sexta-feira, 31 de março de 2017

A força da emoção...

A força da emoção…

Aquela onda possante
Que arranca do ventre,
Enche o peito e arrasa o coração.
Entala a garganta
Como bola de sabão.

Aquela explosão sem estrondo
Que vem de dentro,
Só a gente sente.
Afoga os olhos,
De fogo e luz.
Derrete as pedras
E desfaz a dor.
Aquele arranque
Com força ingente.
Vence a morte
E dá vida à vida.
Só o sente
Quem nunca perdeu a esperança,
Acreditou em si,
E, na hora negra,
Tudo alcançou…

Mafra, 31 de Março de 2017
18h3m
Jlmg

Por sendas e bosques...

Por sendas e bosques...

Por sendas e bosques,
eu e meu cavalo corremos,
subindo e descendo,
caminhos pedregosos,
peito arfando,
sorvendo a frescura matinal.

Jorrava luz do um céu em fogo.
Pelo ar, silvavam doces melodias.
É a festa da vida em cada dia.

Há que vivê-la com entusiasmo.
O passado não voltará jamais.
Fica passado. É lembrança.
É saudade.

O horizonte é infinito.
Apela ao sonho.
A morte desapareceu da terra.
Enquanto o sol,
com seu desvelo,
nos vai inundando a vida.

É bm viver e respirar feliz...

ouvindo belas melodias de música clássica

Bar "Castelão" em Mafra,
31 de Março de 2017
10h30m
Jlmg


Alentejo verde...

Pelo Alentejo verde…


Dia de sol brilhante.
Atravessamos o Tejo,
Alentejo ao mar....
Até Melides.


Diáfano o céu azul.
Verde e florido o chão
Coberto de pinheiros mansos e de sobreiros.
Jorrava o sol em feixes
Através das ramagens.
A estradita estreita serpenteava,
Serena e solitária.
De vez em quando, lá vinha um carro.
Era preciso encostar bem à berma
Para ambos cabermos.
Fomos visitar um casal,
Casado quando nós,
Já lá vão umas boas dezenas.
Nunca mais os vimos.
Cristina e Júlio.
A vida é assim...
Fugidos do bulício urbano,
Ali se acoitaram.
Silêncio e paz.
Mergulhados na natureza virgem.
Valeu a pena.
Lindas horas de conversa
E de relembranças!...
Mafra, 31 de Março de 2017
8h55m
Jlmg

quarta-feira, 29 de março de 2017

Transparência da mulher...

Transparência da mulher…


Mais que no homem
Reluzem as transparências na mulher.
Um dado comprovado.
Não as do corpo.
Sim as da alma.
Razões da história
Ou da genética.
São rudes e enigmáticos
Os bustos das celebridades
Através das eras.
Têm máscaras os seus rostos.
Nos painéis e nos museus.
Impenetráveis. Indecifráveis
os seus olhares.
Distantes ou sorumbáticos.
Só lhes ressaltam a gravidade.
Nos olhos fundos
Ou no sulco grave
Das suas rugas.
Nada transmitem.
Apenas figuras.
Muito se ostentam
E pouco falam.
Diverso o porte e expressão
Das nossas damas.
Seu ar é leve.
Olhar de águia.
Equidistante.
Um ser total.
É transparente.
Nada de sombras.
Devassando tudo.
Mas, revelando a alma.
Ao pé e ao longe.
É transparente.


Bar "Caracol" em Mafra
29 de Março de 2017
9h07m
Jlmg

terça-feira, 28 de março de 2017

Alegria de viver...



Alegria de viver…

Aquela flor, cheirosa e bela
Que tudo transfigura em beleza,
Só se dá bem num corpo são
E o espírito em paz.

Não está à venda em nenhum lado.
Cultiva-se na própria casa.
Tão delicada.
Requer carinho e atenção.

Tem pavor das ervas daninhas.
Que se dão bem a fazer mal
Em todo o lado.

Quanto melhor se cuida
Mais forte cresce.
Maior sabor dá à nossa vida.
Se alimenta de simplicidade e parcimónia.

Condimentos são apenas a paz da consciência
E a harmonia da convivência.

Fugir da riqueza, avara e sedutora,
É o exercício constante
Que a alimenta…

Ouvindo Mendelssohn, concerto para violino por Janine Jansen

Mafra, 28 de Março de 2017
8h35m

Jlmg


segunda-feira, 27 de março de 2017

Minhas fraquezas...

Minhas fraquezas…
 
Não me mordem as fraquezas.
São muitas e constantes.
As saúdo e as venero.
Me obrigam a estar atento
E a cuidar delas.
São o motor perene da minha vida.
Sem elas fácilmente me convenceria
De ser um rei.
Condenado à desilusão.
Na verdade era de barro.
Quanto mais se tem e sobe
Maior é o trambolhão…
Gosto de não dar nas vistas.
Rentinho ao chão.
A queda é pequena.
E logo reparada.
Há sempre quem acuda
E deite a mão…
Para quê voar?
Ver de cima o mundo.
Sem o sentir…
Bem melhor é viver nele.
Sentir o seu pulsar.
Ouvindo Brahms, concerto nº 1 em piano
Manhã de chuva
Mafra, 27 de Março de 2017
9h06m
Jlmg

domingo, 26 de março de 2017

Escorrem-lhe dos dedos...



Escorrem-lhe dos dedos…

Escorrem-lhe dos dedos toques secos, firmes, certos e seguros.
Cada um a sua nota.
Num longo caminho imenso.
Um concerto de piano.

