sábado, 28 de fevereiro de 2015

nascer do dia na nova casa...

décimo quarto poema na nova casa

nascer do dia...

estou a ver o nascer do dia
na minha nova casa.

é diferente o céu.
é mais amplo e luminoso.
mesmo virado a nascente.

o horizonte poisa sobre os telhados altos do casario.
um clarão largo e avermelhado
se estende e vai avolumando,
ao longo dum mar sombrio.

não é de ondas salsas,
mas de telhas dormentes.

ouve-se só um leve sussurrar de carros ligeiros.

aqui e ali já há janelas iluminadas.

nem o vizinho aeroporto Tegel
despertou ainda
do seu curto repouso.

vai chegando agora mesmo o vulto escuro
dum avião poisando.
e já vem outro ao longe,
no seu encalço.

das chaminés sombrias,
irrompem volutas do fumo cinzento
que aqueceu as casas.

resplendem cada vez mais em tons de luz,
as camadas altas
que toldam o céu.

só falta o rei da vida
aparecer subindo

na majestade dum balão de fogo,
abrindo o dia
esparzindo a luz
e aquecendo o mundo.

Berlin, 1 de Março de 2015
6h58m
Joaquim Luís Mendes Gomes

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

janelas...

décimo terceiro poema da casa nova

as janelas...

as janelas são pequenos pedaços
tirados às casas,
em troca do céu
e do vento.

há-as paradas.
as que abrem e fecham.
para fora ou para dentro,
bem ao gosto do dono.

têm feitios e formas.
umas redondas.
outras em linhas,
com ângulos.
e outras, góticas
ou áticas.

umas são portas opacas,
outras tapadas de vidros,
sensíveis à luz.

outras vitrais,
com lindas pinturas às cores.

umas impúdicas,
se expõem de nuas,
como nasceram.

outras se vestem cortinas,
fingindo de tímidas.

falam do tempo que faz
e mostram a gente que passa.
todas nos ligam ao mundo.

Berlin, 28 de Fevereiro de 2015
7h45m
Joaquim Luís Mendes Gomes

contra-tempos...

décimo poema da casa nova

os nossos contratempos...

quem nunca na vida
não entalou os dedos.
numa porta
ou com um martelo.

quem nunca meteu a chave
na porta do carro
ou do vizinho.

e não trocou o nome ao filho,
ao chamar por ele.

quem nunca trincou a língua
de fazer tremer.

e não chamou pela mãe,
quando aflito.

e se não lembrou de Deus
quando veio a doença.

quem não se esqueceu do dia
de pagar a renda.

e renovar a carta no ano certo.

quem nunca chorou de raiva
ao pé da injustiça.

e não arregaçou as mangas
para apagar um fogo.

quem não bateu à porta
dum mau vizinho,
quando chega a hora
da má sorte.

e não estremeceu de medo,
ao ver à frente a morte?...

Berlin, 27 de Fevereiro de 2015
20h8m
Joaquim Luís Mendes Gomes

contratempos...

décimo poema da casa nova

os nossos contratempos...

quem nunca na vida
não entalou os dedos.
numa porta
ou com um martelo.

quem nunca meteu a chave
na porta do carro
ou do vizinho.

e não trocou o nome ao filho,
ao chamar por ele.

quem nunca trincou a língua
de fazer tremer.

e não chamou pela mãe,
quando aflito.

e se não lembrou de Deus
quando veio a doença.

quem não se esqueceu do dia
de pagar a renda.

e renovar a carta no ano certo.

quem nunca chorou de raiva
ao pé da injustiça.

e não arregaçou as mangas
para apagar um fogo.

quem não bateu à porta
dum mau vizinho,
quando chega a hora
da má sorte.

e não estremeceu de medo,
ao ver à frente a morte?...

Berlin, 27 de Fevereiro de 2015
20h8m
Joaquim Luís Mendes Gomes

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

acrobacias...

acrobacias...

há a acrobacia apoplética
dos piratas das caraíbas,
fugindo às metralhadoras.
mortíferas.

a meteórica dos trapézios,
para ganhar o pão,
nas cordas bambas da fantasia.

a dos lunáticos
que teimam em converter o mundo
com as suas teorias.

a dos catedráticos inflamados
e com a barriga cheia,
por esgotarem a sapiência.

a dos médicos de clínica geral
para conhecerem bem o mal
do corpo inteiro.

a do pianista
para tocar de cor
um concerto todo.

mas a maior de todas
é a de vencer o mês
com um tostão no bolso...

