quinta-feira, 30 de abril de 2015

a 10767 metros de altitude...

a 10767 metros de altitude...

olha-se a terra.
lá no fundo.
muito serena.
uma tela imensa,
às cores verde e cinza.
arredondada.

um painel geométrico
de figuras.
perfeito puzzle
feito ao acaso.

serpenteiam linhas,
ora de rios,
ora de lagos.
as serras dormem encasteladas.
e há casarios,
só telhados.

tem-se a dimensão aproximada da nossa realidade.

velocidade-967 km hora.
parecemos parados.
para cima dum mar de nuvens brancas
de algodão em rama.

mais de duzentas pessoas
aqui vão suspensas,
como se estivessem em casa.

Amesterdão lá em baixo,
depois de duas horas,
é uma manta estendida,
retalhada,
pintada às cores,
só de flores.
e muita água.

à nossa espera...

Berlin, 1 de Maio de 2015
7h13m
Joaquim Luís Mendes Gomes

luzinhas verdes...

uma a uma...



vão acendendo as luzinhas verdes...

é o facebook.
com o seu truque
de encantar.

cada qual,
no seu papel.
ninguém ensaia.

tudo dá certo,
logo à primeira.

não tenho dúvidas.
o mundo era mais pobre
sem o facebook...

cada um dá
e recebe.
o que sabe
e pode...

com o lendário e fascinante Lawrence da Arábia

Mafra, 30 de Abril de 2015
8h32m
Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 29 de abril de 2015

feliz regresso...

feliz regresso...

as portas estão abertas.
toda a casa iluminada
e exposta ao sol.

um tapete longo e florido
se estende no chão de terra
pelo caminho.

há alguém que chega,
com alegria,
para o seu lar.

se repõe o equilíbrio.
como quis a Natureza.
que é real.

até o canito pressente,
sabe
e dá ao rabo.
seus olhos cintilam.

é a festa do reencontro
e da serenidade.
neste mar da vida.
ora com ondas.
ora sereno.
sempre brilhando,
espelhando o céu...

Mafra, 30 de Abril de 2015
Joaquim Luís Mendes Gomes


antes do fim...

antes do fim...

tanta coisa de mim
ficou pelo caminho.
só a lembrança...

o acordar pela manhã,
em cada dia,
com vontade de brincar.

com tudo
e sem parar.


andar descalço,
juntinho ao chão,
de terra e barro.

fazer poços.
enchê-los de água
e vê-la sumir...

o caminhar das formiguinhas,
na sua vida,
pelos carreiros fora...

atirar à fisga.
partir canecos.
às vezes telhas,
para afinar a pontaria.

fazer corridas,
costeira abaixo,
com prego ao fundo...

trepar carvalhos
e sentir-lhe a frescura
dos seus ramos.
no calor do estio.

descer aos poços de água,
como alpinistas.
ó que aventura!
se os pais soubessem...

deitar no chão
numa cama de musgo...
e dormir a sesta.

descobrir os ninhos
e contar-lhes os ovos.

um banho no rio
como vim ao mundo.

e o regressar a casa,
credo na boca,
ao cair da noite.

o que a mãe ralhava!...

Mafra, 29 de Abril de 2015
21h17m
Joaquim Luís Mendes Gomes

emigrar...

emigrar...

por quem eu chamo,
quando vem a aflição?

é pela Mãe...é pelo Pai...

então, para que é preciso emigrar?

deixar a terra
que me viu nascer.
me deu o corpo
para viver minha alma,
uma vida inteira,
até a morrer...

nada acontece por acaso.
se foi aqui, que eu vim poisar,
nesta sementeira de vida,
é aqui que devo estar.

girar no mundo,
desfrutar do bem,
imenso e variado,
como o Criador criou,
ao serviço da Humanidade,
um paraíso terreal,
que alumia e aquece,
com o sol e estrelas,
deverá ser a nossa escolha.
e nunca uma imposição.

de ninguém...
por falsas razões.

não se estrague a harmonia universal...
aquela que Deus quis e quer...

ouvindo André Rieu, em My Father...mais uma vez e sempre

dia de sol

Mafra, 29 de Abril de 2015
7h45m
Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 28 de abril de 2015

o poema certo...

um poema...

gostava, neste momento,
de escrever um poema,
simples
que fosse belo, bom,
 bonito e perfumado.

com uma mensagem certa
e apropriada
que trouxesse uma réstia de esperança
a todos os que estão mergulhados
na sombria tristeza
da desventura.
seja qual for a razão:

a doença.
a injustiça.
a indiferença amarga
 de quem mais esperamos...

que a tormenta passe
e a bonança chegue
como o nascer do sol...

Mafra, 28 de Abril de 2015
22h48m
Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 27 de abril de 2015

magna solidão da madrugada...

magna solidão da madrugada...

como aquele melro negro,
solitário,
poisado na bordinha extrema do telhado,
que eu vi ontem,
de olhar ao longe,
vago e infinito,
eu estou calado.

e miro o mundo.
imenso,
a partir de mim.

um ser minúsculo.
uma migalhinha ínfima,
mas que se sente rainha,
de tudo,
e o seu centro opaco.


tenho a consciência
de que tudo de mim depende.

sua existência acende
e apaga
quando eu penso.

que, defintivamente,
se acaba se eu me extinguir...

eu sei que é um contrassenso.
tudo já era intenso e vasto
quando apareci no mundo...

arde em mim
e me serena
a viva sensação
de que não estou sózinho. de que me ligo a Deus,
o Autor e o Supremo dono
de Quem eu sou um filho.
assim tu...também!


madrugada alta

Mafra, 28 de Abril de 2015
3h21m
Joaquim Luís Mendes Gomes





batatas fritas...

