domingo, 30 de junho de 2019

Manhã de Domingo no "Polo Norte"

Manhã de Domingo no "Polo Norte"

Frente ao convento de Mafra.
Fervilha de gente sentada.
Mesas repletas.
A fila de espera vem lá de fora.
Ao balcão não há mãos a medir.
Bolos preciosos. Galões e cafés.
É Domingo.
As famílias se aliviam da tarefa do pequeno-almoço.
As crianças satisfeitas lambem os beiços e jogam na tablete.
Há os isolados que lêem a "Bola" ou o CM.
Atentos como se na escola.
Lá fora, já há disparos de turistas sobre o Convento, a partir das esplanadas.
Ao lado, já vende a tendinha do "pão de Mafra".
Mafra agora é colorida pelas ruas.
Era cinzenta e recheada de tropa, quando por cá passei, nos anos sessenta...
ouvindo Mozart: Complete Piano Sonatas
Mafra, Bar Polo Norte, 30 de Junho de 2019
11h13m
Jlmg

sábado, 29 de junho de 2019

Linguagem universal

Linguagem universal

Nela se entendem os entendidos da música.
E a todos toca mesmo os que não entendem seus arabescos.
Entra dentro de todos e faz vibrar, do mesmo modo, as cordas da harmonia.

A natureza a oferece gratuita no doce cantar dos pássaros.
Ribomba cava nos tremendos trovões de inverno.

Cantam-na entre as urzes coloridas das encostas os insectos multivariados na forma de esvoaçar.

E, dizem os noctívagos inveterados que, à hora extrema das madrugadas,
se ouve o lúgubre canto das sereias, perdidas e abandonadas.

Mafra, 29 de Junho de 2019
21h6m
Jlmg

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Abraços gelados

Abraços gelados

A modernidade hodierna vegeta em abraços gelados.
Nos salões opacos da Casa-Branca.
Na majestade doirada da Praça-Vermelha.
No hemiciclo circense da Comissão Europeia.

As risadas são disfarces.
Por dentro, há ódio a ferver e sede de fazer mal.

As potências disputam a palmo, sem olhar a meios, as ocultas jazidas de petróleo.
Perdeu-se o respeito pela dignidade do ser humano.
O que vale é o dinheiro. Não importa como ele é ganho.
 O que conta é o número das ogivas.

Que mais aí virá, até que advenha o Armagedão?...

Mafra, 28 de Junho de 2019
15h14m
Jlmg

Sonho bom

Sonho bom

Deixo embalar-me pelos sons luminosos dum piano e fico a sonhar.
Asas dum condor.
Um céu azul, vasto e transparente.
As montanhas e os vales se desdobram humildemente perante a majestade da beleza.
No fundo, há um rio verde que serpenteia manso.
Vai dum lado ao outro e ainda sobra.

E, o piano vai cantando suas melodias, semeando a alegria da felicidade.
Enquanto eu sonho que esta vida até pode ser bela para viver...

ouvindo Música de Piano Relaxante, Música Acalmante, Música para Meditação, Música Instrumental, ☯2852

Bar Caracol em Mafra, 28 de Junho de 2019
8h42m
Jlmg

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Inspiração

Inspiração

Retiro as cinzas.
Acendo o forno de inspiração.
Lhe sopro ideias.
Fico a vê-las em combustão lenta.

Soltam faúlhas.
Delineiam-se formas.
Esboçam-se temas.
Se alinham palavras,
Buscando sentido.

Depois eu leio-as.
Têm sabor.
Querem brilhar.
Enchem meu peito.
Fazem sonhar.

Brotam poemas.
Falam das horas que passam na gente.
Boas e não.
Inspiram caminhos.
Alcançam lonjuras,
procurando amigos.
Pode ser que encontrem quem precise de lê-las
e fique melhor...

