Parto do dia
As coisas estavam negras.
Lentamente os vultos e silhuetas
Foram emergindo da sombra escura.
Se vestiu o céu duma mantilha, cada vez mais branca.
Ressurgem as cores dos seres
Como botão de rosa a abrir,
Sem combustão.
Paira o silêncio sem alaridos.
A natureza, sem estrebuchar,
De tão fecunda,
Já é mestra desta arte.
Está a parir mais um dia, sem assistência de ninguém.
Como princeza pressurosa,
Quer deixar tudo bem arrumado,
Quando o rei sol aparecer...
Mafra, 1 de Setembro de 2016
7h3m
Jlmg
quarta-feira, 31 de agosto de 2016
Que zoada confusa!
Que zoada confusa!...
Meu Deus! Que zoada tão confusa zumbe no Brasil de hoje.
Que outra neste nosso adiado e afogado Portugal por um vinte e cinco de Abril que descarrilou.
E mais outra em Espanha monárquica e democrática que terá de ir à terceira vez
para ser capaz de se conduzir.
E aquela de França atribulada que descambou num arraial de pólvora
com a permissão sem regra de entrada a qualquer beduíno do deserto arábico.
E aquela Babel de aranha que se teceu em Bruxelas e emaranhou a Europa toda...
Meu Deus! É demais. Não aguento...
Mafra, 31 de Agosto de 2016
19h48m
Jlmg
Bate-me o sol ao nascer
Bate-me o sol ao nascer
Cada dia me chama para a vida.
Sorrindo de paz e calor.
Me levanto com ele.
E vou passear.
Calcorreio os campos e montes,
Por veredas com sebes.
Vejo as sementes a se abrir em flor.
Bordejo o rio correndo com pressa.
Há muito não me banho
Na corrente que passa.
Vejo as hortas carregadas de couves.
Contemplo as ramadas, açafates de cachos.
Rebento as solas nas pedras à mostra.
Me carrego de forças para o desgaste da jorna.
Não sinto tristeza.
Me reina a alegria com força.
Como é bela a vida
Se há paz e saúde...
Mafra, 31 de Agosto de 2016
10h41m
Jlmg
Cada dia me chama para a vida.
Sorrindo de paz e calor.
Me levanto com ele.
E vou passear.
Calcorreio os campos e montes,
Por veredas com sebes.
Vejo as sementes a se abrir em flor.
Bordejo o rio correndo com pressa.
Há muito não me banho
Na corrente que passa.
Vejo as hortas carregadas de couves.
Contemplo as ramadas, açafates de cachos.
Rebento as solas nas pedras à mostra.
Me carrego de forças para o desgaste da jorna.
Não sinto tristeza.
Me reina a alegria com força.
Como é bela a vida
Se há paz e saúde...
Mafra, 31 de Agosto de 2016
10h41m
Jlmg
terça-feira, 30 de agosto de 2016
O fim da madrugada
Espero o fim da madrugada...
Túnel negro que me rasga a noite.
Desfigurando a realidade.
Tudo resta lúgubre, quase sinistro.
Em movimento lento sem paragem.
Não há saídas de emergência.
Há que manter a esperança acesa.
Tudo que começa tem o seu termo.
É de lei...
Por isso eu espero o raiar do dia
Para voltar a ver as cores do sol.
Mafra, 31 de Agosto de 2016
5h9m
Jlmg
Túnel negro que me rasga a noite.
Desfigurando a realidade.
Tudo resta lúgubre, quase sinistro.
Em movimento lento sem paragem.
Não há saídas de emergência.
Há que manter a esperança acesa.
Tudo que começa tem o seu termo.
É de lei...
Por isso eu espero o raiar do dia
Para voltar a ver as cores do sol.
Mafra, 31 de Agosto de 2016
5h9m
Jlmg
Igreja velha
Aquela igreja velha
Em pedra firme.
Afitada. Hierática.
Duas abas o telhado em barro.
Uma sineira dum só sino.
Muito sóbria.
Em pedra firme.
Afitada. Hierática.
Duas abas o telhado em barro.
Uma sineira dum só sino.
Muito sóbria.
Uma porta larga ao fundo
Por onde entrava todo o mundo.
Uma singela ao meio,
Era o acesso, por destino,
Das mulheres.
Mais acima, outra estreita,
Para os homens e para o abade.
Um escadório em pedra,
Cá por fora,
Nos levava até ao coro.
Só para homens.
De cadalado interno um altar
A Cristo e à Virgem.
Que linda imagem!
E lá ao cimo o altar-mor.
Para o sacrifício.
E realçando ao topo,
Uma grande tela,
Do Gabriel arcanjo.
De lado um nicho,
Onde se paramentava o Padre.
Não havia bancos.
Só umas cadeiras.
Em damasco rubro.
Para a fidalguia.
Ali se orava forte e são,
Cada Domingo.
Porque, era sagrado!
Sem terço e Missa,
A vida não fazia sentido...
Mafra, 31 de Agosto de 2016
1h48m
está negra a noite
Jlmg
Por onde entrava todo o mundo.
Uma singela ao meio,
Era o acesso, por destino,
Das mulheres.
Mais acima, outra estreita,
Para os homens e para o abade.
Um escadório em pedra,
Cá por fora,
Nos levava até ao coro.
Só para homens.
De cadalado interno um altar
A Cristo e à Virgem.
Que linda imagem!
E lá ao cimo o altar-mor.
Para o sacrifício.
E realçando ao topo,
Uma grande tela,
Do Gabriel arcanjo.
De lado um nicho,
Onde se paramentava o Padre.
Não havia bancos.
Só umas cadeiras.
Em damasco rubro.
Para a fidalguia.
Ali se orava forte e são,
Cada Domingo.
Porque, era sagrado!
Sem terço e Missa,
A vida não fazia sentido...
Mafra, 31 de Agosto de 2016
1h48m
está negra a noite
Jlmg
Vamos lá parar
Vamos lá parar
Basta de esbanjar a vida.
Tão curta e única ela é.
Basta de fazer errado,
Para nós e para os outros.
Só sabemos desfazer quem luta.
Nossa voz ficou rouca de tanto bramir errado.
Cada um se meta na própria toca.
Quanto tempo e força se desperdiçou
Em ninharias.
Bem fazem os dromedários.
Nunca dormem no mesmo sítio...
Mafra, 30 de Agosto de 2016
19h5m
Jlmg
Basta de esbanjar a vida.
Tão curta e única ela é.
Basta de fazer errado,
Para nós e para os outros.
Só sabemos desfazer quem luta.
Nossa voz ficou rouca de tanto bramir errado.
Cada um se meta na própria toca.
Quanto tempo e força se desperdiçou
Em ninharias.
Bem fazem os dromedários.
Nunca dormem no mesmo sítio...
Mafra, 30 de Agosto de 2016
19h5m
Jlmg
segunda-feira, 29 de agosto de 2016
Pedras envelhecidas
Pedras envelhecidas
Ali ficaram há tantos anos,
demarcando as esquinas.
Ruelas estreitas ressequidas
de calçadas maltratadas.
Ali ficaram há tantos anos,
demarcando as esquinas.
Ruelas estreitas ressequidas
de calçadas maltratadas.
Passam por elas sózinhos
os marialvas e valdevinos
nas suas voltas noctívagas.
Até os morcegos se apaixonaram
pois nelas fizeram ninhos.
Só o luar da lua cheia
as alegra e faz sorrir,
quando uma varina perdida,
se encosta nelas a namorar...
ouvindo Camané em "sei dum rio"
Mafra, 30 de Agosto de 2016
3h37m
Jlmg
os marialvas e valdevinos
nas suas voltas noctívagas.
Até os morcegos se apaixonaram
pois nelas fizeram ninhos.
Só o luar da lua cheia
as alegra e faz sorrir,
quando uma varina perdida,
se encosta nelas a namorar...
ouvindo Camané em "sei dum rio"
Mafra, 30 de Agosto de 2016
3h37m
Jlmg
Nuvens do mar
As núvens do mar
Ali vão em correria louca,
Levam o ventre negro e túrgido,
Se embriegaram no oceano.
Apressadas. Querem chegar a horas,
Lá longe ao topo das montanhas álgidas.
Se vestirão de branco como virgens puras
E encherão de neve
Os altares do mundo.
Que cortejo imenso,
Sempre à mesma hora,
Quando o sol se põe.
Estiveram adormecidas,
Ao sabor das ondas,
Como navios à vela,
Sem levar ninguém...
Tapada de Mafra, 29 de Agosto de 2016
20h20m
Jlmg
Medas de poemas verdes
Medas de poemas verdes
Exponho ao sol em medas
meus poemas verdes.
Espero amadureçam
E os saboreiem bem.
Vieram já no meu Outono,
Numa segunda monda.
São bem saborosos
Como rica prenda
Do labor da vida.
Guardá-los-ei na arca
Se não tiverem saída.
Serão a minha marca,
Com toda a minha história...
Tapada de Mafra, 29 de Agosto de 2016
9h49m
Jlmg
Exponho ao sol em medas
meus poemas verdes.
Espero amadureçam
E os saboreiem bem.
Vieram já no meu Outono,
Numa segunda monda.
São bem saborosos
Como rica prenda
Do labor da vida.
Guardá-los-ei na arca
Se não tiverem saída.
Serão a minha marca,
Com toda a minha história...
Tapada de Mafra, 29 de Agosto de 2016
9h49m
Jlmg
Que bela colina ao longe
Que bela colina ao longe
Escorrendo suave, encosta abaixo,
é bela aquela colina ao longe.
Tem a cor pura e negra do chocolate.
Está arada. Exposta ao sol.
Prenhe de vida verde,
Muito em breve,
Parirá à luz.
Uma manta de milho em força,
A cobrirá vaidosa.
Vibrarão ao vento suas hastes em flor.
Se transformarão em espiga
E a seguir em pão...
Tapada de Mafra, 29 de Agosto de 2016
8h38m
amanheceu cinzento
Jlmg
Escorrendo suave, encosta abaixo,
é bela aquela colina ao longe.
Tem a cor pura e negra do chocolate.
Está arada. Exposta ao sol.
