segunda-feira, 31 de agosto de 2015

pelas frestas só...

Pelas frestas só…

Pelas simples frestas
me entra a luz e o mundo.
Com cor e som.

Se esvai o negrume
E a alegria vem.

Porque os olhos enchem
E também o peito.
Se ouve o coração.

Vê-se a cor do dia.

E o bom vizinho mais o seu cão,
Na primeira volta
das muitas que eles irão dar.

E as cambiantes de verde-escuro que a mata tem.

O prado amarelecido que o sol queimou.

Só os cavalos nele encontram pão.


Vinda do mar, ao longe,
chega a frescura, com sabor a sal.

Como prisioneiro,
Só lhe adivinho as ondas
Tanto eu queria saltar…

Mafra, 31 de Agosto de 2015
7h45m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes​

domingo, 30 de agosto de 2015

com escadas e cordas...

Com escadas...

Com escadas e laços de cordas,
Se escalam muralhas,
se conquistam castelos,
grandes, pequenos.

De degrau em degrau e a força dos braços,
se alcançam alturas
que geram riqueza e fartura.

De olhos vendados,
não há luz, clarão
que evite o abismo
e a desgraça.

De nada vale o oiro,
uma conta bancária,
farta de euros ou dólares,
se a saúde se escoa inimiga.

Mais vale a alegria com pouco
que nadar em riqueza, num mar de tristeza.

Sê o primeiro a sorrir para quem vem ou quem passa,
para que a vida sorria...

ouvindo Paul Mauriat

Mafra, 30 de Agosto de 2015
9h12m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado, 29 de agosto de 2015

Requiem aeternum...

Requiem aeternum...

Que a luz eterna alumie os nossos mortos queridos.

Descansem na paz para sempre.
Libertos do peso e amargor da vida terrena.
Saboreiem a presença viva da eternidade e da glória.
Na facedo Criador, Deus -Pai.

Sejam nossos intercessores das bênçãos para nosso caminho.

Nosso conforto e segurança
nas horas mais incertas e inseguras.

Nossos Pais e nossos Avós
que tanto nos quiseram
E para sempre se despediram...

Requiescant in pace!...

ouvindo o Requiem aeternum de Fauré

Mafra, 29  deAgosto de 2015
22h37m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

claridade...

Claridade da escuridão?...

Donde vem aquela luminosidade qua sai da terra
e sobe ao céu em gradientes de claridade,
desde o esplendor
até ao fino véu de renda branca e fulgurante, quase azulínea?

Todos os dias é assim, incansávelmente.

Porquê e para quê, no fundo...
eis o doce mistério da criação que nos envolve,
abrançando tudo, na natureza.

Hino de paz e de silêncio.
Espaço e reino dum poder infinito, bem exposto diante de nossos olhos.

Suavemente, o sol vai pintando em tons de fogo,
o que só era claro,
naquela refulgente tela azul, altar do mundo.

Minha alma, prisioneira em mim, se evola e vai nos céus em oração...

ouvindo moonlight e outras de Beethoven, em piano

Mafra, 29 de Agosto de 2015
6h51m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

natal das sobras...

Natal das sobras...

Sobram-me na algibeira,
ao fim do dia,
uns patacos.

Vou-os juntando, religiosamente,
no meu cofre em ferro.
Só o abro pelo Natal.

É com eles que faço a festa,
incluindo prendas,
e, por milagre, ainda sobra.

Bendita seja a economia,
quando sobra em cada dia...
Sou felizardo!

Bar caracol, arredores de Mafra, 28 de Agosto de 2015
10h14m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

o acaso não existe...

O acaso não existe...

Tudo está e existe preso a leis gerais, a vários níveis, em diversos tons.
Em todos os reinos da natureza.

Tudo gira nos seus trilhos,
segundo regras ou ditames da vontade livre,
no caso da humanidade.

Quem define as formas e os movimentos,
desde os átomos às circunvolações galácticas,
é o seu Princípio criador.

Atrás dos passos de cada homem há sempre uma mão atenta e uma voz interna,
em monólogo ou em diálogo.