Mafra, 27 de Junho de 2019
7h50m
Jlmg





quarta-feira, 26 de junho de 2019

Pedaços de alguém

Pedaços de alguém

Passam tantos por mim.
Uns nem páram nem olham.
Outros se quedam e falam.
Travamos encontros.
Falamos de tudo.
Trocamos ideias.
Tomamos café.
A ausência se vem, faz dor.
De todos sobram pedaços.
Para sempre se guardam alguns dos que foram e não voltam.
Levaram pedaços de nós.
Doem as saudades sem fim.
Porque são a metade de nós.
Quando formos, deixaremos pedaços da gente nos amigos que ficarem por cá...

ouvindo Rachmaninoff Piano Concerto No. 3, Argerich
Mafra, 26 de Junho de 2019
21h23m
Jlmg

Zona da arrebentação

Zona da arrebentação

As nossas ideias navegam no mar.
Como ondas vêm de longe, com energia,
Correm incessantes nas águas profundas.
Perdem a força quando chegam à costa.
Quebram confusas.
Fazem espuma.
Desprendem as algas.
Apanham incautos.
Se espraiam na areia em agonia.
Ficam atónitas.
Para ir ou ficar?

Assim as ideias.
No oceano da mente.
Onde impera a verdade.
Se vestem palavras.
Carregadas de cores e de sombras.
Avançam serenas.
Se combinam em temas,
Com forma e sentido.
Carregam mensagens.
Dizem imagens.
De ilusão e verdade.

Brilham ao sol.
Pedaços de estrelas.

Iluminam as almas.
Negrura das noites.
Dão-lhes o norte e o sul.
Por vezes seduzem.
Iludem.
O que parecem não são.

Queimam agruras.
Saram feridas.
Amainam ardores.
Sons que comovem.
Pintam quadros.
Escrevem poemas.
Seu mar é o belo e a paz...

ouvindo Mozart - Piano Concertos No.11,12,13,14,17,18,19

Mafra, 26 de Junho de 2019
17h16m
JLmg






terça-feira, 25 de junho de 2019

Surpresas da vida

Surpresas da vida

A vida surpreende com suas surpresas.
Acontecem lá fora e em nossa casa.
Boas e não.
Ninguém está livre.
Em qualquer fase da vida.
A perda inesperada de alguém, muito querido.
Uma doença grave que explode.
A inimizade que parecia impossível e que estoira.
A depressão que apaga, parecendo de vez.
Nossa ou de alguém. Próximo.
Uma paixão que se apaga.
A recusa num concurso que fez sonhar.
O emprego que se perde na idade avançada.
Estas e tantas mais.
A única forma de lhes fazer frente, para mim:
Oração e fé em Deus...
ouvindo A Melhor Música Clássica Relaxante Sempre Por Bach
Mafra, 25 de Junho de 2019
18h47m
Jlmg

Rosas rainhas

Rosas rainhas...

Rosas perfeitas, rosas rainhas, vestidas de seda.
Pintadas de tule e marfim.
Turqueza e esmeralda.
Rubi e safira.
Rosas silvestres.
Nascidas nos montes.
Sem lei e sem grei.
Repasto de olhos.
Só amam o puro e o belo.
Foi Deus que pintou.
Beijos de amor.
A Natureza oferece a quem quer.
Rosas sem caule.
Botões de oiro e de prata.
Bate-lhes o sol.
Seduzem quem vai e quem passa.
Almas rupestres.
Vadiando perdidas.
Pedacinhos de belo,
Que chovem dos céus,
De dia e de noite.
Momentos da vida.
Vale a pena viver e sonhar...
ouvindo Chopin - Nocturne op.9 No.2
Mafra, 25 de Junho de 2019
15h41m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

Asas largas

Asas largas

As aves de asas largas batem-nas menos para voar.
Voam mais alto.
Mais seguras.
Enxergam melhor o chão.
Mais amplo.
Mais alimento para apanhar.
Os passaritos de asas curtas mal se lhes vê o bater das asas.
De tão velozes.
Se cansam mais.
Voam mais baixo.
Perto do chão.
Para descansar.
Menos seguras.
Se escondem nas árvores.
São menos livres.
Voam em bandos.
Por precaução.
Cantarolam mais.
Se sentem importantes.
Para afugentarem o medo.
São atrevidas.
Poisam nas casas.
Como se fossem delas.
Fogem das escolas.
Têm medo das fisgas, armadilhas e dos traquinas.
É a tendência da natureza:
Quanto mais fraco, mais afoito...
Ouvindo Beethoven - Sonata ao Luar
Mafra, 25 de Junho de 2019
7h56m
O sol e a chuva à porfia
Jlmg

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Nem mais uma...

Nem mais uma...