Tantas subidas e descidas.
Tantas voltas, viravoltas, acrobáticas.
Nem uma falha.
Tudo exacto.
Tudo de cor.

Tange as raias do impossível.

Num discurso, de improviso,
Discorre horas,
São as ideias e as palavras
Que se atraem
Para a conclusão.

Agora, notas,
Em infindável sequência
Que se unem numa ideia
Só de ouvido,
Ultrapassa tudo
E não concebo…

Mafra, 26 de Março de 2017
21h22m

Jlmg






Duas rotinas...

Duas rotinas...

Uma tem lagos e bosques.
Tudo é fartura e ordem.
Outra é parca, estreita,
Pacata.
Pertinho do mar.

Deu-mas a vida,
Ventos da história,
Quando menos esperava.

Preferia a que é minha.
Nela nasci e cresci.
Sonhei.
Nela me entendo.
Sei-a de cor.

Que bom que seria
Viver só com uma.
Com paz e justiça.
Onde na vida apareci...

Bar "Caracol" 26 de Março de 2017
11h01m

Jlmg


sábado, 25 de março de 2017

Carta a um desconhecido...

Carta a um amigo desconhecido...

São para ti, meu irmão desconhecido estas duas letras.
Vives igual neste mundo endiabrado.
...
Nascemos ambos sem sermos consultados.
Rodeados, nos primeiros tempos, de tantos desvelos.
Tanta atenção a nós.
Crescemos. Tudo parecia bom e lindo.
Tanta esperança num mundo bom.
Mas eis que, a nosso lado, cresceram as nossas sombras.
Incomodando quem seguia ao pé de nós.
Cada um pensando que o sol seria apenas seu.
Daí confrontos. Guerras e lutas.
Desconfiança se tornou a regra.
Acautelar seu espaço o maior cuidado.
De todo lado chovem as agressões possíveis e inimagináveis.
Vêm do Estado, supostamente o garante básico. Mas que nos esfola.
As religiões com falsas visões de bem.
Os valores ilusórios que nos pregam a Comunicação Social, ávidas apenas, de grandes audiências para semear domínio.
As falsas miragens que as modas apregoam. Criando modelos vãos. Só empobrecem.
Acautela-te, irmão.
A verdadeira paz reside em ti mesmo.
Cultiva o bem e a ordem. Contempla o sol e o céu.
Vê bem onde dás tuas passadas.
Diz qualquer coisa...
Bar "Caracol" 25 de Março de 2017
9h44m
Jlmg

sexta-feira, 24 de março de 2017

Asas barrentas...



Asas barrentas…

São minudências.
Pintinhas pretas
Asas barrentas.
Fogem do vento.
Brilham ao sol.
Podem voar
De flor em flor.

Nem são formigas.
Nem são aves.
Mansas. Suaves.
Semeiam silêncio.
Dão graça à vida.
Apregoam a paz.

Tartaruguinhas volantes.
Não caminham no chão.

Brincam com elas
Os meninos da escola:

- Joaninha, voa, voa.
Teu pai vai a Lisboa,
Se não começas a voar!

E, inocente,
Ela voa!
O menino,
Todo contente,
Sacola às costas,
Fica a vê-la.
- Joaninha, voa, voa…

Mafra, 24 de Março de 2017
8h28m
Jlmg




quinta-feira, 23 de março de 2017

Poesia verde...

Poesia verde...


Brota verde em cachos.
O perfume a sal da maresia.
Refulge ao sol...
E esvoaça ao vento
Como ave de arribação.

É sonora e canta.
Lindas trovas de alvorada.
Meiga e terna
Como o pão quente
A sair do forno.
Tão suave como o vinho doce.
Consola os tristes das suas angústias.
Como te adoro, minha companhia!
Que seria do mundo
Se ela morresse?...
Bar "Caracol" em Mafra
23 de Março de 2017
9h22m
JLmg

quarta-feira, 22 de março de 2017

Pastor alemão...

O pastor alemão...
Possante, preso à corrente,
Mete paixão,
Ali passa seus dias,
Guardando a casa,
À vista da rua.

Sabe quem passa,
Em todas as horas.
Ao raiar da manhã,
Vou caminhar,
Canadianas nas mãos,
Atiçando meu fogo,
Em passadas ligeiras.
Me pressente à distância
E solta a ladrar,
Num ladrar que entendo,
A dar-me os bons dias.
Quando nos vemos,
Estrebucha aos saltos,
De orelhas hirsutas.
Os olhos profundos,
Fazendo-me queixa:
-porque é que me prendem?
Já bastariam as grades...
Dou-lhe razão
E todo o consolo.
Quando volto,
Na passagem inversa,
Me fala sereno,
Irradiando ternura.
Digo-lhe adeus
E juro-lhe que
Cá estarei amanhã,
Propondo ao dono
O lugar do pastor...
Mafra, 22 de Março de 2017
11h32m

Raminho bailante...



Raminho bailante…

Se soltou da sebe
O raminho bailante.
Bailando sozinho.
Sorrindo a quem vem.

Ali passou a noite,
Batido de vento.
Clamando pelo dia,
Transido de frio.

Bate-lhe o sol.
Todo contente,
Se soubesse, cantava.
Haste pendente,
Varrendo o chão.


Tronco sem espinhos,
Todo verdinho.
Exposto à sorte
Do que lhe quiserem fazer.

Por isso sorri,
Bailando, bailando.
Sacudindo as folhas,
Como se fossem meninas
A caminho da escola.

Mafra, 22 de Março de 2017
7h34m
Jlmg