Prenhe de vida verde,
Muito em breve,
Parirá à luz.
Uma manta de milho em força,
A cobrirá vaidosa.
Vibrarão ao vento suas hastes em flor.
Se transformarão em espiga
E a seguir em pão...
Tapada de Mafra, 29 de Agosto de 2016
8h38m
amanheceu cinzento
Jlmg
A Vida em festa…
Que alegria vai
Naquelas paredes das casas,
Ao sol a nascer,
Como riem janelas e portas,
Mesmo fechadas.
Apenas os telhados deitados
Parecem calados,
Sem quererem acordar.
Que alegria vai
Naquelas paredes das casas,
Ao sol a nascer,
Como riem janelas e portas,
Mesmo fechadas.
Apenas os telhados deitados
Parecem calados,
Sem quererem acordar.
Muito sereno, acende o céu,
Debaixo das cinzas da noite,
Lareira apagada que foi.
As copas das árvores
Assistem especadas
À sinfonia de cores
Que está a tocar,
Sem maestro ou artistas,
À vista dos olhos.
Apenas nas estradas,
Correm nervosos,
Os carros de vidros fechados,
Que vão trabalhar.
Pelos jardins, desertos,
Dormem corpos deitados,
Das farras da noite,
E pelos passeios,
Passam velhotes com trelas na mão,
Não têm quintal.
O carro do lixo,
Cheio de fome,
Todo lampeiro,
Devora caixotes,
Como se fossem sorvetes.
Luzem cafés luminosos,
Com gente lá dentro,
“Matando o bicho”,
Parecem archotes a arder.
Da torre da igreja,
Onde mora o tempo,
Caem silentes,
As badaladas das horas.
Crianças ridentes, aos grupos,
De sacolas às costas,
Atravessam o jardim
E vão para a escola.
Bandos de pombas famintas,
Andam às voltas, nos ares,
Sem saber para onde ir.
É a festa da vida
Que está a começar!…
Ovar, 29 de Agosto de 2012
7h50m
Joaquim Luís M. Mendes Gomes
Debaixo das cinzas da noite,
Lareira apagada que foi.
As copas das árvores
Assistem especadas
À sinfonia de cores
Que está a tocar,
Sem maestro ou artistas,
À vista dos olhos.
Apenas nas estradas,
Correm nervosos,
Os carros de vidros fechados,
Que vão trabalhar.
Pelos jardins, desertos,
Dormem corpos deitados,
Das farras da noite,
E pelos passeios,
Passam velhotes com trelas na mão,
Não têm quintal.
O carro do lixo,
Cheio de fome,
Todo lampeiro,
Devora caixotes,
Como se fossem sorvetes.
Luzem cafés luminosos,
Com gente lá dentro,
“Matando o bicho”,
Parecem archotes a arder.
Da torre da igreja,
Onde mora o tempo,
Caem silentes,
As badaladas das horas.
Crianças ridentes, aos grupos,
De sacolas às costas,
Atravessam o jardim
E vão para a escola.
Bandos de pombas famintas,
Andam às voltas, nos ares,
Sem saber para onde ir.
É a festa da vida
Que está a começar!…
Ovar, 29 de Agosto de 2012
7h50m
Joaquim Luís M. Mendes Gomes
domingo, 28 de agosto de 2016
Dos meus dedos...
Dos meus dedos escorre tinta em versos
Vão sózinhos meus dedos na paleta branca.
Se ligam directos à minha alma.
E, suavemente, escorrem tinta em versos.
Fico a lê-los, extasiado,
Como um pintor seu quadro belo.
Tecem linhas e formas lindas.
Formam nuvens brancas
Num céu azul infindo.
Fazem matizes em cambraia pura.
Cheiram a linho branco corado ao sol.
ouvindo o "lago dos cisnes"
Tapada de Mafra, 28 de Agosto de 2016
23h11m
Jlmg
Vão sózinhos meus dedos na paleta branca.
Se ligam directos à minha alma.
E, suavemente, escorrem tinta em versos.
Fico a lê-los, extasiado,
Como um pintor seu quadro belo.
Tecem linhas e formas lindas.
Formam nuvens brancas
Num céu azul infindo.
Fazem matizes em cambraia pura.
Cheiram a linho branco corado ao sol.
ouvindo o "lago dos cisnes"
Tapada de Mafra, 28 de Agosto de 2016
23h11m
Jlmg
Caem salpicos...
Caem salpicos de chuva
Caem salpicos de chuva tépida
na tona deste lago manso.
Caem salpicos de chuva tépida
na tona deste lago manso.
Oiço arrufos de rolas bravas
escondidas no folhedo verde.
Corre uma aragem de brisa lânguida.
Restos da ventania fera
que tudo varreu há pouco.
Me recolho solitário nos meus pensamentos.
Medito no passado e no infinito.
Faço preces em toada íntima.
Minhas loas e meus vãos lamentos.
Assim minha alma serena
e feliz, adormeço em paz...
ouvindo Bernardo Sasseti ao piano
Tapada de Mafra, 28 de Agosto de 2016
21h51m
Jlmg
escondidas no folhedo verde.
Corre uma aragem de brisa lânguida.
Restos da ventania fera
que tudo varreu há pouco.
Me recolho solitário nos meus pensamentos.
Medito no passado e no infinito.
Faço preces em toada íntima.
Minhas loas e meus vãos lamentos.
Assim minha alma serena
e feliz, adormeço em paz...
ouvindo Bernardo Sasseti ao piano
Tapada de Mafra, 28 de Agosto de 2016
21h51m
Jlmg
Tanto tempo é passado...
Tanto tempo é passado...
Depois daquele dia
em que te foste,
tanto tempo decorreu,
nada sei se vives ou se não.
E, no entanto, estás presente,
em mim,
em cada dia e cada passo.
Teu lugar está vazio
até ao fim da vida.
Minha esperança nunca morrerá.
Até á última te esperarei...
ouvindo "se uma gaivota viesse" por nossa Amália
Tapada de Mafra, 28 de Agosto de 2016
10h5m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Depois daquele dia
em que te foste,
tanto tempo decorreu,
nada sei se vives ou se não.
E, no entanto, estás presente,
em mim,
em cada dia e cada passo.
Teu lugar está vazio
até ao fim da vida.
Minha esperança nunca morrerá.
Até á última te esperarei...
ouvindo "se uma gaivota viesse" por nossa Amália
Tapada de Mafra, 28 de Agosto de 2016
10h5m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
sábado, 27 de agosto de 2016
Chá com tostas...
Chá com tostas de manteiga
Não me canso, cada manhã,
do meu chá
e das torradas com manteiga.
Me dão alento para a caminhada agreste
que me espera e não perdoa.
Com muito pouco nos contentamos,
se nossa regra for o equilíbrio.
O corpo agradece e retribui.
Todo o cuidado que lhe dermos certo.
ouvindo " Sonho de Schumann" ao piano
Tapada de Mafra, 27 de Agosto de 2016
20h11m
a noite se aproxima serenamente
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Não me canso, cada manhã,
do meu chá
e das torradas com manteiga.
Me dão alento para a caminhada agreste
que me espera e não perdoa.
Com muito pouco nos contentamos,
se nossa regra for o equilíbrio.
O corpo agradece e retribui.
Todo o cuidado que lhe dermos certo.
ouvindo " Sonho de Schumann" ao piano
Tapada de Mafra, 27 de Agosto de 2016
20h11m
a noite se aproxima serenamente
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
abro minha mente à vida
Abro a minha mente à vida
Como uma flor a desbrochar ao sol,
abro a minha mente à vida
com tudo o que é alegre e triste
e me alio.
Me despojo e reparto em pedaços
que lanço ao vento.
Que caiam em terra fértil.
Dêem flor e fruto.
Minhas ideias nascem,
como duma fonte.
Formem um fio de água pura
que engrosse em rio
até ao mar.
Me sacio com a fartura de lembranças boas
que salvei da minha infância.
Tudo o mais se esvaiu em fumo
como o tempo que passou
e não volta mais...
Tapada de Mafra, 27 de Agosto de 2016
18h33m
ouvindo "Silence"
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Como uma flor a desbrochar ao sol,
abro a minha mente à vida
com tudo o que é alegre e triste
e me alio.
Me despojo e reparto em pedaços
que lanço ao vento.
Que caiam em terra fértil.
Dêem flor e fruto.
Minhas ideias nascem,
como duma fonte.
Formem um fio de água pura
que engrosse em rio
até ao mar.
Me sacio com a fartura de lembranças boas
que salvei da minha infância.
Tudo o mais se esvaiu em fumo
como o tempo que passou
e não volta mais...
Tapada de Mafra, 27 de Agosto de 2016
18h33m
ouvindo "Silence"
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
sexta-feira, 26 de agosto de 2016
Tibia luz do lampião
Tíbia luz de lampião
Aquela luz tíbia de lampião
me deixa ver à frente
o relvado e minha sebe.
Depois um muro alto.
me deixa ver à frente
o relvado e minha sebe.
Depois um muro alto.
Tenho fé que seja a mata,
tal é a escuridão que a esconde e tapa.
tal é a escuridão que a esconde e tapa.
Me recordo dos cavalos mansos
que por lá andam
e das encostas secas que se desdobram
em duas folhas.
Depois as árvores numa barreira verde
que a transforma num bosque enigma.
Por isso eu creio.
Mas só a fé garante
e ilumina estes meus olhos.
que por lá andam
e das encostas secas que se desdobram
em duas folhas.
Depois as árvores numa barreira verde
que a transforma num bosque enigma.
Por isso eu creio.
Mas só a fé garante
e ilumina estes meus olhos.
Do mesmo modo o mundo.
Olho em redor.
Só vejo miséria e morte.
Estamos no reinado do ódio
e da ganância cega.
Esmagados pela gula do dinheiro.
Por ele se bombardeia e mata
às cegas e com voragem.
Olho em redor.
Só vejo miséria e morte.
Estamos no reinado do ódio
e da ganância cega.
Esmagados pela gula do dinheiro.
Por ele se bombardeia e mata
às cegas e com voragem.
Até parece o fim do mundo.
Porque este nenhum sentido tem.
