sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Uma manta de penugem...


Tomo uma escada…
Tomo uma escada
E subo no céu azul,
Banhado de sol,
Fugindo ao gelo
Desta terra molhada.

Alcanço o infinito
E vejo como tudo
É pequeno e escasso.
Se fecho os olhos,
Fico no centro do mundo…
Berlim, 31 de Dezembro de 2016
9h53m
Jlmg








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Uma manta de penugem, gelada e branca…
Revestia o chão negro de folhas desfalecidas.
Um melro calado e independente
Debicava em cadência sóbria
A comida que encontrava.

Meus passos batiam firmes
E das narinas saía em baforada,
O calor interno,
Como se fora uma chaminé.
Resistentes em painel de cores,
Havia florinhas tímidas e resfriadas
Pelas moitas de arbustos
Que sobraram.
E, depois, num pequeno lago,
De água negra
Brincavam gansos
Em fogosa brincadeira.
À sua volta, uma manta branca
Se estendia.
Aos pares, em perfeita camaradagem,
Corriam cães atrás das pedras
Que seus donos lhes atiravam.
Ó que harmonia de natureza
No dealbar de mais um dia
Que nascia!...
Berlim, 30 de Dezembro de 2016
Jlmg

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Cada manhã...

Cada manhã...

Cada manhã abro a janela
e vejo a manhã.
Me lanço à vida....
Me puxa com força.
Deixo-me ir.
Viver com os vivos.

O dia começa.
Me traz novidades.
Saboreio o momento.
Não olho para trás.
Somam os anos.
O balanço é bom.
Não me arrependo de nada.
Fazer por viver
o melhor que puder.
Quem manda sou eu.
Jlmg

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

A apatia...

A apatia...

Convida a ficar quieto
Esta apatia matinal.
Reagir.
Pegar nos pés e dar uma caminhada.
O ar fresco.
A vida em curso.

O canito branco, preso a uma trela
Que se recusa a dar mais um passo
Num cruzamento.

A moça a fumar enquanto espera
e dedilha o fone.
E a senhora bem maquilhada.
Lá vai altiva na sua cadeira
De duas rodas.

Tudo é a vida em movimento.
Nada estático.

Até o ramo da silva em arco
Que pende sobre o passeio
Me afugenta e eu respeito.

O mesmo caminho da caminhada.
Se insurge e não quer que eu vá.
Mas vou, sem o encurtar.

O corpo aquece.
E eu espevito.
Aqui quem manda é minha vontade.

Regresso a casa.
Me sento à mesa.
Foi-se a apatia
E a nuvem espessa...

Berlim, 29 de Dezembro de 2016
8h49m

Jlmg


o peito duma mulher...

O peito duma mulher…


Aquele mar encapelado
Onde apetece mergulhar.
Aquele barco engalanado,
Não há onda brava
Que o atemorize.
Aquele farol aceso
Que, de longe,
Ilumina o mar.
Aquela vela panda
Que só o vento faz vibrar.
Aquela montanha branca
Que de longe brilha ao sol.
Aquela muralha forte
Que abriga um coração.
Aquele regaço aberto
Onde apetece adormecer.
Não há nada nem ninguém.
Por mais forte ou por mais fraco,
Seja pobre, seja rico,
Capaz de lhe resistir…
Berlim, 27 de Dezembro de 2016
00h10m
Jlmg

Choram as pedras...

Choram as pedras...

Aves perdidas,
Choram as pedras,
Bate-lhes o sol,
A fonte secou.

Folhas caídas,
Cansadas da vida,
Presas ao caule,
Querendo voar.
Um rio em fúria,
Sua sina é fugir
Correndo no leito.
Um jovem sonhando,
Deixou as alturas,
Em procura do mar...
ouvindo Wagner...
Bar dos motocas, arredores de Berlim, 27 de Dezembro de 2016
11h30m
Jlmg

A sopa do dia anterior...

A sopa do dia anterior…


Uma tigela de barro.
Um copo de vinho.
A sopa a ferver.
Do último dia.

Depois, roupa velha,
Com laivos de azeite.
Um naco de broa.
Rodelas-chouriço,
Bigodes de sopa.
Olhos brilhantes.
Arfantes de amor.
A lareira em chamas.
Alegria geral.
Família unida.
Um Natal que passou.
A hora tão grande,
Carregada de luz.
Nos enche o peito.
Relembra o passado.
Infância feliz…
Berlim, 27 de Dezembro de 2016
20h8m
Jlmg

O terror da amizade...

O terror da amizade…
Ninguém sonha o que ela faz
Quando é a sério.
Desfaz distâncias.
Os nós e os preconceitos.

Abraça o mundo.
Não olha a custos.
Torna iguais os seus irmãos.
Gera o encanto.
Suaviza a vida.
Dá vontade de acordar.
É como o sol.
Aquece.
Sempre atenta.
Não vive só.
E, quando nasce,
É para todos.
Não tem idade.
Apenas nasce.
É imortal.
Prolifera.
Muitos frutos.
De qualidade.
Não usa químicas.
São biológicos.
Quem os provar fica freguês…
Berlim, 28 de Dezembro de 2016
9h15m
Jlmg

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Terça-feira de natal...

Esta terça-feira molhada...

Chuva cinzenta escorrendo no chão.
O vento molhado soprando raivoso.
A neve prometida
Que tarda e não vem.
Só este bar com cor
Consola e convem.

Um estranho sabor
Me invade e domina.
Um navio sem norte,
Sem azul e sem mar.

Um ano que acaba
E apetece esquecer.
O outro que vem.

A esperança que nasce,
A manta de verde,
Raiada de sol...

Bar Motocas, arredores de Berlim,
27 de Dezembro de 2016
10h50m

JLMG

A força da emoção...

A força da emoção…
Aquela têmpera brilhante e rubra
Que só o arder da labareda alcança.
Aquele encanto íntimo
Que nos encanta de sublime.
Aquela magia inefável
Que envolve a vida
De fulgurosos cambiantes.
O abraço forte e incandescente
Que inflama de amor
Os corações mais arrefecidos.
A derradeira chama acesa capaz
De atear o mundo.
Aquele veleiro quimérico
Que, por fim, nos transporta ao
Fim do mundo.
Aquela bênção divina
Que sempre cai na derradeira hora.
A esperança viva que sustenta a alma
Nas intempéries do mar da vida.
Nunca alguém se apaga,
Enquanto sua chama arde…
Berlim, 26 de Dezembro de 2016
22h36m
Jlmg

sábado, 24 de dezembro de 2016

A nudez do espírito...

A nudez do espírito...

Através do manto espesso da realidade
eu vejo a nudês translúcida do espírito.

A forma multíplice que reveste o ser de todos os seres.

Os arquétipos imaginados pela sabedoria e arte mágica do Criador.

O sopro misterioso que tudo inflama,
com beleza e infinitude de mestria universal.

A prova inexorável da bondade e fulgor do Criador...

Berlim, 23 de Dezembro de 2016
14h31m

JLMG

Espírito de natal

Espírito de Natal…
Aquela magia divina da noite de Natal.
O presépio aceso com as prendas do amor.
Aqueles sorrisos puros de crianças…
Nunca mais iguais voltam a ser.
Uma mesa farta de iguarias.
Que sabor!...
O abrir de embrulhos.
Que surpresa!
Tudo era alegria
Como nunca mais volta a haver.
Os pais e avós ali à volta.
Que sabor!
E Jesus nasceu…
Berlim, 23 de Dezembro de 2016
13h6m
JLMG

domingo, 18 de dezembro de 2016

Meu pinheiro de Natal

Está seco meu pinheiro de natal.
Ficou lá fora todo o ano ao tempo.
Agora, nem a neve.
Só lhe luzem as bolas
Que a chuva dá...

JLMG

Cicatrizes do monte

Cicatrizes do monte…
A encosta do monte tem cicatrizes.
Pedreiros a monte,
Roubaram-lhe as pedras.
Deixaram-lhe feridas.
Com o tempo secaram.
Caíram as chuvas.
Choveram sementes,
De tojo e de urzes.
Duma manta de cores
A primavera as cobriu.
Reluzem ao sol
E dançam ao vento.
Repasto de abelhas,
Searas de mel.
Às vezes das chagas,
Com a bênção de Deus,
Renasce com vida
Uma fartura sem fim…
Berlim, 18 de Dezembro de 2016
13h39m
JLMG

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Sorriso das folhas...

Sorriso das folhas...

Caídas no chão,
sorriem as folhas ao sol.

Se despedem da vida
onde bailaram de verde,
depois amarelas,
pintando os ramos
às cores,
como se fossem flores.

Uma manta de neve
há-de cobri-las,
seu sono eterno,
entranhas do húmus,
repasto dos vermes.

É o ciclo perene dos seres,
dotados de vida,
quer queiram ou não...