As batatas fritas de pacote…

São viciantes. E mais e mais…
E nunca demais.
Um saco delas.
Estaladiças. Com muito sal.
Ó que pecado!
É dos mortais.
Caixão à cova…
Não tem perdão.

De chorar por mais!...
Tirem-me da frente
Aquele saco!...

Mafra, 27 de Abril de 2015
13h10m
Joaquim Luís Mendes Gomes


domingo, 26 de abril de 2015

sementes de mal...

sementes de mal...

Que mal eu fiz?...

uma nuvem negra
pairou no céu,
ao cair da tarde.

e, durante a noite,
enquanto eu dormia,
nenhum vento,
nenhuma brisa,
boa ou má,
a impediu...

uma chuva ruim
desaguou em pleno,
sobre a terra negra
do meu quintal.

depressa, se fez covil
de silvas, cardos
e ervas vis.

aquela terra,
viva e dócil,

-parecia bênção,
dada por Deus,

prometia o pão
para mim e meus...

ficou à morte!

foi a sorte ou a maldição?

vou a elas.
com toda a gana,
enquanto sentir forças.

esta esperança, forte,
uma viva bênção,
que caíu em mim,
e vem do céu,

ainda não morreu...

ouvindo Beethoven, opus 129

madrugada negra com chuva e frio

Mafra, 27 de Abril de 2015
6h9m
Joaquim Luís Mendes Gomes

a felicidade...



A felicidade ...
Afinal, descobri que a felicidade
Mora num arrozal.
É verde na cor.
O chão é de água azul.
Sua casa é feita de canas.
Não precisa de telhas nem de janelas.
Pelas frestas, entra o vento
E entra o sol.
Os meninos brincam nela,
Como barquinhos, leves,
Todos em papel.
Anda descalça.
Sua veste é uma cortina leve,
Onde habita o corpo
E não mora o mal.
Sua comida é arroz e peixe.
Basta colher.
Tem um sorriso,
Feito de prata.
São negros os seus cabelos,
E soltos,
Como os olhos fundos,
Faróis acesos.
É afável. acolhedora.
Se entrega toda
A quem chega de novo
E vier por bem.
a propósito e com a devida vénia, da peregrinação que meu filho está fazendo pelas terras do Camboja...
Mafra, 11 de Agosto de 2014
15h00
tarde soalheira com vento
Joaquim Luís Mendes Gomes
Sexta-feira 15:39

epitáfio...



EPITÁFIO DO MEU PAÍS…
Gosto do berço,
Em linho,
Onde, há muito,
Eu nasci;
Do nascer e pôr do sol,
E das orvalhadas, d’oiro,
Que lá vi…
Dos mil abraços,
De ternura
Que recebi,
Na troca, nua,
Dos meus braços,
De menino…
Dos mil beijos
Que adoçaram
As aulas longas
Dos meus passos,
De criança…
Dos contos de fadas,
Dos meus avós
Nas horas quentes
Da lareira…
Do desafio sério,
Na escalada agreste
Da juventude
Que parecia não ter fim…
Do orgulho são que me deram
Pelo país em que nasci:
A sua terra, o seu mar,
A sua história e seus avós…
Do esforço arriscado
De glória, insana,
Que nos pediram,
P’rà defesa da nossa
Herança…africana!…
Daquela manhã
De Abril,
Em que o sol nasceu,
Com mil promessas,
De liberdade…
Dos primeiros passos
E balbuceios
No caminho novo,
Da democracia…
Dos primeiros vulcões,
De ideais,
Que jorraram rumos novos
,
Sob as bandeiras dos:
CDS!…PSD!…
Do PS e do PC !…
Tanta força!…
Tanta garra!…
Tanta verdade!…
Ventos, estranhos e obscuros,
De avidês e de cobiça,
Sopraram,
Mais fortes e traiçoeiros,
Em vendaval;
Turvaram -lhe
As mentes e as vontades;
Morreram
Os ideais e as sementes;
Cinzas e ervas daninhas,
Em praga, nunca vista,
Abafaram as matas e as searas…
E
Agora,
O meu país, inteiro,
Por maldade e
Por má sorte,
Secou…e jaz…
Que labéu!…
Até à morte…

sábado, 25 de abril de 2015

sou um cometa...

sou um cometa...

sou um cometa,
tão minúsculo,
em movimento.
pelo espaço.

vem de longe
a minha rota.

foi-me inscrita
é o meu guia.
é minha luz.


eu lhe obedeço
como o astro
à sua órbita.

do que penso,
no meu íntimo,
só eu sei.
é o meu espaço.

nele eu sonho,
me recrio
e me exponho.


quem me julga,
no que digo,
no que faço
é ninguém.


cada passo,
cada verso
tem a marca,
indelével
do que sou.


são meu rasto...


Mafra, 25 de Abril de 2015
23h30m
Joaquim Luís Mendes Gomes





derradeira jornada da carroça velha...

Derradeira jornada da
Carroça velha



Havia na aldeia um homem de muita idade e muito rico. Vivia numa casa grande, com um criado antigo. Tinha muitos cavalos e muitas terras. E tinha também duas carroças. Uma nova, a brilhar e outra parada lá num canto, muito velha. Já não andava nela havia muito tempo.
 Fora a carroça dos seus tempos de criança.