Está tão negro...e nele nos vemos perdidos e abandonados.
Porque este nenhum sentido tem.
Está tão negro...e nele nos vemos perdidos e abandonados.
Mas, tal como sei que,
por detrás desta cortina negra à minha frente,
está o enigma duma mata verde que o sol faz tão deslumbrante,
assim, é só aparente o medonho caos que esmaga o mundo
e não estamos sós nem abandonados...
Nisso eu creio
E só me basta!...
por detrás desta cortina negra à minha frente,
está o enigma duma mata verde que o sol faz tão deslumbrante,
assim, é só aparente o medonho caos que esmaga o mundo
e não estamos sós nem abandonados...
Nisso eu creio
E só me basta!...
ouvindo Witney Houston
Tapada da Mafra, 27 de Agosto de 2016
5h9m
5h9m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Joaquim Luís Mendes Gomes
Humilhação das pedras
Humilhação das pedras
Bolas redondas nas encostas das serras,
emersas da terra,
em granito pesado,
sofreram ataques
a ferro e a fogo.
Se desfizeram em lajes
com formas simétricas.
Fizeram muralhas e muros.
Pirâmides a pino.
Adornaram estátuas em tamanhos gigantes.
Catedrais de oração.
Formaram barreiras à força dos rios.
Só sobraram as lascas.
Indefesas.
Disformes.
Ordenadas em linha
fazem tapetes
e cobrem as praças...
Tapada de Mafra, 26 de Agosto de 2016
11h23m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Bolas redondas nas encostas das serras,
emersas da terra,
em granito pesado,
sofreram ataques
a ferro e a fogo.
Se desfizeram em lajes
com formas simétricas.
Fizeram muralhas e muros.
Pirâmides a pino.
Adornaram estátuas em tamanhos gigantes.
Catedrais de oração.
Formaram barreiras à força dos rios.
Só sobraram as lascas.
Indefesas.
Disformes.
Ordenadas em linha
fazem tapetes
e cobrem as praças...
Tapada de Mafra, 26 de Agosto de 2016
11h23m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
O despertar do dia
O despertar do dia
Fruto da luz, chegaram os traços e formas dos corpos.
Depois veio o movimento colorido que os pegou em carrossel.
Cada qual no seu papel, segue a marcha no seu caminho.
Travam-se confrontos e atropelos,
como se o espaço imenso lhes escasseie.
Se evitam os cruzamentos de dois sentidos.
Se ocultam, à cautela, nas sombras que os rodeiam.
Reina o medo e a vontade de sobreviver.
Só a gravidade firme lhes prende os pés ao chão.
Mesmo assim os alados se desprendem e vagueiam livres pelo ar.
Enquanto as árvores se despem das suas folhas secas que só pesam.
Os répteis ápodos e oblongos serpenteiam velozes sobre os folhedos.
Até as núvens, em constante desassossego,
se afligem com as temíveis forças das ventanias.
É esta a paz da natureza.
Tapada de Mafra, 26 de Agosto de 2016
9h40m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Fruto da luz, chegaram os traços e formas dos corpos.
Depois veio o movimento colorido que os pegou em carrossel.
Cada qual no seu papel, segue a marcha no seu caminho.
Travam-se confrontos e atropelos,
como se o espaço imenso lhes escasseie.
Se evitam os cruzamentos de dois sentidos.
Se ocultam, à cautela, nas sombras que os rodeiam.
Reina o medo e a vontade de sobreviver.
Só a gravidade firme lhes prende os pés ao chão.
Mesmo assim os alados se desprendem e vagueiam livres pelo ar.
Enquanto as árvores se despem das suas folhas secas que só pesam.
Os répteis ápodos e oblongos serpenteiam velozes sobre os folhedos.
Até as núvens, em constante desassossego,
se afligem com as temíveis forças das ventanias.
É esta a paz da natureza.
Tapada de Mafra, 26 de Agosto de 2016
9h40m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
quinta-feira, 25 de agosto de 2016
Escuridão total
Poisa sobre a terra a escuridão
Olho pela janela na madrugada.
Para trás dos candeeiros da minha rua,
Poisa sobre a terra a escuridão total.
O nada ninguém o vê.
Será assim.
Só meu pensamento consegue repor
A mata verde que ali se estende.
O silêncio, cansado da berraria e guerra
Que lhe fez o dia,
Dormita em sono profundo.
Repondo o seu tom sereno de equilíbrio.
É a noite eterna na sua majestade.
Na minha alma arde a esperança certa
De que, dentro em pouco
O sol nascerá de novo
Frente à minha janela,
Sobre a tapada verde.
Tapada de Mafra, 26 de Agosto de 2016
4h45m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Olho pela janela na madrugada.
Para trás dos candeeiros da minha rua,
Poisa sobre a terra a escuridão total.
O nada ninguém o vê.
Será assim.
Só meu pensamento consegue repor
A mata verde que ali se estende.
O silêncio, cansado da berraria e guerra
Que lhe fez o dia,
Dormita em sono profundo.
Repondo o seu tom sereno de equilíbrio.
É a noite eterna na sua majestade.
Na minha alma arde a esperança certa
De que, dentro em pouco
O sol nascerá de novo
Frente à minha janela,
Sobre a tapada verde.
Tapada de Mafra, 26 de Agosto de 2016
4h45m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Da ravissa ao pão...
Da ravissa ao pão
Aquele pedaço de ferro ou de pau,
cravado na terra e arrastado pelo boi,
revolve o profundo
e o expõe ao sol.
Ao cabo de horas, saciada de luz,
vem uma grade, com espetos,
carregada com um peso,
a alimária sem soldo,
a puxa de graça,
horas a fio,
num vai e num vem,
alisando aquele húmus,
misturado de adubo,
alimento que a terra não tem.
Depois, é a vez da semente,
milho ou centeio,
lançada à mão,
se entranha nas vertentes
e ventre do chão,
que um milagre de vida
faz germinar em caule e flor.
Que seara mais linda,
ali vai florir,
uma fonte de pão...
Tapada de Mafra, 25 de Agosto de 2016
8h41m
céu cinzento
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Aquele pedaço de ferro ou de pau,
cravado na terra e arrastado pelo boi,
revolve o profundo
e o expõe ao sol.
Ao cabo de horas, saciada de luz,
vem uma grade, com espetos,
carregada com um peso,
a alimária sem soldo,
a puxa de graça,
horas a fio,
num vai e num vem,
alisando aquele húmus,
misturado de adubo,
alimento que a terra não tem.
Depois, é a vez da semente,
milho ou centeio,
lançada à mão,
se entranha nas vertentes
e ventre do chão,
que um milagre de vida
faz germinar em caule e flor.
Que seara mais linda,
ali vai florir,
uma fonte de pão...
Tapada de Mafra, 25 de Agosto de 2016
8h41m
céu cinzento
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Graças a Deus
Graças a Deus...
Por este dia de sol a nascer.
pela Mãe e pelo Pai
que me destes
e tão cedo levastes,
mas me amam no céu...
Por este dia de sol a nascer.
pela Mãe e pelo Pai
que me destes
e tão cedo levastes,
mas me amam no céu...
Pela vida vivida até hoje,
com altos e baixos,
iluminados por Vós.
Umas vezes perdido.
Mas sempre amado.
Boas surpresas,
mais que as más.
Uma chama de esperança
me arde na alma
e me puxa adiante.
A brisa do mar
afagando meu corpo,
cansado e sedento.
Não falte
um pedaço de pão,
na hora da fome.
O calor dum abraço
quando a tristeza vier.
Que eu esteja presente,
onde deva de estar...
Alisando caminhos.
Estendendo meus braços
a quem precisar.
Sentir-me feliz.
O peito a arder.
Deitar-me no leito,
com a bênção divina,
quando a noite cair...
ouvindo "my way"...Frank Sinatra
O sol a subir
Mafra, 21 de Abril de 2015
8h00m
Joaquim Luís Mendes Gomes
com altos e baixos,
iluminados por Vós.
Umas vezes perdido.
Mas sempre amado.
Boas surpresas,
mais que as más.
Uma chama de esperança
me arde na alma
e me puxa adiante.
A brisa do mar
afagando meu corpo,
cansado e sedento.
Não falte
um pedaço de pão,
na hora da fome.
O calor dum abraço
quando a tristeza vier.
Que eu esteja presente,
onde deva de estar...
Alisando caminhos.
Estendendo meus braços
a quem precisar.
Sentir-me feliz.
O peito a arder.
Deitar-me no leito,
com a bênção divina,
quando a noite cair...
ouvindo "my way"...Frank Sinatra
O sol a subir
Mafra, 21 de Abril de 2015
8h00m
Joaquim Luís Mendes Gomes
terça-feira, 23 de agosto de 2016
Agora, é tarde
Agora é tarde
Nascemos. Crescemos.
Enchemos nossos ramos com lantejoulas.
Nos inflamamos de vaidades e guloseimas.
Corremos atrás das borboletas.
Nossos pés criam raízes profundas.
Nos prendem à terra,
nos impedindo de voar.
Súbito um ciclone vem.
Tudo arrasa.
Impotentes clamamos.
Agora é tarde...
nasce o sol
Tapada de Mafra, 24 de Agosto de 2016
7h35m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Nascemos. Crescemos.
Enchemos nossos ramos com lantejoulas.
Nos inflamamos de vaidades e guloseimas.
Corremos atrás das borboletas.
Nossos pés criam raízes profundas.
Nos prendem à terra,
nos impedindo de voar.
Súbito um ciclone vem.
Tudo arrasa.
Impotentes clamamos.
Agora é tarde...
nasce o sol
Tapada de Mafra, 24 de Agosto de 2016
7h35m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Do fim para o começo
Décimo poema na varanda da casa nova
Do fim para o começo
Só virando tudo do avesso,
se alcança a verdadeira forma e conteúdo
de tudo que nos circunda.
Do fim para o começo
Só virando tudo do avesso,
se alcança a verdadeira forma e conteúdo
de tudo que nos circunda.
Nada é aquilo que aparece
à primeira vista.
Primeiro, são cerimónias,
tudo aberto.
