como se escangalha uma vida...
num instante, tudo se esvaiu em poeira.
no princípio,
havia a ave maria e o pai nosso.
e ao meio,
a santa maria.
havia uma cruz de luzeiro.
e a glória total.
um futuro seguro.
com honra.
caminho de pedra.
à mistura com escadas.
as portas abertas.
uma total confiança.
bastava um canito,
sem trela.
nunca nada faltava.
sopraram aragens sem alma.
histórias esquisitas,
sem princípio
nem meio.
onde tudo valia.
a noite era dia.
sem manhã
e sem tarde.
a mãe, trabalhando de dia,
o pai, trabalhando de noite.
e ao domingo,
sem missa,
o futebol é que imperava.
a ceia ficou um deserto.
à volta duma lareira apagada.
o pai não sabia do filho.
e o filho desconhecia do pai.
e veio a tropa.
com farda.
um número,
em vez do nome-
baptismo.
nas mãos a espingarda.
cartucheira sem pólvora.
e na camarata,
havia uma escola,
nocturna,
onde tudo valia.
palavrões e refrões
de todas as cores.
obscenos.
horas de entrar.
batendo a pála.
sentinela ao portão.
ordem unida
e a arte da guerra.
matar ou morrer.
primeiro a fingir.
depois a valer.
o regresso chegou,
depois dos destroços.
outra tropa se abriu.
conquistando um lugar.
arregaçaram-se as mangas.
tudo emergiu.
tudo passou.
de bom e de mau.
mudaram as cores.
e as regras.
apareceu a política...
uma desconhecida.
vestida de novo.
atraente e cheirosa.
apareceram partidos
para todos os gostos,
da esquerda para a direita.
baralharam-se as escolas.
apareceram os líderes,
com dom de palavra.
tudo valia.
mentindo,
para subir na escada.
se encurtaram distâncias.
bastava um mandato.
com rédeas nas mãos.
se lixem os cursos.
e o trabalho de empresa.
o que interessa é ganhar,
na corrida do voto...
o resto é o que se vê...
Um desastre total...
Berlin, 9 de Fevereiro de 2015
20h27m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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