Um dia, de manhã apeteceu-lhe dar um passeio na carroça da sua infância. Chamou o criado e mandou-o aprontar a carroça velha. Queria ir nela até à montanha.
-       Ó meu senhor! Ela já não aguenta um quilómetro sequer!... Vai deixá-lo ficar mal.
-       Não quero saber. Apresta-ma como deve ser  e deixa o resto comigo.
-       Está bem, meu senhor! O senhor é quem manda.

O  criado arranjou-a como pôde. Trouxe as selas e correias. Pegou em duas parelhas de cavalos e aplicou-os aos varais da carroça.

Quando estava tudo em ordem, foi ter com o patrão.

-       A carroça está pronta, meu senhor, como mandou.


O patrão, de bigode retorcido, todo janota, com seu fato de cavaleiro e botins altos a reluzir, desceu as escadas do palacete e dirigiu-se à velha carroça.

Os cavalos, contentes por irem sair, vaidosos com as crinas pretas a baloiçar, já estavam bem aplicados, nos seus varais, relinchavam impacientes por partir. Pareciam comungar da alegria do seu dono.

O patrão, ainda muito ágil e elegante, alçou o pé sobre o patim já gasto, em chapa grossa, muito poída e sentou-se impertigado no tamborete de madeira.
Puxou as rédeas e desfechou duas chicotadas brandas sobre o lombo dos cavalos. Era a ordem para avançar.

E, trote!... trote!...trote!...trote!...  serpenteando à fresca por caminhos e valados em terra nua, lá foi sózinho o velho fidalgo, montanha acima, muito ufano por estar a reviver velhos tempos de criança.

Embevecido, olhava tudo em redor. Trote!...Trote!...E os cavalos também.

O vale verde e o riacho já ficavam lá ao fundo.

De repente, um grande estalo. Parecia um tiro de caçadeira. Mesmo ali ao pé. O fidalgo olhou para todo o lado…

Todo escaqueirado!...
Os cavalos assustados, fugiram desalmados, encosta fora.

- Bem dizia o meu criado…

Mafra, 25 de Abril de 2015
16h36m

Joaquim Luís Mendes Gomes 

aquele palácio de sonho...

Aquele palácio de sonho…
Aquele palácio de sonho
Que se construiu
No distante mês de Abril,
Ruiu…
E não resta nada.
Só escombros.
E um bando de canalhada
Ciranda sobre eles,
Devorando ossos
E esqueletos…
Porque tudo o mais
Secou…mirrou à fome…
Uns vândalos se apoderaram dele,
Por artimanhas.
De lobos maus.
Não mais largaram…
O esmifraram,
Desalmados,
Como chacais…
Agora, é sua vez.
Só no abismo!
E não voltem mais…
Mafra, 25 de Abril de 2015
16h9m
Joaquim Luís Mendes Gomes

história dos cravos vermelhos...

secaram os cravos vermelhos que a dona Celeste,
mulher do povo, (assim se chamava...) 
ofereceu aos soldados naquela manhã de Abril...
não era vendedora de flores.
era empregada num restaurante, ali em Brancamp,
que a dispensou, naquele dia por causa da revolução a nascer...
os cravos que eram para o restaurante,
foram cedidos pelo patrão.

quando chegava a casa, ali no Chiado,
encontrou o vizinho, Luís Stau Monteiro.
- que andas aqui a fazer, ó pequena?- perguntou-lhe o poeta. Vai para casa. isto é uma revolução.!..


e aquele aparato de soldados de armas em punho.


pediram-lhe cigarros...
- que pena!
...só tenho estes cravos.
e começou a distribui-los pelos soldados.
foram postos nos canos da sua G-3.
isto é verdadeiro. ouvi-a eu enternecido, num programa da rádio- antena 2 - de viva voz a contar como foi...a dona Celeste...era uma jovem. ...ficou para a Hstória

pelo bosque adentro...

por um bosque adentro...

como é bom levantar cedo,
vestir ligeiro,
descer as escadas,
e seguir para o lago
que há no bosque.

sentir o perfume doce
que ficou suspenso
da madrugada.

ouvir cantar
a passarada.
ver o bailar
das hastes tenras,
das flores silvestres,
frutos da chuva
e do sol de inverno.

encher o peito,
lavar o espírito.
braços abertos.
sonhos de amor.

sentir o chão
a beijar os pés.
um tapete suave
que Alguém estendeu.

abraçar a vida...
passa a correr.

ouvindo música clássica váriada

Mafra, 25 de Abril de 2015
9h6m
Joaquim Luís Mendes Gomes

contra os canhões!...

contra os canhões!...

cabeças ocas.
e almas secas.
olhos vendados.
uns figurões.
uns sabichões.

uns desalmados.
como vampiros.
nunca aprenderam
as leis da vida.

oportunistas,
se enraizaram.
ervas daninhas.
só folhas dentadas.
nem para as moscas.

são aldrabões.
só disparates.
uns vigaristas.
insaciáveis.
assaltam os pobres,
como piratas.
das caraibas.

como enxames,
estão em belém.
moram em são bento.
uns escalafrários.
que grandes cristas.
que pardalões.

ninguém os suporta.
ninguém os enxota.

povo sem gana!...

que grande desgraça!
só outro vinte e cinco de abril!...
contra os canhões
de pólvora seca.