Bar dos Motocas, arredores de Berlim,
16 de Dezembro de 2016
11h23m

JLMG

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Inquietude...

Inquietude...

Até os corvos negros andam inquietos.

Não param quietos sobre os telhados.
Sarapantados, quebram arcos
E poisam no chão,
Remexendo as folhas.

Perante as carências,
Nunca inertes,
Não cruzam os braços.
Nada reclamam.
Se dão à luta,
Com toda a alma.

Suas crias, de bico aberto,
Os esperam inclementes.
Bem presente
Que já foram assim.

Como são tenazes
Estes corvos negros!...

Bar dos Motocas, arredores de Berlim
14 de Dezembro de 2016
11h25m

JLMG


Esperando o indefinido...

Esperando o indefinido…


Suspenso na minha órbita,
Eu busco o indefinido,
Sem algemas.
Como um pescador teimoso, de cana em punho a desafiar o rio.
Ou cavalo selvagem
Que só amansa
Quando alcança a pradaria.
Em meu redor, tudo rodopia,
Na sua senda,
Por lei da vida.
Nunca me chego à beira dum abismo.
Só por respeito da minha integridade.
Solitário, caneta em riste,
Eu só espero a hora
De me sentir rei.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Um poema...

Um poema...
Escrever um poema que chegou.
Lê-lo e sentir, cá dentro uma onda de emoção,
subindo,
entalando a garganta,
uma lágrima que cai,
o coração que acelera.
É a felicidade que vem...
Berlim, nos Motocas,
12 de Dezembro de 2016
11h58m
JLMG

Suave milagre...

Suave milagre…
Eis que no céu,
Uma estrela brilhou
E o Rei apareceu nas palhinhas deitado,
Um simples bebé,
Chorando e mamando
Nos peitos da Mãe,
Ao pé do seu pai,
Ninguém mais o cuidou.

Cresceu e brincou,
Correndo e caindo,
Esmurrando os joelhos,
Tal qual como nós.
Sorrindo para a Mãe,
Durante seu banho.
Se amodorrando ao peito,
Embrulhado num pano.
Suas vestes vestindo
Sempre a brincar.
Menino ladino.
Sem manhas,
Almoço à espera,
Fingindo não ouvir
O pai e a Mãe…
E demorava a chegar.
Aprendeu um ofício
Se preparando para a vida,
Ajudando lá em casa.
Até que um dia,
Homem já feito,
Se deu conta.
Seu rumo era outro.
Cumprir a missão,
Inscrita no peito:
Salvar todo o mundo,
Pregado na cruz.
Torná-lo perfeito,
Com vida imortal…
Seu nome Jesus!
Ouvindo Rachmaninov, concerto nº 3
Por Kathya Buniatishvilli
Berlim, 12 de Dezembro de Dezembro de 2016
18h7m
JLMG

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Estrada molhada...

De novo, a estrada molhada...

Chovem salpicos com lama.
Vidraças ofuscas.
Nervos em riste.
A estrada vai cheia.
A velocidade latente.

A vida constante
De tanta gente igualzinha.
Táxis, polícias
E o socorro da estrada.
A luta da vida
Assim o impõe.

Há quem passeie e descanse.
Quem cumpra o dever
Visitando ausentes,
Por bem e por mal.

Assim foi e será.
Oxalá que em paz...

Bar dos Motocas, arredores de Berlim,
12 de Dezembro de 2016
11h6m

JLMG




Mar das emoções...

Arrosto o mar das emoções


Como um barco afoito,
No rebentar das ondas,
Em mar irado, me lanço e arrosto,
Sem olhar para trás.

As domino e venço.
E o mar largo e imenso,
Se abre em frente.
Cumpro a minha rota
Até alcançar o cais.
É ao largo que é alto e fundo
O céu.
Só o cintilar das estrelas
Me ofusca e inunda os olhos
E, por eles a alma.
Como astronauta,
A voar na altura,
É do mar que a nitidez da Terra avulta…
Ouvindo Susan Boyle
Berlim, 11 de Dezembro de 2016
18h0m
JLMG

domingo, 11 de dezembro de 2016

Lema de vida...

Um lema para toda a vida

Dócil.
Submisso.
Atento e compassivo.
Grato.
Combatente.
Aberto e acessível.
Reservado,
Mas risonho e circunspecto.

Misericordioso e penitente.
Religioso a cem por cento,
Sem dar nas vistas.

Constante,
Fiel e apaixonado.
Interveniente e positivo.
Carinhoso e apaixonado.

De tudo um pouco,
Com peso e com medida.

Seja o lema para uma vida cheia...

Berlim, 12 de Dezembro de 2016
8h49m

Jlmg

Clamam pelo sol...

Clamam pelo sol...
Clmam pelo sol,
desfraldadas ao vento,
as bandeiras molhadas
que convidam paragem.

Um luminoso café,
cheio de gente,
acolhe quem chega,
se come e se bebe
do bom e melhor.
Não falta a alegria
de gente madura.
Reina a fartura,
por fora e por dentro.
O espírito se espraia,
esquecendo negrumes.
O corpo descansa sentado,
esperando as ordens do dono.
Lá fora,
não importa que chova
ou que neve
e o tempo não conta,
mesmo que as bandeiras
clamem por sol...
Bar dos motocas, arredores de Berlim,
11 de Dezembro de 2016
11h2m
JLMG

sábado, 10 de dezembro de 2016

Travo seco e amargo...

Travo seco e amargo…
Vem do fundo.
Cortante.
Abrasivo.
Não há suco.
Favo ou mel
Que o adoce.
Pior que fel.

Não tem cor.
Se tivesse, só breu
O pintaria.
Borbota. Faz espuma.
Tem escamas duras.
Quartezianas.
Suplício.
Só um sol em brasa o queima
E, de novo, purifica…
Berlim, 10 de Dezembro de 2016
10h6m
Jlmg

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Salão docafé...

Salão do café


Adoro presenciar os casais sentados à mesa,
frente a frente num café.
As horas correm e eles, indiferentes,
conversam, sorriem, olhos nos olhos,
segredam-se os sonhos,
prometem amores sem favor.

Tempo sadio. Banhado de amor.
Flashes raiados de cor.

Adoro ver os casais em meninos,
se descobrindo por sendas, ignotas,
onde moram
O desejo e a fome
Do corpo e da alma.

Morrem temores em abraços, quentes,
Fervem os corpos trementes.
Lampejam os ossos.
A pele se arrepia em frémitos
E jorram dos olhos
Desejos escondidos...

Lá fora, caídas no chão,
Jazem amarelas, molhadas,
As folhas.
É Dezembro sem neve ...


Bar dos Motocas., arredores de Berlim, 9 de Dezembro de 2016
11h. 52m
Jlmg

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Não sei que diga ou faça...

Não sei que diga ou faça...

Tanto desatino desfaz e despedaça o mundo nesta hora!...
Não sei que faça ou diga.
De oriente ao ocidente.
No norte ao sul.

Até as calotes brancas, endurecidas
pela eternidade em ambos os polos,
se vão desfazendo e enchendo os mares.

Caem aviões e chocam comboios por motivos vis.

Cabeças sem tino conquistam os poderes dos povos como piratas e tudo escaqueiram sem qualquer respeito.

Escorre a injustiça dos tribunais supremos rasgando as leis.

E as religiões milenares que,
decantando a fé,
cimentaram certas,
os caminhos da humanidade,
estão a ser ofuscadas por nuvens espessas,
de erros crassos,
adulterando os fins.

Se estudam sondas para devassar os céus,
com objectivos perversos.
Enquanto, desvairadamente,
se arrasam cidades totais,
dizimando gentes
e se matam à fome populações inteiras.

Para onde vai o mundo?...
Só as divindades sabem.

Berlim, 8 de Dezembro de 2016
8h53m

JLMG






terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Apegado à vida...

Apegado à vida...

Surgi no mundo sem saber
quem sou, donde venho
e para quê.

Fui crescendo e olhando em redor.
Gostei tanto e cada vez mais.
Aquele Pai e aquela Mãe
me cuidavam, com tanto desvelo,
tudo me davam,
eram divinos.
A minha irmã, de olhos brilhantes,
sempre a brincar.
Os meus primos todos e tios
e os meus vizinhos.
Uma família, tão alargada,
de portas abertas.

A humanidade inteira só podia ser assim, também.

É tão bom viver.
Me apeguei à vida com tanta força.
Me sinto colado a ela,
como unha e carne.

Dou topadas.
Às vezes sangro,
mas tudo sara.
E eu prossigo, parece eterno.
Como me engano!

Tantos partiram
dos que me embalaram.
Meus pais e avós,
irmãos, amigos da escola
e tantos mais...
São só lembrança!

Se nada mais houvesse
para além da morte,
o ter nascido,
para todos nós?...

Maior desgraça
não poderia haver...

Berlim, 7 de Dezembro de 2016
7h37m

JLMG

Sem destino...