Chega de atrocidades.
Escorraçar da terra onde se nasce,
a troco da ganância, do petróleo ou do terreno.
Sepultar no mar em barcos que se afundam.
Viver à grande e à francesa, enquanto a fome grassa e inunda o planeta.
Ir à Lua e a Marte e deixar nua a África inteira.
Se enchem os estádios de alienados,
que ali deixam biliões, para esbanjarem em bizarrias,
enquanto, pelas cidades metropolitanas, se fazem bichas para a sopa.
Palácios imponentes, sem alma e fogo humano.
E a periferia a abarrotar de barracas sem dinheiro.
E, não é que somos todos iguais, no nascer e na sujeição à morte?
Então, como não se acabam já na terra as atrocidades?...

Ouvindo Grieg Piano Concerto
Mafra, 24 de Junho de 2019
9h7m
dia de chuva
Jlmg

domingo, 23 de junho de 2019

Sou arrastado...

Sou arrastado...

Sinto-me arrastado pela volúpia do silêncio e da paz.
Subo à serra.
Minha alma se exalta de fulguroso enlevo.
Os céus derramam luzes de esperança e de fé.
A vida revigora.
Cresce em mim a vontade de viver.
Vejo ao longe o infinito.
Lá em baixo corre um rio. Silenciosamente.
Escorrem pelas encostas as veredas e os caminhos, numa teia harmoniosa.

As colinas se vestem de bordados de urzes multicolores e do amarelado das giestas.
Vai custar-me muito ir embora...

Ouvindo RACHMANINOFF-RHAPSODY
Bar dos 7momentos, arredores de Mafra,
23 de Junho de 2019
10h47m
Jlmg


sábado, 22 de junho de 2019

O menino da rua

Menino da rua

Menino da rua descobriu que gosta da música.
E, na música, gostava de tocar aquele instrumento grande e gordo, o violoncelo.
Fugiu da rua para a escola da terra.
E aprendeu.
Hoje apareceu solista num concurso.
Tocando uma peça linda.
O concerto para violoncelo de Dvorjak.
Foi brilhante.
O menino da rua vivia na periferia e salvou-se da droga.
Hoje é um artista...

Mafra, 22 de Junho de 2019
22h3m
Jlmg

Sábado de sol


Sábado de sol

Largos horizontes por estas bandas do Oeste.
Suaves colinas verdejantes, desdobradas ao largo.
Vales profundos.
Escarpas agrestes arrostando o mar.
Núvens ao alto, pairando acesas.
Caminhadas pedestres e excursões em liberdade.
Uma brisa do mar. Carregada de iodo.
Descansam no porto os barquinhos da pesca.
Vagueiam gaivotas mirando cardumes.
Banhistas não há. A água está fria.
Vultos surfistas rasgam as sombras, desafiando a morte.
Prefiro segurança nos pés, mesmo sem asas.
Vale mais um sábado de sol à borda do mar que uma noitada de festa, mesmo com baile.
Café Setemomentos, arredores de Mafra,
9h1m
Jlmg

sexta-feira, 21 de junho de 2019

Mar da sabedoria

Mar da sabedoria

Mergulhar no mar da sabedoria é refrescar e alimentar o sabor da vida.
Buscando sua verdura vivificante.
Sorver a brisa da beleza nos seus tons e variedade.
Acrescentar ao nosso mundo as estrelas da arte, na pintura, escultura e poesia.
Navegar pelo vasto oceano das ideias que a história nos revelou.
Beber delas a força para continuar e acrescentar nosso modesto contributo.
Perscrutar nossas mais profundas aspirações inscritas em nossa alma.
Sua origem e seu fim...

Ouvindo Chopin Complete Nocturnes Brigitte Engerer YouTube

Mafra, 21 de Junho de 2019
8h26m
dia de sol titubeante
JLmg

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Pisadas dobradas

Pisadas dobradas

Caminheiro sózinho na areia molhada da praia.
Pensando nos problemas da vida.
Buscando saída.
Tardava e não vinha.
Pôs-se a orar.
Momentos depois,
Olhou para trás.
Ficou intrigado.
Uma voz interior lhe dizia:
- Sossega. Sou eu.
Aquelas pisadas são minhas...

Mafra, 20 de Junho de 2019
19h38m
Jlmg

Fronteiras da felicidade

Fronteiras da felicidade

Neste mundo finito, tudo tem os seus limites.
Cada qual tem o direito lídimo de ser feliz.
De exercer bem essa felicidade.
No espaço próprio. Seu. E inviolável.