Mafra, 25 de Abril de 2015
7h45m
Joaquim Luís Mendes Gomes



sexta-feira, 24 de abril de 2015

fascínio...

fascínio...

um súbito clarão deslumbrante,
no pico da madrugada.
nos arrebata.
céu acima.

erupção vulcânica,
que irrompe em chama,
apenas deslumbra
e não destrói.

um raiar de luz
da natureza,
que nos esconde a pequenês
e nos faz sentir a realeza.

um regresso a casa,
inesperado,
depois de penosa
e longa ausência.

um sonho lindo,
numa noite de turbulência.

ou um doce acordar dum terrível pesadelo.

outro vinte e cinco de Abril
que nos livrasse de vez
desta desgraça...

ouvindo outra vez a cavalgada das valquírias de wagner.

Mafra, 25 de Abril de 2015
2h19m
Joaquim Luís Mendes Gomes







quinta-feira, 23 de abril de 2015

que mal fiz eu a Deus?...

"que mal fiz eu a Deus"?...

exclamava o meu irmão
que lutou na vida, com honestidade.
conquistou o mundo,
em fortuna e prosperidade.
construiu um império
de riqueza e de domínio.

tudo venceu.
julgou-se um deus.
que coseguiu ser,
pensava,
por suas mãos...

e, de repente,
chegado de férias,
no melhor paraíso
que se pode ter,
ao fazer um exame,
ficou a saber
que podia ter um maligno
no pior lugar do corpo?...

dos fulminantes,
em quatro meses...

se sentiu um fraco,
um miserável,
a naufragar...
a pedir socorro,
no alto mar.
- quem me pode valer?...

olhou o céu.
cheio de estrelas.
lembrou o pai e a mãe
que Deus lhe levou...
há muito.

e rezou...rezou...

- que Vos fiz eu, meu Deus?...
e ouviu uma bem dentro.
e viu uma luz brilhante...
como nunca sentira.

- afinal, como é pequeno o mundo!...
e que posso eu?...

Margaride, rua da cabreira,
24 de Abril de 2015
3h14m

só o silêncio,
a madrugada e a minha fé em Deus...

Joaquim Luís Mendes Gomes


quarta-feira, 22 de abril de 2015

calendário...

calendário...

infatigável,
nunca adormeceu
este caminhante em marcha.

vem desde os primórdios,
mesma passada certa,
com a da humanidade.

ó que livro grosso,
bem encadernado,
infinitas folhas,
cada uma diferente,
a descrever a história,
até ao dia de hoje,
de todo o universo.

uma parte cheia,
já se pode ler.
a outra ainda parece em branco.

é o futuro infinito
que a vai escrever...

nascendo o dia

Mafra, 23 de Abril de 2015
6h29m
Joaquim Luís Mendes Gomes

meu terreiro...

meu terreiro...
é de barro vermelho o meu terreiro.
sempre limpinho,
como um guarda-sol.
o varro com um canho
de giestas,
secas ao vento
e ao sol.
o asperjo de todos os males,
os maus-olhados
e dos peles-vermelhas,
entranhados na aldeia.
vieram de longe.
tudo lhes serve,
ninguém está livre,
nada respeitam.
me sento num banco,
debaixo duma árvore.
largo dossel.
ali passo as tardes,
olhando as nuvens
dançando ao vento.
regalo meus olhos,
mirando as serras,
muralhas de terra,
tingida de verde
e cinzento,
sulcadas de regos,
que a chuva deixou...
ouvindo "moon light" sonata de Beethoven
ao cair da tarde soalheira
Mafra, 22 de Abril de 2015
17h54m
Joaquim Luís Mendes Gomes

c'os diabos...

c'os diabos...

cada vez mais as coisas fáceis
se enssarilham,
fazem nós,
ninguém desenlaça.

é na coisa pública.
é na privada.
é na íntima...

o que agora vale,
foi invectivado.
fonte de mal...
que o Senhor me livre!...

nunca esperei
ser espoliado
pelo próprio Estado.
fruto da Lei...

vê-se aflito?...

vai ter com os pobres
que ninguém defende.

os aposentados...
que descontaram,
para terem sossego
quando da velhice...

Ó que pulhice!...
é só cortar...
enquanto botar...

reino dos crápulas...

Mafra, 22 de Abril de 2015
13h02m
Joaquim Luís Mendes Gomes

o cerco do relógio...

o cerco do relógio...

enquanto lhe dura a corda,
aperta e aperta,
bravo e inclemente,
segundo a segundo,
nos rouba a vida e o sangue.

terrível invenção.
melhor nunca tivesse sido inventado.

conta-nos a vida.
implacável.
certo e cortante.
tanto lhe faz.

a dormir ou sonhar.
ao pobre e ao rico.
ao rei ou ao escravo.

fera feroz.
indomável.
só a eternidade o pára
de deixar de contar...

