sexta-feira, 31 de outubro de 2014

não vou às cegas...

Não vou às cegas…

Abro estes olhos vivos
E não vou às cegas pelas sendas enigmáticas
Deste mundo.

Cada dia, é um capítulo.
Duma novela que,
Na hora, se vai escrevendo.

Onde cada um é protagonista.
Da própria história.

Passo a passo,
Letra a letra,
A escrevemos em cada dia.
Conforme a luz e força
Do rio profundo
Que corre em nós.

Nós o sentimos.
Vem do passado.
Tantos matizes.
Nossas memórias.
Desde a madrugada
Da nossa existência.

Um barquinho sem remos,
Baloiçando à sorte.
À conta dos pais,
Num lago de paz.

Que se foi enchendo,
Banhado de luz,
Ao sabor do tempo.
Em variação constante.
Claros e escuros,
Raios de sol
E brumas de noite.

Torrentes de graça,
Cheias de cor.
Brisas de vento,
Nuvens correndo,
No azul do céu.
Como se fosse um mar.

Ouvindo o melhor de Chopin em piano,
Madrugada alta e fria

Mafra, 1 de Novembro de 2014
4h11m
Joaquim Luís Mendes Gomes




de degrau em degrau...

De degrau em degrau…

Desço, cuidadosamente,
A escada que me leva até ao chão.

Não vou seguro.
Um deslize é um tropeço
Que me pode ficar caro.

Por isso, me agarro.

Subi na vida.
Com muito esforço.
Agora desço.
Com todo o cuidado.

Um suporte ao lado,
Para subir
Ou para descer
É sempre bem-vindo.
Dá segurança
E fortaleza.

Ninguém é tão forte
Que não precise.

Só não cai
Quem já caíu…

Mafra, 31 de Outubro de 2014
19h43m

Joaquim Luís Mendes Gomes

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

hino à poesia...

Hino à poesia…

Poderia até ser um rei
Ou um profeta.

O magno senhor do céu
E do universo.

Reinar no mar.
Ter todos os castelos
Do planeta.

Ser chuva de oiro,
Caindo em festa.

Rainha santa com diadema.
Ter a graça e a cor
Do arco-íris.

Ser mais bonita
Que a beleza da lua cheia.

E tudo o mais.
De belo e puro.
Que a mente engendra…

Tudo seria mais pobre
Que tu minha alma,
A cantar ardendo,
No fogo em brasa
Da poesia…

Ouvindo nona sinfonia de Beethoven

Quase amanhecendo…

Mafra, 31 de Outubro de 2014
5h9m
Joaquim Luís Mendes Gomes






quarta-feira, 29 de outubro de 2014

precisamente por isso...

Precisamente por isso…
Não adianta vasculhar explicações.
Tudo se desencadeou.
Não foi devidamente acautelado.
Ruiu enfim,
O último reduto.
E desabou…
No chão.
De forma tal, não tem recuperação possível.
Tudo estilhaçado.
A alma despedaçada,
Jaz desfeita e morta.
O corpo é um montão de cacos.
Só desfeito em pó
E solto ao vento.
Se vá...à sorte.
A terra o receba bem.
Para nova forma,
Com outra alma…
Ouvindo Lang Lang…
Em liebestraum de Schuman
É madrugada escura
Mafra, 30 de Outubro de 2014
6h6m
Joaquim Luís Mendes Gomes

disputa renhida...

Disputa renhida...
Dispuseram-se a fazer uma corrida.
Qual chegaria mais depressa ao topo.
A verdade e a mentira.
Saíram a par.
Encosta acima.
Da base do monte.
Tantos caminhos,
Veredas e cruzamentos.
Tantas capelas,
Tantas sombras,
Com fontes de água fresca.
Tanta gente à porta
A ver quem passa.
No diz-se-diz-se…
Corta a casaca
E passa a ferro.
Tanta tasca
Com vinho da pipa.
Muitas amoras,
Uvas maduras.
Aqui apanha,
Ali debica.
Muito lesta,
Sequiosa,
A inimiga da verdade,
Se espraiou sem fazer conta…
Foi batendo em cada porta.
Nem uma só
Ficou para trás.
Toma lá… dá cá…
E o tempo se foi passando.
Enquanto a verdade,
Passo a passo,
Muito nobre e muito atenta,
Cada passo mui bem contado.
Contando só o que seu era.
Cada carta no seu endereço
Com a certeza do correio.
Foi andando…foi andando…
Com firmeza e sem rodeio,
Monte acima.
Paulatina.
Cada vez mais segura
Na hora certa,
A vitória seria sua…
Mafra, 29 de Outubro de 2014
23h12m
Joaquim Luís Mendes Gomes

arlequins e pantomina...