- Entre. A casa é sua.
Não é preciso muito.
De todo o lado, surgem desculpas.
- A gente queria...mas não podemos...
Não adianta os laços e o parentesco.
De irmão ou primo.
De tio,
De sogro ou sogra.
Muito menos vizinho.
Só o amor a sério,
como o dos pais,
nem sequer o inverso...
tudo aguenta e nunca se nega.
Berlin, 24 de Junho de 2015
20h36m
Joaquim Luís Mendes Gomes
à primeira vista.
Primeiro, são cerimónias,
tudo aberto.
- Entre. A casa é sua.
Não é preciso muito.
De todo o lado, surgem desculpas.
- A gente queria...mas não podemos...
Não adianta os laços e o parentesco.
De irmão ou primo.
De tio,
De sogro ou sogra.
Muito menos vizinho.
Só o amor a sério,
como o dos pais,
nem sequer o inverso...
tudo aguenta e nunca se nega.
Berlin, 24 de Junho de 2015
20h36m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Bugalhos secos
Bugalhos secos
Com bugalhos secos,
caídos dos carvalhos
e uma covinha no chão,
fazíamos desafios de destreza,
que duravam uma tarde inteira.
Um jogo simples.
À distância duns cinco metros,
cada um lançava o seu
em direção ao buraco.
Depois, com um toque de unha do dedo maior da mão,
a começar pelo que ficou mais perto,
tentava-se enfiar o bugalho na cova estreita.
Quem o conseguisse primeiro
era o vencedor.
Que encanto tinha!...
Tapada de Mafra, 23 de Agosto de 2016
19h50m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Com bugalhos secos,
caídos dos carvalhos
e uma covinha no chão,
fazíamos desafios de destreza,
que duravam uma tarde inteira.
Um jogo simples.
À distância duns cinco metros,
cada um lançava o seu
em direção ao buraco.
Depois, com um toque de unha do dedo maior da mão,
a começar pelo que ficou mais perto,
tentava-se enfiar o bugalho na cova estreita.
Quem o conseguisse primeiro
era o vencedor.
Que encanto tinha!...
Tapada de Mafra, 23 de Agosto de 2016
19h50m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
segunda-feira, 22 de agosto de 2016
Como as andorinhas
Como andorinhas...
Como voam alegres as andorinhas,
indiferentes às multidões.
Como voam alegres as andorinhas,
indiferentes às multidões.
Vão tão leves,
graciosas,
ora altas
ora rentes,
só se quedam
nos seus ninhos,
sempre os mesmos,
pela noitinha,
em tanta paz.
Não viveriam tão contentes
se soubessem
que, algum dia,
irão morrer...
Mafra, 23 de Agosto de 2015
18h11m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
graciosas,
ora altas
ora rentes,
só se quedam
nos seus ninhos,
sempre os mesmos,
pela noitinha,
em tanta paz.
Não viveriam tão contentes
se soubessem
que, algum dia,
irão morrer...
Mafra, 23 de Agosto de 2015
18h11m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Ficará para a história
O avião do Maputo
às nove horas aterrou.
Momentos depois, brancos e negros,
sós ou aos grupos.
começaram a surgir da porta.
às nove horas aterrou.
Momentos depois, brancos e negros,
sós ou aos grupos.
começaram a surgir da porta.
um cortejo sem fim.
golfadas de gente.
que alegria!
os que esperavam.
estava no meio deles.
tanta ansiedade.
filhinhos ao colo
e ao peito,
tias e avós,
à espera do pai.
largou mundo fora,
em busca do pão.
chegada em Agosto.
para uma praia de sol.
esive à espera dum primo
que há muito não via.
pelo motivo pior,
ele teve de vir.
vendeu tudo.
vai lutar com o pulmão
que o tenta matar.
passou sem eu dar conta,
de tão transfigurado.
foi sua companheira fiel
quem me encontrou,
sentado e desolado
da espera.
uma grande alegria
selou este encontro.
ficará para a história.
Era o Fernando Diogo...
golfadas de gente.
que alegria!
os que esperavam.
estava no meio deles.
tanta ansiedade.
filhinhos ao colo
e ao peito,
tias e avós,
à espera do pai.
largou mundo fora,
em busca do pão.
chegada em Agosto.
para uma praia de sol.
esive à espera dum primo
que há muito não via.
pelo motivo pior,
ele teve de vir.
vendeu tudo.
vai lutar com o pulmão
que o tenta matar.
passou sem eu dar conta,
de tão transfigurado.
foi sua companheira fiel
quem me encontrou,
sentado e desolado
da espera.
uma grande alegria
selou este encontro.
ficará para a história.
Era o Fernando Diogo...
domingo, 21 de agosto de 2016
Soam a finados
Soam a finados
Pela quarta vez, os sinos de Perda Maria,
Choram a finados,
Agora,
pelo meu irmão.
Ali nasceu. Ali cresceu,
Filho da terra,
Tal como eu.
São dolorosas as badaladas,
Por alguém de nós
Que desce à terra.
Só estas lágrimas quentes
Que meu rosto molham
Me suavizam a dor.
É a lei suprema!
Não poupa ninguém.
Descanse no céu o meu irmão,
Ao pé dos meus.
Tapada de Mafra, 21 de Agosto de 2016
19h36m
JLmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Pela quarta vez, os sinos de Perda Maria,
Choram a finados,
Agora,
pelo meu irmão.
Ali nasceu. Ali cresceu,
Filho da terra,
Tal como eu.
São dolorosas as badaladas,
Por alguém de nós
Que desce à terra.
Só estas lágrimas quentes
Que meu rosto molham
Me suavizam a dor.
É a lei suprema!
Não poupa ninguém.
Descanse no céu o meu irmão,
Ao pé dos meus.
Tapada de Mafra, 21 de Agosto de 2016
19h36m
JLmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Masseira de pão
Masseira do pão
A vida é uma masseira,
Farinha de milho,
Seco na eira,
Que o moinho moeu
Com a força do rio
Nas noites de breu.
Tão branca e tão pura,
Como a neve do céu.
Benzida por Deus.
Suave milagre,
À vista dos olhos,
O pão com fartura,
Por graça divina,
No forno de lenha,
Sacrário bendito,
Uma fonte paz...
Tapada de Mafra, 21 de Agosto de 2016
13h49m
ouvindo Rachmaninov, concerto nº 3
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Bela recordação
Bela recordação
Me lembro tão bem.
Tinha dez anos.
Chegava do terço.
Minha Delfina à porta.
Sorridente, feliz.
- Anda cá ver.- me pegou pela mão.
Levou-me ao quarto dos Pais.
Minha Mãe soerguida.
Exalava ternura.
Sorriu para mim.
Levantou o lençol.
E um menino rosado,
De formas tão lindo,
Dormia sem fim.
Como fiquei tão feliz!
Seu nome Rogério,
Fui eu que lho dei.
Meus Pais aceitaram...
Tapada de Mafra, 21 de Agosto de 2016
13h9m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Me lembro tão bem.
Tinha dez anos.
Chegava do terço.
Minha Delfina à porta.
Sorridente, feliz.
- Anda cá ver.- me pegou pela mão.
Levou-me ao quarto dos Pais.
Minha Mãe soerguida.
Exalava ternura.
Sorriu para mim.
Levantou o lençol.
E um menino rosado,
De formas tão lindo,
Dormia sem fim.
Como fiquei tão feliz!
Seu nome Rogério,
Fui eu que lho dei.
Meus Pais aceitaram...
Tapada de Mafra, 21 de Agosto de 2016
13h9m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Bela recordação
Bela recordação
Me lembro tão bem.
Tinha dez anos.
Chegava do terço.
Minha irmã à porta.
Sorridente, feliz.
- Anda cá ver.- me pegou pela mão.
Levou-me ao quarto dos Pais.
Minha Mãe soerguida.
Exalava ternura.
Sorriu para mim.
Levantou o lençol.
E um menino rosado,
De formas tão lindo,
Dormia sem fim.
Como fiquei tão feliz!
Seu nome Rogério,
Fui eu que lho dei.
Meus Pais aceitaram...
Tapada de Mafra, 21 de Agosto de 2016
13h9m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Me lembro tão bem.
Tinha dez anos.
Chegava do terço.
Minha irmã à porta.
Sorridente, feliz.
- Anda cá ver.- me pegou pela mão.
Levou-me ao quarto dos Pais.
Minha Mãe soerguida.
Exalava ternura.
Sorriu para mim.
Levantou o lençol.
E um menino rosado,
De formas tão lindo,
Dormia sem fim.
Como fiquei tão feliz!
Seu nome Rogério,
Fui eu que lho dei.
Meus Pais aceitaram...
Tapada de Mafra, 21 de Agosto de 2016
13h9m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Elevados do chão
Elevados do chão...
Quem nunca um dia não caíu ao chão?...
Ninguém. É natural.
Porque o chão é o termo último
Deste corpo que cai porque mortal.
Ninguém. É natural.
Porque o chão é o termo último
Deste corpo que cai porque mortal.
A alma voa livre, à solta
Dentro deste corpo que cai.
O termo infinito, dos dois,
É o céu.
Foi assim que nasceu
Este corpo animado
Com alma imortal.
Dentro deste corpo que cai.
O termo infinito, dos dois,
É o céu.
Foi assim que nasceu
Este corpo animado
Com alma imortal.
A alma é sua boia
Que o prende e segura,
Bem firme,
Amarrada por laços de abraços
A quem os criou.
Que o prende e segura,
Bem firme,
Amarrada por laços de abraços
A quem os criou.
Não te importes se cais...
Há sempre uma mão e um braço
A puxar para cima,
A cuidar as feridas,
Com desvelo de Mãe,
Das pedras ou espinhos da terra.
E não leva um tostão!...
Há sempre uma mão e um braço
A puxar para cima,
A cuidar as feridas,
Com desvelo de Mãe,
Das pedras ou espinhos da terra.
E não leva um tostão!...
Ouvindo Kenny G e o seu sax
Berlim, 21 de Agosto de 2013
8h8m
Joaquim Luís Mendes Gomes
8h8m
Joaquim Luís Mendes Gomes
sábado, 20 de agosto de 2016
Sem pressas
Não tenhamos pressa
De nada servem as pressas
E as dores de cabeça.
