do vinho
e favos de mel.

Mantenho o recato
vestido de seda,
seara ondulante,
caiada de oiro.

Uma festa constante,
palha sequinha,
meu leito no chão.

O tempo me sobra e sonho.
Sorvo a vida
E a fome não mata...

Bar Caracol, arredores de Mafra, 26 de Julho de 2015
10h38m
Joaquim Luís Mendes Gomes

minha cor é o carmesim...

Minha cor é o carmesim...

Não sei porquê...

Nem é verde nem é rubro.
Tem a cinza e tem o azul,
Na sua mescla,
com laivos d'oiro.

Cheira a caule
E a húmus negro.
Vem da terra e reluz ao sol.

É flor e tem odor
De miosótis.

Tem o encanto
Do pôr do sol.

Não tem mais fim.

É luar
E sabe a mel...

Mafra, bar caracol, 26 de Julho de 2015
9h33m
Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado, 25 de julho de 2015

ponto de encontro...

Ponto de encontro…

Chego cada dia,
À mesma hora,
Ao ponto de encontro.

Fico à espera.
Que a ideia venha.
O sol fecunde
E surja um verso.

Com alma e fogo.
Chega um vislumbre.

Simples aragem.
Leve mensagem.

Uma centelha apenas
Que inflame e queime.
Em combustão
E que o vento espalhe
E que germine.

Isso me chega....

Mafra, 25 de Julho de 2015
19h19m
Joaquim Luís Mendes Gomes

sexta-feira, 24 de julho de 2015

o sol a nascer...

O sol a nascer…
Ali vem em esplendor
Anunciando mais um dia.
Inunda de luz.
Em aluvião.
A montanha, o mar,
Pinta de cores
Este quadro de vida
Que é o nosso mundo.
Dá-lhe calor.
Fertiliza o húmus.
Germina a semente,
Em caule e fruto.
Alegra os bosques.
Dá-lhes a fresca.
Tantos gorjeios,
Um lago em festa.
Tombam cascatas em alvoroço.
Lavam as pedras,
Se estendem açudes,
Praias de rio.
Mesmo no meio,
Formam-se ilhas.
Tendas de verde,
Ali moram as fadas.
E mais a jusante,
Se estreitam as margens.
Surgem moinhos,
Dançam as mós,
Caldeiras de grão,
Moem farinha,
Os fornos de lenha
Cozem o pão…
Uma orquestra de vida
Uma festa a nascer…
Mafra, 25 de Julho de 2015
7h26m
Os cavalos já pastam
Joaquim Luís Mendes Gomes

confirmação dos passos...

Confirmação dos passos…
Cada passada breve ou apressada que eu dou
Em prosa ou verso,
Tem o selo da confirmação real.
Não vem de mim que nada tenho e nada guardo.
Vivo no escuro dos meus limites.
Apenas invoco.
Uma luz se acende e vejo e dito.
E escrevo como eu sinto.
Aqui exponho.
Pode ser que alguém mais veja e sinta,
O que nem eu desvendo…
Parece um pacto,
Entre mim e Alguém
Que nunca falha…
Ouvindo André Rieu, em Praga
Mafra, 24 de Julho de 2015
22h3m
Joaquim Luís Mendes Gomes

vai haver festa em Praga...

Sobem ao palco os artistas num cortejo colorido…

Vai haver festa em Praga.
Um vasto recinto engalanado,
A abarrotar de pessoas sedentas de cor, som e alegria.

Enchem-se todas as cadeiras com os artistas.
Os violinos e os timbales,
Violoncelos e as tubas.

E ao piano, triunfal,
Há os dedos pressurosos e afinados
Duma pianista. Sempre a mesma. Primorosa.

E o grande André Rieu,
Maestro ingente, com aquela presença nobre e leve.
Tangendo as débeis cordas dum violino, como só ele sabe.

Num instante todo o mundo vibra, feliz.
Aplaude inebriado.

Chegam uma a uma as presenças convidadas,
Sempre fantásticas.
Vozes vibrantes.
Ricas.
Chovem lindas melodias novas e as recordações
De sempre.