Arlequins e pantominas…

Fazem falta os arlequins
Para sublinhar limites.
Onde haja ousadias.
Tropelias às boas regras.

Sanam riscos de traços pretos.
Nas folhas brancas.
Troçam das trocas
Que saem caro.
Apontam as falhas
Que fazem doer
E ninguém se acusa.

Mal vai quando não deixam
Actuar estas figuras,
E lhe dificultam o atrevimento.

É grande o poder do escárnio,
Quando oportuno.

O rei não gosta.
Mas o povo aplaude…

Ouvindo “love sory “
em Panflauta

Mafra, bar caracol, 29 de 2014
10h11m

Joaquim Luís Mendes Gomes


terça-feira, 28 de outubro de 2014

atropelos da vida...

Atropelos da vida…
Quem na vida,
Uma vez só que fosse,
Não atropelou alguém 
Ou não foi atropelado?
Por qualquer lado.
Por de trás ou pela frente.
Até pelo ar…
Ele há pombas em qualquer parte.
E não respeitam ninguém.
Quando se sai à rua,
O risco é tanto.
Na passadeira e fora.
Em qualquer canto.
Lá vem um…
E se vai ao chão.
Uma costela partida.
Sempre um susto.
Até no mar onde não se vê ninguém.
Mas há gaivotas…
E por vezes piratas.
Nas Caraíbas.
Desertos há,
Com escorpiões lacraus.
Ai dos pés onde ferrem os dentes.
Mas é em casa onde há mais perigo.
Há escadas. Tão traiçoeiras.
Um só descuido.
E aquelas vozes perdidas,
Tão tresloucadas,
De quem mais se quer.
Voam pelo ar.
A qualquer hora.
Como pedradas.
Fazem sangrar.
São bem piores.
Às vezes matam!...
Mafra, 17 de Outubro de 2014
5h42m
Joaquim Luís Mendes Gomes

só com palavras...

Só com palavras…

Podem ser lindas.
Coloridas.
Rebuscadas.
Mui bem urdidas.
Rendas em filigrana pura.

Cheias de brilho.
Apelativas.
Mordentes.
Atiçadoras.
Acaloradas.
Envolventes.
Nos abracem.
Calem fundo.
Como pedras.
Ou flocos de lã.

Tudo isso e mais…
Se forem só palavras…
O vento as leva
E as apaga.
Tudo fica igual.

Só com acção.
Pronta.
Límpida
E desassombrada.
Com pés no chão.
Mangas arregaçadas.
Arrepios de frio
Ou assomos de calor.

Doer de dentes.
Despir a camisa.
E abraçar.
Lavar a chaga.
Com sorriso aberto
E calor da mão.

Beijar a face
Ou só a testa.
Erguer do charco
Quem por azar da vida,
Tudo perdeu.
Saúde,
Paz e amor…

Ouvindo Frank Sinatra…
madrugada alta…
quando os barcos partem, mar adentro…

Mafra, 29 de Outubro de 2014
410m

Joaquim Luís Mendes Gomes

domingo, 26 de outubro de 2014

voz de marfim...

De marfim…

De urânio verde,
Um elefante em paz.
Pesado e grave,
Cantava leve.
Voz de marfim…

Quem o viu chegar,
Moço perdido,
Num barco fugido
À fome de pão
Que a Europa não deu…

Atravessou os mares,
Saca na mão.
Boné de lado,
Rosto redondo,
Olhos pisqueiros,
Ali saíu…
Mundo fora. Fez-se um homem.
Um vencedor.
Fez-se uma estrela…
‘inda hoje brilha
E canta…

Ouvindo Frank Sinatra em My Way…

Mafra, 26 de Outubro de 2014
7h43m

Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado, 25 de outubro de 2014

adegas e catedrais...