Quando se revêm as passadas e os acontecimentos,
dá para ver que nada foi por mero acaso
e que tudo foi para nosso bem.

Essa é a Lei...

ouvindo Hélène Grimaud ao piano tocando concerto nº 1 de Brahms

amanheceu nublado

Mafra, 28 de Agosto de 2015
7h32m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes


as minhas vestes...

Minhas vestes...

Desfaço em trapos as minhas vestes longas,
ficam pendentes
à minha cintura,
feitos cortina
em fitas estreitas.

Solto ao vento os meus cabelos.
Ficam dançando como copas verdes
do arvoredo denso.

Me lanço louco, em passadas longas,
por esses caminhos,
até romper as solas.

Não descanso mais,
enquanto não chegar ao cimo.

É a minha sina...

ouvindo e vendo Nureyev dançando primoroso e imortal,
O Lago dos Cisnes de Tschaikowsky

Mafra, bar caracol, 27 de Agosto de 2015
1011m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

virtude dos caleiros

A virtude dos caleiros

Dispersa a chuva pelas telhas,
escorria e se perdia inútil pelo chão.

Mas a lei da economia
que inata,
rege o pensamento
logo ditou
que mais valia apará-la toda,
fazendo-a descer em rio,
pelos caleiros até um reservatório.

Donde, depois, saia para as regas
ou mesmo para a cozinha,
porque, poluição do ar,
ainda havia não...

Uma lição tão simples
só a dá a vida que é avessa ao desperdício
e que a fonte da riqueza e da economia,
está no produzir e no poupar...

ouvindo adágio de Khachaturian outra vez

Mafra, 27 de Agosto de 2015
8h16m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

tivessem asas os corações...

Tivessem asas os corações...

Se os corações tivessem asas,
seriam um mar o universo,
e de gala todas as noites,
numa festa incessante.
Fazendo côrte às estrelas
sideradas de paixão...
engalanadas de luar.

Esvoaçando alegres,
com a graça dos flamingos
e a paixão ardente dos apaixonados.

Seriam noitadas feéricas,
de muito fogo,
esparzindo centelhas coloridas,
chuva de amor e lágrimas,
brilhando ao sol, em arco-íris...

ouvindo suite masquerade de Kashaturian numa insónia da madrugada

Mafra, 27 de Agosto de 2015
4h36m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes


finalmente

Finalmente...

Tantas voltas dei na vida.
Subi e desci montanhas.
Cruzei vales.

Tantas sendas e veredas palmilhadas,
perdido e desencontrado,
só sombras e nuvens de quimeras,

Tantas passadas tão famintas,
com pégadas indeléveis,
no caminho,
rumo ao distante e indefinido,

Tantas letras,
tantos versos eu escrevi,
como de estrelas brilham no céu,

Tantas loas e suspiros
do meu peito arfante
se soltaram,

Só no fim,
quando a esperança agonizava,

Uma estrela fulgurante
surgiu no alto,
me convidando a subir...

ouvindo Kashaturian

Mafra, 26 de Agosto de 2015,
19h43m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

o que será?...

Que será?...

O que haverá, por detrás daquela montanha?
Só subindo se saberá.

É preciso avançar e subir.
Quem fica parado não anda.
Fica quedo e mudo, no mesmo lugar.

Ali morre ignorante. Tristonho. Porque de nada serviu nascer.
Nada do que havia lhe serviu.

Morreu tal como nasceu.
Pobre e tristonho.
Sem ter tido o prazer e viver a vida plena...

Sucedem-se os dias.
Amanhece e anoitece.
E eu sem saber
como é e será.

Donde vem o sol de dia
e a lua de noite? Para quê,
ao fim ao cabo...

Porque será?
Será pelo mundo
ou por quem nele vive?

Quem foi que criou
e ordenou como está?

Porquê e para quê?

Sinto em mim uma vontade profunda
que grita e clama.

Quero amar e ser amado.
Só assim me sinto bem.
Nada me falta...

Tudo é simples.
O sol brilha no céu e inunda de luz tudo na terra.

Sorriem as flores.
Voam os pássaros cantando.

