segunda-feira, 31 de dezembro de 2018
Pressentimentos
Pressentimentos...
Escuros pressentimentos toldam como nuvem, os céus de Lisboa.
Desde aquela sinistra manhã de Novembro em que ela quase submergiu.
Com a mesma força sepultou os mortos e renasceu das cinzas, bela como ela é.
Leis da natureza que nos ultrapassam. Ninguém pode dizer não.
O que importa é saborear a vida.
Pés assentes na terra. Prosseguir nosso caminho.
Olhos no céu donde vem a luz.
Há razões que ultrapassam a mente humana.
Ninguém é rei...
Berlim, 1 de Janeiro de 2019
7h32m
Jlmg
domingo, 30 de dezembro de 2018
Leve e suave...
Leve e suave...
É leve e suave viver em Lisboa.
Se regalam os olhos de ver a claridade e o azul diáfano do céu amplo que a bafeja.
De sentir a frescura da brisa que vem do mar, Tejo acima.
Contemplar a imensidão majestática do nascer e do pôr do sol, na terra além e sobre o mar.
Admirar a eternidade da Via Láctea com tantas estrelas e constelações e indagar para que servem e quem as criou.
Saborear a fraternidade real da vizinhança apesar das pequenas questiúnculas. Inevitáveis.
Acompanhar o pulsar das gentes que vão e voltam, fascinados pelo seu irresistível talismã.
Uma das cidades belas, no extremo milenar dum continente que estacou ao pé do mar.
Berlim, 31 de Dezembro de 2018
6h28m
Jlmg
77 Dezembros
77 Dezembros...
77 Dezembros encavalitados nas minhas costas.
Carregados todos de vento, chuva, frio e trovoada.
Alguns com neve, granizo ou enxurrada.
Me gelaram e obrigaram às algemas duma lareira.
Túneis negros de silêncio e escuridão.
Caves fecundas da vontade de viver.
Paióis serenos carregadores de energia.
Mas também foram 77 Natais com prendas e a alegria duma família que foi crescendo...
Berlim, 31 de Dezembro de 2018
7h1m
Jlmg
77 Dezembros encavalitados nas minhas costas.
Carregados todos de vento, chuva, frio e trovoada.
Alguns com neve, granizo ou enxurrada.
Me gelaram e obrigaram às algemas duma lareira.
Túneis negros de silêncio e escuridão.
Caves fecundas da vontade de viver.
Paióis serenos carregadores de energia.
Mas também foram 77 Natais com prendas e a alegria duma família que foi crescendo...
Berlim, 31 de Dezembro de 2018
7h1m
Jlmg
Sofrimento
Sofrimento
Um adamastor.
Vive preso na caverna.
De vez em quando sai, ataca e causa dor.
É negro. Não tem formas.
Se entranha em nós.
Nos arranha e prende.
Martiriza.
Como um verme,
Corrói nossa alegria.
É ladrão.
Nos rouba a vontade de viver.
Custa caro.
Se sobrepõe a tudo.
Não se olha a preço.
Só vai ao cura
Quem nele crê.
Vai-se ao médico.
Uma mèzinha.
Até ao bruxo.
Uma reza e fumos.
Estiola a vida.
É quase a morte.
Um pesadelo.
Custa acordar...
Berlim, 30 de Dezembro de 2018
10h4m
Jlmg
sábado, 29 de dezembro de 2018
Desespero das flores...
Desespero das flores
Vêem-se espelhadas
nas estrelas do céu,
luzindo de noite.
Acordadas de dia.
Pintadas de cores.
Fenecem paradas.
Presas às hastes.
Baloiçam ao vento.
Sua vontade é voar.
Regalam os olhos
De quem vai a passar.
Sabem a mel,
Não podem beijar.
Vegetam caladas.
Ouvem zumbidos,
Soletrando cantigas.
Não sabem cantar.
Recebam visitas.
Expostas ao sol.
Exalam perfumes.
Não podem cheirar.
Lamentam a sorte
Que a beleza lhes deu.
Afinal para quê?
Não podem amar...