Berlin, 27 de Fevereiro de 2015
8h20m
Joaquim Luís Mendes Gomes

carpinteiro de serrà mão...

o carpinteiro da serra à mão...

não há muito tempo.
quando um trabalhador,
de sol a sol,
conseguia amealhar uns contitos de rei,

comprava uma leira de terra.
ao senhor da terra.

que desse para a casa e
para uma horta.

depois, um pinheiro crescido
ou um eucalipto.

chamava um serrador
e reduzia tudo a tábuas
e uns tantos caibros.

ponha-os a secar ao sol.

chamava um pedreiro sabido.

que alisava o chão.
abria os caboucos,
à medida certa.

cascalho no fundo.
depois, blocos de pedra,
encastelados.
sobre cimento em massa.

ia erguendo a casa.
até ao telhado.

e vinha o carpinteiro,
com sua ferramentaria toda.

uma oficina em peso.
até um balcão em pau.

primeiro as vigas fortes,
ligando as paredes,
numa cruz perfeita.

depois, uma teia de vigas finas,
em esquadria,
à distância exacta,

como um chapéu,
para suportar as telhas.

a seguir vinha o trolha,
levantar as paredes,
rebocá-las a massa,
das divisões internas.

entretanto o carpinteiro
alisava as tábuas,
em vários tamanhos.

para as portas,
para as janelas,
para o soalho
e para o forro.

o vidraceiro assentava os vidros.
o electricista
instalava a luz.

e no fim,
o serralheiro
apontava os portões
e as fechaduras da casa inteira.

só depois, se chamava o padre
para pedir a bênção de Deus...
para tão lindo sonho.

Berlin, 27 de Fevereiro de 2015
21h20m
Joaquim Luís Mendes Gomes

adeus aos corvos...

adeus aos corvos...

quando sair daqui,
vai-me custar muito dizer adeus aos meus vizinhos.
de há três anos.

vivem no prédio da frente,
sobre a casa das máquinas.

alheios ao vento e neve.

ali criaram as duas crias.
com tanto desvelo
como os humanos.

via-os zarpar,
manhã nascente,
em rasgados voos.
sobre as copas frondosas.

e a chegarem com o bico cheio
para dar aos filhos.

vi-os parados, de olhar atento,
mirando o mundo.

vi-os poisar serenos,
sobre os candeeiros da rua.

a debicar o chão,
debaixo das folhas.
com independência.
senhores do reino.

vinham visitar-me
à minha varanda
quando eu chegava da minha terra...
vou ter saudades.

minha casa nova é linda.
mas, em vez das árvores,
só telhas vermelhas...

Berlin, 27 de Fevereiro de 2015
17h19m
Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

caminho molhado...

caminho molhado...

em dia de inverno,
saí desarmado.

cansado da chuva,
persistente e teimosa,
confiei numa clareira de sol,
que me espreitou à janela.

e fui...
todo contente,
como um doente
que sentiu as melhoras.

corri e saltei.
assobiei de alegria,
como um miúdo,
a caminho da escola,
jogando à corda.

bastou uma nuvem,
negra e raivosa,
vinda da serra.

tudo mudou.

foi-se o sol.
vieram trovões.

momentos depois,
aquele caminho,
tão seco,
subindo a encosta,
de saibro amarelo,
parecia um rio,
cavalo sem freios,
correndo para o mar...

jurei...nunca mais...

Berlin, 26 de Fevereiro de 2015
8h6m
Joaquim Luís Mendes Gomes

rio da cor da rosa...

lenda do rio cor da rosa...

era estranho aquele rio.
de águas paradas.
sem barcos.

à procura do fim.
não tinha começo.

mas tinha salgueiros verdes nas suas margens.
e praias de areia amarela.

tinha ilhas selvagens,
com árvores
e ninhos.
passaredo voando.
sempre a cantar.

vinham de todos os lados,
vê-lo.

a gente se sentia bem ao pé.
não sei porquê.

exalava paz.
e um encanto tal.
inefável
de não se querer deixar.

rezava a lenda
que, há muitos séculos,
um par de príncipes,
enamorados de amor,
fugindo ao rei,
ali afogou...