Apetece bailar. Correr e subir ao cimo do monte e ver o que está do lado de lá...
Esperando por mim, há tanto...

ouvindo Kashaturian, suite Maskarade

Mafra, 26 de Agosto de 2015
17h00m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

mundo de desventuras...

Mar de desventuras...

Não é só mar de desventuras
esta vida breve.

Nem só o rescaldo de horas tristes.

Também tem o brilho
dos nascer do sol
e o calor estival
dos aniversários.

Tem a paz serena
das noites estreladas.

Viceja a esperança
em todas as bermas,
por onde passa nossa viagem.

Tem as horas alegres do partir
e do chegar,
são e salvo.

Tem as lágrimas alegres
de mais um filho
que despontou flor
no nosso jardim.

E a colheita farta
que pagou nosso labor...

ouvindo Tchaikowski

Bar Caracol, arredores de Mafra, 26 de Agosto de 2015
10h4m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

feira dos contrastes...

Feira dos contrastes...

Todos os tipos.
Todos os gostos.
Normais, extravagantes.
De tudo se vê nos escaparates.

Como é possível alguém gostar?!...
Quando se volta, desapareceu tudo.
E assim será.

É nos vestidos.
É nos  chapéus e nas gravatas.
E as calças,
À boca de sino e logo estreitas, mesmo a esganar...
Tudo ressalta.
O que se pode e nunca.

E os saltos? ora são rasos,
de alisar o chão.

Ora umas torres,
de meio metro...
de estontear.
É preciso um bastão.

E os brincos?

Umas bolinhas...quase invisíveis.
E logo umas argolas
que tudo esgaçam...
De arrepiar.

E dos carros?

Os dois cavalos, feios,
de meter medo...
só cambaleiam,
quase adormecem
e nunca mais chegam.
É preciso empurrar.

Ou, uns bólides...
todos vermelhos,
parecem discos,
dos voadores,
desaparecem,
se perdem da vista...

e os aviões?

Umas charretes,
parecem escaravelhos.
Só roncam e largam fumo,
dum só motor...
Como é possível?

Ou, aqueles bicudos, arrebitados,
muito compridos.
De meter medo.
Ainda não levantaram, já estão no céu...
muito velozes que nem o som...

e os barcos?
umas conchinhas de pau, umas borboletas,
voam à tona.

ou transatlânticos...
gigantescos.
Como cidades acesas,
vão em viagem,
velejando ao largo,
como miragens...

E os guardanapos?

Muito branquinhos.
Muito brunidos.
Ó que pena, pôr-lhes os beiços e lambuzá-los!...

Ou então papel,
tão coloridos.
Ora funis.
Ora perús
de engalanados...

E a modas das músicas?

Ora suaves.Fazem dormir.
Embalam os vivos.
Fazem sonhar.

Mas logo, uns estampidos.
De estarrecer.
Aquelas guitarras, ora aos berros,
ora aos gritos,
nas mãos histriónicas
de quem as maltrata.
São de fugir!...

Assim vamos nós.
Mundo de Cristo!

ouvindo Hydn

Mafra, 26 de Agosto de 2015
8h6m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 25 de agosto de 2015

ventos sem norte...



Ventos sem norte…

Macabros são os ventos sem norte, vindos de leste.

Estranhos. Ininteligíveis.
Inesperados.
Ameaçadores.
Gerados no ódio.
Na ganância.
Na vontade cega dos grandes e poderosos.
Tiranos do povo.

O domínio do mundo,
Eles querem,
Indiferentes à história
E à cultura que os sábios
Criaram ao longo dos séculos.

Esperaram a era mais fraca
Em que tudo parece desabar
Para invadir e tudo dominarem.

Sem usarem a espada,
Mas a força do capital…

Vertido do sangue e labor
Dos milhões de escravos
Que eles dominam…

Ouvindo concerto para violino e orquestra de Mendelsson com Janine Yansen

Mafra, 25 de Agosto de 2015
22h14m
Joaquim Luís Mendes Gomes

horácios e coriácios...

