sábado, 30 de junho de 2018

Com rastos e riscos...

Com riscos e rastos...

Com rastos e riscos se escrevem os traços que a vida nos traça.
Se enfeitam caminhos, com laços e telas.
Se alisam as leiras dos campos lavrados que esperam sementes.

Se apagam as sombras da vida sombria.

Por vezes, há rastos e riscos profundos, gravados, que doem e ficam para sempre...

Ouvindo "Cavatina de Deer Hunter

Porto Covo, 30 de Junho de 2018
11h 59m
Jlmg

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Sereno meu espírito...

Sereno meu espírito com os sons da magnitude que brotam férteis dos vales belos da imaginação.
Sacudo a poeira que caíu das núvens nas chuvas negras da insolência.
Me ergo aos céus clamando a paz serena da tranquilidade, como se hora extrema irrepetível.
Traço minha senda no horizonte imenso que me envolve.
Atravesso o deserto árido da areia seca, onde nem os cardos desabrocharam.
Me consolo nos oásis verdes que se perderam para sempre das caravanas.
Adormeço ao relento do céu estrelado onde navegam livres as constelações.
Me quedo extasiado com a grandeza quase infinita das galáxias onde pairam as almas transfiguradas que da terra rude se libertaram.
Acordo afoito ao dealbar das madrugadas e me lanço de novo esperançoso ao caminho da existência...

Ouvindo Brahms, concerto nº 1 por Hélène Grimaud
Porto Covo, 29 de Junho de 2018
20h51m
Jlmg

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Iguaria sinfónica

Iguaria sinfónica
Gravita no horizonte da acústica uma iguaria sinfónica.
Notas cintilantes desfilam graciosas na larga avenida harmónica da beleza.
Vêm de longe sedentos a ouvi-la como quem esgota a última hora da existência.
Cessa na alma a contagem desesperante do tempo com suas garras.
Levitam as sensações no enlevo majestoso da harmonia.
À ordem do maestro, desfilam garbosos, em perfeita sintonia, os acordes dos alaúdes, das tubas e violinos.
Reina a paz sem sombras, só com luz...
Porto Covo 28 de Junho de 2018
14h4m
Jlmg

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Brandas horas matinais

Brandas horas matinais

Encho meu peito com este ar puro de Porto Covo onde o mar é mais azul que o do céu.
Sorvo a frescura da brisa leve que este mar respira.
Meu corpo se sente leve, quase levita.
Minha alma se eleva e ora grata por estas horas que aqui vai passar.

Oiço do mar ao pé seu ronronar profundo como o duma central de energia em combustão perene.

Reluzem ao sol as chaminés brancas deste mar de casas onde reina a paz.
Fosse todo o mundo assim e já seria muito para se ser feliz...

Porto Covo, 26 de Junho de 2018
7h48m
Jlmg

domingo, 24 de junho de 2018

Agilidades

Agilidades

Arrostar de frente é custoso. Arriscado. Nem sempre certo.
Outra táctica.
Mais vale ladear.
Dar a volta, surpreender e chegar ao pé.

A habilidade é uma arte.
Está escondida em nós.
Se cultiva e desenvolve.
Fazer certo, com pouco esforço.

Cada um a sua.
É só descobri-la...

Mafra, 24 de Junho de 2018
14h59m
Jlmg

sábado, 23 de junho de 2018

O melhor de nós


O melhor de nós

O melhor de nós está reservado para o indefinido, nem nós sabemos quem.
Cresce no segredo profundo de nós mesmos.
Recebe toda a atenção nas horas adversas.
Pode faltar para o resto. Para ele não.
Um imperativo irresistível nos impele a tal.
Como se nele residisse nossa sobrevivência.

Vai florescendo. E, na hora exacta,
Por artes de magia indecifrável,
Se revela ao sol.
Eis que surge, como imperativo, o destinatário justo.
Dá-se o milagre da união.
Do passado com o futuro.
Num só destino.
Pleno e indissociável.