O reverso desse direito é o dever indiscutível de respeitar o mesmo direito aos outros.
Não vá construir-se a felicidade própria com pedaços que não lhes pertence. Isso é abuso ou usurpação.

O convívio social, para ser são, requer e exige que cada um se movimente só na sua esfera.
Sem pisar o risco.

Não há ninguém que tenha o privilégio de invadir a esfera alheia, sem sua licença.

A liberdade é um dom divino.
Posto nas mãos de cada humano.
Nem o Criador o pode retirar...

Mafra, 20 de Junho de 2019
16h36m
Jlmg


Um cacho alto de flores vermelhas

Um cacho de flores vermelhas

No meio dum campo verde sobressai isolado um grande cacho de flores vermelhas.
Nasceram ali, por arte do destino.
Lembrando ao milho que nem só de pão vive o homem.
As flores têm o condão de dar beleza  à mesa de um festim.
Como de alegria o vinho.
Um mar de espigas é fartura e morte à fome.
Ó sublime beleza dum campo vasto de papoilas, ao vento bailarinas.
E aqueles valados de giestas amarelas, perfumadas, que ladeiam as estradas.
Tudo prendas com que nos brindam, de graça, a Natureza para regalo de nossos olhos.

Ouvindo Oh ! KHATIA BUNIATISHVILI PLAYS CHOPIN SONATA Nº2 Op 35

Bar Caracol, arredores de Mafra, 20 de Junho de 2019, dia do Corpo de Deus,
10h30m
JLmg

quarta-feira, 19 de junho de 2019

O calor do teu abraço

O calor do teu abraço

Não tem preço o calor do teu abraço.
Quando é negra a hora.
Um filho ausente que não dá notícia.
Aquela prenda que não veio no dia de anos. De quem mais se esperava.
A pouca sorte na escola que nos calhou, tão longe da nossa casa.
Afinal, é verdade o que disseram de quem mais se gosta e esperava.
Aquele trabalho de investigação pura que a revista específica se recusou a publicar.
A entrevista para o emprego certo que não correu como se esperava.

Tudo fica melhor se na hora exacta vem um abraço de quem se mais quer...

Ouvindo Tomaso Albinoni - Adagio in G Minor

Mafra, 19 de Junho de 2019
21h3m
Jlmg

Salpicos de mar

Salpicos de mar

O sol a pôr-se. Correm as ondas esbaforidas.
Se espraiam na praia.
Saem salpicos, em baforadas de espuma.
Cheiram a iodo e algas perdidas.
Corre uma brisa. Consola a mente.
A alma se embriaga. O coração acelera.
Apetece caminhar. Pés descalços.
Calças arregaçadas até aos tornozelos.
A frescura da água. Se arrepiam os ossos.
A consolação inebria-nos o peito.
Sonhamos com o paraíso.
A tarde vai caindo.
Fica avermelhado o horizonte.

Alegres e festivos regressam os barcos da pescaria.
Foi boa a colheita.
Todo o peixe se vende ali mesmo, à boca do mar.
O jantar vai ser melhorado...

Ouvindo Khatia Buniatishvili - Schubert: Impromptu No. 3 in G-Flat Major, Op. 90

Mafra, 19 de Junho de 2019
20h19m
Jlmg

terça-feira, 18 de junho de 2019

Sempre de pé

Sempre de pé

Cair, uma e outra vez, só acontece a quem anda de pé.
O que importa é levantar e seguir caminho.
Cuidar das feridas e nunca desanimar.
Nada é fácil. O que tem valor custa sempre a alcançar.
A não ser o que nos é oferecido.
Ainda assim, nossa atitude terá de ser o reconhecimento e a gratidão.
Está é a cadeia do nosso estar e viver em paz e com gosto.
Semear o bom. Recusar o mau.
Nada nos pese na consciência ao fim de cada dia.
E, se algo falhou, o caminho será repor na medida do que for possível.
Prontamente. Sem adiamentos.
Esquecer é outra das falhas e irreparável.
Mafra, 19 de Junho de 2019
8h42m
Dia cinzento
JLmg
Ouvindo Martha Argerich - Chopin: Piano Concerto No. 1 in E minor, Op. 11

Minha avenida

Minha avenida

Minha avenida larga é a verdade e a alegria.
Cruza, de passo a passo, com a da justiça.
Atravessa, do princípio ao fim, com muita luz.
Muitas árvores lhe dão as cores.
Até os passos ali convivem, alheios aos carros e ao ruído das viaturas.

