segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

como se escangalha uma vida..

como se escangalha uma vida...

num instante, tudo se esvaiu em poeira.

no princípio,
havia a ave maria e o pai nosso.
e ao meio,
a santa maria.

havia uma cruz de luzeiro.
e a glória total.
um futuro seguro.
com honra.
caminho de pedra.
à mistura com escadas.

as portas abertas.
uma total confiança.
bastava um canito,
sem trela.
nunca nada faltava.

sopraram aragens sem alma.
histórias esquisitas,
sem princípio
nem meio.
onde tudo valia.

a noite era dia.
sem manhã
e sem tarde.

a mãe, trabalhando de dia,
o pai, trabalhando de noite.
e ao domingo,
sem missa,
o futebol é que imperava.

a ceia ficou um deserto.
à volta duma lareira apagada.

o pai não sabia do filho.
e o filho desconhecia do pai.

e veio a tropa.
com farda.
um número,
em vez do nome-
baptismo.

nas mãos a espingarda.
cartucheira sem pólvora.

e na camarata,
havia uma escola,
nocturna,
onde tudo valia.

palavrões e refrões
de todas as cores.
obscenos.

horas de entrar.
batendo a pála.
sentinela ao portão.

ordem unida
e a arte da guerra.
matar ou morrer.
primeiro a fingir.
depois a valer.

o regresso chegou,
depois dos destroços.
outra tropa se abriu.
conquistando um lugar.

arregaçaram-se as mangas.
tudo emergiu.
tudo passou.
de bom e de mau.
mudaram as cores.
e as regras.

apareceu a política...
uma desconhecida.
vestida de novo.
atraente e cheirosa.

apareceram partidos
para todos os gostos,
da esquerda para a direita.
baralharam-se as escolas.

apareceram os líderes,
com dom de palavra.
tudo valia.
mentindo,
para subir na escada.

se encurtaram distâncias.
bastava um mandato.
com rédeas nas mãos.
se lixem os cursos.
e o trabalho de empresa.
o que interessa é ganhar,
na corrida do voto...

o resto é o que se vê...
Um desastre total...

Berlin, 9 de Fevereiro de 2015
20h27m

Joaquim Luís Mendes Gomes




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