Sejamos serenos.
O que nos toca vem dar connosco.
Basta o esforço de fazer por isso.
E, se não chegar,
Nunca será o fim do mundo.
É bem pouco o que nos satisfaz.
Sem ganâncias.
Só se sente o bom sabor
Sem a avidez
Que nos rouba o paladar.
Passo a passo.
Com todo o tento
Faz bem perto
O que parece longínquo...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016 - 20h30m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
De nada servem as pressas
E as dores de cabeça.
Sejamos serenos.
O que nos toca vem dar connosco.
Basta o esforço de fazer por isso.
E, se não chegar,
Nunca será o fim do mundo.
É bem pouco o que nos satisfaz.
Sem ganâncias.
Só se sente o bom sabor
Sem a avidez
Que nos rouba o paladar.
Passo a passo.
Com todo o tento
Faz bem perto
O que parece longínquo...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016 - 20h30m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Revolta dos fragmentos
A revolta dos fragmentos
Eram majestosas estátuas.
Imponentes obeliscos.
Com tanta história.
Nas praças ao centro.
O mundo passava.
Ali impávidas.
Cumprindo a sorte.
Fazia sol.
Fazia vento.
Caía a neve.
Ninguém ligava.
Tanta indiferença.
Chegou o dia.
Tudo ruiu.
Melhor a morte,
Voltar ao chão,
Em fragmentos!...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
16h9m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Eram majestosas estátuas.
Imponentes obeliscos.
Com tanta história.
Nas praças ao centro.
O mundo passava.
Ali impávidas.
Cumprindo a sorte.
Fazia sol.
Fazia vento.
Caía a neve.
Ninguém ligava.
Tanta indiferença.
Chegou o dia.
Tudo ruiu.
Melhor a morte,
Voltar ao chão,
Em fragmentos!...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
16h9m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
não são precisos cadeirões
Não são precisos cadeirões de damasco
Chega uma mesa tosca de madeira
e uma cadeira igual.
Uma candeia acesa, na madrugada.
Muito luar na noite
e a brisa doce do luar.
Uma pluma de bico fino.
Um tinteiro de nankin azul.
O fogo aceso da criação
e as ideias chegam.
É só gravar.
Depois, abrir o envelope em papel almaço.
Colá-lo bem para não deixar fugir.
O destino é igual...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
14h30m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Chega uma mesa tosca de madeira
e uma cadeira igual.
Uma candeia acesa, na madrugada.
Muito luar na noite
e a brisa doce do luar.
Uma pluma de bico fino.
Um tinteiro de nankin azul.
O fogo aceso da criação
e as ideias chegam.
É só gravar.
Depois, abrir o envelope em papel almaço.
Colá-lo bem para não deixar fugir.
O destino é igual...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
14h30m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Como as nuvens
Como as nuvens
São como as nuvens as nossas ideias.
Não páram quietas.
Correm o mundo.
Poisam nas serras.
Banham os mares.
Regam desertos.
Chovem palavras.
Ora granizo.
Farrapos de neve.
Vestem de branco.
Chuva benigna.
Prenhe de vida.
Húmus da terra.
O pão em flor.
Tecem poemas.
Cantam de fadas.
Sonham quimeras.
Moldam estátuas.
Barro e argila.
Espelham a alma.
Irradiam calor.
Escrevem baladas.
Sabem a mel.
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
9h39m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
São como as nuvens as nossas ideias.
Não páram quietas.
Correm o mundo.
Poisam nas serras.
Banham os mares.
Regam desertos.
Chovem palavras.
Ora granizo.
Farrapos de neve.
Vestem de branco.
Chuva benigna.
Prenhe de vida.
Húmus da terra.
O pão em flor.
Tecem poemas.
Cantam de fadas.
Sonham quimeras.
Moldam estátuas.
Barro e argila.
Espelham a alma.
Irradiam calor.
Escrevem baladas.
Sabem a mel.
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
9h39m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Estação errada
Estação errada
Vinha no comboio certo.
Saí na estação errada.
Um deserto árido.
Sem viv'alma à vista.
Só pó na estrada.
Vou regressar a donde parti.
O sentido é outro.
Talvez o sul.
Outro horizonte.
As terras virgens.
Constelações diferentes.
Onde o Inverno é Inverno
E o Verão é Verão.
Reina a verdade.
Aqui, mais não...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
9h6m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Vinha no comboio certo.
Saí na estação errada.
Um deserto árido.
Sem viv'alma à vista.
Só pó na estrada.
Vou regressar a donde parti.
O sentido é outro.
Talvez o sul.
Outro horizonte.
As terras virgens.
Constelações diferentes.
Onde o Inverno é Inverno
E o Verão é Verão.
Reina a verdade.
Aqui, mais não...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
9h6m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
sexta-feira, 19 de agosto de 2016
Natureza
A Natureza
É cozinheira a Natureza.
Trabalha noite e dia na cozinha.
Que beleza de tempêros ela põe
Em cada prato.
Nos vicia...
Tem segredos. Não revela.
Só quer servir bem.
Igual para todo o mundo.
Nada cobra.
Enche o prato até esbordar.
Ninguém sai com fome,
É seu timbre.
A praia e serra é o refeitório.
De dia o sol é candelabro.
De noite um painel de estrelas
Com a lua a cirandar.
O vento silva afoito e certo
Ao ritmo das ondas
Que o mar rege
Como um maestro.
E a sala sempre cheia
Nunca fecha.
Tão belas são as sinfonias!...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
7h10m
depois de ouvir Maria Betânia
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
É cozinheira a Natureza.
Trabalha noite e dia na cozinha.
Que beleza de tempêros ela põe
Em cada prato.
Nos vicia...
Tem segredos. Não revela.
Só quer servir bem.
Igual para todo o mundo.
Nada cobra.
Enche o prato até esbordar.
Ninguém sai com fome,
É seu timbre.
A praia e serra é o refeitório.
De dia o sol é candelabro.
De noite um painel de estrelas
Com a lua a cirandar.
O vento silva afoito e certo
Ao ritmo das ondas
Que o mar rege
Como um maestro.
E a sala sempre cheia
Nunca fecha.
Tão belas são as sinfonias!...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
7h10m
depois de ouvir Maria Betânia
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
De negro...
De negro a noite
De negro se veste a noite.
Será tristeza, será luto?
Um manto de silêncio a envolve
Como se fosse a sepultar.
Nenhum sinal de vida.
A quietude a cala.
Parece.
Jamais irá nascer outro dia.
Não suporto vê-la.
Fecho minha janela.
De luz acesa, minha alma,
Quase exausta, ressuscita.
Crepita em mim o fogo da esperança.
Minha alma exulta.
À hora certa,
Voltará o sol com seu dia
De presente...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
6h30m
clareando tímidamente
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
De negro se veste a noite.
Será tristeza, será luto?
Um manto de silêncio a envolve
Como se fosse a sepultar.
Nenhum sinal de vida.
A quietude a cala.
Parece.
Jamais irá nascer outro dia.
Não suporto vê-la.
Fecho minha janela.
De luz acesa, minha alma,
Quase exausta, ressuscita.
Crepita em mim o fogo da esperança.
Minha alma exulta.
À hora certa,
Voltará o sol com seu dia
De presente...
Tapada de Mafra, 20 de Agosto de 2016
6h30m
clareando tímidamente
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Rodadas de pedra
Rodadas de pedra
Há sulcos pisados no chão.
São rodadas de pedra
e de chuva secas ao sol.
Há caruma suave,
Estendida na terra.
Bailaram nos ramos,
Pinheiros felizes.
Há rodas no rio
Que moem o grão.
O pão das lareiras,
nas ceias de amor.
Há ouriços espalhados
Que picam os pés.
Nunca perdoam
Caírem ao chão.
Há frestas de telhas
Que soltam o fumo.
Da lenha tão verde,
Tirada ao sol.
E o tempo, marchando sereno,
Escorre infinito,
Batido do vento
Chamando a chuva...
Tapada de Mafra, 19 de Agosto de 2016
11h30m
finalmente...chove
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Há sulcos pisados no chão.
São rodadas de pedra
e de chuva secas ao sol.
Há caruma suave,
Estendida na terra.
Bailaram nos ramos,
Pinheiros felizes.
Há rodas no rio
Que moem o grão.
O pão das lareiras,
nas ceias de amor.
Há ouriços espalhados
Que picam os pés.
Nunca perdoam
Caírem ao chão.
Há frestas de telhas
Que soltam o fumo.
Da lenha tão verde,
Tirada ao sol.
E o tempo, marchando sereno,
Escorre infinito,
Batido do vento
Chamando a chuva...
Tapada de Mafra, 19 de Agosto de 2016
11h30m
finalmente...chove
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
quinta-feira, 18 de agosto de 2016
Andar devagar
Andar devagar
Com estas muletas, aprendi a andar devagar.
A pressa morreu.
Minha vitória é chegar.
Tacteio o chão.
Olho o céu.
Ando no meio.
Fico distante de ambos os lados.
Deste modo, sei que alcanço o fim.
Há males que vêm por bem.
Este é um deles.
Ainda bem que sofri.
Quando deixar as muletas,
Serei outro e melhor
Que saboreia andar...
Tapada de Mafra, 18 de Agosto de 2016
20h21m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Com estas muletas, aprendi a andar devagar.
A pressa morreu.
Minha vitória é chegar.
Tacteio o chão.
Olho o céu.
Ando no meio.
Fico distante de ambos os lados.
Deste modo, sei que alcanço o fim.
Há males que vêm por bem.
Este é um deles.
Ainda bem que sofri.
Quando deixar as muletas,
Serei outro e melhor
Que saboreia andar...
Tapada de Mafra, 18 de Agosto de 2016
20h21m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Não interessa
Não interessa se de ouro se de pena
Não interessa se de ouro
se de pena,
a pena com que escrevo.
De que pano minha veste
nem o corte de meu fato.
Se redonda, se corrente
e o tamanho da minha letra.
O que importa é só o fundo,
o essencial.