Sem destino...
Me lanço ao caminho sem destino.
Só páro no infinito.
Atestei de fé e esperança
o depósito do meu carro,
último grito.
Confio nele e no poder das minhas forças.
Nada temo.
Muitas estrelas no céu,
atentas,
me guiam e defendem.
Vou seguro...

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Abstracção...

Abstracção...

Abstraio dos ventos e das marés.
Me lanço ao mar da ilusão
com os pés bem assentes,
não vai cair ao chão.

Me guindo às profundidades infinitas
do meu ser.
Mo deu a divindade com seu saber infinito e o calor do seu amor.

Oiço baladas de melodia, desprendidas do indefinido,
me chegam e arrebatam o coração.
Desfalecido pelas ventanias e intempéries
que o cercam e querem soçobrar.

Do que em mim recebo gratuitamente,
eu quero partilhar igual e pronto.
Nada do que tenho e sou
é meu...

ouvindo o sublime das melodias

Berlim, 6 de Dezembro de 2016
8h40m
JLMG

domingo, 4 de dezembro de 2016

Minhas vértebras...

Minhas vértebras…

Terráqueas me rangem as vértebras.
Correm sulfúricos meus anelos profundos.
Raivosos esbracejam os corvos
Sem nada no chão.

Nas praias desertas dormitam as algas
Enquanto as ondas soltam bocejos.
Da espuma do mar se evolam fumaças.
Nuvens em bando avançam para a serra.
Pelos campos de estio
Chovem ameaças
Que o sol não chegue.
Das casas aflitas sobem as preces.
Faz tempos não chove.
Que grande desgraça!
A Deus que nos valha…
Berlim, 4 de Dezembro de 2016
11h13m
Jlmg

Funéreas vertigens

Funéreas vertigens...


Correm pelas escarpas das serras
funéreas vertigens.
Pairam desgraças,
no mundo,
em nuvens latentes.

Soam os gritos das almas famintas.
Bramem as feras com medo do homem moderno.
Nada respeita.
Até queimou a cama lavada
onde nasceu!
Só a clemência de Deus
lhe pode valer...
Berlim, 4 de Dezembro de 2016
16h1m
Jlmg

Adormeci...

Adormeci...

Sentei-me no degrau da escada,
sei lá, cansado ou triste.
Adormeci.
Me vi sonhando.
No raiar da aurora.
Um céu alto e rondo.
Iluminado em fogo.

Ao longe o Marão alvinitente.
Ao perto os campos.
Os montes verdes.
Telhados rubros,
Aqui e ali.

Torres com cruzes.
Que davam horas
E mais as bênçãos,
Cheias de cores.

Não havia fome.
Havia paz.
Rostos alegres,
Olhares acesos.
Corpos sadios.
A trabalhar nos campos.

Subiam cantares
Que tinham réplicas.
Havia lágrimas,
Só das saudades.

Se davam abraços,
Pagos a pronto,
Tanta fartura,
Sem cobrar preço.

Um dia, porém,
A voz dos mandantes,
Ordens da pátria,
Soou de longe,
Chamou para a guerra.

Os jovens partiram.
Se foram dos cais,
Pelo mar sem fim.
Choveram as lágrimas,
Choro das mães.
Das namoradas.
Uns que se foram.
Nunca voltaram.
Tudo mudou...

Berlim, 5 de Dezembro de 2016
7h47m

JLMG

Não consigo devassar...

Não consigo devassar...

Às golfadas me entra pelas janelas
o nevoeiro de Berlim.
Não se consegue devassar.
É o prenúncio-mensageiro
que bate à porta.
Vem aí a manta branca
que no Inverno irá usar.
Já ciranda ansiosa pelas ruas
a frota alegre dos limpa-neve,
já cansados de esperar.
E os meninos, lá em casa,
desesperam por usar as botas novas
e jogar à bonecada,
com a neve que há-de cair...
Berlim, 4 de Dezembro de 2016
9h53m
JLMG

Oração dos pássaros...

Oração dos pássaros…


Pássaro esquecido,
Saltito tristonho
Na minha gaiola.
Portelha fechada,
Água na celha,
Milho no chão.

Bate-me o vento
Carregado de frio.
Cerro meu bico
De asas cerradas.
Escorrem-me as lágrimas,
Meus olhos molhados.
Peço uma manta,
Ninguém que ma dê.
Tremem-me os ossos,
Doem-me os pés.
Arde-me a esperança
Em meu peito com dor.
Salve rainha,
Na paz do Senhor!...
Berlim, 4 de Dezembro de 2016
12h21m
Jlmg

A Terra é negra...

A terra é negra…


Celeste é a luz.
Negra a Terra.
Se conheceram no céu,
Se dão tão bem.
Parecem casal.

Forjaram estrelas,
Pintaram os mares.
Vestiram de verde.
Estrela polar.
Cruzeiro do sul.
Teceram de rios,
Seus corpos terrenos,
Sopraram-lhe uma alma,
Ventos alísios,
Monções sem fim.
Arca de aliança
Entre o eterno e o fim.
Imaginação dos deuses,
Deixada à mão.
Para nosso bem…
Berlim, 4 de Dezembro de 2016
10h53m
JLMG

Nevoeiro de Berlim

Não consigo devassar...


Às golfadas me entra pelas janelas
o nevoeiro de Berlim.
Não se consegue devassar.
É o prenúncio-mensageiro
que bate à porta.
Vem aí a manta branca
que no Inverno irá usar.
Já ciranda ansiosa pelas ruas
a frota alegre dos limpa-neve,
já cansados de esperar.
E os meninos, lá em casa,
desesperam por usar as botas novas
e jogar à bonecada,
com a neve que há-de cair...
Berlim, 4 de Dezembro de 2016
9h53m
JLMG

sábado, 3 de dezembro de 2016

Poesia...

Poesia...


Caia do céu uma chuva branda de poesia iluminada.
Raie o sol em arco-íris.
Fecunde a terra com flores e frutos.
Seja abundante e farte a fome e  sede que a devoram.

Um imenso manto de justiça a envolva e cubra.

Que o hino da paz se entoe por toda a parte
e a felicidade seja a rainha...

ouvindo Rubinstein ao piano tocando Chopin

Berlim, 3 de Dezembro de 2016

9h16m

JLMG


quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Aldeias da serra...

Aldeias da serra...

Gosto das aldeias da serra.
Aldeias totais.

Nasci numa delas.
Feitas de pedra talhada, saída da terra.

Têm casas de pedra espalhadas.

Com poços e hortas tratadas
onde se cria de tudo.
Leiras de pão
e ramadas de vinho.

Casas vizinhas,
sem muros,
cheirando a fumo da lenha.

Bordadas à volta,
Com as cores,
de flores que crescem à solta
seguindo à risca as regras do tempo.

Têm caminhos em pedra
e bordas bravias.
Regos e sulcos,
por onde escorre a água das chuvas.

Matas e bosques onde habitam as aves
e cantam os cucos.

Por debaixo das telhas,
se guardam segredos e lendas
vindos de antanho...

Berlim, 1 de Dezembro de 2016
16h3m

JLMG




quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Ano e meio depois...

Ano e meio depois...

É forte e intenso
O reencontro dum filho, ano e meio depois.
Mas mais, é o fim e partida.
A dor em vez da alegria.
A vida é assim...

Berlim, 30 de Novembro de 2016
10h19m

JLMG

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Cumeadas da serra...

Cumeadas da serra...

Trepei às cumeadas da serra,
perto das nuvens
e fiquei a bradar
como ave canora que voa
e sabe cantar.

Senti os perfumes das urzes e mato,
seu colorido brilhando,
borboletas dançando,
chascos cantando
em bicos de pé.

Sentei-me nas pedras vestidas de musgo.
Despi a camisa.
Sequei o suor.
Sorvi a aragem fresquinha que subia do mar.
Sonhei com as fadas
me contando as lendas.

Esperei que o sol,
brilhando sem fim,
caminhando sózinho,
se deitasse no mar,
cansado e feliz.

Berlim, 29 de Novembro de 2016
8h47m

ouvindo Chico Buarque e Caetano Veloso

JLMG




domingo, 27 de novembro de 2016

Madeira eterna...

Esboroar da madeira eterna...
Com pedações de troncos secos
se ajusta o esqueleto possante dum grande barco.
Com barrotes nus se aguça a quilha
e se adoçam as bordas.
Com tábuas arcadas se tapa o bojo,
da proa à popa.
A seguir os mastros, de baixo ao alto.
Se recheia o ventre e se lança ao largo.
Com o tempo, num vai e vem constante,
Tudo envelhece. A água vence.
E o barco, para sempre, pára...
Depois o vento e a chuva, o sol e o tempo.
Tudo escaqueira. A chuva leva.
E no seu fim só a fogueira...
Berlim, 27 de Novembro de 2016
15h28m
JLMG

Aurora verde...