Berlim, 30 de Dezembro de 2018
8h10m
Jlmg
Ao entardecer...
Ao entardecer...
Ao entardecer, pela tardinha,
arribam no Tejo as naus e caravelas.
Bandos de gaivotas rodopiam à volta delas,
debicando os peixes, seu pão de cada dia.
Caem das torres de Lisboa sonoras as trindades,
É a hora das gentes regressarem a seus lares,
Para o descanso do labor.
Uma chuva de bênçãos celestiais cai dos céus, inundando as casas e corações.
Sobem preces, pelo caminho, no segredo de cada ser ao Divino, sua razão de ser.
E, nos olhos marejados, brilha a esperança fortaleza.
O motor de seu viver.
Aquela hora em que a paz vem e serena as almas atormentadas.
Ouvindo Amália Amália Rodrigues - Gaivota (1970)
https://www.youtube.com/watch?v=TP4BnfUm0eI&index=3&list=RDMMsYSYPBAKiQQ
Berlim, 30 de Dezembro de 2018
6h20m
JLmg
sexta-feira, 28 de dezembro de 2018
Tronco de hera
Tronco de hera
Esquálido. Raquítico, trepa o tronco de hera e se espalha na parede.
Sossobrou a sede.
Se agarrou à pedra e esperou a primavera.
Depressa reverdeceu. Tudo cobriu de verde.
Vieram pardais. Teceram ninhos.
E uma chilreada perene encheu de cores aquele espaço.
Soprou o vento. Suas folhas se baloiçaram alegres.
Bendizendo a sorte da fortaleza daquele tronco que parecia morto mas resistiu e vive.
Um sinal de esperança para os olhos de quem a perdeu na vida.
A vida é fogo.
Basta um sopro e logo acende...
Berlim, 29 de Dezembro de 2018
7h30m
Jlmg
O regaço de Lisboa
O regaço de Lisboa
É doce e terno o regaço de Lisboa.
Nele sossegam e sossegaram gerações.
Seu carinho e desvelo é infinito.
Dá para sonhar.
Na paz e serenidade duma mãe.
É divino seu aconchego.
Prende a si os lisboetas.
Os defende e protege nas aflições.
Tem a força inesgotável da natureza.
Não discrimina.
Cuida todos por igual.
Cuida bem dos seus bens.
Repara e consola a dor
quando vem a hora de sofrer.
Abrem-se alegres, seus braços longos,
na hora do regresso dum filho que partiu.
Entoa loas a Deus enquanto dormem os seus filhos.
Afugentando os males e clamando a divina proteção.
Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 29 de Dezembro de 2018
6h18m
Jlmg
Tédio
Tédio
Quando o tédio me ronda a mente,
subo ao monte e busco um poema.
Risonho aparece ao longe.
Vem sorrindo como um amigo que já não via há muito.
Nos abraçamos. Saudosos.
Fervem nossos corações.
Novidades. Dum ao outro.
São tantas as novidades.
Tantas primaveras floridas.
Verões de fogo ao pé do mar.
Que a distância nos tirou à gente.
Aquelas tardes calmas do recolher.
As estrelas que se acendiam diante de nossos olhos na aldeia que nos viu nascer.
Que nos queriam dizer as constelações de estrelas ordenadas,
segundo uma linha de pensamento que alguém escreveu?
Os mistérios que sombreavam nossa mente sobre o mistério do viver.
Aquelas conversas enlevadas que se prolongavam pelas madrugadas.
O encanto das amizades da vizinhança.
Um sabor que, de só o lembrar, nos adoça e extingue o tédio que nos assoma de vez em quando...
Berlim, 28 de Dezembro de 2018
17h46m
Jlmg
quinta-feira, 27 de dezembro de 2018
Variações dos tempos
Variações dos tempos
Vi Lisboa engalanada de princesa,
Debruçada sobre o Tejo.
Vi Lisboa entronada de rainha,
Saudando o seu povo.
Trigueira apaixonada que a história consagrou.
Coroada dum castelo rejeitou os mouros pretendentes.