É o bom e é o belo.
porque a forma quemquer a tece...
Tapada de Mafra, 18 de Agosto de 2016
10h44m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
quarta-feira, 17 de agosto de 2016
Abrir caminho
Abrir caminho
Há laços de ramagem e lianas,
espalhados que entravam o caminho.
Sem catana e muito esforço,
ninguém consegue avançar.
Há camadas de nuvens espessas,
nevoeiro, tão pesadas.
Nossos olhos, por mais potentes,
não conseguem devassar.
Só o sol.
Há na vida horas negras, carregadas de desespero.
Nada presta. Ninguém pode.
Tão geral.
Até parece o fim de tudo.
Um pesadelo.
Mas não é.
Porque o acaso e o abandono
não reinam
nem existem.
Só a fé e muita esperança
conseguem dissipar.
Há sempre um sol e a bonança
para cada noite negra e tempestade.
Ninguém está só!...
Tapada de Mafra, 18 de Agosto de 2016
7h30m
o sol nasce a custo por entre nuvens
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Há laços de ramagem e lianas,
espalhados que entravam o caminho.
Sem catana e muito esforço,
ninguém consegue avançar.
Há camadas de nuvens espessas,
nevoeiro, tão pesadas.
Nossos olhos, por mais potentes,
não conseguem devassar.
Só o sol.
Há na vida horas negras, carregadas de desespero.
Nada presta. Ninguém pode.
Tão geral.
Até parece o fim de tudo.
Um pesadelo.
Mas não é.
Porque o acaso e o abandono
não reinam
nem existem.
Só a fé e muita esperança
conseguem dissipar.
Há sempre um sol e a bonança
para cada noite negra e tempestade.
Ninguém está só!...
Tapada de Mafra, 18 de Agosto de 2016
7h30m
o sol nasce a custo por entre nuvens
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Estrondo
Esta madrugada alta, ouvi um estrondo.
Fui à janela.
Fui à janela.
Abri-a de par em par.
Ao longe, à minha frente,
Como em tela estrelada e negra,
Passava um distico, em letras grandes.
Se podia ler:.
Como em tela estrelada e negra,
Passava um distico, em letras grandes.
Se podia ler:.
Com vosso pensamento,
que ninguém vê,
escrevam aqui
tudo quanto mais desejam.
que ninguém vê,
escrevam aqui
tudo quanto mais desejam.
Mas não riqueza
nem ostentação.
nem ostentação.
se acabem na Terra
nem a fome nem a guerra.
nem a fome nem a guerra.
que sejam iguais os continentes
do norte e sul.
do norte e sul.
se ponha fim
ao degelo dos pólos.
ao degelo dos pólos.
e que os rios deixem de correr para o mar.
se acabem no mundo
os terramotos.
se acabem no mundo
os terramotos.
se apaziguem, de vez, as monções mortais.
e todas as intempéries,
por mais violentas.
e todas as intempéries,
por mais violentas.
e se exterminem para sempre as ditaduras,
com milhões de escravos,
por mais inocentes.
com milhões de escravos,
por mais inocentes.
Tudo isso não é da vossa conta.
Só a mim, me diz respeito.
Só a mim, me diz respeito.
O que espero de vós
é só que aceiteis fiéis
este meu reino...
e a felicidade vem,
como a chuva cai,
é só que aceiteis fiéis
este meu reino...
e a felicidade vem,
como a chuva cai,
ninguém sabe donde é que vem...
Mafra, 18 de Agosto de 2014
19h8m
Joaquim Luís Mendes Gomes
19h8m
Joaquim Luís Mendes Gomes
terça-feira, 16 de agosto de 2016
Revelações discretas
Revelações discretas...
Quem busca sempre alcança,
Me diziam em criança.
E eu acreditei.
Por isso, procuro sempre.
Quando me falta alguma coisa
De que preciso,
Desde que seja boa para mim
Ou para alguém.
Quem busca sempre alcança,
Me diziam em criança.
E eu acreditei.
Por isso, procuro sempre.
Quando me falta alguma coisa
De que preciso,
Desde que seja boa para mim
Ou para alguém.
Fecho os olhos ligo a Deus...
Na hora certa, sem dar fé,
Nunca se esquece.
Aparece igual ou bem melhor
Do que pedi...
Sempre vem.
Impossíveis, se forem bons,
É coisa que não conheço.
Como uma nuvem espessa
Que tolda o céu,
Num repente, discretamente,
Se dissipa.
E, refulgente, brilhando azul,
Logo aparece o céu.
Desce a luz e o calor
Que ilumina e aquece todo o mundo.
Nunca há crise, no celeiro
Que Deus lá tem...
Ouvindo Michael Jackson em saxo
Berlim, 18 de Agosto de 2013
6h9m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Na hora certa, sem dar fé,
Nunca se esquece.
Aparece igual ou bem melhor
Do que pedi...
Sempre vem.
Impossíveis, se forem bons,
É coisa que não conheço.
Como uma nuvem espessa
Que tolda o céu,
Num repente, discretamente,
Se dissipa.
E, refulgente, brilhando azul,
Logo aparece o céu.
Desce a luz e o calor
Que ilumina e aquece todo o mundo.
Nunca há crise, no celeiro
Que Deus lá tem...
Ouvindo Michael Jackson em saxo
Berlim, 18 de Agosto de 2013
6h9m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Em tudo eu quero...
Em tudo, eu quero ter um ritmo suave
Leve e luminoso eu quero ter
meu ritmo.
Minha arte é escrever.
Se fosse música seria igual.
Se pincel, só as planuras verdejantes,
com papoilas.
Seriam águias em voos brandos,
mas certeiras.
À minha frente um lago
de águas verdes
e um colar à volta
de serenas tílias perfumadas.
Fugiria dos rios vertiginosos.
Nunca se sabe de que são capazes.
Minhas janelas sempre abertas.
Quero o sol a brilhar em toda casa.
E, à noitinha, sossegar meus olhos,
contando as estrelas,
ao luar de lua cheia.
ouvindo "nocturnos" de Chopin
Tapada da Mata, 16 de Agosto de 2016
18h4m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Leve e luminoso eu quero ter
meu ritmo.
Minha arte é escrever.
Se fosse música seria igual.
Se pincel, só as planuras verdejantes,
com papoilas.
Seriam águias em voos brandos,
mas certeiras.
À minha frente um lago
de águas verdes
e um colar à volta
de serenas tílias perfumadas.
Fugiria dos rios vertiginosos.
Nunca se sabe de que são capazes.
Minhas janelas sempre abertas.
Quero o sol a brilhar em toda casa.
E, à noitinha, sossegar meus olhos,
contando as estrelas,
ao luar de lua cheia.
ouvindo "nocturnos" de Chopin
Tapada da Mata, 16 de Agosto de 2016
18h4m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Passo o portão
Passo o portão
Sem pensar para onde vou,
passei o portão
e saí.
Desço ao lado destas pedras encasteladas há uns dois séculos.
São muro alto da Tapada.
Quem vai na estrada
não vê o que por detrás há.
Grande espaço real
onde o Rei caçou.
Hoje é mata.
Cavalos. Gamos e javalis
poe ele passejam livres.
Os cavalos, mansos, pardos
Bem os vejo da minha janela.
Pensativos, ali passam dias,
passam meses.
Seu múnus é pastar.
Sem metafísicas,
alheios às guerras
e aos incêndios loucos
que descalabram
este país tão belo...
Não são sempre os mesmos.
De vez em quando chega um jeep
carregado de palha seca.
Então eles correm lestos
como cavalos...
Tapada de Mafra. 16 de Agosto de 2016
16h52m
ouvindo "Claire de lune" em piano
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Sem pensar para onde vou,
passei o portão
e saí.
Desço ao lado destas pedras encasteladas há uns dois séculos.
São muro alto da Tapada.
Quem vai na estrada
não vê o que por detrás há.
Grande espaço real
onde o Rei caçou.
Hoje é mata.
Cavalos. Gamos e javalis
poe ele passejam livres.
Os cavalos, mansos, pardos
Bem os vejo da minha janela.
Pensativos, ali passam dias,
passam meses.
Seu múnus é pastar.
Sem metafísicas,
alheios às guerras
e aos incêndios loucos
que descalabram
este país tão belo...
Não são sempre os mesmos.
De vez em quando chega um jeep
carregado de palha seca.
Então eles correm lestos
como cavalos...
Tapada de Mafra. 16 de Agosto de 2016
16h52m
ouvindo "Claire de lune" em piano
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Antes
Antes, era o espaço, imenso...
Antes era imenso e vasto,
o espaço e o tempo.
o espaço e o tempo.
Tudo vinha longe.
A perder de vista.
A perder de vista.
Gota a gota,
Dia a dia.
Passaram décadas,
e mais décadas.
Sete dezenas de anos.
Num abrir e fechar de olhos.
Dia a dia.
Passaram décadas,
e mais décadas.
Sete dezenas de anos.
Num abrir e fechar de olhos.
Agora sinto
que é escasso,
estreito e sinuoso,
o tempo e o espaço
que me falta...
que é escasso,
estreito e sinuoso,
o tempo e o espaço
que me falta...
Mafra, 16 de Agosto de 2015
20h45m
20h45m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Joaquim Luís Mendes Gomes
segunda-feira, 15 de agosto de 2016
Mandarim das larvas
Mandarim das larvas
No reino das borboletas,
o Mandarim-Geral
fez constar e determinou:
- No dia Xis,
Magna assembleia das larvas.
Presença obrigatória.
Ordem de trabalhos:
Uma decisão suprema.
A tomar na hora.
Chegou o dia.
De todos os cantos,
assomou à sede,
num cortejo lento e infindo,
a totalidade das larvas
de borboletas que havia no mundo.
Se encheu a sala.
Se encerraram as portas.
Na hora exacta,
subiu ao palco,
todo imponente,
o Mandarim.
Soaram palmas.
Tomou a palavra.
- Minhas senhoras!
Chegou a hora final
De decidir quem somos.
De pequeninos ovos,
nascidos há pouco,
sem sermos ouvidos,
viramos larvas,
uns feios vermes.
