segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Deixem que a chuva chova...

Deixem que a chuva chova...
Deixem que a chuva chova
e a neve caia.
A Natureza é quem sabe e manda.
Por mais que se grite ao rio:
- não corras mais...
Nada adianta. Ele vai para onde vai.
E se o vento silva.
Ninguém o cala. Ele é que sabe.
Então, porque andam p´raí uns intrusos e atrevidos a vociferarem injúrias ao deus dará,
se tudo permanecerá igual e como está?
Deixem que a chuva, na sua hora, caia e a neve neve.
A Natureza o sabe...
ouvindo a Diva Susan Boyle
Berlim, 31 de Outubro de 2016
16h36m
JLMG

Mandei calar a minha voz...

Mandei calar minha voz...

Se soltou em desatino.
Briguenta e inclemente.
Vociferando em alta voz
Contra tudo.

Nunca a tinha ouvido assim.
Sempre foi branda e suave.
Compreendendo tudo
E condescendendo.

Mas veio um dia.
Uma erupção vesuviana
Se desfez em lava,
Ácida e mordaz.
Corrosiva e abrasadora.
Vinha de dentro.

Tudo à volta estava ameaçado.

Soltei-lhe um grito.
Estarrecedor.
Ela calou.

Ficou sem forma.

Fiquei atónito.

Esperei.

Momentos depois ela falou.

- Estava cansada de te ouvir a ti
e de ser esquecida.
Como um senhor e rei.
Só tu no mundo.
Não resisti.

Dei-lhe razão.
Daí em diante, passei a ouvi-la...
Remédio santo.

Berlim, 31 de Outubro de 2016
20h13m

JLMG


Mãos amordaçadas...

Mãos amordaçadas...

Os dedos estalam-me nas mãos amordaçadas.
E os braços me amarram como varas.
Meu tronco ameaça tombar sobre o abismo.
Tenho medo do futuro que sucederá ao meu passado.

Tudo é opaco e espesso.
Nada brilha como antanho.
Nem o sol traz o encanto que nos Encantava.

Tudo soçobrou. O amor e a arte.
Só a esperança me arde dentro
E me sustenta.

Berlim, 31 de Outubro de 2016
17h29m

ouvindo Susan Boyle

JLMG

Pardieiros ressequidos...

Pardieiros ressequidos...

Uma linha de pardieiros, em tábuas de pinho ressequido,
sobre a areia da praia erma.

Tufas de turfas bravas a espreitar ao sol.

Uma linha estreita por onde o comboiozito vai e vem,
transiberiante,
Desde a Costa à Fonte.
Bate-lhe o sol e o vento.
Com o mar azul ao pé.

Uma esplêndida maravilha simples ali à mão por cinco réis.

Deliciosas recordações imortais
desde lá muito atrás...

Berlim, 31 de Outubro de 2016
16h02m

ouvindo a diva Susan Boyle

JLMG


O canivete de São Jorge

O canivete de São Jorge
Quando se abriam,
Eram luzentes, em aço puro.
Bem temperado.
O cabo em pau.
Davam para tudo.
Afiar o lápis.
Limpar as unhas.
Descascar maçãs.
Abrir melões.
Sei lá que mais.
Se vendiam na feira dos vinte e três.
Nunca mais chegava
Ó que encanto,
Nos tempos da escola.
Nos fazia homens!...
Berlim, 31 de Outubro de 2016
8h58m
JLMG

domingo, 30 de outubro de 2016

Banho de cor...

Um banho de cor...

Fui ao Bar "Motocas".
Que banho de luz e de cor!...
O céu bem azul
E as folhas das árvores
São uma alegre sinfonia de tons,
Em hossana inebriante
Ao Deus seu Criador.

Valeu por mil dias
De tormenta amordaçados
Pela cinza, gelada e triste
Que, por momentos, se dissipou.

Saciei meus olhos com as cores celestes
Duma tela que só Deus pintou...

Berlim, Bar dos motocas" arredores de Berlim,

15h32m

JLMG

domingo, 23 de outubro de 2016

Manhã de Outono

Uma manhã de Outubro...

Como outra qualquer.
Enevoada e fria,
Nesta Berlim de Outono.

Uma manhã sem vento.
Este Outubro lento,
Em que o amarelo reina
Dum ano a findar.

Desta janela larga enxergo.
Deste aconchego príncipe.
Ouvindo Brahms
E teclando versos.

Meu doce enleio
Num País em ordem.
Onde a liberdade é regra
E a paz abunda.

Tanto rosto sereno,
Desde o novo ao velho,
Por essas alamedas sem fim.
Porque as leis se cumprem
E reina o bem-estar...

ouvindo Brahms, sinfonia nº 3

Berlim, 24 de Outubro de 2016
8h55m

JLMG

Rio da Esperança

Rio da esperança

Maviosa fluência de serenidade
Vai naquele rio largo.
A ele acudo nas minhas horas
Mais agitadas que a vida traz.