Berlin, 25 de Fevereiro de 2015
16h20m
Joaquim Luís Mendes Gomes



terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

espaços recônditos...

espaços ocultos...
temos espaços em nós,
nos comandam a vida,
nem nós conhecemos.
fontes do bem e do menos
que somos ou temos.
povoados de sonhos e medos.
vulcões em fornalha. latentes.
lezírias viçosas,
remanso de sons e de gostos,
que brotam à tona,
com formas e cores.
nascente oculta, lá longe.
povoada de lendas,
que vêm de antanho,
donde nascem os rios,
carregados de enigmas.
fazem parte de nós.
ali chegam em teia,
nossas raízes da alma...
Berlin, 25 de Fevereiro de 2015
0h23m
Joaquim Luís Mendes Gomes

crescem,
se reproduzem
abundantes.
roubam a luz
e o espaço vital.
fazem sombra.
asfixiam.
são estéreis.
sempre feias.
chamam insectos.
tudo avassalam.
quer no jardim.
quer no quintal.
semeiam a fome.
em pouco tempo.
se não forem extintas.
é igual
na vida mental.
há pensamentos.
negros farrapos.
surgem em nuvem.
toldam o céu.
tudo devoram.
são como a traça.
geram tristeza.
estiolam a esperança.
secam a alegria,
de querer viver.
trazem o abandono,
de todos os sonhos.
apetece parar.
nada interessa.
apetece morrer.
nos fecham em nós.
droga fatal.
insaciável.
faz-nos escravos,
capazes de tudo,
até de roubar.
até de matar...
se não forem extintos.
árvore do mal.
só a ginástica diária,
num ginásio sadio,
cheio de luzes.
exercícios mentais,
que tragam vigor.
vontade de sol.
com praia e mar.
mergulhos nas ondas
que nos façam avançar,
rumo aos confins,
onde reina o saber,
fonte de paz,
e só cresce o que vale,
sem ervas daninhas...
ouvindo Mozart
Slubice, na Polónia,
28 de Janeiro de 2015
6h10m
Joaquim Luís Mendes Gomes

poemas de janeiro -2015 - de 1 a 10-

11/1 ·
subida ao espaço...
Desde os tempos iniciais,
que o homem se enamorou,
com aquele espaço,
alto e fundo,
onde aparece um mar de estrelas,
durante a noite
e lenta desliza uma bola branca,
de tamanho e forma,
inconstante.
que abre ora a noite
ora o dia.
onde deambulam perdidas,,
alvinitentes e bizarras caravelas,
carregando chuva e neve.
que semeiam.
onde um balão de fogo enorme
se acende ao nascer do dia
e se põe ao cair da noite.
,derramando luz e vida
pelo mundo inteiro.
onde, volta e meia,
se faz a guerra medonha
dos raios e trovões.
parecem dar cabo do mundo.
e o sol e chuva
se abraçam,
num grande abraço,
brilhante e colorido.
arco-iris.
para onde aflita,
foge a fumarada densa
dos incêndios e fogueiras
que dizimam as florestas.
e para onde sobem os sonhos
e nossos noctívagos pesadelos.
subida ao espaço...
Desde os tempos iniciais,
que o homem se enamorou,
com aquele espaço,
alto e fundo,
onde aparece um mar de estrelas,
durante a noite
e lenta desliza uma bola branca,
de tamanho e forma,
inconstante.
que abre ora a noite
ora o dia.
onde deambulam perdidas,,
alvinitentes e bizarras caravelas,
carregando chuva e neve.
que semeiam.
onde um balão de fogo enorme
se acende ao nascer do dia
e se põe ao cair da noite.
,derramando luz e vida
pelo mundo inteiro.
onde, volta e meia,
se faz a guerra medonha
dos raios e trovões.
parecem dar cabo do mundo.
e o sol e chuva
se abraçam,
num grande abraço,
brilhante e colorido.
arco-iris.
para onde aflita,
foge a fumarada densa
dos incêndios e fogueiras
que dizimam as florestas.
e para onde sobem os sonhos
e nossos noctívagos pesadelos.
quem será
tão poderoso e rico
que lá mora?...
ouvindo Chopin em piano...na madrugada alta
Berlin, 11 de Janeiro de 2015
6h59m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Gosto ·