Adegas e catedrais…

Se pudesse, passaria a vida,
Em sacrifícios.
Em adegas e catedrais.

Ao deus Baco.
Uma botelha velha,
Em cada dia.

Ao Deus Supremo,
Não me calaria de louvar.
A sorte da vida,
Em bem viver.

Pisaria as coisas do mundo,
Só as más,
Como se pisa as uvas
No lagar.

Serviria o Senhor
Com o melhor pão e melhor vinho,
Sobre o altar.

Encheria tonéis e odres
Que dessem para todo o mundo.
De muita alegria
E muita paz,
Como é o timbre santo
Das adegas.

Queimaria minhas tristezas e amarguras,
Do dia-a-dia,
Com incenso intenso e perfumado,
De encher as três naves
E os altares.

Missas com festa.
A toda a hora.

E no adro,
Muitos foguetes,
Bandas de música
E arraiais…

Mafra, 26 de Outubro de 2014
6h38m
Joaquim Luís Mendes Gomes




caixinha dos medos...

Meus medos…afinal…



Guardava meus medos numa caixinha tão pequena.

Estavam lá todos.
Dos maiores aos mais pequenos.

Era assim que eu vivia sossegado.

Não queria senti-los.
Não queria ouvi-los.

Me serrazinavam a vida,
Dia e noite,
Rai’s os partam.

Mas ficavam negros os meus olhos
Só de vê-la.

Certo dia, remédio santo.
Peguei nela.
Fui de Gaia até ao Porto.

A meia ponte…

Fui ao bolso.
Ganhei coragem.

Peguei nela.
Lancei-a ao rio…

Afinal…era só medo!

Mafra, 26 de Outubro de 2014
3h2m


Joaquim Luís Mendes Gomes

suaves revelações da madrugada...

Suaves revelações da madrugada…



Era de madrugada alta
Que, antigamente,
Se fazia os assaltos.

Enquanto o amor jorrava,
Quente,
Por essas camas fora
E em muitos cantos.

Se visitava o mar,
Na faina agreste das pescarias.

Se enchia as bancas frescas
De rico peixe,
Por esses mercados.

Se cantava o fado nas mourarias todas
De Lisboa-mãe.

Se recolhiam a casa
Os vadios da boémia à solta.

Se comia caldo verde,
Nas tendinhas da saudosa feira.

Se passeavam os adonaires
E as bonecas da noite,
Pelas sombras macacas das avenidas.

Fazia neblina espessa
Sobre o rio Tejo
Tapando Almada e o Cristo Real,
De saudar ao longe
A Lisboa antiga.

E os marinheiros mais estouvados circulavam afoitos
Pelas ruinhas escuras da Ribeira.

Quando só o luar da noite quente
Velava de graça,
Todos os mortos
E sepulturas…

Mafra, 26 de Outubro de 2014
1h47m
Joaquim Luís Mendes Gomes

sopa de partículas...

Sopa de partículas…

Disseram que é bom.
Vou experimentar.

Há-as atómicas.
Essas não. São indigestas.
As profiláticas.
Pegam de estaca
Como os agriões.

Há-as marrecas.
Parecem trombones.
Com formas estrábicas.

Há-as em pó.
Moídas em grão.
Parecem farelo.
Bom para as galinhas.

Há-as com ovos.
Sem gema.
Podem grelar.

Aquelas salsichas,
Partidas em rodelas.
Já foram azoto.
Já foram granito.

Sabem a pão.

Ponho-as em calda.
Deixo-as ferver.
Ao fim duma hora,
Seguem para a mesa.
Só come quem quer.

Rego-as de azeite.
Com bolacha maria.
Ponho na forma,
Meto ao forno.

Ó que petisco.
Dá para farnel…

Mafra, 25 de Outubro de 2014
22h9m

Joaquim Luís Mendes Gomes

à ida ou à volta...

À ida ou à volta… Hei-de encontrar alguém Que me dê bom dia. Um sorriso. Um gesto bom De simpatia. Faz bem sair. Pisar a rua. Sentir o vento E as nuvens do céu Correndo. Até elas se beijam, Quando se cruzam. Sai caro um aperto de mão. Dá para selar. É mais barato um beijo. Um abraço quente. Os dois os sentem. Um bom presente, Sempre à mão, Não custam nada. Bar caracol em Mafra, 17 de Outubro de 2014 9h32m Joaquim Luís Mendes Gomes

diversidade das formas...