Alastrou o seu reino até onde deram suas forças.
Consagrou-se, para sempre, a urbe capital.
Não tem fim o seu reinado.
Seu príncipe é Portugal.
Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 28 de Dezembro de 2018
6h49m
Jlmg
Sementeira
Sementeira
É verde a sementeira depois de despontar.
Traz a esperança na algibeira e a fé no coração.
Se multiplica em frutos bons.
Sacia a fome e dá o pão.
Traz a esperança na algibeira e a fé no coração.
Se multiplica em frutos bons.
Sacia a fome e dá o pão.
Cumpre a lei,
Na sombra da terra oculta.
Desperta à hora.
Cresce ao sol.
Na sombra da terra oculta.
Desperta à hora.
Cresce ao sol.
A ninguém escolhe.
Nem ela sabe,
Sua arte é dar.
Sem olhar a quem.
Nem ela sabe,
Sua arte é dar.
Sem olhar a quem.
Não tem pai nem mãe.
Tem tudo em si.
Sua sorte é o sol e a chuva.
Sem eles não…
Tem tudo em si.
Sua sorte é o sol e a chuva.
Sem eles não…
Ouvindo A sinfonia “Novo mundo” de Dworak
Berlim, 27 de Dezembro de 2018
7h59m
Jlmg
Berlim, 27 de Dezembro de 2018
7h59m
Jlmg
terça-feira, 25 de dezembro de 2018
Prenda de Natal
Prenda de Natal
Nunca imaginei receber prenda tão linda
Na noite de Natal.
Na noite de Natal.
Ouvi esta melodia tocada pelo meu neto David.
Ensaiou-a durante um ano para a oferecer assim, aos avós.
Ensaiou-a durante um ano para a oferecer assim, aos avós.
Aquele sonho de ter um neto a tocar piano ficou cumprido.
Não demorou muito.
Tocou-a desenvoltamente.
Não demorou muito.
Tocou-a desenvoltamente.
Só lhe falta o fogo da paixão.
Então sim. Teremos um pianista em muitos Natais...
Então sim. Teremos um pianista em muitos Natais...
Berlim, 25 de Dezembro de 2018
17h50m
Ouvindo a melodia de "Amelie"
Jlmg
17h50m
Ouvindo a melodia de "Amelie"
Jlmg
domingo, 23 de dezembro de 2018
Fantasias
Fantasias
Nosso refúgio é o reino das fantasias.
Onde buscamos o que não temos e criamos o que não nos é preciso.
À margem da nossa vida real nos surgem no horizonte alucinações e ilusões.
Nos seduzem. Atraem nossa vontade e imaginação com promessas de realidade.
Tudo se desvanece ao raiar da aurora.
Basta a claridade do sol e tudo se vai.
Sua fonte é nossa ambição. Nossa vontade de querer mais.
O que temos é sempre pouco.
A felicidade está na contenção.
Pouco e bom é o segredo...
Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 24 de Dezembro de 2018
7h21m
Jlmg
Nosso refúgio é o reino das fantasias.
Onde buscamos o que não temos e criamos o que não nos é preciso.
À margem da nossa vida real nos surgem no horizonte alucinações e ilusões.
Nos seduzem. Atraem nossa vontade e imaginação com promessas de realidade.
Tudo se desvanece ao raiar da aurora.
Basta a claridade do sol e tudo se vai.
Sua fonte é nossa ambição. Nossa vontade de querer mais.
O que temos é sempre pouco.
A felicidade está na contenção.
Pouco e bom é o segredo...
Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 24 de Dezembro de 2018
7h21m
Jlmg
sexta-feira, 21 de dezembro de 2018
Andorinhas de Lisboa
Andorinhas de Lisboa
Bandos de andorinhas poisadas nos beirais.
Vão e vêm ao sabor da melodia das estações.
Renovam o céu azul com seus gorjeios afinados.
Despertam a vontade de viver, apesar da dor.
Coros de trinados plainam pela encosta do Castelo, Alfama e Mouraria, adoçando o suor do dia a dia.