Germano Moura Moura‎Os Diogos de Felgueiras
10/1 ·
à beira do infinito...
saio de mim e vou pelo mundo,
à procura do infinito.
corro. subo. desço.
devoro o tempo,
sempre escasso,
tamanha distância
para tão breve vida.
tanto espaço verde.
e mar imenso.
tanto deserto,
seco e agreste.
vem a ânsia,
a fome,
a sede.
a dor.
sangram os pés.
de vez em quando,
sopra uma brisa,
surge uma sombra,
um sono profundo,
que o sonho desperta.
e alimenta a fé.
e a vontade
de chegar ao cume,
mesmo ao pé do infinito,
onde se respira a paz...
ouvindo André Rieu...
o dia nascendo
Berlin, 10 de Janeiro de 2015,
7h55m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Gosto ·

Germano Moura Moura‎Os Diogos de Felgueiras
9/1 ·
escada rolante...
a vida não é uma escada rolante.
é preciso subi-la a pé.
debaixo para cima.
com toda a atenção,
contando os degraus.
tem balaustradas,
onde pormos as mãos.
umas seguras.
outras falsas empenas.
é preciso sabê-las.
não sobe a direito.
dá curvas e baques.
aos solavancos,
num carrocel.
passa por vales.
salta ravinas.
ao fundo um rio,
de águas tão limpas,
apetece saltar.
ou voar.
passa por bosques,
cheios de lendas,
sereias formosas,
cantando falsete.
baladas tão lindas,
feiticeiras perdidas,
nos querem perder.
sobe a castelos de sonho,
palácios reais.
onde apetecia ficar.
as portas cerradas
ao sangue do povo.
atravessa fronteiras.
povos diferentes.
outras bandeiras.
outros falares.
outros caminhos,
com escadas rolantes,
não é preciso suar e sofrer,
com riqueza abundante.
onde apetecia viver...
Berlin, 9 de Janeiro de 2015
6h45m
ainda está escuro, mas movimento de carros
Joaquim Luís Mendes Gomes
Gosto ·

Germano Moura Moura‎Os Diogos de Felgueiras
7/1 ·
começo meu dia...
começo meu dia na madrugada,
orando uma prece breve
ao Criador.
De tudo quanto existe.
Princípio e fim de tudo.
Seu motor e dono
presente e actuante.
O Rei dos mares e continentes.
De todas as galáxias que enchem o firmamento,
onde nossa Terra é uma migalha azul
e cada um de nós uma faúlha iluminada,
com uma chama imortal.
mais poderosa e importante
para Ele que o próprio sol...
Que Ele ama e quer
como um Pai o filho,
mas numa escala incomensurável.
Para quem a lei mais importante
não são as intrincadas leis da física
e da gravidade.
mas sim a lei do Amor...
real e verdadeiro,
por um desígnio
que só Ele entende
e nos transcende.
mas que o dom da Fé,
por milagre,
nos faz perceber e aceitar,
de olhos fechados
e coração a arder.
aquela lei que nos manda amar o nosso irmão
como cada um a si mesmo
e a Deus sobre todas as coisas...
numa relação de Pai a filho.
e asim eu parto para mais um dia.
com tudo o que de bom ou não,
ele me trouxer.
sabendo bem que a Sua mão me vela e prende,
haja lá o que houver...
ouvindo os "Divo"...
Hotel Horda numa cidadezita polaca, frente a Frankfurt Oder
7 de Janeiro de 2015
5h10m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Gosto ·