A diversidade das formas…
Vida apresenta-se sempre,
De formas diversas.
Umas vezes é espessa.
Cheia de carne.
Viçosa.
Atraente.
Outras, um escárnio.
Uma chuva de sombras.
Fiz versos. Opacos.
Agora, como castanhas assadas.
Há quem tome seu duche.
Da banhada de sal.
Na praia da barra
Ou da fonte da telha.
Quilómetros de estrada,
Cheios de carros. Granel.
Mal entram em casa,
Se agarram à tv…
Ou jornal.
Não há quem converse.
Fale da história.
Foi-se o prazer de falar.
Vem a internet.
Um mar de quimeras.
Adormeceram os livros.
Nas estantes sem vida.
Chegam os filmes,
Cosidos à máquina.
Esbordam de sexo.
Onde ficou o amor?
O romance tão belo
Dum encontro final.
Com festas felizes.
Grinaldas.
jantares em família
Serões de província.
Foguetes. Andores…
Mafra, 25 de Outubro de 2014
19h24m
Joaquim Luís Mendes Gomes

simetria dos espaços...

Simetria dos espaços…

Tamanhos e formas diversas.
Bizarras.
Supremas de belo.
Excêntricas.
Simétricas e não.

Todos se encaixam.
Perfeitas.

Tijolos de muros.
Caiados ou não.
Castelos e barcos.
Provetas com vinho,
Favos de mel.

Hexágonos.
Triângulos.
Resmas de papel
Sem linhas
Nem traços.

Pautas de música.
Caladas.
Folhas com versos.
Sem fala.

Piratas e sobas.
Com ganchos nas mãos.
Tudo lhes serve.
Sujo ou não.

Sandálias de couro.
Fivelas de prata.
Barretes armados.
Jaquetas de seda.
Máscaras de cera
Derretidas ao sol.

Tambores e caixões.
Gaiolas sem pássaros.
Comboios. Charretes.
Fora das linhas.

E, no fim, uma rabanada de vento,
Vai tudo ao charco…

Mafra, 25 de Outubro de 2014
19h50m

Joaquim Luís Mendes Gomes

sorrateira a nuvem...

Sorrateira a nuvem…

Vem lá de longe,
Do cimo da serra.
Vem mirando tudo.
Encobre o sol.
Escurece o chão.

Toda a noite bebeu no mar.

Ali faz sol.
Ali faz sombra.
Aquele campo de milho.
Aquela ramada de vinho.
A horta do padre.
Só tem uma couve!…

Olha o rebanho,
Cheio de sede.

O jardim da vila.
Como está sorrindo.
Com tanto turista.

Aquela comporta.
Sufocou o rio.
Como estrebucha insano.
Ainda falta tanto
Até ao fim do ano.
Que a venha abrir.

E aquele lago tão manso.
Tanto sol lhe deu.
Como está sequinho.
Nem para os gansos dá…

Vou-o regalá-los da chuva
Que me deu o mar…

Mafra, 25 de Outubro de 2014
8h8m

Joaquim Luís Mendes Gomes

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

a outra relatividade...

A outra relatividade…

Não a descobriu o grande génio.
O Einstein.

Há outra lei. Subterrânea.
Que tudo rege.

Acabei de dar o bom dia
Lá longe,
Onde há muito não chove.

Um bom dia…com muita chuva!...
Ficou contente.

A primeira coisa que faço aqui
É subir o estore.
E ver o tempo.
A ver se vem sol.
A praia me chama.

O meu canito acorda,
Mal me sente.
Olha para mim.
Já sei.
Estás aflito.

No casarão em belém,
Com o Tejo à frente.
Ainda não pôs o olho,
O presidente.
A pensar no…mal
Que há-de fazer…
Com bêpêénes…e (Bes)tial.
Para mal do povo.

Mafra, 25 de Outubro de 2014
7h6m
Joaquim Luís Mendes Gomes


Cianeto...

Cianeto…

Enchi meu copo de cianeto.
Fatal como o destino.
Levou o Sócrates,
Inocente e verdadeiro,
À prepotência…

Ali está.