Mafra, 22 de Abril de 2015
9h50m
Joaquim Luís Mendes Gomes

todo o tempo...

todo o tempo do mundo...

não tenho todo o tempo.
só o que resta desta caminhada cansada,
onde venho há muito.

trago em mim,
traços de luz e rasgos de sonhos
por lançar sobre o mundo.

quero jorrar, fonte sem fim.
canar desenfreado
as glórias da vida.
e chorar as lágrimas
de quem não pode chorar.

erguer minhas mãos,
até onde meus braços chegarem.

serei sempre dos primeiros,
onde houver quem precise.
um alento na alma.
um sorriso brilhante.
que os faça sorrir.

venham daí comigo
com o mesmo sentir.
deixemos carpir.

passemos a actos
o que vai no fundo de nós.
enquanto o coração nos bater...

ouvindo Wagner, "cavalgada das Valquírias"...

amanheceu luminoso

Mafra, 22 de Abril de 2015
7h59m
Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 21 de abril de 2015

ardem os olhos...

ardem-me os olhos...

de água salina.
fervem as mãos
queimadas do sol.

arfa meu peito.
arca doirada,
com um tesouro escondido.

corro veloz
e à toa,
alheio ao perigo.
pelo meio da estrada.

há um amigo,
antigo,
lá longe,
que espera e que chora.
precisa de mim...

Mafra, 21 de Abril de 2015
21h35m
Joaquim Luís Mendes Gomes

riqueza das palavras...

a riqueza das palavras...

não são uma soma de letras mortas
ou adormecidas.

têm alma.
irradiam calor e vida.

tanto aquecem como brasas.
e refrescam as ideias
mais escaldantes.

se atraem umas às outras,
segundo leis ocultas
e imperceptíveis.

têm cor e exalam perfumes.
como se fossem madre-silvas.

são sonoras,
às vezes agrestes,
têm  o encanto inebriante das sereias sedutoras.

têm peso
e calam fundo,
quanto mais leves.

pintam quadros
e contam histórias.
e, tão ciosas,
incorruptíveis,
guardam os segredos
mais profundos.

são geométricas.
rigorosas.
se encaixam
em perfeitas simetrias.

vestem tons,
de variadas cores,
em harmonia.
mais claros
mais escuros.

pintam a beleza infinita
em quadros belos.

sempre prontas.
tão afinadas,
emocionam.
fazem rir e fazem chorar,
como, no palco,
as melhores actrizes.

como ficaria pobre
a humanidade,
um dia só,
sem a riqueza das palavras!...

Mafra, 21 de Abril de 2015
19h45m
Joaquim Luís Mendes Gomes


graças a Deus...

graças a Deus...
por este dia de sol a nascer.
pela Mãe e pelo Pai
que me destes
e tão cedo levastes,
mas me amam no céu...

pela vida vivida até hoje,
com altos e baixos,
iluminados por Vós.
umas vezes perdido.
mas sempre amado.
boas surpresas,
mais que as más.
uma chama de esperança
me arde na alma
e me puxa adiante.
a brisa do mar
afagando meu corpo,
cansado e sedento.
nunca falte
um pedaço de pão,
na hora da fome.
o calor dum abraço
quando a tristeza vier.
que eu esteja presente,
onde deva estar...
alisando caminhos.
estendendo meus braços
a quem precisar.
sentir-me feliz.
o peito a arder.
deitar-me no leito,
com a bênção divina,
quando a noite cair...
ouvindo "my way"...Frank Sinatra
O sol a subir
Mafra, 21 de Abril de 2015
8h00m
Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 20 de abril de 2015

terra dos preconceitos...

terra dos preconceitos...
não havia pior
que aquela aldeia,
na encosta da margem,
dum rio sem nome,
afluente do Douro.
para lá do Pinhão.
quem lá mandava
era o abade.
figura jazente,
bravia e solene.
esquecida do bispo,
em Lamego.
na hora da missa,
a igreja se enchia.
ao último toque de sino.
primeiro, as crianças.
homens à frente.
cabeças, sem nada.
a seguir as mulheres.
de vestes compridas,
cobertas dum lenço,
ou dum véu.
só se lhes via o rosto.
para não pecarem
nem fazerem pecar.
ninguém tossicava.
bébé que chorasse
era posto lá fora.
ai do menino
ou rapaz
que esboçasse um sorriso.
só se ria uma vez.
havia alguém.
o tomava pelo braço
e o fazia sair...
Mafra, 20 de Abril de 2015
Joaquim Luís Mendes Gomes

esperar...

estou farto de esperar.
pela Primavera em viagem de núpcias.
que nos traga flores
e perfume...
desinfecte este ar de chumbo,
pesado e escuro..
nos faça desabotoar a camisa
e nos lance ao vento,
em liberdade.
prepare o caminho do verão.
quente e brando.
que nos permita mergulhar
nas ondas frescas,
sem soçobrar.
e depois venham as colheitas
de muita fruta.
e vinho.
e que haja festa
pelas noites dentro.
urge viver
o que ainda falta.
em plenitude.
basta de chuva e vento
e melancolia.
Mafra, 20 de Abril de 2015
13h13m
Joaquim Luís Mendes Gomes

domingo, 19 de abril de 2015

das águas revoltas...

das águas revoltas...
caída das chuvas,
saída oculta do ventre da terra,
se espraia ou escorre
em meadas de fios,
ribeiros e rios,
por encostas e vales.

carregam no seio
o barro e as pedras.
com que tecem açudes e praias.
semeiam nas margens
as ramagens caídas,
como se fossem lixeiras.
transportam sementes de vida
que germina nos campos.
rompem os diques,
alagando as terras lavradas
ou secas.
alimentam os pobres
e confundem a preguiça dos ricos
em presas.
algemam as noras
às regas do milho.
prendem moleiros
às mós dos moinhos.
enchem os poços
e matam a sede,
de graça ou a pagas.
é este o fadário
das águas revoltas...
Mafra, 20 de Abril de 2015
7h13m
Joaquim Luís Mendes Gomes

o cartuchinho de café de Fafe...

o cartuchinho de café...

vinha de Fafe, às quartas feiras.
que cheirinho bom
ele deitava.

num saquinho de papel,
listado,
um tanto espesso,
fechado a dobras sucessivas
até às orelhas,

soltava um aroma asiático
quando se abria,
de estontear.

depois, era a cafeteira ao fogo,
em folha flandres,
até ferver.
quatro colheres de sopa.
tudo bem mexido.

a seguir o saco de pano,
a fazer de filtro.

e o café negro
saía em bica,
para a cantarinha de vidro
ou barro...
e daí para a xícara.