Sobem as vozes dos tenores
Bem timbradas.

Chovem sorrisos e também lágrimas de emoção,
Pelos rostos.

É a hora feliz duma noite grande
Que ficará gravada para sempre…
E se espalha pelo mundo.

Ouvindo André Rieu
Em Praga em 2015
Mafra, 24 de Julho de 2015
21h2m

Joaquim Luís Mendes Gomes

quinta-feira, 23 de julho de 2015

amainem as tempestades...

Amainem as tempestades...

Chovam bênçãos.
Sobre o mundo.
Floresçam os campos de verdura e de boninas.

Haja sol e se apague de vez a escuridão.
Fiquem brancas as noites negras
com a brancura alba do luar.

Se calem as atoardas e a ameaça de todas as guerras,
sobre a terra e nas estrelas.

Se destronem todos os czares tiranos
que oprimiram a humanidade com jugo vil do dinheiro e do petróleo.

Se abram e acendam as janelas dos palácios milenares com bailados e festins
e, de alegria, as lareiras mais humildes dos povoados.

Repiquem de festa e incessantes todos os sinos e sineiras,
haja arraiais com dança e vinho,
por todas as ermidas brancas,
do pôr do sol,
madrugada dentro e alvoradas.

Que, por fim, reine a paz eterna em todas as almas e consciências,
porque, finalmente,
impera universal a lei da fraternidade!...

ouvindo Smetana em Moldau

Mafra, 24 de Julho de 2015

amanhecendo sombrio com nevoeiro

Joaquim Luís Mendes Gomes

frémitos de morte...

Frémitos de morte...

Tantos vitupérios escorrem pelas estradas e caminhos
desta Europa.

Tanta tropa descomandada
anda à solta.

Tanta vergonha e desgraça
vai na praça.

A era dos grandes homens passou à história. Nunca mais volta...

Agora seria a sua hora.

Pôr na ordem estes crápulas.
Da União Europeia,
dos aerópagos da infâmia e do escárnio
Sobre a gente honrada...
Só deseja a paz...

E viver a vida...
É uma só!

Haja um milagre!
Um tsunami...
Qualquer coisa
que tudo varra de vez
todo esse lixo!...

ouvindo Wagner, em Tanhauser

Bar Caracol, arredores de Mafra, 23 de Julho de 2015
9h24m
Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 22 de julho de 2015

torneira aberta...

Torneira aberta...

Quem nunca esqueceu uma torneira aberta?

Não perdoa.
Cumpre à risca o seu papel.

No dia seguinte, uma grande poça a inundar o chão.

Se molham os pés.
Desagradável.

Água perdida.

Levantam os tacos.
Isso é pior.

De esfregona e balde,
Faz-se exercício...
O que já é lucro.

Tudo seca e se repara.

Fica a lição.
Lucro também.

Algo vai muito mal
quando se atropela um general.

Terá sido acaso?

Oxalá que sim...

Tanto atropelo indevido,
Com muito sangue!

Tanta torneira aberta,
Belém...São Bento...

Tanto pardal!

Um chumbinho na asa...
Não fazia mal...

Assim vai Portugal...

Mafra, 23 de Julho de 2015
7h36m
Joaquim Luís Mendes Gomes

efémero...

Efémero...

Tudo é fémero.
enquanto se espera e não vem.
Há o desejo anelante que dói.

Eis que num instante, surge a centelha e o raio...

Dá-se o incêndio e tudo se esvai.

Novo começo.
Novo suspiro.

Enquanto não esqueço.

É  condição natural.

É assim que se cria e se tece.

Quadro..poema...ode ou canção.

Saem de nós e deixam de ser,
logo ao nascer.

Café em Ovar, 10 de Outubro de 2012 - 10h45m

Joaquim Luís Mendes Gomes


terça-feira, 21 de julho de 2015

cabelos ao vento, desgrenhados...

Cabelos ao vento desgrenhados…

Rasgo em pedaços minhas vestes
E corro por esses barrancos a esmo e sem destino.