Germano Moura Moura‎Os Diogos de Felgueiras
5/1 ·
das sobras...
o que fica duma obra acabada
espalhado pelo chão,
faz um montão
que tem seu proveito.
depende da arte e da ideia
de quem o aplica.
há sempre alguém
que o queira.
ao esculpir um tamanco,
a partir dum pedaço de ulmeiro,
restavam aparas aos montes.
o tamanqueiro as dava.
as levavam aos cestos.
depois de secarem
ardiam no forno
ou lareira,
sem fumo...
ó que poupança,
ó que conforto!
e havia o lavrista escultor.
de escopro e martelo,
de aço temperado,
na forja.
lavra sózinho,
com gana,
aquele bloco de pedra,
sem forma,
que saía do penedo bravio
da serra.
horas a fio,
batendo acertado,
na crosta da pedra,
na busca da forma
que jazia lá dentro,
à espera,
desde o princípio do mundo.
era um milagre que ia surgindo,
ao cabo de dias e meses,
num parto com dor.
fazia chorar!
o lavrista escultor e amante
que vivia da arte...
e dava as sobras das pedras
para alisar os caminhos.
Berlin, 5 de Janeiro de 2015
8h1m
um amanhecer de gelo e molhado
Joaquim Luís Mendes Gomes
Gosto ·

Germano Moura Moura‎Os Diogos de Felgueiras
5/1 ·
das sobras...
o que fica duma obra acabada
espalhado pelo chão,
faz um montão
que tem seu proveito.
depende da arte e da ideia
de quem o aplica.
há sempre alguém
que o queira.
ao esculpir um tamanco,
a partir dum pedaço de ulmeiro,
restavam aparas aos montes.
o tamanqueiro as dava.
as levavam aos cestos.
depois de secarem
ardiam no forno
ou lareira,
sem fumo...
ó que poupança,
ó que conforto!
e havia o lavrista escultor.
de escopro e martelo,
de aço temperado,
na forja.
lavra sózinho,
com gana,
aquele bloco de pedra,
sem forma,
que saía do penedo bravio
da serra.
horas a fio,
batendo acertado,
na crosta da pedra,
na busca da forma
que jazia lá dentro,
à espera,
desde o princípio do mundo.
era um milagre que ia surgindo,
ao cabo de dias e meses,
num parto com dor.
fazia chorar!
o lavrista escultor e amante
que vivia da arte...
e dava as sobras das pedras
para alisar os caminhos.
Berlin, 5 de Janeiro de 2015
8h1m
um amanhecer de gelo e molhado
Joaquim Luís Mendes Gomes
Gosto ·

Germano Moura Moura‎Os Diogos de Felgueiras
3/1 ·
as asas do avião...
a maior imperfeição do avião
está nas suas asas.
como seria lindo vê-los
batendo as asas
como uma gaivotas ou um condor.
o que se poupava em gasolina!...
dava para baixar o preço
até à exaustão.
dar-se-ia a volta ao mundo,
quase de graça.
se estreitariam as distâncias
entre os continentes.
e, finamente, haveria paz no mundo...
o petróleo deixaria de ser o pomo da discórdia,
entre as potências.
a concorrência seria só
na matéria-prima da musculatura
necessária à asa.
mas, teriam penas em vez de tinta.
e se usaria o vento delas,
muito mais higiénico,
como ar condicionado.
se escusaria o leme.
na orientação da nave.
e toda a energia eléctrica,
durante a noite,
sairia limpa das rotações
do seu bater.
porque de dia, seriam painéis solares!...
e, sobretudo,
não mais o barulhão nos aeroportos.
como seria bom,
viver ao pé...
só para os ver voar!
Berlin, 3 de Janeiro de 2015
18h9m
Joaquim Luís Mendes Gomes