Não é boreal esta aurora verde...

Tem laivos de seara verde esta aurora de Berlim.
Não é boreal.

Uma mancha larga e escura se oferta ao céu a despertar de luz.

Suavemente, o dia desponta com o nascer do sol.

Uma jornada mais, de labor e vida,
nesta urbe imensa, se põe em marcha.

Tomo meu barco de sonho e me abalanço ao mar...

Berlim, 28 de Novembro de 2016
7h27m

JLMG


Cargueiro gigante...

O cargueiro gigante

Ferrou-se em ferro à doca,
com unhas e dentes,
tentando levá-la.

Insano! Em vão.

Por que ele puxe,
se afunda no rio
que manda na doca.

Ali jaz dromedário.
Alapado.
Lhe enchem o bojo.
Atestam.
Sem um simples gemido.

Na hora exacta,
Desprendem-lhe as cordas.
Aceleram-lhe as máquinas.
Ateiam-lhe a hélice
E ele range e rumina com raiva
Na profundeza das águas.

Lento e pesado se desliga da doca.
Faz-se ao rio
E, navio sem velas,
Segue para o mar,
Cumprindo a rota...

Berlim, 27 de Novembro de 2016
9h18m

JLMG











sábado, 26 de novembro de 2016

Ouvir tudo...

Ouvir tudo...

Ouvir tudo, do princípio ao fim
e fingir que não.
Uma habilidade.
Quem a não tem?...

Um rosto sério,
Por dentro a rir.
Um amigo em dor,
um sorriso de irmão,
por dentro a chorar.

Sofrer sózinho,
parecendo esquecer,
se nos fazem mal,
é só para os fortes,
almas gigantes,
é marcial.

Intensamente,
viver cada dia,
como se fora o último,
um milagre real,
ao alcance de todos.
Modificaria o mundo,

Basta querer...

ouvindo Chopin

Berlim, 26 de Novembro de 2016
9h41m

JLMG

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Nevoeiro...

Nevoeiro...

Uma manta espessa de nevoeiro
esconde o céu à terra.

Fez-se o silêncio.
Se calaram todos os sonhos.

Pelas ruas desatinadas apenas as rotinas seguem cegas suas rotinas.

Já não há escaparates de oferendas,
frente aos passeios,
porque se toldaram negros todos os horizontes.

A esperança foi escorraçada a pontapé pelos temores.

Só o sol da fé ainda brilha por dentro dos olhos amordaçados.

Há-de chegar o dia em que seus raios
rasgarão esta cortina pesada e negra
e, de novo, se verá o azul do céu...

ouvindo 2º concerto de Rachmaninov por Hélène Grimaud

Berlim, 25 de Novembro de 2016
8h39m

JLMG

Ferramentas...

Ferramentas...
Só com boas ferramentas
se constroem pontes e erguem arranha-céus.
Com as mãos se modela o barro
e se amassa o pão.
Brota dos dedos
a beleza dos poemas
e o encanto das sinfonias.
Sem remos o barco não avança.
Com a força da vontade
e a luz da inteligência
se desvendam os mistérios
e se vencem as distâncias.
Só a alavanca da justiça
e a força do amor
reinará a paz no mundo!...
Berlim, 24 de Novembro de 2016
11h7m
JLMG

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Horas do vento...

Horas do vento...

É constante e lento
o rodopiar das horas
e o fluir do tempo.

O mesmo ritmo.
Sem intervalos nem compassos.
Nunca cansa.
Nunca atrasa.
Tudo arrasta,
Nunca espera.
Tudo leva à sua frente.

Todo o longe,
De repente, se faz perto.

Inesgotável a sua fonte.

Tudo cala e tudo apaga.

Não se engana.
Sempre em frente
E não repete.
É recto o seu caminho.

Não se importa que o conte.
São exactas suas contas.
Bom vizinho.
Nunca se zanga.
Faz feliz quem o sabe aproveitar...

Berlim, 22 de Novembro de 2016
20h16m

JLMG






segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Clarão no céu...

Fulgurante clarão cobre o céu...

Fulgurante clarão que cobre o céu!
Tem a cor do sol em bola
que vai nascer,
O real diadema a faiscar,
de mais um dia em Berlim.
Nem de propósito.
Depois de tanto negrume
que nos envolvia.
Como é bom...
Pelo nosso filho que vai chegar.
Incandescente claridade
ilumina a terra
e a cobre de oiro
num abraço em fogo
que nos aquece.
Se entoem hinos de louvor à majestade que tudo rege.
Seja alegre e bem fecundo
este dia!...
Berlim, 22 de Novembro de 2016
8h00m
JLMG

domingo, 20 de novembro de 2016

Tudo começa igual...

Tudo começa igual...
Tudo começa igual ao nascer do dia,
só varia a cor e os tons.
A esperança é verde
e firme a fé.

Minha alma acorda e arde.
Sua luz é suave e colorida
apesar das tempestades.
Abro de par em par as janelas dos meus braços.
Raia forte o sol no horizonte.
São nítidas no chão as suas sombras.
Meus olhos alcançam nítido
o recorte certo do infinito.
Passo a passo, vou tecendo meus poemas,
para bem do mundo...
Berlim, 21 de Novembro de 2016
8h39m
JLMG

sábado, 19 de novembro de 2016

Simplicidade e elegância...

Simplicidade e elegância...
O porte esbelto de girafa,
se projecta ao alto,
entre a terra e o céu.
Dromedário everest carrega cargas,
a toda a hora,
desde o chão até às alturas,
como os canecos duma nora.
Elegante bailarino roda e baila,
se entrega à sua arte,
como se fosse a sua dama.
Sempre pronto e não se cansa.
Tem a força ingente dum gigante,
a graça imensa duma garça.
Nada cobra.
É humilde e não se ufana.
É o guindaste.
ouvindo Adagieto de Mahler
Berlim, 19 de Novembro de 2016
9h32m
JLMG

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Apagou-se a noite...

Apagou-se a noite...

A noite apagou-se,
mas o dia nascente
é tão cinzento e pálido.
Mais valia não despertar.

Esperar que o sol,
como um avião que sobe,
emerja e rasgue
esta cortina de nuvens espessas.

De novo brilhem as cores da terra
como as pintou a Natureza.
Seja azul o mar e o céu.
Reluzam ao sol todos os tons de cor
das vestes
desde os vales até aos altos cumes.

Se cubram de algas verdes
todas as praias.

Surjam golfinhos a bailar nos rios.
Gravitem nos ares em bandos livres
todas as aves vindas de além fronteiras.

Surjam sorrisos dos rostos tristes
por mais um Inverno que nunca mais passa.

Berlim, 18 de Novembro de 2016
7h39m

JLMG


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Tudo molhado...

Tudo molhado...

Quis sentar-me a meio da caminhada.
Estava deserto o parque de brinquedos.
Só os dois pares de melros debicavam alheios ao chão molhado.

Não parei.
Foi mais curto o meu passeio.

Não chapinhei nas folhas secas.
Corria água pelos sulcos do caminho.

Estavam negros os troncos e ramos nus.

Pelos passeios largos,
de sacola às costas,
mastigando pão,
seguiam lestos,
tantos alunos.

E, às golfadas,
os autocarros vomitavam gente
que, de amarelo, iam e vinham.

Enquanto, impávidos, os corvos negros debicavam no chão,
sem saber do mundo...

Berlim, 17 de Novembro de 2016
8h41m
JLMG

Num cruzamento oculto da cidade...

Num cruzamento oculto da cidade...
Num cruzamento oculto da cidade,
onde só passam transeuntes,
há uma voz barítona que se eleva,
entoando a Ave Maria.

Um a um se vão parando a ouvir.
O chapéu no chão
recebe as ofertas
que lhe dão.
É da voz que ele vive.
Quem lha deu foi a Natureza
Como a flor de um jardim.
Também assim
o saber ver e querer ouvir...
ouvindo "Ave Maria" de Schubert
Berlim, 16 de Novembro de 2016
9h24m
JLMG

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Chapinhar nas folhas secas...

Chapinar nas folhas secas...
Me sinto outra vez miúdo.
Pela manhã me abalanço a uma caminhada.
Aqui, há bosques frondosos,
entre os prédios dos residentes.
Se acabou o reinado das folhas verdes.
Veio o Outono e os seus mistérios fulgurosos.
Cada árvore era uma floreira.
De pouca dura.
Em pouco tempo, uma a uma,
foram caindo ao chão.
Agora é um mar de folhedo seco.
O calcorreio com passadas breves,
espalhando-as esbaforidas.
Caíu-lhes a geada fria
e elas gemem.
Dá-lhes brando o sol
e faíscam em fogo fátuo...
Berlim, 14 de Novembro de 2016
10h53m
JLMG

Olho este amanhecer..

Olho este amanhecer...