Atiro louco pedras para as fendas
E fico a vê-las se estatelarem sobre o vazio.

Oiço gemidos das nuvens aprisionadas,
morrendo de secura lá no cimo.

Grito e berro ao mar
Pare de vez essas investidas loucas contra as rochas,
A nada levam.

Pasmo de medo perante o abismo
Como um cavalo em fúria, desenfreado
E deixo escorrer na minha fronte
Um suor escaldante
Que brota de dentro como um vulcão.

Queimo as cinzas todas que restaram do incêndio
E tirito de frio, enregelado.

Suplico em vão aos deuses,
No olimpo,
Cessem, de vez
sua vingança…
Tenham tino.

Me ajoelho e abro os braços em oração
Àquele Jesus, de carne e osso que, há dois milénios,
morreu por todos, sózinho,
no alto do calvário…

Ouvindo a nona sinfonia de Beethoven

Amanhecendo com nevoeiro

Mafra, 22 de Julho de 2015
6h49m
Joaquim Luís Mendes Gomes

dies irae...dies illa...

Dies irae…dies illa…

Hoje foi um dia de ira…
Callamitatis in favilla…
Dies magnum…
De sofrimento.

Toca a todos…
Tocou-me a mim.

Fui visitar o meu irmão
Ao hospital.
Mais novo dez anos certos
Que eu.

Uma vida de vitórias e de triunfos.
Com mãos limpas.
Muito labor e muito engenho.
Muito rigor.

Uma pessoa simples.
Ninguém consegue ser seu inimigo.
Por ele, o mal jamais viria ao mundo.

Amante da vida.
Tanto quanto podia.

Pois, de repente,
Viu-se acometido por esse maligno
Que não escolhe classes
Nem idades.

Vai começar aquele calvário da quimioterapia…

Oxalá seja eficaz, como se espera.
Está confinado.

Fui encontrá-lo. Magro. Débil.
E muito triste.

Mal me viram os seus olhos,
Um raio de luz lhe trespassou o olhar…
Tão ternos…
A suplicar.

Foi lancinante.

Daria tudo para o sarar…

Mafra, 21 de Julho de 2015
21h33m

Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 20 de julho de 2015

verso e reverso...

O verso e o reverso…

Como um gelado fresco de duas bolas,
Baunilha e chocolate,
Se sorve encantado,
Em tarde de estival e seca.

Nos refresca e sabe bem.
Cada lambidela.
É um trago a mais
E outro a menos…
E de trago em trago,
Ele vai decrescendo
Até ficar só o copo,
Sequioso estaladiço.

Assim começa esta vida
Em botão de rosa,
Linda e perfumada.

Desabrocha, cheia de cor
E carregada de promessa e brilho sedutor.
Se abrem de par em par todas as pétalas,
Como janelas,

Entra o sol e o ardor,
A brisa fresca.
Consola os olhos
E enternece.
Dá sabor.

Nos adorna o peito,
No dia de festa,
É um cravo,
É uma rosa.
Na lapela ou no cabelo.
Chapéu de plumas
Ou coroa real.

Mas também a marca dolorosa da saudade,
Aos pés dum corpo que se ama e se perdeu…

Ouvindo Plácido Domingo

Na madrugada…

Mafra 21 de Julho de 2015

Joaquim Luís Mendes Gomes

domingo, 19 de julho de 2015

zonas erógenas...

Zonas erógenas...

No oceano mediático das procelas,
há zonas profundas sepultadas na escuridão.

Ali se formam os ventos
e se desdobram as falhas
de todas as vagas
que chegam à superfície.

E que naufragam as caravelas cheias de sonhos.

Aí estremecem os terramotos mais potentes
do planeta.
Nem as montanhas altas escapam ao furor das ventanias.

O sossego e a calma só se dão bem nas planícies
e nas searas azuis das madrugadas.

Até nos desertos cálidos,
fermentam os oásis
onde vicejam ferteis zonas erógenas...

ouvindo Pedro Barroso em "menina de olhos de água"

Mafra, 20 de Julho de 2015
Joaquim Luís Mendes Gomes



ilusória surpresa de morrer...