Batendo suas asas, descrevem linhas e solfejos, com a arte da harmonia.
E, pela tardinha, ao lusco-fusco, desafiando a velocidade dos humanos,
fazem voos rasantes, com a mestria dos aviões.
Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 22 de Dezembro de 2018
7h55m
Jlmg
Bandos de andorinhas poisadas nos beirais.
Vão e vêm ao sabor da melodia das estações.
Renovam o céu azul com seus gorjeios afinados.
Despertam a vontade de viver, apesar da dor.
Coros de trinados plainam pela encosta do Castelo, Alfama e Mouraria, adoçando o suor do dia a dia.
Batendo suas asas, descrevem linhas e solfejos, com a arte da harmonia.
E, pela tardinha, ao lusco-fusco, desafiando a velocidade dos humanos,
fazem voos rasantes, com a mestria dos aviões.
Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 22 de Dezembro de 2018
7h55m
Jlmg
Ventania e tempestade
Ventania e tempestade
Sopra a ventania sobre os telhados e as colinas da cidade.
Chove impiedosamente.
Parece o fim do mundo.
Não há guarda-chuva que resista.
As aves recolhidas nos seus ninhos,
Aguardam orando venha depressa, de novo, a calma.
Têm fome os seus filhotes.
O Tejo ruge em fúria, contra os cascos das embarcações, ameaçando-lhes a integridade.
De ambos os lados, se acumularam multidões de gente que quer voltar à sua vida de trabalho.
Inclemente, o vento uiva contra os mastros e postes da iluminação.
Raios fulgurantes de trovões rasgam o céu, amedrontando os mais arrojados e indiferentes.
Já há quem reze, em surdina, à santa Bárbara...
Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 9h23m
Jlmg
Sopra a ventania sobre os telhados e as colinas da cidade.
Chove impiedosamente.
Parece o fim do mundo.
Não há guarda-chuva que resista.
As aves recolhidas nos seus ninhos,
Aguardam orando venha depressa, de novo, a calma.
Têm fome os seus filhotes.
O Tejo ruge em fúria, contra os cascos das embarcações, ameaçando-lhes a integridade.
De ambos os lados, se acumularam multidões de gente que quer voltar à sua vida de trabalho.
Inclemente, o vento uiva contra os mastros e postes da iluminação.
Raios fulgurantes de trovões rasgam o céu, amedrontando os mais arrojados e indiferentes.
Já há quem reze, em surdina, à santa Bárbara...
Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 9h23m
Jlmg
quinta-feira, 20 de dezembro de 2018
Orbe terráqueo
Orbe terráquio
No mais fundo ermo do Universo,
gravita, desterrado na sua órbita, um planeta, erróneamente, chamado Terra.
É mais água benta que terra azul.
E, ao canto ocidental do continente Europa, vegeta à beira-mar, no silêncio ritmado das marés,
Um glorioso país de caravelas e catrinetas.
Povoa-o um rebanho de abúlicos patriotas.
Esquecidos das gestas inigualáveis que herdaram dos antepassados.
Perderam-se enredados de balelas democráticas.
Convencidos que eram uns sábios gabarolas.
Secou o garbo das façanhas doutras eras.
Reina só a regra lamacenta da hipocrisia.
Vegeta a corrupção por todo o lado.
Só um vendaval de milagres o poderá libertar para a eternidade...
Bar do Edeka, em Berlim, 20 de Dezembro de 2018
11h37m
Jlmg
quarta-feira, 19 de dezembro de 2018
História do Eu
História do Eu...
Semente furtiva, caída no chão, germinou em silêncio.
Na hora do sol, brotou com pujança, vencendo a morte,
uma haste com vida.
Arrostando o tempo,
caminha igual e sózinha,
somando noites e dias,
escrevendo a história,
só a si lhe pertence.
Consciente de si,
aprende e ensina.
Traduz e transmite
o que brota do Eu.
Escreve uma história,
ninguém mais a escreveu.
Bar do Edeka, em Berlim, 19 de Dezembro de 2018, 11h31m
JLMG
As gaivotas do Tejo
As gaivotas do Tejo
Vivem bandos de gaivotas sobre as margens do rio Tejo.
