As palmas…
Pendem do alto as palmas caiadas de
verde e frescura.
Um lago sem elas é triste.
Se abrem as cortinas do palco.
Vermelhas.
Um piano preto, calado.
Rodeado duma plateia de cadeiras
vazias.
A sala expectante está cheia. Olhos e
ouvidos abertos, acesos.
Eis que dos lados se abrem as portas.
Entram em fila, agarrados às mãos, os
violinos e tubas, trombones.
Sorriem os rostos emersos dos
fraques.
Conformados ocupam as cadeiras calados,
os músicos e abrem as pautas.
E, na hora esperada, estrondam as
palmas em rajadas de chuva.
E um vulto esguio, elegante, em
passadas fidalgas,
Aparece. Lhe brilham os olhos.
Os lábios sorriem.
Chega à frente, no meio.
Afogado na vaga de palmas,
Reverente, se verga.
Esperam-no as dezenas de teclas,
Pretas e brancas, mortas de tédio.
Olha o maestro,
De braços abertos e batuta na mão.
Tudo ensaiado. Na véspera.
Ressoam com força no alto os tambores
retesados de couro.
Bailam os arcos em golpes nas cordas,
soltando gemidos às cores.
O caminho se abre.
E uma melodia divina com vestes de
gala, surge fulgurante, como foi concebida.
O piano se sente atiçado.
Soltam-se as teclas agudas.
Bramem do fundo acordes barítonos.
Pressurosos em fúria, correm os
dedos,
Num desatino aparente.
Sobem ao ar baforadas de sons.
Numa harmonia total.
É a hora da festa total que a pianista
sonhava desde menina…
Berlim, 2 de Novembro de 2017
9h7m
Jlmg
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