ó que regalo!
às quartas feiras,
dia de feira.

Quem o trazia
era o senhor Zé das cabras...

Mafra, 19 de Abril de 2015
19h14m
Joaquim Luís Mendes Gomes






duzentos camaradas de camaradas...

duzentos camaradas de camaradas...

batalhão desfardado.
sem armas nas mãos,
na praça das armas.

pequenino universo,
com o feio e  o belo,
numa mistura presente,
tirada ao acaso.

onde haja dois homens,
são três as diferenças.
o claro e o escuro,
por vezes brilhantes.

mundos ocultos,
carregados de medo,
debaixo dos olhos
que julgava defuntos
com medo das sombras.

rodas e círculos,
com portas fechadas,
simulando abertas.

navios sombrios
e naus catrinetas...

a propósito dum grande reencontro

Mafra, 19 de Abril de 2015
10h45m

Joaquim Luís Mendes Gomes



nunca serei o primeiro...

nunca serei o primeiro...

Quero correr.
Ir pelo mundo.
subir e descer.
sem hora ou destino.
dormir onde calhar.
alumiado de fé.

andar desarmado.
vestes ao vento.
sem bandeira nem arma.
não pertencendo a grupos.

livre de ser.
rir e chorar.
com fortes e fracos.

dar e colher.
o melhor que houver.


beijar quem puder.
e me queira beijar.

se um dia faltar.
que sintam saudades
de quem um dia passou...
e um dia virá!...

ouvindo a música do "Êxodo"...

Mafra, 19 de Abril de 2015
7h44m
Joaquim Luís Mendes Gomes

sexta-feira, 17 de abril de 2015

renovar...é preciso...

Renovar…é preciso…

Tudo é perecível.
O novo começa brilhante.
Com o tempo, vai desbotando a cor.
As peças, enferrujando,
Uma a uma,
Mal respondem.

O tempo urge.
A paciência esgota.

Para quê o remendo?

Em vez do sótão,
Aquela sucata…

Reciclagem é o que se impõe.

Renovar. Melhorar.
Se for possível.
O sabor a novo
Faz-nos felizes.
Só nos faz bem.

Fomenta o trabalho,
Estimula a iniciativa
Do querer servir
Para bem vender.
E contribui para o bem geral.

Renovar…até a mente…
É o preciso!

Ouvindo Mendelssohn

Mafra, 18 de Abril de 2015
4h10m
Joaquim Luís Mendes Gomes





jantar em família...

Jantar em família...
Acabo de jantar com meus dois filhos varões. O Paulo e o Luís Daniel.
O primeiro é sacerdote. O segundo um cientista e filósofo, no verdadeiro sentido da palavra.
Este veio de Berlim, para passar uns dias com o irmão ais velho uns doze anos.
Andaram a vsguear por terras do Alentejo à beira-mar e Algarvedurante toda a semana.
Tínhamos combinado um almoço na Trafaria.
Encontro às doze horas. Esperei até à uma e meia e eles sem aparecerem.
Incomunicáveis por minha culpa. Deixara o telemóvel em casa.
Avancei com o meu almoço. Uns filetes deliciosos de linguado com arroz de tomate. Queria voltar a casa para saber que tinha sucedido.
Já pressuponha. Uma avaria no carro velho. Quase gripou o motor. Em pleno Alentejo solitário.
Accionou o seguro. O carro foi rebocado. A companhia deu-lhes um carro para se deslocarem até casa.
Tiveram cá uma sorte. Um bruto Ford...Muito confortável e potente.
Apareceram-me aqui em casa pelas 18h e 30m para jantarmos.
Fomos a um restaurante da Ericeira, essencialmente virado para os mariscos.
Encheu de gente!...
Nós, como bons nortenhos, fomos para a carne...com espanto do empregado.
Foi uma alegria inesquecível. O pai com dois filhos, homens, como três irmãos.
Uma risada constante. Por tudo e por nada.Rememorando o passado. Cada um no seu mundo.
Ambos com o futuro para lavrar e semear. E eu usufruindo deste outono colorido de poesia.
No final, vieram os cafés e um balão de CRF...divinal.
Estávamos os três alegres.
O Paulo viu-se grego para retirar o carro. Tinha outro posicionado onde nunca deveria estar...à boa moda portuguesa. Suo...Mas conseguiu.
Pelo caminho, já escuro, iluminado pelos faróis, ao longe, qualquer coisa ressaltava na estrada escura.
- olha está ali um cão, no meio da estrada!...
Demos uma risada.
Era um destes pinos, que se põem a marcar as oubras ou carros parados...
- Tu não vais a conduzir nesse estado para Lisboa!.
O Luís sentia.se na mesma.
Ides ficar comigo em Mafra!---
Claro que não ficaram...
Espero que tenham chegado bem...

quinta-feira, 16 de abril de 2015

os fracassos...

os fracassos...
são aparentes todos os fracassos,
por mais negros.
em qualquer momento da nossa caminhada.
enquanto há o pulsar da vida.
com esperança,
qual fénix, tudo renasce
e fica verde.
quantas vezes, com o passar dos anos,
se constata,
olhando atrás,
que, afinal,
o que aconteceu
foi muito melhor para nós...
não estaria a disfrutar, agora,
da plenitude que me inunda a alma...
ouvindo concerto de aranguês por Paco de Lucia
Mafra, 17 de Abril de 2015
7h35m
Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 15 de abril de 2015

moda dos pára-quedas...