Nele me banho e lavo todas as asperezas
Que me feriram no corpo e alma.
Se dissipam as névoas negras
Que me toldam a paz.
Reverdece a esperança
E renasce a alegria…
Berlim, 23 de Outubro de 2016
9h3m
JLMG

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Na sombra eu teço...

Na sombra eu teço…
Sejam suaves, coloridas estas linhas
Que, na sombra, eu teço.
Vêm do linho corado ao sol
E da lã da serra que a terra dá.

O rio as rega, o sol as banha.
Os azuis do céu.
O matiz das urzes.
Minha pena as urde.
Meu tear sombrio.
Linha a linha eu teço
Desta seara d’oiro
Que me aloira a alma.
É tão breve a vida,
Tão rico o bragal.
Ó riqueza louca,
Para eu expor ao sol…
Ouvindo concerto de Schumann por Khatia Buniatiswilli ao piano
Berlim, 21 de Outubro de 2016
9h22m
JLMG

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Cortina de núvens...

Uma cortina de núvens...

Uma cortina de nuvens rendilhadas
Se desdobrou no céu
E pende, refulgindo ao sol.

É a procissão dum dia novo
Que está para vir.

É a vida em festa de arrombar.
Tantos andores.
Imagens belas.
Tambores e bandas de música.

Danças macabras.
Fogos de vista.
Aluviões de mal.
Guerras sem conta.
Multidões famintas.
Tremendo de medo.
Reclamando a paz.

A humanidade assiste
E nada faz, alheia.

Berlim, 20 de Outubro de 2016
9h2m

JLMG




quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Do verde ao amarelo...

Do verde ao amarelo...

Caminho longo.
Um processo espesso.
Silencioso e sombrio.
Emergindo da terra.
Raízes profundas.
No intercâmbio dos elementos.

A seiva pura sobe nos caules.
Com vida.
Um rio fluente.
Cadeia de laços.
Tecendo fazenda.
Viva estrutura.

Crescem os ramos.
Se cobrem de verde.
As folhas.
As flores e os frutos.

Bate-lhes o sol.
Tudo aquecendo.
Medrando.
No tamanho exacto.

Passa-lhe o tempo.
Toldando-lhe a cor.
Um milagre de química
Se deu.
O verde morreu.
O amarelo surgiu...

ouvindo Claydermann

Berlim, 19 de Outubro de 2016
10h7m

JLMG

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Bati minhas asas...

Bati as minhas asas…
Das ameias do meu castelo,
Ao alto,
Soltei as minhas asas
E fui voar.
Longos vales, planícies,
Tanto verde de encostas.

Tantas casas e ermidas,
Tantas sendas
Como veias,
Onde a vida vai fluindo
Como um rio.
Quantos sonhos ali dormem
Sob as telhas.
Tanta vontade de viver.
Vejo campos,
Vejo hortas e ramadas.
Em socalcos.
Vejo poços.
Vejo noras.
Tanta rega.
Sementeiras e searas.
É o livro aberto da Natureza
Que eu leio…
Berlim, 16 de Outubro de 2016
20h29m
JLMG

Aldeia das palavras

Aldeia das palavras…
Curioso, pus-me a caminho
Aonde, diziam os antigos,
Seria a aldeia das palavras.
Para lá da serra ao longe.
Ali nasciam e cresciam.
No silêncio da Natureza.
A sua história.
Quando maduras, vinha o vento
E as soprava, como em nuvens.
Corriam mundo.
No segredo das madrugadas,
Entravam nas casas.
E, na hora dos sonhos,
Como sementes,
Poisavam nas mentes,
Faziam ninho.
Germinavam.
Suavemente, ganhavam vida.
Davam flores.
Tantas cores.
Que bom perfume.
Depois, partiam.
Para seu destino.
Servir poetas,
Os oradores.
E, até os pintores,
Às pinceladas,
Pegavam nelas....
Berlim, 16 de Outubro de 2016
21h16m
JLMG

domingo, 16 de outubro de 2016

Pelo céu cinzento...

Pelo céu cinzento...


Voam alto pelo céu cinzento,
Três corvos negros, à minha frente.
Vão decididos.
Alheios ao silêncio dormente da cidade.

E eu, aqui, aconchegado,
Debito teclas pretas com letras brancas, indefinidas.

Minhas ideias quentes
Vêm dos ares, saltitam
E as tocam notas
Como as dum piano preto.

Minha pauta se enche e esborda
Numa alegre festança de versos livres.

E, no horizonte azul, cintilam as estrelas
Que, de luz de prata, me iluminam.

Que deliciosa sinfonia!...

ouvindo a sexta sinfonia de Beethoven

Berlim, 16 de Outubro de 2016
9h1m













sábado, 15 de outubro de 2016

Flor perfumada

Flor perfumada...

Quem não levanta do chão
Uma linda flor, esquecida?

A tomei na mão.
A levei para casa.
Ajeitei uma jarra
E a guardei para mim.

Seu perfume se espalhou
E inundou minha casa.

Ao cabo de dias, murchou.
Ficou a tristeza.

Voltei a sair pelo mesmo caminho
Decidido a comprar.

Qual não foi meu espanto,
Uma outra flor se encontrava caída,
No mesmo lugar.

