Convénio dos gansos
Grande barafunda à tona do lago manso,
Quando cheguei pela manhã.
Muito grasnavam os doze gansos.
Irrequietos, descreviam arcos,
Semeavam rastos que se entrecruzavam.
Uma confusão.
Nem deram por mim ao pé.
Peguei numa pedra e joguei ao lago.
Fez-se o silêncio.
Ficaram atónitos.
Nunca tal lhes acontecera.
Se aproximaram ao centro.
Não sei o que disseram.
De repente, levantaram voo
Como aviões.
Formaram em V.
O chefe à frente.
Subindo alto,
Foram sobre o arvoredo,
Na direcção do regato.
Apenas ficou um,
Indiferente a tudo,
Pernas altas,
Um pescoço esguio,
Parecia uma garça.
Apontou o bico
E desfechou um golpe.
Caçada certeira.
Que grande peixe,
Atravessado.
Segui meu caminho.
Quando arribei ao riacho,
Mais a montante,
Ali vinham os gansos,
Bem perfilados,
Em direcção ao lago
Onde são reis...
Bar dos motocas, arredores de Berlim,
31 de Maio de 2017
9h02m
Jlmg
quarta-feira, 31 de maio de 2017
segunda-feira, 29 de maio de 2017
Minha plantinha verde
Minha plantinha verde
Companhia perene.
Sempre alerta.
Brilha verde.
Irradia vida.
Humilde e reservada.
Cada dia,
Se ergue à luz,
Em oferenda,
De beleza e paz.
É de bem.
Gosta que lhe falem.
Se finge morta
Se não tem água.
Sem ressentimento.
Dá gosto vê-la a ressurgir.
Ramos abertos.
Não dá flor.
É prisioneira.
Que radiante,
Ao me ver chegar.
Que feliz ideia
De quem ma deu…
Berlim, 29 de Maio de 2017
12h56m
Dia quente
Jlmg
sexta-feira, 26 de maio de 2017
Serenas e átonas
Serenas e átonas
Serenas e átonas,
As gotas de orvalho,
Poisadas nas giestas.
Pérolas estreladas,
Batidas de sol.
As pedras cravadas
No chão do caminho.
De arestas moídas,
Adoçando os passos.
E as lajes dormentes
No fundo dos rios,
Banhadas de águas correntes.
Sons apagados
De trombetas caladas.
Aves famintas debicando as folhas.
Ramos pendentes,
Sem rosas,
Cravados de espinhos.
Negras amoras,
Nascidas das silvas.
Melros calados,
Sedentos de grão,
Povoando caminhos.
Sinos plangentes
Chorando os defuntos.
Lírios nos campos,
Sedentos de sol.
Ouvindo música clássica variada
Berlim, 27 de Maio de 2017
7h12m
jlmg
quinta-feira, 25 de maio de 2017
Delírios de pão e de paz
Delírios de pão e de paz...
De repente, vindas dos escaninhos recônditos do espírito,
Assomam à luz estilhaços e chispas vulcânicas, em chama.
Tecem crateras fermentes de lava.
Calcinam as cinzas.
Se transformam em húmus.
Espalham verdes vestidos de musgos,
Urzes raiadas de cores.
Vestem encostas e vales.
Álacres perfumes selvagens
Se evolam em chama.
Atraem as aves e feras.
Nas entranhas do solo,
Medram as larvas,
Repasto feérico
Dos melros e cucos.
Zumbem abelhas em séries.
Enchem os vales de mel.
Estendidas ao sol,
Aloiram searas,
Carregadinhas de grão.
Delírios de pão e de paz...
ouvindo Smetana
Berlim, 26 de Maio de 2017
8h28m
Jlmg
De repente, vindas dos escaninhos recônditos do espírito,
Assomam à luz estilhaços e chispas vulcânicas, em chama.
Tecem crateras fermentes de lava.
Calcinam as cinzas.
Se transformam em húmus.
Espalham verdes vestidos de musgos,
Urzes raiadas de cores.
Vestem encostas e vales.
Álacres perfumes selvagens
Se evolam em chama.
Atraem as aves e feras.
Nas entranhas do solo,
Medram as larvas,
Repasto feérico
Dos melros e cucos.
Zumbem abelhas em séries.
Enchem os vales de mel.