Depois os frutos e a perenidade se solda num abraço vital,
A razão de ser de dois destinos.
A base real que dá sentido a tudo…

Ouvindo Klaverkoncert A-mol op 16 (1868) Edvard Grieg - Alice Sara Ott - DRSymfoniOrkestret-T. Dausgaard
Mafra, 23 de Junho de 2018
14h16m
Jlmg

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Festa das ventanias


Festa das ventanias

Vinha de tempos imemoriais.
Todos os anos, pelo São Pedro,
Arribavam de todo o mundo
Os ventos intemporais.
Como migrações.

Era a peregrinação universal das intempéries, com seus matizes.

Do oriente, os mais ferozes.
Habituados às asperezas asiáticas,
Desde o Evereste aos Himalaias.
O que valia era a distância.

Quando ali chegavam, vinham brandos. Ninguém suponha o que eles seriam na sua origem.

Chegavam à praça rodopiando em arcos leves. Descreviam formas vistosas de iluminuras.
Como serão as ninfas orientais.

Contrastavam com os do ocidente ameríndio, enigmático e imprevisível, das florestas amazónicas, com volutas voluptuosas das planícies verdes.

Vinham arfantes da travessia longa do oceano.
Se instalavam pacíficos pelas bancadas como se turistas.

Os do norte vinham trementes nas suas vestes longas. Insuficientes. Tiniam de frio. Aspiravam calor.
Para recuperar quem eram. O seu vigor.

Os do sul cheiravam a África. Eram agrestes como as vertentes do Killinmanjaro.
Exalavam perfumes inebriantes do equador.
Insinuantes como as dunas desérticas que atravessaram.

Só depois da primeira noite cada vento, já recomposto, mostrava quem era.

A seguir, era a festa da convivência.
Durava um mês.
Onde a fraternidade universal era a rainha…

Mafra, 23 de Junho de 2018
7h14m
Jlmg




Lagoa de Melides

Lagoa de Melides
Abriram-lhe a porta...
Vi-a fugir. 
Abriram-lhe a porta.
Pôs-se a correr.
Parecia uma louca.
Afogou-se no mar.
Escrava da terra. 
Espelho do céu.
Queria ser livre.
Bem se enganou.
O mar a engoliu, 
Sem faca nem garfo.
Ficou só o leito,
Ao vento e ao sol,
Até que a terra o vista de verde
E o dê a pastar.
Bar Castelão, 22 de Junho de 2018
9h57m
Jlmg

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Pérolas na vidraça


Pérolas na vidraça

Escorrem-me pérolas na vidraça que dá para a Mata.
São da chuva intemperã.
Escorraçou o sol e pintou de cinza o tempo.
Um bombo de festa nas suas mãos.
Nunca sabe onde vai parar.

Ainda, ontem, radioso, reinou toda a manhã.
Fui ver o mar a brilhar de verde.
Me regalei sentado na minha cadeira à sombra, absorvendo a brisa.

Afinal, quem manda nesta república?
O rei não é…

Mafra, 21 de Junho de 2018
Jlmg


Um milagre...

Um milagre…pelo acordo ortográfico
Rezo insistentemente a todos os deuses do híper-urânio para que iluminem os idiotas que conceberam o “acordo” 090, e, pela calada da madrugada o assinaram, sem dar conta aos senhores da língua.
Lhes façam ver que o português é um ser com vida que cresce naturalmente no falar das gentes com seu jeito próprio de evoluir.
Que não lhe devem fazer cortes no cerne poderoso dos seus ramos 
e que lhe dão a matriz da evolução.
Recuem aos seus gabinetes e se dediquem a outro ofício porque deste não percebem nada…
Mafra, 20 de Junho de 2018
Jlmg

Ouvindo o inefável


Ouvindo o inefável…

Extasiado em sonho, oiço o sonho de Schumann, que só um duende musical, um dia concebeu.

Tão leve e tão suave como a brisa leve duma noite de luar.

Seráfica melodia tecida de notas de oiro se desprende em misterioso eflúvio.

Um raio cósmico nunca visto atravessou meu horizonte.

Fico a ver seu rasto e fico a esperar que volte e para sempre fique, como o sol meigo, que vai e vem…

Mafra, 20 de Junho de 2018
Jlmg