A moda dos pára-quedas…

Subi a um desfiladeiro muito íngreme,
E abri as asas do meu pára-quedas.

Atirei-me à sorte para o abismo à minha frente.

Minha vida já estava suspensa.
Ficou só presa por um fio.

Leve e sublime,
Vagueei, rodopiei,
Como um condor,
Dominando inatacável e indiferente
Os desacatos mesquinhos
Da superfície da crosta terrestre,
Lá bem no fundo.

Desapareceram as pedras e os pedregulhos.
Que atolam a humanidade.
Só via um rio manso,
Tão calado,
Riscando o chão,
Como uma serpente
Ao sol.

Uma lufada vibrante
Pegou em mim,
Levou-me ao céu,
Ao pé dos anjos,
Na sua hora de recreio.

Juntei-me a eles…
Ficaram espantados
Como lá cheguei
Com aquele aparato leve de pano.
Às cores…

Até Deus mirou!..
.
Que grande festa!

Assim pegou nos céus,
A moda dos pára-quedas!...

Ouvindo Sibéllius

Mafra, 16 de Abril de 2015
5h34m
Joaquim Luís Mendes Gomes

lógica impura...

A derrota da lógica…

Não nascemos para perder.
Saímos nus e sem saber
Das entranhas da nossa mãe,
Cheios de fome de viver.
E de crescer.
E de alcançar.
Quanto mais melhor.
Com o direito de receber.
Sem nada dar.
Queremos reinar.
Como um senhor.

Queremos brilhar.
Aos olhos de todo o mundo.
Que nos admirem.

Ninguém sonhe
Em nos ofuscar.

E sentimos claro
Que só assim é que faz sentido…

É a nossa lógica.

Um pequenino lapso.

Além de nós,
Há muitos mais
Que são iguais!...

Mafra, 15 de Abril de 2015
21h44m
Joaquim Luís Mendes Gomes


esqueci-me do medo...

Esqueci-me do medo…

Parti cedo para a audácia da vida.
Cedo deixei a calma e sossego da terra onde nasci.

Fascinado pelo horizonte do nascente e do sul.

Com uma mala só e em cartão.
Deixei o dia a raiar
E fui ver o pôr-do-sol ao pé da foz.

Onde o porto acaba e começa o mar.

Barcos rabelos de crista ao vento.
Descendo o rio.

Barris de vinho,
Com sabor a douro.

Um formigueiro de gente,
A enxamear a baixa.
Colmeia carregada de mel,
Com sabor a mosto.

Passei uma eternidade
Com revoadas de incenso Irrompendo pelas frestas negras
Da catedral
Ao cimo.
Claustros defuntos
Onde o sol nunca entrou.

Saí um  corcel, faminto da vida
E da liberdade.
Daquele túnel sem fim,
Com pedaços de mim
Por onde nunca mais passarei…

Mafra, 15 de Abril de 2015
15h15m
Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 14 de abril de 2015

tudo...ou nada...

Tudo…ou nada…

Não sou do tudo ou nada.
Cada dia é diferente.
Uns nascem fulgurantes
Outros cinzentos, pardos
Quase noites.

E, de repente, inesperados,
Murcham os primeiros
E os segundos, quase em fogo,
Se acendem.

Cada hora a sua história
E sua guerra.
Depois a paz.
Umas vezes mais
E outras assim-assim…

O que importa é navegar,
Flutuando
E chegar ao fim.


Clareando o dia em tons cinzentos


Mafra, 15 de Abril de 2015
6h52m
Joaquim Luís Mendes Gomes

desesperado...não vencido

Desesperado…e não vencido

Como pintor desesperado,
Perante uma tela branca,
Cheio de cores na cabeça,
Sem saber onde as pôr,
Se retorce e olha,
furibundo,
Em seu redor,
À procura dum caminho
Que não encontra…

Assim me vejo,
Diante desta tela, muda e queda,
Cada tecla sua letra,
Minha ideia,
Qual abelha,
Em tentativas,
Batendo cega,
Contra o vidro…

Quase esvaio…
Mas não desisto.

Fico à espera.
Talvez ela venha,
Com o orvalho do amanhecer…

Ouvindo Dulce Pontes

Mafra, 14 de Abril de 2015
20h30m
Joaquim Luís Mendes Gomes


segunda-feira, 13 de abril de 2015

disfarces...

disfarces...
por mais que oculte
ou disfarce,
minhas moléculas gravitam
nas órbitas, tais-quais,
naturais.

trazem as marcas profundas da forja.
minha alma é um sopro
do Ser.
as alimenta perenes,
enquanto habita
meu corpo.
a mim, só cabe escolher
entre ser ou não ser.
onde ponho os pés,
no tapete do tempo
onde marcho.
no caminho com termo
que quero atingir,
o melhor que puder.
vou num cortejo com pares
que se vestem iguais.
interagem comigo.
dão-me o que careço
pelo bem que lhes dou.
umas vezes, melhor
outras somenos.
por vezes, há lutas.
disputas.
cobiças do mesmo.
umas vezes, é a verdade que impera.
outras, fingindo ser o que queremos.
cobrimos nossa nudês,
com vestes,
às cores e vários feitios.
pomos disfarces,
suavizando as sombras,
mas derramamos amor,
com sorrisos e beijos,
enlaces fatais...
suave amanhecer, ouvindo o melro a cantar na tapada de
Mafra, 14 de Abril de 2015
7h20m
Joaquim Luís Mendes Gomes

não tenho medo de nada...