Vou começar meu dia
E vivê-lo bem,
Como se fora o último.

Estarei atento.
Porei meus olhos
A todo o vapor.
Reparando em tudo.
Desde os ínfimos
Aos astros do céu.

Saboreei o mel,
Uma vez mais.
Sem condimentos,
Ao natural…
Como o fez a mestra.

Ouvirei a música
Em todos os tons.
Desde a clássica
À de andré rieu.

Sentar-me-ei à mesa,
Com o gosto aceso.
Beberei do mosto
E da água-pé.
Erguerei minha taça
À felicidade.
Rogarei pragas
À bestialidade.

Irei ao templo
Orar a Deus.
Sem dizer palavras…
Ele sabe tudo…
Só com olhar.

Irei à serra.
Para ver o mar.

Beberei da fonte
Ao nascer da bica.

Esquecerei minhas mágoas,
Solto-as ao vento.

Regresso a casa,
Leve e pronto
Para adormecer.
Em paz…
Assim Deus o queira!

Ouvindo André Rieu
Palidamente, clareia o horizonte

Mafra, 25 de Outubro de 2014

Joaquim Luís Mendes Gomes

o final da tarde...

O final da tarde…

Experimento a luz escassa Do anoitecer.

Ardem-me os olhos de Tanto ver,
Sem nada ver.

Perpassa-me na mente, às cegas,
O terrível pavor das madrugadas.

De todo o lado,
Chegam fantasmas mortos
De hora a hora.
Num cortejo incessante
E prepotente.

Vêm extorquir-me a pouca paz
Que consegui no dia,
A troco de promessas falsas
Nunca cumpridas.

Jazem mortos os mortos debaixo das pedras.
E os cães danados
Soltam vagidos.

Me arremessam pedradas,
À falsa fé, os maus amigos.
E, nas horas mortas,
Vibram facadas vis,
Donde menos se espera.

É o final da tarde horrenda do abandono.
Quando, cá dentro, tudo apagou
E já nada arde.

Mafra, 25 de Outubro de 2014
0h58m
Joaquim Luís Mendes Gomes




experimenta amar...

Experimenta amar…

Experimenta amar
Ao sol-luar da madrugada.

Quando perpassa a toutinegra na varanda.

E do mar chega o sussurro louco das marés.

Quando os morcegos fazem
Picados voos,
Pelas brumas devassas
Do nevoeiro.

E as horas passam ainda mais lestas…
Que nossos anseios.

Deixa subir esse vulcão em lava
E banha teu regaço
No abraço do meu corpo.

Vamos correr perdidos
Pela praia só, sem uma só gaivota.

Que os nossos pulmões se Fartem felizes…
Quase rebentem.

Tudo esqueçamos,
Enquanto vibrem
Os nossos corpos.

Mafra, 24 de Outubro de 2014
9h56m
Joaquim Luís Mendes Gomes



experimenta amar...

Experimenta amar…

Experimenta amar
Ao sol-luar da madrugada.

Quando perpassa a toutinegra na varanda.

E do mar chega o sussurro louco das marés.

Quando os morcegos fazem
Picados voos,
Pelas brumas devassas
Do nevoeiro.

E as horas passam ainda mais lestas…
Que nossos anseios.

Deixa subir esse vulcão em lava
E banha teu regaço
No abraço do meu corpo.

Vamos correr perdidos
Pela praia só, sem uma só gaivota.

Que os nossos pulmões se Fartem felizes…
Quase rebentem.

Tudo esqueçamos,
Enquanto vibrem
Os nossos corpos.

Mafra, 24 de Outubro de 2014
9h56m
Joaquim Luís Mendes Gomes



quinta-feira, 23 de outubro de 2014

gerir as diferenças...

Gerir as diferenças…

Se fosse tudo igual…
Que monotonia seria este mundo.

Haver olhos de cor diferente
Dá brilho à terra.

Claros e escuros.
Baixos e altos.
Elevações eternas.
Vales e campos,
Ladeiras e encostas longas.

Montanhas e lagos verdes.

Se vestem de neve,
Branca e alvinitente,
Como manto celestial.
Se cobrem de sol.

Desertos sem vida
E mares azuis.
Plenos de reinos.