Quando a passo, lembro a vez primeira que vim do Norte à capital.
Grandiosa. Me senti bem. Tive orgulho em conhecê-la.
A Avenida da Liberdade.

Depois, fiquei a saboreá-la durante anos, como um vizinho dedicado.

Mafra, 18 de Junho de 2019
22h4m
Jlmg

Lâmpadas e campanários

Lâmpadas e campanários

Vestes longas. Cores garridas.
Corpos esbeltos. Palácios e jardins de inverno.
Ressoa a orquestra.
Há baile e plena alegria.
É a festa dos encontros das damas e cavalheiros e das promessas para jurar.

No jardim, brilham os lampadários semeando sombras pelos caminhos.
De hora a hora, soam as badaladas no campanário.
É longa a madrugada.
Com brindes de champanhe e passes de bailado, com graça e harmonia.
É o mundo privilegiado da fidalguia...

Ouvindo Khatia Buniatishvili plays Grieg's Piano Concerto

Mafra, 18 de Junho de 2019
10h43
Dia cinzento com algumas abertas de sol
JLmg


sábado, 15 de junho de 2019

Com o andar dos tempos

Com o andar dos tempos

Com o andar dos tempos, minha mente encheu-se de coisas belas.
Depois, inesperadamente, a mente, se encarregou de as encadear com arte.
Escolheu a escrita.
Volta e meia me surpreende com sua mensagem.
Estou-lhe atento.
A um ligeiro toque tomo a caneta e escrevo.
Ela só dita.
Gosto das suas visitas inesperadas.
As partilho com minha gente.
É disto que eu vivo agora...

Roses, 15 de Junho de 2019
19h36m
Jlmg

O cacarejar das gaivotas

O cacarejar das gaivotas

Indiferentes a quem está na praia, discutem e resolvem seus diferendos, cacarejando, de bico empinado ao alto.
Estão no seu mundo.
Para nós impenetrável.

Há uma que é indesejável.
Porquê?
Se se abeira das duas crias, leva uma vaia.
Foge e volta.
Passaram a manhã nisso.
Elas lá têm as suas regras. E não perdoam.

Foi preciso levantarem voo as duas crias e poisarem no mar para sossegar a família.

Com nós humanos, também é melhor, por vezes, levantar voo para outro lado, até que a crise passe...

Roses, 15 de Junho de 2019
19h9m
Jlmg

Nascer do dia

Nascer do dia
Sorri ao sol este mar de azul.
Ondículas benignas adoçam a praia, desfeitas em espuma.
Pombas alegres cantarolam felizes, escondidas nas palmeiras.
E o tractor camarário, seu afã de cada dia, alisa a pente fino as nervuras da areia.
As barcaças paradas ao largo agitam seus mastros, desejando partir.
Chegam à praia os primeiros banhistas.
Procurando o banho e crestando a pele.
O comboio do morro passa apitando chamando turistas.
Os bares e cafés abrem as portas e ajeitam as mesas.
É o dia que nasce com promessas de sol.
Roses, 15 de Junho de 2019
9h30m
Jlmg

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Caíu a noite sobre o mar

Caíu a noite sobre o mar.
Uma manta negra o cobre.
Tudo parou.
Onde as ondinhas brejeiras que passaram o dia inteiro a dançar?
As gaivotas desassossegadas se recolheram, sei lá onde.
Deserta a praia, se prepara para a noite longa que aí vem.

Pelos passeios passa, de vez em quando, um perdido nauta à procura dum bar quente.
Agora, só resta que as horas longas se passem breve e, de novo, amanheça o mar.

Roses, 14 de Junho de 2019
22h36m
Jlmg

A arte da liberdade

A arte da liberdade

Saber viver em liberdade é uma arte. Se aprende e se aprimora.
A vida é a mestra.
Respeitar o que é dos outros pelo respeito do que é teu.
É a chave. Não há outra.
É de oiro.
Se ela se perde, lá se vai a liberdade...

Roses, 14 de Junho de 2019
9h32m
Jlmg

Em sentido...