Não sei por que artes,
mui de repente,
nos vemos belas,
com lindas asas,
quais flores,
esvoaçando ao vento.
Que lindas cores!
Fadas-rainhas.
Eis senão quando,
ao fim dum dia,
sem darmos conta,
Ó ignomínia.
a vida acaba!...
A nós compete
decidir que queremos.
- Se ganhar o contra,
Nem larvas seremos.
Morreremos ovos.
Se não...
Fez-se silêncio.
- Alguém quer falar?
Trémula,
Uma vozita ao fundo, disse:
- Mais vale borboleta às cores,
Por um só dia
Que larva informe por toda a vida!
Votação.
Quem vota contra?
Se ergueu em peso a assembleia.
Naquele momento exacto,
Se abriram as portas
E se toldaram os céus de borboletas...
Tapada de Mafra, 15 de Agosto de 2016
19h32m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
No reino das borboletas,
o Mandarim-Geral
fez constar e determinou:
- No dia Xis,
Magna assembleia das larvas.
Presença obrigatória.
Ordem de trabalhos:
Uma decisão suprema.
A tomar na hora.
Chegou o dia.
De todos os cantos,
assomou à sede,
num cortejo lento e infindo,
a totalidade das larvas
de borboletas que havia no mundo.
Se encheu a sala.
Se encerraram as portas.
Na hora exacta,
subiu ao palco,
todo imponente,
o Mandarim.
Soaram palmas.
Tomou a palavra.
- Minhas senhoras!
Chegou a hora final
De decidir quem somos.
De pequeninos ovos,
nascidos há pouco,
sem sermos ouvidos,
viramos larvas,
uns feios vermes.
Não sei por que artes,
mui de repente,
nos vemos belas,
com lindas asas,
quais flores,
esvoaçando ao vento.
Que lindas cores!
Fadas-rainhas.
Eis senão quando,
ao fim dum dia,
sem darmos conta,
Ó ignomínia.
a vida acaba!...
A nós compete
decidir que queremos.
- Se ganhar o contra,
Nem larvas seremos.
Morreremos ovos.
Se não...
Fez-se silêncio.
- Alguém quer falar?
Trémula,
Uma vozita ao fundo, disse:
- Mais vale borboleta às cores,
Por um só dia
Que larva informe por toda a vida!
Votação.
Quem vota contra?
Se ergueu em peso a assembleia.
Naquele momento exacto,
Se abriram as portas
E se toldaram os céus de borboletas...
Tapada de Mafra, 15 de Agosto de 2016
19h32m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Sumo singelo
O sumo singelo
de cenouras e duas maçãs
Um copo gelado aos golos
se entranha cá dentro,
refresca, alimenta e renova,
deixa tudo de novo.
Duas vezes ao dia.
Façam-no.
Vão ver um milagre.
E, então, se predominarem saladas,
ecléticas,
em vez das frituras, banhas, carnudas.
se revela a surpresa.
Em pouco tempo,
Tudo fica num brinco...
O corpo agradece
e a alma, encantada,
canta feliz.
Foi assim que fiz!...
Mafra, 15 de Agosto de 2016
16h48m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
de cenouras e duas maçãs
Um copo gelado aos golos
se entranha cá dentro,
refresca, alimenta e renova,
deixa tudo de novo.
Duas vezes ao dia.
Façam-no.
Vão ver um milagre.
E, então, se predominarem saladas,
ecléticas,
em vez das frituras, banhas, carnudas.
se revela a surpresa.
Em pouco tempo,
Tudo fica num brinco...
O corpo agradece
e a alma, encantada,
canta feliz.
Foi assim que fiz!...
Mafra, 15 de Agosto de 2016
16h48m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
domingo, 14 de agosto de 2016
derrota da lógica
A derrota da lógica…
Não nascemos para perder.
Saímos nus e sem saber
Das entranhas da nossa mãe,
Cheios de fome de viver.
E de crescer.
E de alcançar.
Quanto mais melhor.
Com o direito de receber.
Sem nada dar.
Queremos reinar.
Como um senhor.
Não nascemos para perder.
Saímos nus e sem saber
Das entranhas da nossa mãe,
Cheios de fome de viver.
E de crescer.
E de alcançar.
Quanto mais melhor.
Com o direito de receber.
Sem nada dar.
Queremos reinar.
Como um senhor.
Queremos brilhar.
Aos olhos de todo o mundo.
Que nos admirem.
Ninguém sonhe
Em nos ofuscar.
E sentimos claro
Que só assim é que faz sentido…
É a nossa lógica.
Um pequenino lapso.
Além de nós,
Há muitos mais!...
Mafra, 15 de Abril de 2015
21h44m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Aos olhos de todo o mundo.
Que nos admirem.
Ninguém sonhe
Em nos ofuscar.
E sentimos claro
Que só assim é que faz sentido…
É a nossa lógica.
Um pequenino lapso.
Além de nós,
Há muitos mais!...
Mafra, 15 de Abril de 2015
21h44m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Lingerie
Lingerie…
Juntinho à pele,
Tapado do vento,
Há seda e cetim.
Há rendinhas bordadas,
Antes à mão.
Acepipes do gosto,
Que despertam o sonho.
Regalos de mosto,
E vendavais.
Tapado do vento,
Há seda e cetim.
Há rendinhas bordadas,
Antes à mão.
Acepipes do gosto,
Que despertam o sonho.
Regalos de mosto,
E vendavais.
Melão em fatias.
Com sabor de elixir.
Abraços e beijos.
Migalhinhas são pão
Que matam a fome
E despertam a sede.
Flores com perfume.
Espevitando os sentidos.
Com sabor de elixir.
Abraços e beijos.
Migalhinhas são pão
Que matam a fome
E despertam a sede.
Flores com perfume.
Espevitando os sentidos.
Um rio em cascatas,
Faminto,
Que corre para o mar.
Um romance de enredos,
Que importa reler.
O derradeiro capítulo
Será de arrasar…
O amor a arder,
Labaredas de fogo.
Se inflama sozinho
E não pode parar…
Faminto,
Que corre para o mar.
Um romance de enredos,
Que importa reler.
O derradeiro capítulo
Será de arrasar…
O amor a arder,
Labaredas de fogo.
Se inflama sozinho
E não pode parar…
Mafra, 14 de Agosto de 2015
10h23m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
10h23m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
òleo de fígado de bacalhau
Óleo de fígado de bacalhau
Acabava de entrar no mundo,
Sem nada pedir.
Uma simples colher.
Mas porquê, me perguntava eu.
A coisa mais horrorosa
que tinha de beber, cada ano.
- Faz muito bem e faz crescer!
me dizia a Mãe.
- Cá para mim,
preferia ficar pequeno.
Há enigmas que eu não desvendo.
Cresci pouco.
Se fez bem não dei fé.
Como é que eu gosto tanto de bacalhau?...
Mafra, 14 de Agosto de 2016
14h48m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
Acabava de entrar no mundo,
Sem nada pedir.
Uma simples colher.
Mas porquê, me perguntava eu.
A coisa mais horrorosa
que tinha de beber, cada ano.
- Faz muito bem e faz crescer!
me dizia a Mãe.
- Cá para mim,
preferia ficar pequeno.
Há enigmas que eu não desvendo.
Cresci pouco.
Se fez bem não dei fé.
Como é que eu gosto tanto de bacalhau?...
Mafra, 14 de Agosto de 2016
14h48m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
sábado, 13 de agosto de 2016
Manchas e nódoas
Manchas e nódoas…
Aquelas montanhas de neve
Que cobrem os polos da Terra,
Com algumas refegas negras.
Não deixa de ser azul
O céu,
Com algumas nuvens voando.
Nem o mar sereno
Com alguns arrufos
De tempestade.
Não se perde um concerto ao piano,
Tocado por mãos divinas,
Se houver uma nota em falso.
E a felicidade que nos banha a alma,
Com uma névoa de dor no corpo.
E um copo de vinho bom,
Mesmo que lhe caia dentro
um cisco…
O bem é bem, porque o mal existe…
Senão, tudo seria igual.
Que seria das montanhas belas
Se tudo fosse uma planície verde?
E do arroz de forno
Se às vezes não apanhasse esturro?
A harmonia total
Nunca existiu
Nem existirá…
Calor sem frio…
O que seria?
Não há alegria perene
Sem uma mancha de tristeza.
Quão enssonsa seria a vida
Se não tivesse dias de alguma angústia…
Como é bom chegar a casa
Depois duma longa ausência!…
Mafra, 26 de Julho e 2014
7h51m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Aquelas montanhas de neve
Que cobrem os polos da Terra,
Com algumas refegas negras.
Não deixa de ser azul
O céu,
Com algumas nuvens voando.
Nem o mar sereno
Com alguns arrufos
De tempestade.
Não se perde um concerto ao piano,
Tocado por mãos divinas,
Se houver uma nota em falso.
E a felicidade que nos banha a alma,
Com uma névoa de dor no corpo.
E um copo de vinho bom,
Mesmo que lhe caia dentro
um cisco…
O bem é bem, porque o mal existe…
Senão, tudo seria igual.
Que seria das montanhas belas
Se tudo fosse uma planície verde?
E do arroz de forno
Se às vezes não apanhasse esturro?
A harmonia total
Nunca existiu
Nem existirá…
Calor sem frio…
O que seria?
Não há alegria perene
Sem uma mancha de tristeza.
Quão enssonsa seria a vida
Se não tivesse dias de alguma angústia…
Como é bom chegar a casa
Depois duma longa ausência!…
Mafra, 26 de Julho e 2014
7h51m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Crónica do meu diário
CRÓNICAS DO MEU DIÁRIO
30 de Junho de 2001- Sábado
Consegui bilhetes, para 2 concertos de piano, no Centro Cultural de Belém, oferecidos pelo “Despertar dos Músicos” da Antena 2, integrados no Festival – Sonho e Romantismo. É a sorte de ser ouvinte, quase assíduo, daquele bom programa diário do Vítor Nobre,desde há uns bons anos.
O 1º é às 11h da manhã. Não sei o que me espera, quando deixo minha mulher e o cocker, em casa, quebrando o hábito semanal, de ir à Costa.