Horácios e Coriácios…

Cada dia, se trava em volta de nós,
uma batalha cruel e feroz,
Entre o bem e o mal.

Desencadeada bem dentro.
Vem dos confins do jurásico.
Das entranhas da humanidade,
A ruindade e o bem.

Se travam escaramuças
De morte.

Escorre o sangue a ferver nas montanhas.

Afinal, quem ganha, quem perde?

Penso que o bem.
Porque, afinal,
o mundo existe…

Mafra, 25 de Agosto de 2015
16h18m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

no exacto momento...

No exacto momento...

No momento exacto
Em que o sol despontou,
soltei meu pensamento
e foi pelo mundo.

Um satélite ao alto,
tudo mirando,
espectáculo divino
que a Natureza nos dá.

Entranho o silêncio,
sorvo as cores e os tons,
encho o meu peito
com o cheiro do vento.

Passo meu tempo,
mergulhado na luz,
medito e louvo a Deus.
Uma chuva de bênçãos
inunde este mundo
e o encha de paz...

Mafra, 25 de Agosto de 2015
7h32m

o sol já subiu

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

barco amarelo...

Barco amarelo...

Parece um brinquedo em tábuas, pintadas de amarelo.
Elegante. Vaidoso.
Na proa e na popa.

Desliza na água,
Como ave canora
Ou gaivota no ar.

Fi-lo à mão.
Com todo o carinho.
De dia e serão.
Meses a fio.

Fiz-lhe uma festa,
Quando acabei,
Com os amigos.
Foi o baptismo.
Com bênção e tudo.
Dei-lhe o nome de,
"Estrela Polar".

É outro filho,
Poveiro,
Comigo no mar...

Mafra, 25 de Agosto de 2015
1h11m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

serra de Sintra...

Serra de Sintra...

Daqui de Mafra,
não vejo o Palácio da Pena na serra de Sintra.

Farrapos de nuvens,
batidas de sol,
flamejam, reluzem
e a impedem de ver.

Fico pensando na loucura do nobre
que veio de longe.
A serra de Sintra
O pôs a sonhar...

Filho dum sonho,
Ali está para sempre,
Encantando quem passa,
Ao perto e ao longe.

Um palácio real...

Bar Caracol, arredores de Mafra,
24 de Agosto de 2015
9h20m

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

domingo, 23 de agosto de 2015

meus remos..

Meus remos...

Descanso os remos
Do barco que, há tanto, navega cansado no mar.
Venceu procelas.
Ventanias mortais.

Atravessou golfos e estreitos.
Cavalgou as ondas.
Com as velas rasgadas.

E bailou sereno à tona do mar.
Ouviu sereias.
Mirou as estrelas.
Se banhou de luar.

Impávido e total,
Meu barco aportou.
Embalado.
Remos cansados.
Nas areias da praia,
Costas para o mar...

ouvindo a música do "Êxodo"

amanheceu luminoso

Mafra, 24 de Agosto de 2015
7h10m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes




como andorinhas...

Como andorinhas...

Como voam alegres as andorinhas,
indiferentes às multidões.

Vão tão leves,
graciosas,

ora altas
ora rentes,
só se quedam
nos seus ninhos,
sempre os mesmos,
pela noitinha,
em tanta paz.

Não viveriam tão contentes
se soubessem
que, algum dia,
irão morrer...

Mafra, 23 de Agosto de 2015
18h11m

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

espinha na garganta...

Uma espinha na garganta...

De longe a longe,
ela acontece.

Ninguém descansa
em libertar-se.

Por vezes, sangra.
Sempre dói e atrapalha.

Um amigo que nos ultrapassa
e, sem motivo,
não nos fala.

A indiferença...
É um espinho que se crava.
Não tem remédio,
nem o perdão.

Pior que ela,
A ingratidão...
É amarga.
Dói e jamais esquece.

Mafra, 23 de Agosto de 2015
16h22m

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

milheiral...

Milheiral ao sol...

Milheiral de espigas.
Seco ao sol.

Serão grão e farinha.
Depois, pão.
E alegria. Com vinho.
Nos lares.