Não são hóspedes. Têm suas casas. Os seus filhos.
Prestam culto às belezas do seu rio.
Vivem dele. Como os homens vivem da terra que cultivam.
Não são hóspedes. Têm suas casas. Os seus filhos.
Prestam culto às belezas do seu rio.
Vivem dele. Como os homens vivem da terra que cultivam.
Aqui vivem suas tristezas e alegrias.
Nele deixam seus restos depois da vida.
Nele deixam seus restos depois da vida.
De vez em quando descem o rio e vão até ao mar.
Mas regressam ainda com mais paixão.
Por nada deste mundo, trocam as margens doces de Lisboa.
Mas regressam ainda com mais paixão.
Por nada deste mundo, trocam as margens doces de Lisboa.
Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 19 de Dezembro de 2018
8h27m
Jlmg
Berlim, 19 de Dezembro de 2018
8h27m
Jlmg
Quando o talento fala...
Quando o talento fala…
Para sempre se cale a pesada normalidade ao ouvir uma poderosa orquestra afinada, pela ágil batuta dum maestro.
Fiquem parados a contemplar a maviosa graça duma bailarina quando descreve no ring, sublimes traços de beleza infinda.
Que dizer daqueles dedos esfomeados, a correrem sobre o teclado inerte dum piano, retirando poderosas ondas de tons em fúria.
E da força brilhante da voz humana quando entoa ardente uma ária de ópera.
Cessem mudas todas as bocas, se rendam loas, quando brota duma mente a arder, vinda do nada, a sequência inefável dum bom poema…
Berlim, 19 de Dezembro de 2018
9h37m
Jlmg
9h37m
Jlmg
segunda-feira, 17 de dezembro de 2018
As floristas do Chiado
As floristas do Chiado
Frescalhonas, um açafate de flores frescas,
apareciam, manhãzinha, bandos de floristas, pela rua do Chiado.
As pessoas sorumbáticas, a caminho do trabalho, remoçavam o seu ânimo
e lá compravam um raminho perfumado.
Entre sorrisos e bons dias,
uma atmosfera sã, de alegria,
banhava Lisboa ensonada.
Dos botequins recheados saíam os jornais com as últimas pelo mundo.
Não havia telemóveis. Eram o alimento do imaginário.
E os cafés, exalavam baforadas de perfumes do café mágico, afro-americano.
Bastava uma meia hora. Outra gente, com ares de fidalguia, descia dos eléctricos e autocarros, para a cidade,
a satisfazerem os seus desejos, com as comprinhas da vaidade.
Era assim a festa alegre de cada dia quando a paz e a verdade eram rainhas.
Berlim, 18 de Dezembro de 2018
7h58m
Jlmg
Frescalhonas, um açafate de flores frescas,
apareciam, manhãzinha, bandos de floristas, pela rua do Chiado.
As pessoas sorumbáticas, a caminho do trabalho, remoçavam o seu ânimo
e lá compravam um raminho perfumado.
Entre sorrisos e bons dias,
uma atmosfera sã, de alegria,
banhava Lisboa ensonada.
Dos botequins recheados saíam os jornais com as últimas pelo mundo.
Não havia telemóveis. Eram o alimento do imaginário.
E os cafés, exalavam baforadas de perfumes do café mágico, afro-americano.
Bastava uma meia hora. Outra gente, com ares de fidalguia, descia dos eléctricos e autocarros, para a cidade,
a satisfazerem os seus desejos, com as comprinhas da vaidade.
Era assim a festa alegre de cada dia quando a paz e a verdade eram rainhas.
Berlim, 18 de Dezembro de 2018
7h58m
Jlmg
Adro de areia
Adro de areia
Uma ermida de pedra,
com adro de areia, na borda do mar,
Nasce e morre ao tom das marés.
Lá mora o Senhor, realeza do mar.
Recebe quem vem, de barco ou a pé.
Serve o que tem e não cobra vintém.
Chora e ri conforme o que vê.