poemas de janeiro 2015


Gosto · 

essa força e esse dom
da natureza,
tão sublime,
que te faz um ser superior
à toda a multidão de seres...
em toda a terra.
com foi possível
descer tão baixo,
muito pior que a animalidade...
é leal.
só mata para sobreviver...
porquê reduzir a nada,
os milhões de iguais,
com vontade de os exterminar...
e o seu direito de viver...
pela forma a mais cruel...
impossível para uma fera, a mais animal...
sinto horror...
sinto pavor de ti!
pelo que me podes vir a fazer!...
ouvindo Brendan Perry
Slubice, Polónia, 27 de Janeiro de 2015
22h00m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Gosto · 
proliferação selvagem da inteligência...
no começo, tudo era amplo e devassado.
via-se livre,
em redor e ao alto.
só as alturas serrilhadas
das montanhas,
a manta espessa do nevoeiro e a variação dos elementos
faziam de cortinado.
a chuva, o frio,
o calor e a neve,
os grandes invasores
da serenidade natural.
sem eles, tudo seria calmo
e aprazível.
até o refúgio silencioso
das cavernas.
as aves voavam livres
pelos ares.
e na terra imensa, cirandavam as espécies todas, na vida em liberdade.
da crosta da terra imensa,
ora negra,
ora dura,
brotavam verdes
as hastes tenras da verdura.
e se cobria de mantas extensas,
para além das clareiras.
reinou a paz,
enquanto a fome não chegou...
com ela a guerra
entre os animais,
muito ciosos do seu espaço.
a sobrevivência feroz desencadeou a luta
e a defesa entre os grupos.
imperava o instinto e a força,
com a arte do engenho
e o seu dote.
e, pouco a pouco,
se instalou a ordem,
segundo as regras da hierarquia.
dos mais fortes
para os mais fracos.
era assim a harmonia natural
que o bicho homem,
sobredotado de inteligência,
tudo fez para destruir...
Berlin, 21 de Janeiro de 2015
8h18m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Gosto · 
o tempo e as formas...
a história do homem
é um espaço de tempo
carregado de formas.
desde as cavernas,
na crosta da terra,
como a natureza as gerou,
como forma de abrigo,
à mão,
do frio, do tempo e do perigo.
sem nada lá dentro.
chegada e partida
para as necessidades da caça,
condição de existência.
no espaço e no tempo.
com a força de lei.
da conquista,
e confronto,
com outros iguais,
na disputa do espaço,
surgiram
outras formas de estar.
toscas casotas com pedras,
cobertas de ramos,
nas encostas dos montes,
com água a correr.
formaram aldeias.
surgiram os chefes.
se inventaram as normas,
com força de lei.
nasceram casebres,
incrustados nas rocha,
e outras com pedras,
umas por cima,
outras por baixo,
de tamanhos diferentes,
cravadas no chão.
se rasgaram caminhos,
veredas,
sulcando a terra,
dos cumes
para o vale,
onde se fabricavam culturas.
surgiram castelos
e palácios
com muralhas à volta.
se formaram exércitos,
dedicados à guerra,
pela conquista da terra.
se travaram batalhas sangrentas,
geradoras de escravos.
surgiram as castas.
à força da espada.
uns dominando,
outros servindo.
proliferaram impérios.
dominando o mundo.
germinou a revolta
e a luta pela liberdade perdida.
impôs-se o poder
à custa da paz...
Berlin, 20 de Janeiro de 2015
0h36m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Gosto · 

Tem recantos. Tem baús.
Onde eu ando à minha vontade.
Tal e qual eu vim ao mundo.
Eu me vejo. A realidade.
Para cuidar e corrigir.
Como quiser.
Onde medito.
Onde contemplo.
Onde oro.
Onde relembro e sonho.
O bom e não.
Que já passou.
Tem janelas.
Tem varandas.
Olho o mundo.
Vejo o tempo.
Calor ou frio.
E conto estrelas
Que há no céu.
Tem uma horta
E um jardim.
Miniaturas.
Ali lavro.
Ali semeio.
Boas sementes.
Dão flor. Depois o fruto.
Ali cozinho
E faço o pão.
Ali repouso e apanho sol...
Berlim, 19 de Janeiro de 2015
6h28m
Madrugada escura e fria
Joaquim Luís Mendes Gomes
Gosto · 