De Algés, pela marginal, ao C C B, vai um salto de pardal.
Aqui está o colosso da cultura, cerrado de pedra, que foi tão controverso, à nascença. Pela forma, p’lo tamanho e localização. Frente aos Jerónimos…
Também censurei. Parece que está vingado. É de facto, um espaço onde acontece muita cultura.
De Algés, pela marginal, ao C C B, vai um salto de pardal.
Aqui está o colosso da cultura, cerrado de pedra, que foi tão controverso, à nascença. Pela forma, p’lo tamanho e localização. Frente aos Jerónimos…
Também censurei. Parece que está vingado. É de facto, um espaço onde acontece muita cultura.
Mais um pouco e fico a saber que o concerto é de uma pianista russa. Vai tocar Schumann e Franz Liszt.
O prospecto vendido na recepção custa, só, mil escudos…Como não paguei nada pelo bilhete, (seriam 5.800$00!…) não hesitei em adquiri-lo. Fiz bem. Fiquei a saber um pouco da pianista e o que ouvi, naquelas 2 horas. Tão breves, tamanha foi a magia que as encheu…e é uma recordação que fica comigo.
Sábado, de manhã. Fim de Junho. Dia de sol, A praia é capaz de levar este mundo de vencida. E levou mesmo. Está muito pouca gente. Umas escassas dezenas, deambulam pelo átrio enquanto chega a hora.
As portas abriram-se. Os rapazes, bem aprumados, que nos levam ao lugar são os mesmos, haja muita ou pouca gente e ali estão. Rasgam um pouco do bilhete que me restituem e levam-me vaté à fila H.
Mas podia sentar-me à vontade… uma plateia imensa de cadeiras, mais os camarotes encastelados, pelas paredes laterais, até bem lá acima, faz deste espaço um local excelente para as artes.
As luzes começam a escurecer e a sala está vazia. Uma sensação esquisita me invade. Meu pensamento traz-me aqueles cortejos loucos de carros cheios de bandeiras a esvoaçar pelas ruas e pela ponte 25 de Abril, nos dias de futebol, faça sol faça chuva. Vêm do fim do mundo e dizem que o s bilhetes são bem caros! Para mim, é um triste disparate. Mas tão boa gente, alinha por aquele gosto, que eu chego a duvidar de mim mesmo. Serei eu que sou limitado.
Vamos ver quem tem razão…dentro em breve.
O que se passou, de facto, a seguir, só a poesia o pode dizer:
CHUVA TROPICAL , NUM DESERTO,
DE VERGONHA E DE POBREZA …
Uma sala monumental.
Um estendal imenso
De mil cadeiras, fofas,
Expostas em ladeira
E uma colmeia
Cheia de camarotes,
Em castelo iluminado,
Casulos de aconchego,
Até ao tecto…
Lá bem no alto.
Um piano esbelto,
Preto e fulgurante
De cauda aberta ,
Real caixa de surpresas,
À espera e pronto
Sobre o palco.
Preto e fulgurante
De cauda aberta ,
Real caixa de surpresas,
À espera e pronto
Sobre o palco.
Às três badaladas,
De magia,
Escureceu a sala
De magia,
Escureceu a sala
E uma jovem,
Morena,
De veste preta,
Avança para ele,
Em passadas repassadas
De garbo e fidalguia.
Morena,
De veste preta,
Avança para ele,
Em passadas repassadas
De garbo e fidalguia.
Com uma vénia hierática
De saudação à plateia,
Mergulhada em silêncio,
Despede-se
E avança, certa,
Mui segura
De espada em riste,
Pelos escaninhos, adentro,
Do piano,
À procura
Dos segredos, belos
E tesouros de
Roberto Schuman e Franz List.
De saudação à plateia,
Mergulhada em silêncio,
Despede-se
E avança, certa,
Mui segura
De espada em riste,
Pelos escaninhos, adentro,
Do piano,
À procura
Dos segredos, belos
E tesouros de
Roberto Schuman e Franz List.
Foram duas horas,
Tão breves, tão fugazes,
De viagem,
Em vertigem,
Sob as garras ágeis
Daquela musa,
Ao leme ardente do piano,
De cauda preta
E asa aberta,
Tão breves, tão fugazes,
De viagem,
Em vertigem,
Sob as garras ágeis
Daquela musa,
Ao leme ardente do piano,
De cauda preta
E asa aberta,
Qual nave louca,
Desenfreada,
Pelas alturas do universo,
Em fantástica acobracia.
Desenfreada,
Pelas alturas do universo,
Em fantástica acobracia.
Cordilheiras, cataratas,
Ou grutas,
Colossais,
Da terra ou oceanos,
Vulcões em brasa,
Tempestades infernais
E orgias fartas de bonança,
Por florestas virgens
E pradarias,
As sereias e amantes,
Secretas,
Dos divinos…
Schuman e Franz List.
Ou grutas,
Colossais,
Da terra ou oceanos,
Vulcões em brasa,
Tempestades infernais
E orgias fartas de bonança,
Por florestas virgens
E pradarias,
As sereias e amantes,
Secretas,
Dos divinos…
Schuman e Franz List.
Teria sido de sonho…
A viagem ,
Se aquele paquete,
Gigantesco e deslumbrante…
Em vez das sete dezenas,
Parcas,
De felizardos, viageiros…
Estivesse tão cheio…
A viagem ,
Se aquele paquete,
Gigantesco e deslumbrante…
Em vez das sete dezenas,
Parcas,
De felizardos, viageiros…
Estivesse tão cheio…
Como de amargura,
O rosto nobre e triste
Daquela artista…
E a vergonha nossa…
Pelo país!…
O rosto nobre e triste
Daquela artista…
E a vergonha nossa…
Pelo país!…
Algés, 30 de Junho de 2001
23h e 41m
Joaquim Luís Mendes Gomes
UM CONCERTO MAGISTRAL
DE PIANO
23h e 41m
Joaquim Luís Mendes Gomes
UM CONCERTO MAGISTRAL
DE PIANO
Ao 30 de Junho de 2001, Às onze horas,
Grande Auditório do Centro Cultural de Belém. Elisso Wirssaladze,
Jovem pianista russa tocou
De Robert Schunmann:
Novelete Op 21,nº8
E fantasia Op 17 em Dó Maior
E
De Franz Liszt:
Sonata em Si Menor
Grande Auditório do Centro Cultural de Belém. Elisso Wirssaladze,
Jovem pianista russa tocou
De Robert Schunmann:
Novelete Op 21,nº8
E fantasia Op 17 em Dó Maior
E
De Franz Liszt:
Sonata em Si Menor
Pianista mágica
Pianista mágica
É mágica esta pianista!
Saem-lhe pelos dedos,
sem uma nota ou pauta à frente,
tão belos e longos concertos
de piano.
Nos confundem e enlevam
aqueles toques firmes,
muito precisos sobre as teclas.
Inefáveis, maviosos bailarinos,
ora pretas ora brancas,
num cortejo imenso gracioso.
Descrevem arcos.
Voos picados, rumo ao céu
e logo ao abismo.
E sua fronte. O seu rosto
como uma estrela,
esparze ininterruptas centelhas
incandescentes
que inflamam
as almas das plateias.
Sózinha enfrenta orquestras numerosas,
desfiando os gigantescos génios:
Schuman, Rachmaninov, Lizt, Brahms
e tantos mais
que os conceberam em segredo, no silêncio.
Que graça e donaire exala seu corpo,
uma obra prima,
na banqueta, frente ao piano preto
de caixa aberta!...
Ouvindo Katya Bunniatishvilli tocando Brahms
Tapada de Mafra, 13 de Agosto de 2016
8h21m
esplendoroso amanhecer de sol
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
sexta-feira, 12 de agosto de 2016
O bombeiro que morreu
Àquele bombeiro que morreu…
Era um meu irmão,
Não lhe sabia o nome…
Este homem
Que o fogo devorou.
Enquanto eu dormia,
Deixou sua casa,
Sua família…
Subiu ao monte,
Em chama ardente,
Devorava tudo…
Quanto lá havia,
Serra abaixo,
Campos fora,
Até às portas ternas,
Onde o fogo é chama,
É só lareira acesa,
É mesa posta e
Muita alegria,
No altar perene
Das famílias todas
Da nossa aldeia…
Não foi a guerra,
Não foi a metralha
Dum inimigo bárbaro
Que vem lá de longe,
Para nos tirar a terra…
Foi só a palha seca,
Da primavera em flor
Que tudo vestia,
À chuva e sol,
Noivado em festa,
Floresta em paz,
Hino de verde,
Seara d’oiro,
Do céu à terra,
Desde a cabeça aos pés
A montanha a arder...
Que aquele irmão da gente
Se lhe pôs à frente,
E tentou matar,
Pegando em tudo,
À mão,
Até a vida dele,
Para me defender,
Que quero chorar,
Até um dia morrer...
Mafra, 13 de Agosto de 2016
4h22m
Joaquim Luís M. Mendes Gomes
Era um meu irmão,
Não lhe sabia o nome…
Este homem
Que o fogo devorou.
Enquanto eu dormia,
Deixou sua casa,
Sua família…
Subiu ao monte,
Em chama ardente,
Devorava tudo…
Quanto lá havia,
Serra abaixo,
Campos fora,
Até às portas ternas,
Onde o fogo é chama,
É só lareira acesa,
É mesa posta e
Muita alegria,
No altar perene
Das famílias todas
Da nossa aldeia…
Não foi a guerra,
Não foi a metralha
Dum inimigo bárbaro
Que vem lá de longe,
Para nos tirar a terra…
Foi só a palha seca,
Da primavera em flor
Que tudo vestia,
À chuva e sol,
Noivado em festa,
Floresta em paz,
Hino de verde,
Seara d’oiro,
Do céu à terra,
Desde a cabeça aos pés
A montanha a arder...
Que aquele irmão da gente
Se lhe pôs à frente,
E tentou matar,
Pegando em tudo,
À mão,
Até a vida dele,
Para me defender,
Que quero chorar,
Até um dia morrer...
Mafra, 13 de Agosto de 2016
4h22m
Joaquim Luís M. Mendes Gomes
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