Estão em sentido rigoroso as casas e as janelas da cidade...
Estão em sentido rigoroso, aprumadas, as casas e as janelas do Porto, frente ao rio.
Se perfilaram, com todo o garbo, saudando sua visita e passagem para a foz.
Se engalanaram de cores vivas as paredes, as vielas e os recantos, em harmonia maviosa.
Telhados rubros e ameias.
À porfia.
Até a catedral, de provecta idade e curiosa, em homenagem, lá no alto, ergueu as suas torres.
O tempo passa. O rio corre.
Em correria milenar.
Morre a gente.
Se renova.
Fica a saudade.
A saudade morre.
E a cidade inteira,
Em reverente majestade, se rende ao Douro.
Faz parte dela.
Não é hóspede.
É da casa.
É bem verdade.
Roses, 14 de Junho de 2019
9h59m
Jlmg

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Ó horas cintilantes da madrugada!...

Ó horas cintilantes da madrugada!...

Ó horas cintilantes da madrugada, quando o rei é o amor dos corpos e das almas.
Quando os sonhos se tornam em suave e benfazeja realidade.
E, as forças do mal não conseguem seus malsãs intentos.
Porque a maior força vem do amor.
Quando a Natureza-Mãe fala serena e doce ao ouvido de quem sofre.
E as margaridas se enfeitam de gala no seu jardim.
Ó doces maravilhas semeadas ao sol-por e que nascem ao nascer do sol.
Ó esplendor da Terra que se veste de cetim, perante a majestade do Criador...

Ouvindo Khatia Buniatishvili - Schubert: Impromptu No. 3 in G-Flat Major, Op. 90, D. 899

Roses, 13 de Junho de 2019
18h37m
Jlmg

Calhava bem...

Calhava bem...

Calhava bem receber agora, em minha casa, a inspiração.
Que me fizesse escrever um poema certo e lindo, com mensagem positiva.
Fá-lo-ia chegar bem longe para quem o quisesse ler.
Fosse portador duma palavra justa, apropriada ao seu momento.
Capaz de elevar o mundo, um só nadinha.
Semeasse paz onde ela rareia ou falte.
Me fizesse sentir vivo, a contribuir com pouco, para o bem geral.
Houvesse alguém mais só a quem levasse uma réstea de luz e esperança ou fosse sol...
Foi só desejo.

Roses, 13 de Junho de 2019
18h5m
Jlmg

Frente ao mar...

Frente ao mar

Sinto-me minúsculo frente a este mar sem fim.
Uma gotícula apenas deste universo, aparentemente, sem começo
e, se calhar, sem fim.
Mas tenho a faculdade de reflectir.
Todas as questões que se põem:
- Donde? Porquê? Qual o fim?
Como eu, a humanidade se interroga, desde quando se viu como parte integrante deste mundo.
São tantas as teorias que o homem fabricou.
Desde a mais simples e elementar
- Que o mundo sempre existiu assim e existirá. Um composto de seres vivos e doutros, aparentemente inertes.
Aqueles brotaram destes e têm a faculdade de evoluirem.
Sua existência, sujeita à morte, está visceralmente dependente dos que lhe parecem inferiores.
Dos vivos, só a humanidade tem consciência dessa dependência.
Por isso, sofre e sente angústia.
Queria ser eterno, pelo menos, como o mundo.
Vê o terror do tempo que os devora.
Para a mitigar, com a ânsia de eternidade, inventou uma panóplia de religiões.
Ainda mais confundem.
- Será verdadeira aquela que crê num Ser Supremo. Criador de tudo quanto existe. Tudo sustenta e governa.
E que, há uns breves milhares de anos, se revelou ao homem, não só como seu princípio e fim, como é seu Deus e Pai...

Roses, 13 de Junho de 2019
10h20m
Jlmg











quarta-feira, 12 de junho de 2019

Apetece escrever...

Apetece escrever...

Apetece escrever sobre o céu azul e o azul do mar.
Imagens suaves de barquinhos de pesca prontos a partir.
Gaivotas na praia, não querem voar.
Montanhas ao longe, carregadas de neve.
Inesperada visita. No dealbar do Verão.
Uma brisa serena penteia de ondinhas a cabeleira do mar.
Uma amplidão sem limites inundada de luz.
A alma se expande pelo infinito do céu.
Momentos plenos que semeiam saudade e fazem escrever...
Roses, 12 de Junho de 2019
9h11m
Jlmg

terça-feira, 11 de junho de 2019

Duma pedra rija, tosca e disforme...