Mais um amanhecer gelado e luminoso neste dia de Novembro em Berlim.
Está azul o céu, alto e imenso.
Nimbado por um véu de luz.

A cidade acorda do sono recolhida.
As janelas negras, uma a uma,
se iluminam.
Por dentro, eu vejo vultos lentos
que caminham e se aprestam.

É a hora do trabalho imperdoável que os espera.

A pouco e pouco, as ruas se vão enchendo de transeuntes.
Carros, vultos, ainda dormentes.
Seus escapes são narinas fumegantes.
É o choque insofismável,
entre o gelo e o calor.

E, eu, recolhido neste aconchego,
me acantono à mesa
E me vou brindando
com milagrosos travos negros de café,
enquanto escrevo...

Berlim, 14 de Novembro de 2016
8h53m

JLMG



sábado, 12 de novembro de 2016

Espanejo as minhas asas...

Espanejo as minhas asas...

Na candura deste sol nascente,
espanejo minhas asas
e revejo ao fundo as fragas e as campinas verdes
onde corre um rio.

Banho minha alma em chama
na imensidão deste mar azul.

Saboreio as ondas que meu corpo banham
E entoo loas ao meu Criador.

Como é suave a vida sem as tempestades.
Como seria bela a terra
se nela houvesse paz...

Berlim, 13 de Novembro de 2016
8h8m

JLMG

Meu veleiro imaginário...

Meu veleiro...

Tomei o meu veleiro imaginário
e me abalancei ao mar da poesia.

Fiz-me ao largo,
até ver de longe a terra.

Uma orla verde e negra a borda,
sinuosa e branda.

Daqui de longe, ninguém adivinha o que vai nela.

O desassossego de tanta gente
em buliçosas correrias,
de manhã à noite.
Buscando o dinheiro e o poder
a qualquer preço,
é o seu lema,
como se a vida ali fosse eterna.

Prefiro a paz deste mar de calma
onde posso admirar o céu com suas estrelas,
a partir do convés deste meu veleiro imaginário...

Berlim, 12 de Novembro de 2016
16h9m

JLMG

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Uma estrada longa...

Estrada longa atravessa África...
Uma estrada longa atravessa África,
Vai do norte ao sul.
Talhada a faca.
Corta a direito,
Deserto fora.
Desce a savana.
Sobe a serra.

Agora, um vale.
Depois um rio.
Tem a cor da terra.
Umas vezes, negra
Outras, é barro.
Ora sózinha.
Ora é aldeia.
Com tanta cubata.
Entre florestas,
Salta o equador.
Passa a planície.
Divisando a praia.
O Klimmanjaro ao alto,
A tremer de neve.
Tão serenamente,
Como um rio longo,
Vai desaguar no mar...
Berlim, 11 de Novembro de 2016
11h16m
JLMG

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Cada dia...

Cada dia tem sua farda...

Cada dia a sua farda.
Umas vezes negra,
Outras fulgurante.

Varia o fardo.
Umas leve outras pesado.

É do sol a culpa
Que os fabrica.
Segundo um critério
Que não tem regra.
Parece ao calhas.

Que importa à gente
Fazer as contas,
Se quem as soma,
Tudo baralha
E não dá conta.

Foi sempre assim.
Ele não engana.
Tantas vezes, triste,
As mais, contente.
É o que vale...

Berlim, 11 de Novembro de 2016
8h34m

JLMG




quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Paralizado...

Sinto-me paralizado...

O inesperado e indesejável aconteceu.
Não é o "palhaço" igual ao nome,
que me amedronta.

É aquela força cega e medonha que o catapultou.

Uma hecatombe em marcha. Irreversível.
Vai arrasar o mundo.

Sinto-me uma folha de Outono
Que vai cair no chão.


Berlim, 9 de Novembro de 2016
9h30m

JLMG

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Na praça fria...

Sacode as cordas da sua viola...

Como um gamo endiabrado
sacode as cordas da sua viola
e se desfaz em diabruras.

Esparzem os seus estilhaços
pelas vidraças embaciadas da multidão.

O sol lhes bate e inunda de alegria
as nossas horas de calmaria.

Bastam centelhas dos seus acordes
e a fogueira acende.

Tudo refulge e baila
nesta praça fria.

ouvindo a viola  de Joaquim Rodrigo

Berlim, 8 de Novembro de 2016
10h14m

JLMG

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

As cegonhas

Gosto das cegonhas...
Quem não gosta delas?
Como são belas, graciosas,
de asas largas,
a navegar no ar como se fossem caravelas.

Na hora certa, se vão e voltam
das suas paragens.
Como são valentes, corajosas,
estas obreiras.
Independentes.
Não sobranceiras.
Juntam-se à gente,
pelas estradas,
sem estorvar.
Sorriem dos postes.
Com suas crias.
São bem pacíficas.
Ganham a vida
pelas lezírias.
Não se guerreiam,
Vivem em paz.
Berlim, 7 de Novembro de 2016
8h49m
JLMG

O exaustor do fumo...

O exaustor do fumo...

O progresso inventou o exaustor do fumo.
Antes, era só o sibilar do vento e as chaminés.

De atmosfera pura ficavam as cozinhas.
Só as traves negras se não corria o vento.
Era o nevoeiro denso.
Inundava a casa.
Fazia chorar os olhos.

Só de porta aberta se alcançava ver.

Ó suavidade doce, meu amanhecer...

Berlim, 7 de Novembro de 2016
10h59m

JLMG

domingo, 6 de novembro de 2016

Laivos de sol

Laivos de sol...

Com laivos de sol
E uma floresta,
numa tarde de Outono,
se pinta uma paisagem de sonho.

Sinfonia de tons,
Do amarelo ao grenã.
Chuva de sombras.
Uma brisa suave.
Cascatas de folhas,
em constante borbulhar.

Um regalo para os olhos.
Um repasto para a alma.
Nesta tarde de Novembro,
com a neve a anunciar...

depois dos "motocas"

Berlim, 6 de Novembro de 2016
14h36m

JLMG

JLMG

sábado, 5 de novembro de 2016

Melodia dum piano e duma orquestra...

Melodia dum piano e duma orquestra...

Deixo-me embalar pela doce melodia do concerto.
Oiço um piano que me encanta.
Abstraio das agruras deste mundo.

Chego aos cumes da divindade.
Minha alma plana leve
Sobre a brisa verde da primavera.

Escorrem as vertentes em torrentes Abundantes.
Me inundam de alegria.

É a hora exacta em que me oiço e alcanço,
Aqui na terra,
A paz suave da eternidade...

ouvindo Beethoven com Hélène Grimaud e uma orquestra, concerto nº 4

Berlim, 5 de Novembro de 2016
9h38m

JLMG

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Minhas trouxas...

Minhas trouxas…
Empilhei as minhas trouxas e parti ao mundo.
Não quero ficar no mesmo sítio onde nasci.
Quero abrangê-lo.
Outras gentes. Outras culturas.
Além das serras, além dos mares.

O espaço donde vem o sol.
E aquele onde se põe.
Ver as cores da Natureza,
Conforme as terras
E os seus odores.
Contemplar flores
E as cores que têm.
Os frutos e seus sabores.
O falar das gentes, na própria fonte.
Ver os rastos dos tempos passados.
Por esse mundo.
Sentir a experiência única
De me ver de longe.
Regressar cansado,
Mas enriquecido,
Ao meu tugúrio.
Só assim, eu serei feliz…
Berlim, 4 de Novembro de 2016
10h21m
JLMG

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Canalhas solitários..

Calem-se todos os canalhas solitários...

Murchem de vergonha como folhas
todos os escalafrários que abundam.

Donde emergiram, se fomos nós, seus pais e avós,
que os parimos?

Onde buscaram eles a genealogia da ignomínia com que vivem,
se nós cumprimos sempre nosso dever?

Deitaram abaixo todos os robles do nosso império de honra,
com a maior desfaçatez.

Se alimentam de sangue e de suor dos outros, incapazes de qualquer acção.

Desçam depressa aos calabouços negros
e lá permaneçam até ao fim.

Fiquemos sós e os nossos mais lídimos valores reais.

Retomemos a nossa senda donde fomos escorraçados.

Se vire de vez esta página suja da nossa história!...

Berlim, 2 de Novembro de 2016
14h39m

JLMG

Quero lá saber...

Quero lá saber…

Se chove ou neva, quero lá saber.
O que importa é viver.
Ser-se feliz…o mais que se puder.
Uma hora triste
É nuvem que passa.
Depois virá a alegria
Ao nascer do sol.
Vejam as flores
Como são alegres.
Vivem do perfume
Que nos inebria
E lhes aviva as cores.
Ouve o passarinho
Como canta belo,
Mesmo na gaiola.
Como é bom viver.
Como é linda e fresca
Aquela cascata de água
A jorrar da serra.
E a seara verde a bailar ao vento
A crescer ao sol.
Esperando o oiro loiro
Que a há-de adornar….
Quero lá saber se lá fora chove.