Não tenho medo de nada…
Não tenho medo do silêncio eterno
Nem sequer da escuridão absoluta.
Não tenho medo da luz do sol
que me ofusca e fere os olhos.
Nem do vendaval feroz
Que, num rompante,
Tudo arrasa
E leva à sua frente.
Nem do incêndio fogoso
Irrompendo das cinzas
E rapa cruel, 
Todas as encostas verdes 
Cobrindo-as depois,
Com triste e soturna manta negra.
Nem da guerra fulminante
Que demole tudo
E, depois, me deixa em paz.
Duma coisa só eu sinto medo:
Se, um dia,
Eu não conseguir morrer de bem
Com a minha consciência…
Mafra, 13 de Abril de 2015
17h34m
Joaquim Luís Mendes Gomes

domingo, 12 de abril de 2015

linguagem dos corpos com alma...

linguagem dos corpos com alma...

por beijos e abraços
falam os corpos com alma,
se entendem e comunicam,
na linguagem dos deuses.

irradiam calor.
aquecem e iluminam
o espaço gelado e sombrio
da vida.

acertam e indicam
os passos,
nesta caminhada sem fim,
onde parar é sofrer,
de tédio, de mágoa e cansaço,
as agruras dos dias.

palavras alegres
dos rostos e corpos
expressando os poemas
da alma divina.

clarões de luz
iluminando os dias sombrios
e as noites mais escuras.

laços que apertam e selam
os desejos, promessas ocultas,
secretas, profundas,
sanam ausências
e dão todo o sentido
à vida...

ouvindo Mussorgsky

Mafra, 13 de Abril de 2015
6h7m
Joaquim Luís Mendes Gomes

como um feixe de luz...

como um feixe de luz...

sinto uma vontade louca de escrever,
como se fosse o parto ansiado do primeiro poema.

tudo é incógnito.
o tema e a cor.
seu rosto e a voz.

baila perto de mim
uma mensagem.
pressinto-a ao pé,
rodando.
tentando entrar
e voltar a sair,
moldada por mim,
num serviço inefável,
oblação e prazer...

um raio de sol,
um feixe de luz,
vindo d'Alguém,
um beijo presente,
presença de amor...

Mafra, 12 de Abril de 2015
20h41m

ouvindo Pachelbel in D maior

Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado, 11 de abril de 2015

regresso a casa...



Regresso ao lar…

Regressei a casa.
Ricos e muito intensos estes poucos dias.
Que revivi.
Mergulhado no meu mundo natal.

Retomando horas e histórias paradas.

Tais quais ficaram,
Há léguas de anos bem lá atrás.

E horas presentes,
Cheias de paz e alegria.
Entre abraços,
Muitos sorrisos quentes.
Que vêm da alma.
Foi um encanto…

Mafra, 12 de Abril de 2015
6h37m
Joaquim Luís Mendes Gomes

sexta-feira, 10 de abril de 2015

alto Minho...

alto Minho...

subi às terras altas do alto Minho.
cada vez mais verdes.
cheias de rochas e de castelos.
igrejas brancas
e campanários.

onde o vinho cresce enforcado por estas gentes pacatas
e derrama a sua bênção
lá por volta do mês de Agosto.

e uma manta alta de pinheiros bravios
se estende abundante
por essas encostas serranas.

e há rios caudalosos,
minho, lima, cávado e ave,
descendo em correrias,
lá das montanhas
serpenteando campos
e vinhedos,
em busca do mar.

onde havia mulheres tão atentas e corajosas,
como a Maria da Fonte,
fazendo frente
e pondo na ordem
os desacatos loucos
desses políticos.

onde vive um povo alegre
e trabalhador,
que enxameia de festas e romarias,
a temporada fértil
do Estio e do Outono...

onde Portugal se enlaça a Espanha,
pelo norte e pelo leste.

Póvoa de Lanhoso, na casa do meu irmão, 11 de Abril de 2015
4h36m

ouvindo "nocturnos" de Chopin

Joaquim Luís Mendes Gomes


quinta-feira, 9 de abril de 2015

chuva na madrugada...

chuva na madrugada...

tomba forte sobre o telhado,
uma torrente de água.
tudo lava.
tanto pólen anda no ar.
e na terra arada,
as sementes lançadas
querem sair.
feitas em caules.
para crescerem,
darem fruto,
encherem de pão,
sorrindo ao sol.

é a natureza fiel
a cumprir o seu dever
para com a humanidade.
milagre da vida,
sempre presente...

que bom assistir,
com todo o conforto,
no calor duma cama,
que a minha gente
aqui me emprestou,
tornando grata esta romagem...

Margaride, rua da Cabreira,
10 de Abril de 2015
5h 26

ouvindo concerto nº 2 de Rachmaninov

Joaquim Luís Mendes Gomes