Duma pedra rija, tosca e disforme...

Duma pedra, rija, tosca e disforme, 
Saída da rocha, o artista lavrista, a toques de guilho e cinzel, define-lhe a forma.
Cria um corpo, com rosto e peito possantes.
Rasga-lhe a boca, de jeito suave.
Abre-lhe os olhos por debaixo da testa altiva.
Desenha-lhe o nariz e o queixo com toques de leme.

Pendem-lhe os braços possantes ao longo.
São altas as pernas.
Insufla-lhe a alma com vento da serra.
E diz-lhe:
- Agora és tu. Segue.
Faz-te atento. Um pastor das montanhas...

Roses, 11 de Junho de 2019
9h14m - dia de chuva
Jlmg

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Espero-te, sol...

Espero-te, sol...

Espero-te, sol na tua imponência avassaladora.
Derrama luz em abundância.
Aquece os corpos transidos de dor pelos ventos da desgraça.
Sacia de pão os campos verdes.
Traz-nos, de novo, a fartura da paz e harmonia em cada lar.

Celebra connosco a festa fraternidade.
Acompanha de perto nossas passadas tímidas pelas veredas deste mundo.
Sê tu o rei deste reinado tão desgovernado.
Brilha e faz brilhar nas mentes as ideias puras e os sonhos que a Natureza delineou para nosso bem.

Acaba de vez a noite, sem estrelas nem luar que parece não ter mais fim...

Ouvindo Chopin - Nocturne op.9 No.2

Roses, 10 de Junho de 2019
9h33m
Jlmg

domingo, 9 de junho de 2019

De novo, Roses

De novo, Roses

Depois de dois dias a palmilhar a estrada, com "bichas" de carros sem fim, que fazem estalar os nervos,
De novo Roses.
Acordei e, desta varanda sobreelevada, alcanço à distância de uns metros, o mar plúmbeo e sonolento.
Esta pacatez faz-me esquecer o que passou.

O céu está cinzento. Não augura grande dia de praia.
Mas fica certa a brisa e esta pureza de ar que vivifica os nossos corpos.

A praia ainda está deserta.
Se ajeitam as muitas esplanadas para a multidão que há-de enchê-las.
Pelos passeios junto ao mar, há quem corra num vaivém, por saudável desporto.

Ao longe, o lado de lá do golfo.
Outro mundo. Outras gentes.
Que nos enxergam contra o levante.

Uns breves dias aqui ficaremos.
Um privilégio que se impõe ao meio de cada ano. Desde há décadas.

Roses, 9 de Junho de 2019
9h23m
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quinta-feira, 6 de junho de 2019

Feitiço da chuva

Feitiço da chuva

De repente, o céu se banha de chuva, um mar, e chora que chora.
Derramando mágoas na terra.
Ribombam de fúria e estralejam trovões.
Assustadas, fogem no vento, as nuvens.
Enchem-se os leitos dos rios
E as correntes dos vales.

As barragens, mirradas, sedentas, revigoram as forças.

Chove frescura no peito e nos corpos, tisnados de sal.
Era tanto o calor,
Reconhecidos, agradecem e se sentem no céu.

ouvindo HAUSER - Adagio (Albinoni)

Berlim, 6 de Junho de 2019
17h11m
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quarta-feira, 5 de junho de 2019

A costureira da freguesia

A costureira da freguesia

Fita métrica.
Giz.
Uma tesoura.
Caixa de agulhas, sempre à mão.
Máquina de costura.
De preferência "singer".

Foi aprendiz.
Aprendeu a arte com uma mestra que morreu.
Só recebeu o corte quando a mestra o entendeu.

Reservou da casa o quarto que dá para a frente para oficina de costura.

Um vestido e uma camisa foram as primeiras encomendas.
A fregueza ficou contente.
Daí para a frente,
Não tem mãos a medir.
É só trabalhar até às tantas.

Tornou-se imprescindível na freguesia.
A senhora Alice.
Atende a toda a hora.
E leva barato.
Às vezes fia...

Berlim, 5 de Junho de 2019
17h22m
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Subjectividade...

Subjectividade...