Ouvindo Susan Boyle
Berlim, 2 de Novembro de 2016
JLMG

Palácio real...

Sou arquitecto…

Concebi um palácio
No seio dum bosque,
Junto de um lago.
Desenhei o projecto.
Comprei um penedo.
Chamei os pedreiros.
O desfizeram em pedaços.
Cavaram os caboucos.
Na geometria exacta.
Cascalho no fundo.
E duma hora para a outra,
Começou a crescer.
Um escadório à frente.
Chega-lhe às portas.
Rasguei-lhe as janelas.
Ovais.
Abertas ao sol.
Uma refulgente rosácea
Adorna-lhe a fronte.
Suspendi-lhe o telhado
Com um lindo jardim.
Depois do final,
Convidei os amigos,
Chamei uma orquestra.
Ofereci um banquete
Regado de vinho.
Senti-me um rei.
Arquitecto real…

Berlim, 2 de Novembro de 2016
11h38m
Ouvindo Ave Maria de Schubert
JLMG

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Deixem que a chuva chova...

Deixem que a chuva chova...
Deixem que a chuva chova
e a neve caia.
A Natureza é quem sabe e manda.
Por mais que se grite ao rio:
- não corras mais...
Nada adianta. Ele vai para onde vai.
E se o vento silva.
Ninguém o cala. Ele é que sabe.
Então, porque andam p´raí uns intrusos e atrevidos a vociferarem injúrias ao deus dará,
se tudo permanecerá igual e como está?
Deixem que a chuva, na sua hora, caia e a neve neve.
A Natureza o sabe...
ouvindo a Diva Susan Boyle
Berlim, 31 de Outubro de 2016
16h36m
JLMG

Mandei calar a minha voz...

Mandei calar minha voz...

Se soltou em desatino.
Briguenta e inclemente.
Vociferando em alta voz
Contra tudo.

Nunca a tinha ouvido assim.
Sempre foi branda e suave.
Compreendendo tudo
E condescendendo.

Mas veio um dia.
Uma erupção vesuviana
Se desfez em lava,
Ácida e mordaz.
Corrosiva e abrasadora.
Vinha de dentro.

Tudo à volta estava ameaçado.

Soltei-lhe um grito.
Estarrecedor.
Ela calou.

Ficou sem forma.

Fiquei atónito.

Esperei.

Momentos depois ela falou.

- Estava cansada de te ouvir a ti
e de ser esquecida.
Como um senhor e rei.
Só tu no mundo.
Não resisti.

Dei-lhe razão.
Daí em diante, passei a ouvi-la...
Remédio santo.

Berlim, 31 de Outubro de 2016
20h13m

JLMG


Mãos amordaçadas...

Mãos amordaçadas...

Os dedos estalam-me nas mãos amordaçadas.
E os braços me amarram como varas.
Meu tronco ameaça tombar sobre o abismo.
Tenho medo do futuro que sucederá ao meu passado.

Tudo é opaco e espesso.
Nada brilha como antanho.
Nem o sol traz o encanto que nos Encantava.

Tudo soçobrou. O amor e a arte.
Só a esperança me arde dentro
E me sustenta.

Berlim, 31 de Outubro de 2016
17h29m

ouvindo Susan Boyle

JLMG

Pardieiros ressequidos...

Pardieiros ressequidos...

Uma linha de pardieiros, em tábuas de pinho ressequido,
sobre a areia da praia erma.

Tufas de turfas bravas a espreitar ao sol.

Uma linha estreita por onde o comboiozito vai e vem,
transiberiante,
Desde a Costa à Fonte.
Bate-lhe o sol e o vento.
Com o mar azul ao pé.

Uma esplêndida maravilha simples ali à mão por cinco réis.

Deliciosas recordações imortais
desde lá muito atrás...

Berlim, 31 de Outubro de 2016
16h02m

ouvindo a diva Susan Boyle

JLMG


O canivete de São Jorge

O canivete de São Jorge
Quando se abriam,
Eram luzentes, em aço puro.
Bem temperado.
O cabo em pau.
Davam para tudo.
Afiar o lápis.
Limpar as unhas.
Descascar maçãs.
Abrir melões.
Sei lá que mais.
Se vendiam na feira dos vinte e três.
Nunca mais chegava
Ó que encanto,
Nos tempos da escola.
Nos fazia homens!...
Berlim, 31 de Outubro de 2016
8h58m
JLMG

domingo, 30 de outubro de 2016

Banho de cor...

Um banho de cor...

Fui ao Bar "Motocas".
Que banho de luz e de cor!...
O céu bem azul
E as folhas das árvores
São uma alegre sinfonia de tons,
Em hossana inebriante
Ao Deus seu Criador.

Valeu por mil dias
De tormenta amordaçados
Pela cinza, gelada e triste
Que, por momentos, se dissipou.

Saciei meus olhos com as cores celestes
Duma tela que só Deus pintou...

Berlim, Bar dos motocas" arredores de Berlim,

15h32m

JLMG

domingo, 23 de outubro de 2016

Manhã de Outono

Uma manhã de Outubro...

Como outra qualquer.
Enevoada e fria,
Nesta Berlim de Outono.

Uma manhã sem vento.
Este Outubro lento,
Em que o amarelo reina
Dum ano a findar.

Desta janela larga enxergo.
Deste aconchego príncipe.
Ouvindo Brahms
E teclando versos.

Meu doce enleio
Num País em ordem.
Onde a liberdade é regra
E a paz abunda.

Tanto rosto sereno,
Desde o novo ao velho,
Por essas alamedas sem fim.
Porque as leis se cumprem
E reina o bem-estar...

ouvindo Brahms, sinfonia nº 3

Berlim, 24 de Outubro de 2016
8h55m

JLMG

Rio da Esperança

Rio da esperança

Maviosa fluência de serenidade
Vai naquele rio largo.
A ele acudo nas minhas horas
Mais agitadas que a vida traz.

Nele me banho e lavo todas as asperezas
Que me feriram no corpo e alma.
Se dissipam as névoas negras
Que me toldam a paz.
Reverdece a esperança
E renasce a alegria…
Berlim, 23 de Outubro de 2016
9h3m
JLMG

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Na sombra eu teço...

Na sombra eu teço…
Sejam suaves, coloridas estas linhas
Que, na sombra, eu teço.
Vêm do linho corado ao sol
E da lã da serra que a terra dá.

O rio as rega, o sol as banha.
Os azuis do céu.
O matiz das urzes.
Minha pena as urde.
Meu tear sombrio.
Linha a linha eu teço
Desta seara d’oiro
Que me aloira a alma.
É tão breve a vida,
Tão rico o bragal.
Ó riqueza louca,
Para eu expor ao sol…
Ouvindo concerto de Schumann por Khatia Buniatiswilli ao piano
Berlim, 21 de Outubro de 2016
9h22m
JLMG

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Cortina de núvens...

Uma cortina de núvens...

Uma cortina de nuvens rendilhadas
Se desdobrou no céu
E pende, refulgindo ao sol.

É a procissão dum dia novo
Que está para vir.

É a vida em festa de arrombar.
Tantos andores.
Imagens belas.
Tambores e bandas de música.

Danças macabras.
Fogos de vista.
Aluviões de mal.
Guerras sem conta.
Multidões famintas.
Tremendo de medo.
Reclamando a paz.

A humanidade assiste
E nada faz, alheia.

Berlim, 20 de Outubro de 2016
9h2m

JLMG




quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Do verde ao amarelo...

Do verde ao amarelo...

Caminho longo.
Um processo espesso.
Silencioso e sombrio.
Emergindo da terra.
Raízes profundas.
No intercâmbio dos elementos.

A seiva pura sobe nos caules.
Com vida.
Um rio fluente.
Cadeia de laços.
Tecendo fazenda.
Viva estrutura.

Crescem os ramos.
Se cobrem de verde.
As folhas.
As flores e os frutos.

Bate-lhes o sol.
Tudo aquecendo.
Medrando.
No tamanho exacto.

Passa-lhe o tempo.
Toldando-lhe a cor.
Um milagre de química
Se deu.
O verde morreu.
O amarelo surgiu...

ouvindo Claydermann

Berlim, 19 de Outubro de 2016
10h7m

JLMG

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Bati minhas asas...

Bati as minhas asas…
Das ameias do meu castelo,
Ao alto,
Soltei as minhas asas
E fui voar.
Longos vales, planícies,
Tanto verde de encostas.

