quinta-feira, 2 de novembro de 2017

As palmas...



As palmas…

Pendem do alto as palmas caiadas de verde e frescura.
Um lago sem elas é triste.

Se abrem as cortinas do palco. Vermelhas.
Um piano preto, calado.
Rodeado duma plateia de cadeiras vazias.

A sala expectante está cheia. Olhos e ouvidos abertos, acesos.

Eis que dos lados se abrem as portas.
Entram em fila, agarrados às mãos, os violinos e tubas, trombones.
Sorriem os rostos emersos dos fraques.
Conformados ocupam as cadeiras calados, os músicos e abrem as pautas.

E, na hora esperada, estrondam as palmas em rajadas de chuva.

E um vulto esguio, elegante, em passadas fidalgas,
Aparece. Lhe brilham os olhos.
Os lábios sorriem.
Chega à frente, no meio.
Afogado na vaga de palmas,
Reverente, se verga.
Esperam-no as dezenas de teclas,
Pretas e brancas, mortas de tédio.

Olha o maestro,
De braços abertos e batuta na mão.

Tudo ensaiado. Na véspera.

Ressoam com força no alto os tambores retesados de couro.
Bailam os arcos em golpes nas cordas, soltando gemidos às cores.

O caminho se abre.
E uma melodia divina com vestes de gala, surge fulgurante, como foi concebida.
O piano se sente atiçado.
Soltam-se as teclas agudas.
Bramem do fundo acordes barítonos.
Pressurosos em fúria, correm os dedos,
Num desatino aparente.

Sobem ao ar baforadas de sons.
Numa harmonia total.
É a hora da festa total que a pianista sonhava desde menina…

Berlim, 2 de Novembro de 2017
9h7m
Jlmg



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