O mundo é plurifacetado.
No seu todo e cada parte.
Tantos tons, tantas sombras e tantas cores revestem a realidade.
Os olhos a filtram e espelham tendências da nossa alma.
Pintam-na conforme a hora e o calor da luz do dia.
Depois, vêm as distorsões das enfermidades: miopia, dislexia e presbitia.
Como as recebeu da natureza.
Como é possível, assim, não haver tantos juizos diversos sobre tudo o que nos rodeia?

ouvindo Comptine d'Un Autre Été- Die fabelhafte Welt der Amélie Piano

Berlim, 5 de Junho de 2019
14h27m
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terça-feira, 4 de junho de 2019

Minha sombra

Minha sombra

Vive comigo ao sol desde que me conheço a andar.
Ignoro-lhe o nome.
Não sei donde vem e donde é.
Vive em silêncio.
É desprendida.
Cede o lugar.
Fica mais viva quanto mais eu brilho.
Nunca aceitou entrar em minha casa.
Me esperava lá fora.
Furtiva, sempre recusou o meu abraço.
Estou a ver que, livre dela, só na cova.

Berlim, 4 de Junho de 2019
14h26m
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Frescura do bosque

Frescura do bosque

São densas as ramagens.
O sol fica à porta e não entra.
Só o vento em lufadas brandas.
Está-se bem aqui.
Deve ser assim o Éden.

Esvoaçam em liberdade as aves.
Sempre em grupos.
Têm cá os seus filhotes.

Já sou deles conhecido.
Fui adoptado plenamente.
Andam ao meu redor sem cerimónias.
Mal me sento no mesmo banco, aí vêm a saudar-me.
Casais de pombas e de melros negros.
Os corvos andam mais altos.
Enchem o bosque de sinfonias.
Ser feliz depende muito da liberdade.

Berlim, 4 de Junho de 2019
10h8m - dia franco de sol
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segunda-feira, 3 de junho de 2019

Acenar ao longe

Acenar ao longe...

Subo às ameias do meu castelo para ver se vejo ao longe os sinais de melhores tempos

Estou farto de ameaças e de guerras devastadoras, em nome de interesses ocultos e malignos.
Deixem-nos viver plena a vida que é única e irrepetível.
Quero seguir vivo os meus sonhos.
Quero pintar quadros e poemas com as cores vivas do optimismo e da liberdade.

Não me venham com propostas falsas ou vazias de sentido.

Quero ver reinar a paz e a justiça.

Berlim, 3 de Junho de 2019
22h38m
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domingo, 2 de junho de 2019

Meu saber não é inato

Meu saber não é inato

Meu saber não é inato.
Não caíu do céu.
Chegou a mim.
Nem eu sei bem.

Como quem tem sede,
Fui-o bebendo,
De tantas fontes,
Pelo caminho longo.

Fui-os ouvindo,
Em estado puro.
Fui-os guardando
Como um tesouro.

Andam comigo,
São minha força
E minha luz.

Me sirvo deles.
Vou construindo.
Todos partilho.

Teço quadros.
Pinto poemas.
Revelo segredos.
Sem me afirmar.

Não quero impô-los.
Só quero vê-los
A correr o mundo.
Sirvam o bem
E que o mundo fique melhor...

Berlim, 2 de Junho de 2019
22h29m
Jlmg

Aldeias suaves, serenas...

Aldeias suaves, serenas...

Aldeias, suaves, serenas, plenas de vida,
cobrem as encostas e vales.
São lugarejos tisnados ao sol, à chuva e ao vento.
Igrejas, ermidas e bosques.
Couves nas hortas e campos lavrados.
Ramadas e vinhas ladeiam caminhos.
Por onde, de cornos ariscos, passam as cabras.

Patronos divinos abençoam as casas, de dia e de noite.

Fazem-lhe promessas as almas aflitas dos corpos, com dores.
Repicam alegres os sinos e chovem as graças.

A gente pacata saúda os vizinhos, tirando o chapéu,
- Bom dia, boa tarde!

E, se passa o abade, de vestes cumpridas, pedem-lhe a bênção e a graça de Deus.

Aldeias suaves, serenas, tantas havia.
Agora, rareiam.
Alfobres de paz...

Berlim, 2 de Junho de 2019
16h26m - dia luminoso de sol
Jlmg