Por vezes, se zanga com quem promete e não vem.
Habituei-me a vê-lO, quando vou de comboio.
Digo-Lhe adeus, até outra vez.
É o Senhor em cima da pedra,
às vezes, adro de areia, no meio do mar...
Berlim, 17 de Dezembro de 2018
13h12m
Jlmg
Árvores nuas
Árvores nuas
Fazem dó as árvores nuas.
Tanto frio.
Foi a natureza que as pôs assim.
Silenciosas, parecem mortas.
Corre-lhes dentro a seiva viva
Que as mantém acesas.
Tiram do chão o pão que comem.
Quando chegar a hora,
Hão-de vê-las verdes como ficam lindas.
Ó que rica sombra que arrebata os olhos...
Berlim, 17 de Dezembro de 2018
11h29m
Jlmg
domingo, 16 de dezembro de 2018
Canções de Lisboa
As canções de Lisboa
Dolentes são e sempre foram as canções de Lisboa.
Eivadas de tristeza e de saudade.
Tementes do futuro,
Voltadas para o passado.
Estão gravadas nas suas almas,
Brotam em ondas,
Fazem loas,
Oram rezas às divinas divindades.
Choram lágrimas.
Exalam perfumes.
Acalentam anseios.
São rios rubros as suas veias.
Não têm cura as suas dores.
O sofrimento, males de amor, é o seu fado...
Berlim, 17 de Dezembro de 2018
6h36m
Jlmg
Flor a flor...
Flor a flor…
Flor a flor, se vai compondo o ramo.
Nota a nota, vai crescendo a sinfonia.
Letra a letra, a ideia vai nascendo.
Palavra a palavra, a mente vai ditando.
O belo nasce traço a traço.
O dia-a-dia tece o tempo.
Pedra a pedra, se ergue o templo.
Com pequeninos nadas, se soma o tudo.
Com pequenos gestos, o amor se vai forjando.
De falha a falha, o esquecimento vem.
Destruir é fácil. O pior é construir.
Basta uma mentira para destruir a confiança.
Ser verdadeiro sempre é dever para a vida inteira.
Berlim, 16 de Dezembro de 2018
20h39m
Jlmg
Horas serenas...
Horas serenas...
Horas serenas deste Domingo frio de Dezembro.
Um bar quentinho, repleto de famintos.
São motocas vivos em digressão.
Aqui páram. Dão ao dente, como leões.
Saboreiam viver. Em fraternidade.
Há sorrisos e gargalhadas.
As mesas cheias.
Há chilreios da pequenada.
Dá gosto vê-los.
Não sou um deles.
Minha origem é outra.
À parte a língua,
Nos acolhem bem.
Olho lá fora.
Aquele céu cinzento,
Quase gelado.
O que ele esconde.
Do que passou,
Há dezenas de anos,
Ainda cheira a pólvora.
Tantas tragédias
Que o tempo apagou.
Só ele o sabe...
Bar dos Motocas, arredores de Berlim, Potsdam
16 de Dezembro de 2018,
11h10m
JLMG
Cacilheiros do Tejo
Cacilheiros do Tejo
Imortais, lá andam os Cacilheiros,
Incansáveis,
De Cacilhas para Lisboa e de Lisboa para Cacilhas.
Num vai-vém.
Levando as gentes insonadas,
Para a labuta do dia a dia,
Depois as leva fatigadas, pela tardinha.
Pintados de branco e de vermelho,
Sulcando o Tejo, à tona,
Como um arado lavra a terra,
Na busca do sustento das famílias.
Tantas gerações neles andaram naquele ir e vir,
desde meninos até serem grandes,
num afã puro e belo
que as enlaça na mesma saudade.
Tantas história para contar.
Tantos sustos e momentos belos,
neles viveram, o Tejo em fúria,
com muito sol e nevoeiro.
Um deles eu o bem lembro,
ó que pânico,
vimos a morte à nossa frente.
Naquela tarde de Fevereiro.
Berlim, 16 de Dezembro de 2018
9h6m
JLMG
sábado, 15 de dezembro de 2018
De pequenas contendas...