ciosos do reino.
ele, armado de luz e de cores.
ela, vestida de escuro,
às vezes luar,
nimbado de estrelas.
esgrimem os golpes do dia,
com raios.
verdejando a terra.
atiçando-lhe fogo.
se esconde a noite,
nas brumas cinzentas
das copas das árvores e bosques.
por fim, é a vitória fulgurante do sol,
lançando luz e calor.
o mar, salgado no seio,
sedento de azul,
espaneja de ondas,
se lava de espuma,
e se despede da noite
que ama,
forte e valente.
brotam ao longo dos ramos, salpicos,
botões de verde em flor.
promessas de vida,
soprada de luz e de cor.
se alegram as nuvens,
dançando suaves e lentas,
nas alturas do céu.
pressurosas, as aves em bandos,
cruzam os ares,
buscando alimento,
jazente na terra.
é preciso buscá-lo...
nos prados e encostas das serras,
calmos, dispersos,
dançando-lhe as caudas,
pastam manadas de vacas e bois,
sacudindo as moscas.
e os rios, dormentes,
de águas correntes,
fogem ocultos,
pela sombra dos vales,
rumando ao mar.
cresce em mim,
cansado da luta e duelo,
a vontade da vida,
em pleno,
neste começo de dia...
ouvindo Bárbara Streisnd
Berlin, 18 de Janeiro de 2015
8h41m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Gosto · 
de faca e garfo...
Todo o mundo deve comer
de faca e garfo.
as mãos são para cumprimentar
e os braços abraçar...
mesa posta.
toalha branca.
comida à hora
de chegar e sobra.
matar a fome
é obrigação principal
e única forma
de acabar com a guerra.
não é justo.
uns ao sol
e outros ao frio.
sem cobertor.
uns com milhões estéreis.
a maioria,
sem só vintém.
nascemos todos iguais.
quem nos faz diferentes
é o reino do mal.
esconjurado seja.
deserte da terra!...
que o sol brilhe
e reine o Amor...
mesa farta,
de faca e garfo.
ouvindo concerto para violino de Mendelsson, por Hilary Hahn
Berlin, 15 de Janeiro de 2015
8h43m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Gosto · 
queria ir ver o mar...
ai meu mar da Ericeira como te queria tanto ver
e sentir dançar.
estou longe...
tenho serras e muita estrada
entre mim e ti.
saudade de te ver ao longe,
donde quer que eu fosse,
ao sair de casa.
por aqueles campos
e colinas verdes
que te cercam.
ver aquelas escarpas e falésias,
ora a prumo,
ora docemente inclinadas,
que me levavam junto de ti.
das tuas ondas brandas,
a beijar meus pés.
o cheiro verde e acre
do sargaço com que os envolves.
e das gaivotas mansas
que te adoram,
planando ao vento,
sem bater as asas...
e das caravelas brancas e dos veleiros que te sulcam lá longe,
na linha do horizonte,
mirando a terra.
tenho vontade de me banhar em ti
chapinhar na areia branca
que molhas de amor.
ouvindo "nocturnos completos" de chopin
Berlin, 12 de Janeiro de 2015
23h53m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Gosto · 

onde aparece um mar de estrelas,
durante a noite
e lenta desliza uma bola branca,
de tamanho e forma,
inconstante.
que abre ora a noite
ora o dia.
onde deambulam perdidas,,
alvinitentes e bizarras caravelas,
carregando chuva e neve.
que semeiam.
onde um balão de fogo enorme
se acende ao nascer do dia
e se põe ao cair da noite.
,derramando luz e vida
pelo mundo inteiro.
onde, volta e meia,
se faz a guerra medonha
dos raios e trovões.
parecem dar cabo do mundo.
e o sol e chuva
se abraçam,
num grande abraço,
brilhante e colorido.
arco-iris.
para onde aflita,
foge a fumarada densa
dos incêndios e fogueiras
que dizimam as florestas.
e para onde sobem os sonhos
e nossos noctívagos pesadelos.
subida ao espaço...
Desde os tempos iniciais,
que o homem se enamorou,
com aquele espaço,
alto e fundo,
onde aparece um mar de estrelas,
durante a noite
e lenta desliza uma bola branca,
de tamanho e forma,
inconstante.
que abre ora a noite
ora o dia.
onde deambulam perdidas,,
alvinitentes e bizarras caravelas,
carregando chuva e neve.
que semeiam.
onde um balão de fogo enorme
se acende ao nascer do dia
e se põe ao cair da noite.
,derramando luz e vida
pelo mundo inteiro.
onde, volta e meia,
se faz a guerra medonha
dos raios e trovões.
parecem dar cabo do mundo.
e o sol e chuva
se abraçam,
num grande abraço,
brilhante e colorido.
arco-iris.
para onde aflita,
foge a fumarada densa
dos incêndios e fogueiras
que dizimam as florestas.
e para onde sobem os sonhos
e nossos noctívagos pesadelos.
quem será
tão poderoso e rico
que lá mora?...
ouvindo Chopin em piano...na madrugada alta
Berlin, 11 de Janeiro de 2015
6h59m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Gosto ·