Tantas casas e ermidas,
Tantas sendas
Como veias,
Onde a vida vai fluindo
Como um rio.
Quantos sonhos ali dormem
Sob as telhas.
Tanta vontade de viver.
Vejo campos,
Vejo hortas e ramadas.
Em socalcos.
Vejo poços.
Vejo noras.
Tanta rega.
Sementeiras e searas.
É o livro aberto da Natureza
Que eu leio…
Berlim, 16 de Outubro de 2016
20h29m
JLMG

Aldeia das palavras

Aldeia das palavras…
Curioso, pus-me a caminho
Aonde, diziam os antigos,
Seria a aldeia das palavras.
Para lá da serra ao longe.
Ali nasciam e cresciam.
No silêncio da Natureza.
A sua história.
Quando maduras, vinha o vento
E as soprava, como em nuvens.
Corriam mundo.
No segredo das madrugadas,
Entravam nas casas.
E, na hora dos sonhos,
Como sementes,
Poisavam nas mentes,
Faziam ninho.
Germinavam.
Suavemente, ganhavam vida.
Davam flores.
Tantas cores.
Que bom perfume.
Depois, partiam.
Para seu destino.
Servir poetas,
Os oradores.
E, até os pintores,
Às pinceladas,
Pegavam nelas....
Berlim, 16 de Outubro de 2016
21h16m
JLMG

domingo, 16 de outubro de 2016

Pelo céu cinzento...

Pelo céu cinzento...


Voam alto pelo céu cinzento,
Três corvos negros, à minha frente.
Vão decididos.
Alheios ao silêncio dormente da cidade.

E eu, aqui, aconchegado,
Debito teclas pretas com letras brancas, indefinidas.

Minhas ideias quentes
Vêm dos ares, saltitam
E as tocam notas
Como as dum piano preto.

Minha pauta se enche e esborda
Numa alegre festança de versos livres.

E, no horizonte azul, cintilam as estrelas
Que, de luz de prata, me iluminam.

Que deliciosa sinfonia!...

ouvindo a sexta sinfonia de Beethoven

Berlim, 16 de Outubro de 2016
9h1m













sábado, 15 de outubro de 2016

Flor perfumada

Flor perfumada...

Quem não levanta do chão
Uma linda flor, esquecida?

A tomei na mão.
A levei para casa.
Ajeitei uma jarra
E a guardei para mim.

Seu perfume se espalhou
E inundou minha casa.

Ao cabo de dias, murchou.
Ficou a tristeza.

Voltei a sair pelo mesmo caminho
Decidido a comprar.

Qual não foi meu espanto,
Uma outra flor se encontrava caída,
No mesmo lugar.

Peguei-a.
Voltei para casa.
Arranjei-lhe a jarra.
Pu-la ao sol.
O perfume voltou.
Ficou a brilhar.

Berlim, 15 de Outubro de 2016
19h45m

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quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Orbe terrâque

Orbe terráqueo

Não vivo estático neste orbe terráqueo.
Teço e fabrico os meus sonhos no silêncio.

A poesia é o meu altar.
Nele oferendo e contemplo meu universo de estrelas.

Meus deuses são a beleza e a verdade.
Delas vivo e a elas sirvo com ardor.

Ser feliz é o meu sonho.
Umas vezes sim, outras não.

Não consumo tudo o que ganho
Do que faço.
Meu saldo é positivo.
Dá para mim e para dar.

Ora aprendo,
Ora ensino.

Assim vivo,
Assim sonho.
O progresso é o meu caminho.
A harmonia o meu destino.
A poesia minha pena,
Minha viola,
Minha paixão.

Berlim, 14 de Outubro de 2016
8h3m

ouvindo a viola de Paco de Lúcia

JLMG

Campo de flores

Poiso num campo de flores...

Buscando as palavras
como flores dum campo
pelas cores que elas vestem.

Preciso delas como o ar que respiro.
Encho delas meu açafate
e as levo para casa.

As refresco e separo.
Cada ramo um poema.
Uma pétala, cada verso.
Cada cor o seu perfume.

Depois eu leio
E se gosto, eu ofereço.
Cada um tem o destino
Que eu não escolho.

Disto eu vivo.
É o meu preço.

Berlim, 13 de Outubro de 2016
16h20m

JLMG





Atrevimento...

Atrevimento...
Que se diria dum poeta
que se atrevesse a pintar,
só com palavras?
Por mais belas elas fossem
lhes faltaria a cor da tinta
que faz das telas um quadro.
E dum pintor sem tinta
que ousasse pintar poemas,
por mais belos os visse a sua mente?
E do músico idealista,
sem uma pauta ou um piano
para registar em notas a melodia,
tentando escrevê-la com um martelo?
Tudo seria atrevimento.
Nunca arte...
Berlim, 13 de Outubro de 2016
10h32m
JLMG

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Esmaeço...

Esmaeço em cada manhã que amanhece…

Aqui em Berlim, esmaeço,
Num amanhecer sem esperança
Num mergulho espesso,
Quando o sol não aparece.
Manhã de cinza,
Carregada e fria.
Só o calor da casa
Consola e aquece.
Meu País do sul
Onde reina o sol
E o mar adoça.
Minha terra virgem
Onde o céu é azul
E de verde veste,
De tão longe a vejo
E não é saudade...
Berlim, 12 de Outubro de 2016
8h34m
JLMG

terça-feira, 11 de outubro de 2016

poisei meus pés em África

Poisei meus pés em África...

Foi há tanto,
Mas bem lembro.
Um Agosto quente.
Era rapazote.
O futuro à frente
Que ficou travado.

Parti de Alcântara.
Larguei o Tejo.
Naveguei no mar.
Caravela em ferro.
Levava tanta tropa.
Marinheiro à força.
Cada vez mais longe.

Para lá do trópico.
Entrei no Geba.
Cinzento e largo.
Tempo sombrio.
Dum outro mundo.

Não se via a terra.
Só havia verde.
Apareceu sorrateira.
Aquele chão vermelho.
Num cais distante.

O casario chão.
Uma avenida longa.
A sair do cais.
Uma igreja branca.
Mesmo ali à direita.

O sinaleiro impante,
Num poleiro ao centro.
A limpar desordem.

Que formigueiro escuro.
Mais a tropa branca,
A correr pela rua.
Onde havia cafés,
Em convívio pleno.
Ali era Bissau.


Onde mora a guerra
De que falavam tanto?...

Se não fosse o cheiro,
Nem parecia África!

Berlim, 11 de Outubro de 2016
18h44m

JLMG























lago de águas mansas

Me incomoda a densa pacatez das águas daquele lago manso

Prefiro a turbulência brava das ondas
em furiosa debandada.
Se agita a minha mente com a ventania em torrente
que se desprende e tudo lava.

Não é na tranquilidade amorfa
que se sente o doce encanto das sinfonias...

Berlim, 11 de Outubro de 2016
9h2m

manhã cinzenta

JLMG

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

balada negra...

Minha balada negra...

Irrompe de madrugada,
Desta alma em pranto,
Uma balada triste,
Como toutinegra
Que perdeu seu ninho.

Me senti perdido
Neste caminho longo.
Como vou sózinho,
Já perdi meus Pais,
Que me deram o ser.

Já perdi os irmãos
Que eu vi crescer...

Só Nossa Senhora,
Minha vizinha Santa,
Aquela Senhora linda,
Mora na ermida bela,
Me dá a mão e o seu regaço.

Como vou seguro...
Sigo o meu caminho.

Berlim, 10 de Outubro de 2016
11h14m

JLMG

Neblina alba...

Uma leve neblina alba...

Uma leve manta de neblina alba
tinge os telhados e as árvores
à frente de minha janela.

Não oculta. É transparente.
E, para cima, o mar imenso de nevoeiro.
Tão luzente. Escondendo o sol
e seu calor.

Tinem gelados de frio
Os peitoris e os beirais das casas.
Preferem a neve que lhes dá cor.

Das chaminés dormentes
Sobem a custo volutas de fumo branco.

Nem um só pássaro,
Mesmo um corvo negro,
Que ouse voar.

Mas, pelas ruas fora acesas,
Deslizam os carros com indiferença.
O que conta é a hora.
Essa não espera.

Sobre os passeios há vultos escuros
De tamanhos vários.

Como vão ligeiros,
Pelas mãos dos pais,
De sacola ao ombro
E na mão a bola.
O presente futuro
No raiar da aurora...

Berlim, 10 de Outubro de 2016
10h00m

JLMG



domingo, 9 de outubro de 2016

Rostos bravios, trigueiros...

Como as amoras silvestres
e urzes da serra,
há rostos bravios, trigueiros,
quase rupestres.

Irrompem luzentes
das casinhas  de telhas,
rentinhas ao chão.

Rútilas amoras de silvados bravios,
regados de sol e da chuva
que crescem à solta.

Seus olhos profundos,
brilham tão fortes,
tão doces
como favos de mel.

Raminhos às cores
e cachos de uvas
lhes pendem dos rostos,
jardas de oiro,
em rodadas de fio
lhes abraçam seus colos...

Berlim, 9 de Outubro de 2016
14h25m

JLMG

Harmonia suprema...