Das canas,
Em molhos,
As medas.
Expostas
à chuva,
ao sol e ao vento.

Suculento repasto,
Dum ano,
para o gado da carne.

Mafra, Bar caracol, 23 de Agosto de 2015
10h24m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado, 22 de agosto de 2015

horas da madrugada...

As horas da madrugada...

Siderais são as horas da madrugada.

São leves. Transparentes.
Diáfanas.
Quentes.
Solitárias.

Nós e nós.
Nosso mundo.
Imenso e fundo.
Um universo
que é só nosso.

Sem passado
nem futuro.
Só presente.

Caleidoscópicas.
Cores e formas inconsistentes.
Variáveis.

Não têm ritmo.
Flutuantes.
Silenciosas.
Virtuais.

Só têm cores.
Insinuantes.
Não têm cheiro.
Não têm espaço.
Sedutoras.

Não têm limites.
Têm as formas da minha alma...

ouvindo de Mozart o Raequiem, com o saudoso Cláudio Abado

De madrugada

Mafra, 23 de Agosto de Agosto de 2015
4h44m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

tudo é efémero...



Tudo é efémero…

Não vale a pena filosofar
À volta disto.

Tudo é caduco.

Não há reinado, por mais fulguroso,
Que não termine.

A história está cheia.
De imperadores.
Conquistadores.
Tiranos e capitães esquecidos.

Sobram castelos e fortalezas,
Com muralhas
Em pedra grossa e reforçada.
Por esses montes.

Só o vento, o sol e a chuva
Os visita, mesmo mortos,
Da mesma forma
Como nos tempos de glória.

Restam inertes,
Sem faraós,
Só com múmias,
As pirâmides e os colossos.

Ficaram obsoletas,
Quase cegas,
Todas as grandiosas bibliotecas
E os faróis de Alexandria.

Tudo apagou.
Até os mares secaram,
Fecharam a porta
Ou mudaram de continente…

Ouvindo, uma vez mais, os “Nocturnos” de Chopin, enquanto o sono não vem

Mafra, 22 de Agosto de 2015
3h5m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

a sílaba tónica...

A sílaba tónica…

Depois duma temerosa refrega entre as sílabas duma palavra,
Se destacaram duas as mais aguerridas.
Uma, a átona;
Outra, a tónica.

Se desafiaram para um duelo.
Para se reconhecer a dominante.

Pelo nascer da aurora.
Subiram ao cume duma montanha.
Com as armas que conseguiram.
Ambas de espada.

Ao raiar do sol, começou a luta.
Ambas afoitas. Impertigadas.
Se engalfinharam uma na outra.
Quase de morte.

Por mera sorte,
Apareceu um pastor.

Ao vê-las naquela batalha,
Meteu-se a meio
E apartou-as.

Pediu explicação às duas.

Ele ouviu-as.
Fitou-as nos olhos
E ditou a sentença.


-Sois ambas importantes
Para dar vida às palavras.


Nem mais nem menos.


Olhem para esta montanha.

Tem duas vertentes.
Qual delas é a mais importante?
A do norte
Ou a do sul?...

E tão convencidas como serenas
Se despediram do pastor
Agradecidas.

E de mãos dadas, desceram amigas
aquela montanha aguda.

Mafra, 21 de Agosto de 2015
22h23m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

meu barquinho negro...



Meu barquinho negro…

Comprei um barquinho negro.
Carregado de ternura.

Tem dois olhinhos brilhantes, fundos,
Vivos e doces.
Duas orelhitas de veludo hirsutas.
São suas velas.
Quatro patinhas são seus remos.
E uma cauda longa.
É seu leme.

Dei-lhe o nome de mulher do norte,
Por ser tão bela, sem desprimor das do sul…

Tem madeixas, para agora pretas, mas já raiadas de centelhas loiras.

Uma boquinha ronda de sorriso.
Seus dentitos se cravam
Meigamente sobre a minha pele.

Só se dá bem ancorada no meu colo.

Tem só um mês e meio.
Parece que aqui viveu há muito.
É a SNU…

Mafra, 21 de Agosto de 2015
21h23m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes