quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Ler sem queimar...



Ler sem queimar…

Escreve na terra, seca ou molhada, o sol.
Linhas tão cheias. Vazam saber.
Cheias de luz.
Oferta-as ao mundo.
Lê sem queimar.

Cumpre o dever.
Cada dia que nasce.
Com hora marcada.
Vai pela estrada e vereda da serra.
Se espraia na encosta,
Pintando quadros com beleza das cores.

Se banha nos rios. Cardumes correndo.
Mergulha nos mares. Em sono profundo.

Às vezes, faz frio e gela, revestindo com neve.
Albos os cumes, reluzindo de longe,
Alumiam as nuvens nas sendas dos céus.

Também ardem as matas, se cobrem de cinzas.
Renovam o húmus, videiras com cor.
Campos de milho, grão de centeio.

Fartura de vida, de graça e amor…

Berlim, 1 de Dezembro de 2017
8h27m
Manhã molhada e fria
Jlmg





Irreversível...





Irreversível …

Não me queixo do mar, nem da terra nem do céu.
Queixo-me da dor que me dói e não sára, nem com as ondas da praia.

Deito-me na cama e não durmo,
Por mais voltas que eu dê.
Já me lembrei de morrer para este doer eu matar.

Minha sorte está lançada. Anda perdida no mundo.
Às vezes, dou comigo a chorar.
Saber que não há remédio à mão.

Se pudesse voltar ao passado, há muito eu lá estaria.
Apagaria tantas passadas erradas.
Tomava outro caminho.

Hoje, seria um senhor. No meio desta gente sem pão,
Com muita riqueza para dar…

Berlim, 30 de Novembro de 2017
21h39m
Jlmg







Vai nevar...

Foto de Liliana Diogo.

Voo alado...

Voo alado…
O pensamento, cansado, planou no tempo,
Do passado ao presente.
Viagem bem longa. Nem sempre ridente.
Paragens de sonho. Outras de lama.
Bosques frondosos. Vales profundos.
Planuras tão verdes, cravejadas de cores.
Aldeias acesas. Encostas das serras.
Rebanhos felizes, em banquetes constantes.
Rios ferozes, correndo p´ró mar.
Praias desertas, banhadas por ondas.
Ilhas perdidas, sem ninguém a viver.
Gentes diversas, vestidas diferentes.
Cabeleiras compridas, rostos às cores.
Formigando no mundo, parecendo colmeias.
Sonantes falares. Diversos olhares.
Ora sorrindo, ora chorando.
Bem quentes as lágrimas.
Crianças brincando. Os mesmos recreios e gritos estridentes.
A vida, uma fada, nascendo, jorrando viçosa e alegre.
Vestida de negro, a morte, uma bruxa, varrendo, contente…
Berlim, 30 de Novembro de 2017
Manhã de chuva fria
Jlmg

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Majestade do ponto final...

A majestade do ponto final…
Sua excelência, o ponto final.
Por onde passa, põe tudo em sentido.
Acabam as quimeras das vírgulas e o enigma das reticências.
Refreia a ousadia do ponto e vírgula.
Prontamente responde às interrogações.
E, quando ainda restam dúvidas,
Utiliza a barreira dos dois pontos
E deixa passar um cortejo sem fim,
De hífens, apóstrofes e de asteriscos.
Desfaz as dúvidas das entre-aspas.
Desata os molhos escondidos de todos os parênteses.
E, se lhe dão tempo, na hora exacta, põe fim a toda a trama…
Berlim, 29 de Novembro de 2017
22h25m
Jlmg

Sentado num banco...

Sentado num banco…
Ponho-me à espera, sentado num banco.
Num cruzamento.
A ver quem passa.
Há sempre alguém que sorri e diz: 
-Olá!
Me basta. O resto eu faço.
Um molho de olá(s).
Flores pelo meio.
Verduras verdinhas.
Alecrim e jasmins.
Um ramo de sonho.
O levo para casa.
Uma jarra com água.
Viceja de encanto,
Em cima da mesa.
É a companhia que tenho enquanto não seca.
Depois, volto outra vez.
Ao cruzamento, sentado no banco…
Ouvindo Jean Michel Jarre
Berlim, 29 de Novembro de 2017
16h57m
Jlmg

Narizes aduncos...

Esqueléticos narizes aduncos…
Secos que nem a palha,
Tinham os narizes aduncos e os corpos eram esqueléticos.
Alimentavam-se de urzes e varizes mortas.
Trepavam apopléticas pelas sendas alcantiladas que davam lá para o cume
onde havia um castelo assombrado.
Seus urros e gemidos se espraiavam lancinantes pelos vales e pelos bosques.
As gentes que ali nasceram zarparam para bem longe estarrecidas.
Não fosse as almas daqueles corpos as arrebatarem para os confins do medo e do terror.
Num raio de muitas léguas tudo ficou deserto.
Até as corujas noctívagas e soturnas dali foram para lugares mais sossegados.
Não fosse seus bicos aduncos ficarem para todo o sempre assim aduncos…
Berlim, 29 de Novembro de 2017
15h25m
Ouvindo Vangelis
Jlmg

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Navegar em liberdade...



Navegar em liberdade…

Brandas caravelas deslizando suavemente no mar, na linha distante do horizonte.
As alcanço daqui da praia. Cheias de sonhos. Sulcando as ondas.
Eu as vejo e elas não a mim.

Somos todos viageiros neste outro mar imenso, da terra, caravela azul, pela vastidão sideral do universo.

Nosso destino é o infinito, no tempo e no espaço.
Há sempre tanto a descobrir.
Onde terá poisado a vida, quando a chuva a semeou, no dealbar da criação?

Quantos mais sóis em festa haverá nos múltiplos cortejos de todas as órbitas planetárias?

Quem é e qual o mundo onde mora o seu maestro?...

Ouvindo Mantovani

Berlim, 29 de Novembro de 2017
7h27m
Jlmg