E do uníssono do piano e violino...

Pela batuta astuta do maestro,
uma orquestra em marcha,
na mais completa harmonia e cordialidade,
do violoncelo grave e doce,
da harpa quente,
das tubas em fúria
e do rufar ribombo dos tambores,

uma nuvem diáfana e pura
de sons distintos
enche a sala e os corações cansados
da mais profunda sensação alegre.

Como o pensou o artista ao escrever a peça,
na sua solidão etérea que só o espírito puro entende.

Que fantástica sinfonia se desprende
daquele palco aceso
onde o piano fulgurante
risca o trote pleno de graça e pundonor...

Maviosa orquestra de sonho e de harmonia
nos transporta em júbilo
por essas paragens que só em sonham se alcançam!...

ouvindo o concerto nº 1 de Tschaikowsky para piano por Sara Ott

Berlim, 9 de Outubro de 2016
10h13m

JLMG

sábado, 8 de outubro de 2016

serenatas de lua cheia

Serenatas de lua cheia
Na solitária solidão das noites claras
de lua cheia,
minha alma voa, livre pomba, pelas galáxias,
buscando a paz que falta à Terra.

Voltou em vão...

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Minha sacola primária

Minha sacola primária

De caqui amarelo,
feita pelo meu avô alfaiate,
era minha sacola com pala.

Só lá cabia o livro, a lousa e o ponteiro afiado.
E chegava.

O resto me daria a escola.

Foi neste dia de Outubro.
Minha caminhada sem fim.
Desde o aeiou
Até àquele ponto final
Cuja hora - ainda bem -
Nunca se sabe.

O senhor professor Pereira...
O Senhor o tenha em bom lugar.
Desde a primeira até à terceira.
Tanta conta e tabuada,
E nos intervalos um cigarro.
Lindas horas de recreio.

Alguns colegas já se foram.
Ninguém cá fica.
O Zé Ribeiro, o Zeca Guilherme, o Rolando
E sei lá quem mais.
Dos espalhados por esse mundo.

Alvorada dum futuro.
Tanta história.
Foi presente e é passado.
Bem distante...

Berlim, 7 de Outubro de 2016
9h59m

JLMG

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

horas de ponta

Horas de ponta

À hora marcada,
Acodem para a estrada,
Cansados, famintos,
Rumando a casa,
Os heróis do trabalho,
Açaimados,
Que ganham o pão,
Homens mulheres,
Com o suor do seu rosto.

As esplanadas, passeios e bares,
Regorgitando de gente ociosa,
Por desequilíbrio da sorte,
Fatalidade ou destino
Vêem-nos passar, indiferentes.

E chegam a casa.
Castelos de paz.
Se encontram os seus.
Acendem o lume.
Abraçam os filhos.
Vivem o sonho,
Duma vida de amor
Na força da vida,
Por vezes, com dor,
Muitas vezes alegres,
Sempre na esperança de dias melhores...

Berlim, 6 de Outubro de 2016
16h36m

JLMG











miríades deconcertos...

Miríades de concertos...

De entre as miríades de concertos
Que o piano sabe,
Aqueles dedos sábios
encontram certas as suas notas de oiro.
Com tanta arte que extasiam sempre.

Aqueles sons de sonho
Que alguém criou
Se derramam ébrios,
num delírio eterno.

Nos elevam aos céus
por horas breves.
Tanta magia se desprende deles.
Que bela arte!...

ouvindo concerto nº 2 de Rachmaninov por Kathia Buniatishvili

Berlim, 6 de Outubro de 2016
14h35m

JLMG

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Desço às minhas profundezas...

Desço às minhas profundezas...

Fuji das banalidades da superfície,
Onde o ar parou
e desci às profundezas de mim,
no encalço das sensações mais genuínas.

Não quero esta paz sem luta do dia a dia.
Quero arrostar os ventos e as intempéries.
É no desespero que se sobe às alturas
E se vêem mais perto as nossas reminiscências.

Ficar ao meio é cair na desilusão.
Só trepando ou descendo se atingem os extremos
Onde tudo começa ou tudo acaba.

Só arriscando se poderá alcançar o sabor da vitória...

Berlim, 5 de Outubro de 2016
22h40m

ouvindo o concerto nº 3 de Rachmaninov por Anna Fedorova

JLMG

Quinto dia de Outubro

Quinto dia de Outubro

Tímido, apagado,
Nublado em cinza,
Se revelou assustado
Este dia de Outubro.

Sai-lhe a terreiro,
Reclamando pelo sol.

Respondeu prazenteiro.

Esgotado de luz,
Passou mal a noite,
Que viria mais tarde.

Fiquei a aguardar.
Só pelas onze horas,
Rasgando as nuvens
Ele surgiu cabisbaixo.

Não vem para ficar
Como queria...

Berlim, 5 de Outubro de 2016
11h49m

JLMG




terça-feira, 4 de outubro de 2016

Quarto dia de Outubro

Quarto dia de Outubro
Todos os ingredientes de Outono.
Um sol fresco.
Uma aragem atrevida sacode as folhas.
Renitentes, elas vão tombando
E pintam o chão de amarelos.
No mar azul dum céu extenso,
Deslizam serenas as nuvens
Como se fossem caravelas.
As roupas leves foram guardadas.
Os agasalhos espesso saem à rua,
Enchem as praças,
Defendendo os corpos das ameaças.
Berlim, 4 de Outubro de 2016
8h57m
JLMG

Dromedários...

Faço dromedários...

Faço dromedários com rabiscos
Nas falésias dos desertos.
Me lanço à sorte nas vertentes dos promontórios.

E, pelas madrugadas de ventania,
Eu sopro lendas em cataratas.

Minhas brasas eu incendeio ao frio.
Me calo aceso para ouvir as vozes do meu silêncio.

É atroz morrer-se jovem, na flor da idade.
Mas ninguém aceita a morte,
Mesm que o tempo pareça uma eternidade.

Berlim, 4 de Outubro de 2016
11h27m

JLMG

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Terceiro dia de Outubro

Terceiro dia de Outubro

Nasceu radioso este dia de Outono.
Azul o céu.
Um rodapé de nuvens florescentes de sol,
Encimando as copas esverdeadas do arvoredo.

A frescura do ar atiçando a pele.
Que bom passear pelas veredas dos bosques.
Ver os pardais debicando no chão.
O melro atrevido, de bico amarelo,
Saltita e não foge da gente.

Um jovem casal passeia o filhinho no parque,
Brincando com ele...

Berlim, 3 de Outubro de 2016
11h40m

JLMG

domingo, 2 de outubro de 2016

Segundo dia de Outubro

Segundo dia de Outubro

Nasceu com sol
Este segundo dia de Outubro.
O mês das colheitas
E da abertura das escolas.

Quando a Natureza imponente
Se veste de tons,
Raiados de cores.

Do chão amarelo
Da palha cortada,
Saem as espigas
Para as eiras ao sol.

Das ramadas em pé,
Carregadas de uvas,
Saem os cestos
Que enchem as dornas
E regam de vinho
As canadas das mesas.

O mês da abundância
E da bênção gratuita,
Caída dos céus
Que abastecem de paz
As almas das gentes...

Berlim, 2 de Outubro de 2016
10h11m

JLMG

sábado, 1 de outubro de 2016

Amizades

Escolho as amizades
Como quem escolhe sementes.

Semeio-as em mim.
Até criarem raiz.
Cultivo-as atento
E bem dentro.

Podo-lhe os ramos,
Bem presos ao tronco.

Vejo-as crescer.
Florir.
Saboreio-lhe os frutos.
Meu bom alimento.

Berlim, 1 de Outubro de 2016
21h16m

JLMG

Minhas horas breves...

Me sinto um não pintor que quer escrever

Vejo os tons e as cores.
Sei das formas.
Me falta o elo à alma
Que me acenda a luz.

Passam ideias diante de mim.
Vão esbaforidas, em debandada.
Minhas mãos não as alcançam.
E elas se vão.

Mas espero bem.
Chegará a hora.
Serena e clara.
De, como andorinhas,
Voltarem a poisar
No meu beiral.

As receberei feliz.
Cuidarei delas.
Um bom pastor.
Ficarei a vê-las
Em combinações alegres,
Descrevendo ideias,
Com tão lindas formas,
Minhas horas breves
Em que sou senhor...

Berlim, 1 de Outubro de 2016
12h29m

JLMG

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

O charme

O charme Um véu reluzente, Tecido de tule, Caindo na fronte, Ocultando negrumes, Carregados sobrolhos. Cada qual arma o seu. Com arte instintiva. Parecendo quem não. Imitando quem tem. Um fumo tão frágil. Basta uma aragem, Se rasga o véu E tudo se esvai. Assoma o real. Ressalta a verdade E se fica pior do que era... Berlim, 30 de Setembro de 2016 9h24m JLMG