A ilusória surpresa do morrer...

Desde o momento de nascer,
para a vida e para a arte do amor,
ora com alegria , ora com dor,
ficamos tão presos a esta terra,
quase pensamos sermos seres infinitos,

Construimos casa,
em terreno firme,
castelos e palácios.
Para durarem.

Amealhamos tesouros,
montes de dinheiro,
criamos dívidas,
sob o fito e a promessa de vencer.

Corremos o mundo em viagens de turismo,
aos lugares mais recônditos
e exóticos,
Sempre com vontade de voltar.

Ficamos atletas.
Grandes artistas.
Aprendemos letras
e estudamos línguas.

Subimos e descemos
com esforço e perseverança,
aos escaninhos da investigação,

do espaço e da matéria,

vã glória de saber,
que é sempre muito mais o que fica por saber,
depois de tanto descobrir.

E, mesmo assim, nunca desistimos.
Criamos escolas. Universidades.
Enchemos as salas de estudantina
e de cadeiras catedráticas,
Tantas togas coloridas e penachos.
Com um fulgor,
de extasiar...

Tudo, a miragem duma viagem,
que tem um termo,
pelo menos tão certo
como o começo.

Neste mundo, nada é e nunca foi eterno,
Tudo se renova, se transforma e desintrega.

Somos apenas cartas dum baralho
que se joga,
e se mistura,
para dar e para servir.

Foi assim que a Natureza tudo criou
e tudo fez.
Foi essa Sua vontade.

Ela bem sabe lá porquê.
A nós só cabe ter fé e saber viver,
Enquanto Ela o quiser...

ouvindo Hélène Grimaud, ao piano, no concerto nº 1 de Brhams

madrugada

Mafra, 20 de Julho de 2015
5h35m
Joaquim Luís Mendes Gomes

evadido da cadeia...

Evadido da cadeia...

No sereno da madrugada,
consegui evadir-me da cadeia
e ir à solta,
por esse mundo.

Evitei caminhos.
Deixei as estradas,
onde andam as pessoas,
enleadas, mais presas
do que eu estava.

Prefiro as encostas e os vales,
por onde descem e se espraiam livres
os rios e os ribeiros.

Subo escadas. Desço ladeiras,
trepo escarpas, como gazela,
solta, sem dono e trela.

Odeio coleiras
e todas as marcas
que a sociedade põe,
com ar de festa,
no fundo,
só para controlo à risca.

Levo nas mãos,
enquanto puder,
faço questão,
a bandeira da liberdade.

ouvindo Adágio de Albinoni

Mafra, 19 de Julho de 2015
19h18m

Joaquim Luís Mendes Gomes

pelo Alentejo dentro...

Pelo Alentejo dentro...
Saimos de manhã. Neste Domingo pardo.
Chegámos à ponte longa
sobre um Tejo largo,
a perder de vista.
Era outro mundo.
Um céu azul, alto,
com nuvens em bando,
perdidas, brilhando ao sol.
E eis-nos pelo Alentejo, com pinheiros mansos,
são tantos,
não têm conta.
Vêm, depois, os sobreiros,
cada vez mais,
mais desgrenhados,
alguns com a barriga ao léu...
E os arrozais de Alcácer.
Tão verdinhos, assomando a água,
A ressumar a arroz.
E as cegonhas...que asas tão largas.
De tão grandes,
Como podem voar?
Poisam nos ninhos,
Uma gabela de paus,
A esmo.
Que engenharia!
Ninguém entende.
Resistem ao vento,
como arranha-céus.
Surgem as casas,
aqui e além.
Bem afitadas,
de ocre e azul.
Todas iguais,
no mesmo estilo.
Uma porta só e duas janelas.
A chaminé bordada.
Com muitas flores.
São um encanto.
Doce harmonia...
que inveja ver!
Mafra, 19 de Julho de 2015
17h48m
Joaquim Luís Mendes Gomes

pisadas frescas...

Passadas frescas…

De quem são as pisadas frescas ficam ao lado,
Nesta praia deserta,
Ao cair da tarde.
Ninguém adiante.

Alucinação?
Só miragem?

Vão somando.
De pés descalços.
Iguais aos meus.

Tão disfarçadas,
De tão leves,
Mal se vêm.
Mas estão ali.

Uma a uma,
A um ritmo certo.
De quem vem
E segue
Em companhia.

Reina o silêncio.
Só o marulhar das ondas.
E uma onda leve
Quase um encanto,
Me inebria dentro.

Absorvo o vento.
Minha alma sobe
E, meu corpo leve,
Quase levita.

Minhas pisadas ficam para trás,
Se vão perdendo,
Quase infinitas.
Minha vida breve e branda,
Em maré cheia,
É a mesma praia…

ouvindo Tschaikowski, por Lang Lang, ao piano, concerto nº 1

Mafra, 19 de Julho de 2015
8h36m
Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado, 18 de julho de 2015

medo...

O medo…

Vem de nós esta ameaça interna que nos acompanha,
desde a nascença.

Da solidão,
Quando no berço,
Que as mãos da mãe
Não voltem mais.

De cair no chão,
Quando tentamos, sós,
O segundo passo.

Da escuridão da luz
Quando veio a noite
E a candeia não acendeu.

Daquele ruído no escuro,
Não se sabe
Do que é
Nem donde vem.

De me perder pelo caminho,
Sem saber como voltar.

De ir à loja, a mando da Mãe
E esquecer o que fui buscar.

Da reguada do professor
Pelo erro da cedilha
Ou da tabuada.

Dos degraus da escada,
Quando a começo a descer sózinho.

E da negativa ao fim do período,
Quando vem a hora de avaliar.

E da chuva que vem ao longe,
Quando deixei em casa
O guarda-sol…

Tudo se sente
Tudo dói,
Bem cá dentro,
Antes mesmo de acontecer…

A realidade vem
E é bem melhor!

Ouvindo Lang Lang ao piano
Tocando Tschaikowski, concerto nº 1

Mafra, 19 de Julho de 2015

É madrugada

Joaquim Luís Mendes Gomes




cair da tarde...

Frente à Tapada de Mafra…

Cai muito suave a tarde,
Frente à minha varanda.

Estendem-se as sombras pelo chão das árvores.
Só o prado em socalcos de amarelo,
Brilham ainda ao sol poente que vem do mar.

Pairam paradas algumas nuvens esfumadas,
Muito no alto.

E em revoadas, ligeiras,
Passam os bandos da passarada.

Enquanto esta cerca secular
em pedras encasteladas,
Tapam das vistas
Quem passa em baixo, pelo caminho.

Prolongo meu pensamento
Por essa Europa além.
E vou poisar muito distante,
Naquela cidade verde
Que dá pelo nome de Berlim.

Ali moram os meus filhotes
E seus filhinhos,
Com muita vontade de voltar.

Tanta saudade…ai de mim…

Mafra, ao cair da tarde,

18 de Julho de 2015
20h15m
Joaquim Luís Mendes Gomes

castelos...

Os castelos...
Que encanto vê-los,
Bem lá no alto,
Alheios ao tempo,
Tão indiferentes,
Dominando tudo.
Bastiões de paz.
São doutro tempo.
Onde os fortes,
Cheios de medo,
Se faziam valentes.
Tinham de tudo.
Uma capela.
A casa do bispo.
Palácio real.
Um cemitério.
Uma cerca à volta,
Cheio de feras.
Para afugentar.
E um esconderijo, algures.
Onde ia dar?
Era segredo.
Para fugir,
Caso preciso...
Hoje ali estão.
Ao sol e à chuva.
Regalo dos olhos,
Casa de fadas.
No meio da noite,
Parecem fantasmas,
Torres erguidas,
Cheios de ameias...
Bar-café setemomentos, arredores de Mafra,
18 de Julho de 2015
10h37m
Joaquim Luís Mendes Gomes

dependências...

Dependências...

Nascemos e crescemos,
cada vez mais dependentes.

Das mãos dos pais e do professor.
Da catequista que nos ensina a missa.

Do mar e praia para resistir melhor.
Duma boa "cunha" para arranjar emprego.


Da exportação para a assegurar o pão.

De muita sorte para arranjar amor.

Da bênção de Deus para criar os filhos.

De bons padrinhos para os assegurar.

Muita saúde para bem trabalhar.

Duma boa reforma sem ninguém a roubar.

Duma boa Net para bem navegar.

E duma boa horinha,
o mais tardia,
para descansar...

Bar setemomentos, arredores de Mafra,
18 de Julho de 2015
9h35m

Joaquim Luís Mendes Gomes



sexta-feira, 17 de julho de 2015

compensação...

A compensação...

No final de tudo,
quando o impossível parece ter vencido,
brilha no céu uma réstia de luz
e vem aquilo ou mais do que se esperava.

Outra roupagem, vem disfarçada, de normalidade,
como se tivesse de ser assim,
mas não,
é mesmo o que tanto desejamos.
Nos fez penar.

Cresce o alento em nós.
Afinal, valeu a pena e vale
percorrer o caminho da luta.

Só com esforço e perseverança,
se alcança o sonho
de ser e ter.

Como aquele fio de água
se desprendeu da fraga
e titubeando de pedra em pedra,
chega à planura,
vence a distância,
e, sem parar,
um dia se abraça ao mar...

ouvindo Rachmaninov, concerto 2 e 3, por Denis Matsuev ao piano

na madrugada

Mafra, 18 de Julho de 2015
5h30m
Joaquim Luís Mendes Gomes

enigmático nevoeiro...

Enigmático nevoeiro...

Donde veio e onde vai esta cortina leve que de repente caíu,
escondendo do sol a terra e o mar,
reduzindo a nada,
o esplendor do verde e azul,
calando a vida, como se fora o véu da morte,

apagando as formas,
tal como deixassem de ser quem são?

Esvairam-se em nada todos os caminhos e veredas que a terra tinha.

Se reduziram a nada aquela vastidão do mar imenso
e soçobraram amorfas todas as vagas.

Donde veio e que pretende
esta manta densa e enigmática que tudo envolve
e ninguém entende,
como se fosse o fim de tudo?...

Ouvindo Rachmaninov, concerto 2 e 3, com Denis Matsuev ao piano

entardecer de Julho...

Mafra, 17 de Julho de 2015
20h28m
Joaquim Luís Mendes Gomes




quinta-feira, 16 de julho de 2015

Persistência...

Com persistência…

Resistir aos pequenos embates de desânimo,
No início de qualquer tarefa,
Não esmorecer. Teimar e avançar,
Mesmo com alguma escuridão,
Se se acredita naquele sonho que nos tomou.
E se é bom…

Há sempre uma espera para tudo.
A semente demora,
Escondida e sozinha,
No seio da terra
E surge verde à luz,
Como um novo ser
Em crescimento.
Até dar flor e fruto.

Custa a aprender as primeiras letras
E soletrar palavras.
Lentamente, o saber e o sabor
Tomam conta da nossa mente e de nossas mãos.
Vem o domínio e se avança.
Com soberba e com gosto.

Ganha alma e ganha corpo
A ideia que se teve.
Luz ao sol. Reverdece.
Atrai a gente e quem nos rodeia.
Surge o interesse.
A devoção, a entrega
E a dependência.

E, assim, se alcança o sonho e a obra.

Ouvindo Plácido Domingo

Mafra, 17 de Julho de 2015

Ainda escuro

Joaquim Luís Mendes Gomes


visitar a Grécia...

Visita à Grécia...
Vou de minha casa à Grécia,
Humilhada e espezinhada.
Vou passar por Creta.
Vou a Ítaca.
Em acto de desespero.
Vou ver se encontro Ulisses...
Que venha salvar a Europa!...
ouvindo Wagner
Bar Setemomentos, 16 de Julho de 2015
Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 15 de julho de 2015

sobre as areias movediças...

Sobre as areias movediças…

Tomei minha passarola
Como se fosse uma caravela
Ao vento,
Pus-me a navegar
Sobre este deserto infindo
De areias amarelas,
Quentes,
Movediças.

Um mar encapelado de dunas bravas,
Onde assomam espinhos e cardos secos.
A vida verde não vegeta.
Nem sequer há palha seca.

Para os lacraus e escorpiões.
Que rastejam ao sol,
Feitos formigas.

Saboreando cardos
E os ossos ressequidos
Dos camelos por ali mortos.
Que ficaram das caravanas.
Como se fossem figos.
Secos. Estaladiços.

Não há nuvens de pó.
O vento o lavrou e sacudiu,
Só a espuma grossa das areias movediças,
Borbotam na superfície,
Como lava acesa dum vulcão.

Se inferno nesta terra existisse,
Ali seria.
Em combustão.

O que me vale é pairar no ar
Como se fosse uma caravela,
Vagabunda,
Presa ao céu e ao brilho intenso das estrelas,
Nas noites de luar…

Ouvindo Mendelssohn

Mafra, 16 de Julho de 2015
5h59m

Amanhecendo com humidade no céu de cinza

Joaquim luís Mendes Gomes


Átrio Saldanha...

Átrio Saldanha!...

Anónimo. A fervilhar de gente.
Uns comem. Outros cavaqueiam.
Saboreando résteas de liberdade.

Vêm dos escritórios cinzentos e frios
Que os há à volta.

Muito formais nas suas vestes.
Casaco e gravata.
Gente opaca.
Não têm raízes.

Subindo escadas.
Ascensores de vidro.
Seguranças hirtas
Guardam as esquinas.

Espaços sem alma,
Sem sol nem chuva,
Que a cidade gera...
Mas tem um piano calado...
De vez em quando toca.

Lisboa, 15 de Julho de 2015
14h49m
Joaquim Luís Mendes Gomes

vou à janela...

Vou à janela...

vou à janela ver quem passa
e escrever o que me vier à cabeça.

pode acontecer que passe um poema com gema.
me conforte e aqueça.

regelo parado.
se fico à espera.

nada se consegue sem esforço.
só sente a alegria
quem sentiu a tristeza.
e a dor quem nunca sofreu.

A chama só brilha na noite.

Bar setemomentos , arredores de Mafra, 15 de Julho de 2015, 9h54m
Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 14 de julho de 2015

Bom, belo e bonito...

Bom, belo e bonito...

Assim seja tudo que saia de
nossa mente e se  realize nas nossas mãos.

Poema, canto, tela ou dito.
Seja rico. Tenha luz.
Seja alimento contra a fome e sede.
Do corpo e alma.

Oriente e nunca confunda.
Aclare, ilumine e explique.

Seja breve, simples, sem mancha e transparente.

Que todos os olhos vejam
e ouvidos entendam.

O complicado complica.
Cansa e afujenta.

Com argamassa pura e limpa
Se solidificam os alicerces
Onde poisam os edifícios.
Seja qual for sua dimensão.

Ninguém constrói sobre a areia movediça,
Junto ao mar
Ou exposta ao vento.

Ninguém consegue prégar
Aos famintos,
Sem antes lhe calar o estômago.

Só o que se faz e põe em prática
Tem a verdadeira Autoridade.

Um bom exemplo fala mais que um sermão.

Obra perfeita na hora certa,
seja qual for o seu autor,
é sempre uma obra prima...

ouvindo Sibelius, por Hahn, no violino

Mafra, 15 de Julho de 2015
6h20m

amanhecendo tímidamente

Joaquim Luís Mendes Gomes

Outra vez Fnac...

Fnac, outra vez...
Bar-café. Sala de estar.
Um pastel ou um bolo, uma bica.
Conforme se quer.
Aqui estou.
Torneando uma falha imprevista.
Minha tablete morreu.
Com falta de carga.
Queria escrever. Fiquei desarmado.
Só o velho papel e um lápis
me resolveu a questão.
Parado, não fico.
Enquanto puder...
Forum de Almada,
14 de Julho de 2015
11h11m
Joaquim Luís Mendes Gomes