Estendidas ao sol,
Aloiram searas,
Carregadinhas de grão.
Delírios de pão e de paz...
ouvindo Smetana
Berlim, 26 de Maio de 2017
8h28m
Jlmg
Mar de Motas
Mar de motas
Nunca vi tantas motas
neste bar dos motocas.
Um mar sem conta.
Farda perfeita.
Todos rebiques.
Fatos inteiros,
E botas del cano.
É cada corpanzil!...
Barbas compridas.
Rabos de cavalo.
Brinco na orelha
E um ror de tatuagens.
Que gente esquisita.
Vive anafada.
Não conta vinténs.
Ataca a cerveja.
Sem piedade nem dó.
É cada pratada!
E não sobra pitada.
Vivem em cheio
Porque o podem fazer.
Um Estado de graça
Que lhe retorna o que paga.
Afinal é tão fácil,
Quando há a vontade!...
Berlim, Bar dos Motocas, arredores de Berlim
25 de Maio de 2017
14h49m
Jlmg
Nunca vi tantas motas
neste bar dos motocas.
Um mar sem conta.
Farda perfeita.
Todos rebiques.
Fatos inteiros,
E botas del cano.
É cada corpanzil!...
Barbas compridas.
Rabos de cavalo.
Brinco na orelha
E um ror de tatuagens.
Que gente esquisita.
Vive anafada.
Não conta vinténs.
Ataca a cerveja.
Sem piedade nem dó.
É cada pratada!
E não sobra pitada.
Vivem em cheio
Porque o podem fazer.
Um Estado de graça
Que lhe retorna o que paga.
Afinal é tão fácil,
Quando há a vontade!...
Berlim, Bar dos Motocas, arredores de Berlim
25 de Maio de 2017
14h49m
Jlmg
Frente à janela
Frente à varanda
Entre o passeio e a casa,
Há um canteiro,
Frente à varanda.
Verde. Altas ramagens,
De que serão?
Às mesmas horas,
De manhã e de tarde,
Um ancião, barbas grisalhas
E veste comprida,
Capuz na cabeça,
Ora a Alá,
Voltado para Meca,
Alheio à estrada
E quem vai no passeio.
Dum dia para o outro,
Daqueles arbustos,
Brotaram botões.
Parecem de rosas.
Talvez lá para a tarde,
Aflorem flores,
Rosas vermelhas,
Como foi outra vez
E o ancião esteja lá.
Lindo altar
Ao deus de Alá…
Berlim, 25 de Maio de 2017
10h25m
Jlmg
quarta-feira, 24 de maio de 2017
Não havia pão
Não havia pão
Desci à rua buscar o pão.
Já seriam horas de estar tudo aberto.
Nem padaria.
Nem supermercado.
Fui à net ver seria feriado.
- Ascensão
de Jesus ao céu.
A explicação.
E agora?
No pão de forma – a salvação
Aquele pão quentinho,
A sair do forno,
Estaladiço, fica para amanhã.
Andei pelo bosque.
Em grande festa.
Pacatamente, os melros, as pombas,
Em correrias, esgravatavam as folhas,
Procurando vermes.
Seu pequeno almoço.
Se ouvia trinados,
Agudo e grave,
Perfeita harmonia.
No meio dos ramos.
Grande folguedo.
Agora, percebo.
Havia feriado para a passarada.
Estava tudo em casa…
Berlim, 25 de Maio de 2017
7h34m
Jlmg
terça-feira, 23 de maio de 2017
O recato das cerejeiras
O recato das cerejeiras
Passam o ano inteiro, nuas.
Ao sol, à chuva e ao frio.
Mal assoma a Primavera,
Aflora-lhe um manto verde
Que a tapa.
Florescem-lhes cachos de flores tão
lindas,
Em tons bem combinados.
Do níveo ao rosa.
Que feérico trono de beleza
Elas se fazem!...
Ao calor do sol, caem-lhe as suas
pétalas.
E, paulatinamente, brotam-lhes dos
seus botões,
Incontáveis pontos rubros, bem
luzidios.
Primeiro, muito envergonhados.
Depois, em numerosos cachos
engalanados.
Que festivas e majestosas são as
cerejeiras
Que alegram as nossas estradas!...
Berlim, 24 de Maio de 2017
7h12m
Jlmg
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