De pequenas contendas
De pequenas contendas nascem as grandes guerras.
De pequeninas gotas se fazem grandes chuvadas.
De benignas ondas se eriçam grandes tormentas.
Se queres alimentar a amizade nunca regateies o sorriso e o aplauso.
Nunca penses que o que te incomoda ou agrada passa despercebido ao outro.
Quem passa à nossa frente vê e, sobretudo, é visto.
Ninguém gosta que lhe fechem a porta na cara.
Nem que ta abram só quando lhe apetece.
Só te incomoda quem tu aprecias.
Não há gestos sem significado à vista.
Ofende quem oferece e volta a tirar.
Saber viver não é só fazer o que bem apetece...
Berlim, 15 de Dezembro de 2018
11h30m
JLMG
sexta-feira, 14 de dezembro de 2018
Os jardins da cidade
Os jardins da cidade
Espalhados pela cidade, pedaços de verde, a lembrar que a vida não é só o bulício frenético, mas também a paz das plantas e flores em eterna oração.
Têm lagos. Corredores de sombra onde os bancos apelam ao descanso e à contemplação, no intervalo do trabalho.
Onde quem fala em nós é a voz interna da consciência. Aprovando e desaprovando o bem e o mal que fizemos.
Pulula o passaredo em alegres voos, saltitando de ramo em ramo.
E, na superfície dos lagos, vegetam nenúfares e navegam brancos os cisnes, espalhando ondas de paz e de harmonia.
Oásis calmos onde se ouve o doce borbulhar das fontes e fluxo altivo dos chafarizes.
Berlim, 15 de Dezembro de 2018
6h33m
JLMG
Uma plantinha verde
Uma plantinha verde na varanda
Cheguei de férias.
Uma plantinha verde crescia na varanda.
Sózinha.
Saía dum interstício do lajedo.
Tive ganas de a arrancar. Mas desisti.
Deu-me pena.
Ali ficou livre.
O Verão passou.
O Outono também.
Veio o frio e o gelo.
E ela firme ali resistiu.
Hoje, abri a porta de vidro e fui à varanda.
Três folhas amarelas me esperavam à porta.
Como que a pedir socorro.
Olhei a planta.
Lá estava ao ar.
Nua. Só uma folha num dos ramos secos.
Relembrei-a verdinha e tenra.
O que ela penou!...
Berlim, 14 de Dezembro de 2018
16h31m
JLMG
Cheguei de férias.
Uma plantinha verde crescia na varanda.
Sózinha.
Saía dum interstício do lajedo.
Tive ganas de a arrancar. Mas desisti.
Deu-me pena.
Ali ficou livre.
O Verão passou.
O Outono também.
Veio o frio e o gelo.
E ela firme ali resistiu.
Hoje, abri a porta de vidro e fui à varanda.
Três folhas amarelas me esperavam à porta.
Como que a pedir socorro.
Olhei a planta.
Lá estava ao ar.
Nua. Só uma folha num dos ramos secos.
Relembrei-a verdinha e tenra.
O que ela penou!...
Berlim, 14 de Dezembro de 2018
16h31m
JLMG
A inflamação no dedo
A inflamação no dedo…
Aquele sinal de aflito que o corpo dá
à navegação, pedindo auxílio.
Há fogo a bordo. É preciso apagar.
Antes que vá tudo pelo ar.
Deve merecer atendido.
Não desarma enquanto não for.
Apela e arranha.
Fica rubro. Entumece. Desfeia a
forma.
Muito incomoda um panarício!
Aparece de pé para a mão.
Paxos de álcool. Fucidine.
São as armas que ela teme.
Mas, há que insistir.
Faz muita falta a ponta do dedo!
Só assim se dá conta.
Querer apertar o botão da camisa ou
calça.
Custa…dói…
Vamos lá ver que tempo dura esta
visita.
O que vale é este belo concerto de
piano de Beethoven por Hélène Grimaud
Mafra, 2 de Junho de 2018
8h29m
Jlmg
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