Florestas, imensas,
Meandros de rios sem fim.

Um firmamento de estrelas.
Sem sombras nem nuvens.

Ordens e raças,
Viventes com força,
Enxames de seres,
Vegetais, animais,
Gigantescos, minúsculos,
De formas diversas.
Parados, moventes.

São as mesmas as leis.
Órbitas diferentes.
Átomos, moléculas.
Azoto, carbono
E zinco.
Universo.
Armazém, gigantesco,
Sem portas nem estantes…

Ouvindo Elton John, “rei lião”

Mafra, 24 de Outubro de 2014
3h41m
Joaquim Luís Mendes Gomes



à deusa união...

À deusa União…

Vou erguer um monumento
À deusa da união.
E da fertilidade.
Que tudo atrai.
Que tudo cria e dá.

Uma seara ardente sempre em flor.
Um mar azul ao deus dará.
Onde toda a gente igual
Pode pescar.

Vou abraçá-la com o mesmo ardor
Com que me concebeu.
No seio quente de minha Mãe.

Me pôs no mundo
E mo fez correr,
Cantando e rindo.

Vou vesti-la com um xaile d’oiro.
Um vestido de seda.
Com muito verde
E uma grinalda em pérolas.

Quero vê-la feliz
Pela sua obra
Em prol do mundo.
Derramando amor
Em torrente sem fim.

Far-lhe-ei uma festa em cada ano.
Com procissões
E andores de flores.

Haverá baile de gala.
E arraial.
Desde o nascer do sol ao raiar da aurora.

Nossa rainha abençoada,
Da união!...

Ouvindo Chopin

Mafra, 23 de Outubro de 2014
7h50m

Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

pavorosa aflição das madrugadas...

A pavorosa aflição das madrugadas…
Vem retumbante a aflição da madrugada.
Trovoada, medonha,
Ribombando seca sobre mim.
Pavorosos pesadelos Inclementes
Descarregam toneladas de granizo sobre as minhas telhas.
O ar é rarefeito.
Parece desabar o mundo.
Não há regra.
Não há preceito que se cumpra.
É o desrespeito pelo elementar direito ao sossego de dormir.
Das cavernas tenebrosas
Saem rugidos.
Chegam do fundo
Vagas de lancinantes gritos de aflição
De multidões em desvario.
A língua se cola ao céu da boca de secura.
E o coração louco
Me foge da boca
Como um cavalo.
E as narinas hirtas
Se cerram mais fortes do que comportas.
E, por mera sorte,
Tudo finda,
Depois da guerra,
Antes da morte,
Quando estes dois olhos
Se me abrem…
Ouvindo Wagner, “cavalgada das valquírias”
Mafra, 23 de Outubro de 2014
2h33m
Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 21 de outubro de 2014

renegado?....

Renegado?...Nunca

Ultrajado…vilipendiado…
Escorraçado como um lobo.
Fugido à lei.
De um castigo injusto.
Poderei ser isso tudo…

Trocar meu pensar…
Conforme orientação do vento.
Trocar as tintas.
E as mãos também.

Trocar meu hino.
Minha bandeira de honra.
Que um dia jurei…
Isso nunca …
Prefiro o chão e a cova escura.

Falem de mim.
Se riam mesmo.
Ficarei de pé.
Agarrado sempre à minha cepa.
Onde busquei o ser…

Ouvindo Chopin, por Zimermann e outros

Mafra, 22 de Outubro de 2014
2h26m

Joaquim Luís Mendes Gomes

o que prefiro...

O que prefiro…

Prefiro deixar correr
A opor barreira
Correndo o risco de ser vencido.

Prefiro as avenidas largas
Aos becos. Mais curtos.
Mas que ensarilham.

Prefiro receber um não.
Pronto e com um sorriso
A um sim, cerimonioso
E envergonhado.

Prefiro voltar amanhã,
De novo,
Se hoje não der jeito,
E ser bem recebido.

De tudo eu faço.
Até de louco.
Só para ter o teu abraço.

O que eu não tolero
É deixar de sonhar,
Enquanto espero.

Ouvindo Mozart, concerto Piano nº 21

Mafra, 21 e Outubro de 2014
2oh35m
Joaquim Luís Mendes Gomes