Peguei-a.
Voltei para casa.
Arranjei-lhe a jarra.
Pu-la ao sol.
O perfume voltou.
Ficou a brilhar.

Berlim, 15 de Outubro de 2016
19h45m

JLMG


quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Orbe terrâque

Orbe terráqueo

Não vivo estático neste orbe terráqueo.
Teço e fabrico os meus sonhos no silêncio.

A poesia é o meu altar.
Nele oferendo e contemplo meu universo de estrelas.

Meus deuses são a beleza e a verdade.
Delas vivo e a elas sirvo com ardor.

Ser feliz é o meu sonho.
Umas vezes sim, outras não.

Não consumo tudo o que ganho
Do que faço.
Meu saldo é positivo.
Dá para mim e para dar.

Ora aprendo,
Ora ensino.

Assim vivo,
Assim sonho.
O progresso é o meu caminho.
A harmonia o meu destino.
A poesia minha pena,
Minha viola,
Minha paixão.

Berlim, 14 de Outubro de 2016
8h3m

ouvindo a viola de Paco de Lúcia

JLMG

Campo de flores

Poiso num campo de flores...

Buscando as palavras
como flores dum campo
pelas cores que elas vestem.

Preciso delas como o ar que respiro.
Encho delas meu açafate
e as levo para casa.

As refresco e separo.
Cada ramo um poema.
Uma pétala, cada verso.
Cada cor o seu perfume.

Depois eu leio
E se gosto, eu ofereço.
Cada um tem o destino
Que eu não escolho.

Disto eu vivo.
É o meu preço.

Berlim, 13 de Outubro de 2016
16h20m

JLMG





Atrevimento...

Atrevimento...
Que se diria dum poeta
que se atrevesse a pintar,
só com palavras?
Por mais belas elas fossem
lhes faltaria a cor da tinta
que faz das telas um quadro.
E dum pintor sem tinta
que ousasse pintar poemas,
por mais belos os visse a sua mente?
E do músico idealista,
sem uma pauta ou um piano
para registar em notas a melodia,
tentando escrevê-la com um martelo?
Tudo seria atrevimento.
Nunca arte...
Berlim, 13 de Outubro de 2016
10h32m
JLMG

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Esmaeço...

Esmaeço em cada manhã que amanhece…

Aqui em Berlim, esmaeço,
Num amanhecer sem esperança
Num mergulho espesso,
Quando o sol não aparece.
Manhã de cinza,
Carregada e fria.
Só o calor da casa
Consola e aquece.
Meu País do sul
Onde reina o sol
E o mar adoça.
Minha terra virgem
Onde o céu é azul
E de verde veste,
De tão longe a vejo
E não é saudade...
Berlim, 12 de Outubro de 2016
8h34m
JLMG

terça-feira, 11 de outubro de 2016

poisei meus pés em África

Poisei meus pés em África...

Foi há tanto,
Mas bem lembro.
Um Agosto quente.
Era rapazote.
O futuro à frente
Que ficou travado.

Parti de Alcântara.
Larguei o Tejo.
Naveguei no mar.
Caravela em ferro.
Levava tanta tropa.
Marinheiro à força.
Cada vez mais longe.

Para lá do trópico.
Entrei no Geba.
Cinzento e largo.
Tempo sombrio.
Dum outro mundo.

Não se via a terra.
Só havia verde.
Apareceu sorrateira.
Aquele chão vermelho.
Num cais distante.

O casario chão.
Uma avenida longa.
A sair do cais.
Uma igreja branca.
Mesmo ali à direita.

O sinaleiro impante,
Num poleiro ao centro.
A limpar desordem.

Que formigueiro escuro.
Mais a tropa branca,
A correr pela rua.
Onde havia cafés,
Em convívio pleno.
Ali era Bissau.


Onde mora a guerra
De que falavam tanto?...

Se não fosse o cheiro,
Nem parecia África!

Berlim, 11 de Outubro de 2016
18h44m

JLMG























lago de águas mansas

Me incomoda a densa pacatez das águas daquele lago manso

Prefiro a turbulência brava das ondas
em furiosa debandada.
Se agita a minha mente com a ventania em torrente
que se desprende e tudo lava.

Não é na tranquilidade amorfa
que se sente o doce encanto das sinfonias...

Berlim, 11 de Outubro de 2016
9h2m

manhã cinzenta

JLMG

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

balada negra...

Minha balada negra...

Irrompe de madrugada,
Desta alma em pranto,
Uma balada triste,
Como toutinegra
Que perdeu seu ninho.

Me senti perdido
Neste caminho longo.
Como vou sózinho,
Já perdi meus Pais,
Que me deram o ser.

Já perdi os irmãos
Que eu vi crescer...

Só Nossa Senhora,
Minha vizinha Santa,
Aquela Senhora linda,
Mora na ermida bela,
Me dá a mão e o seu regaço.

Como vou seguro...
Sigo o meu caminho.

Berlim, 10 de Outubro de 2016
11h14m

JLMG

Neblina alba...

Uma leve neblina alba...

Uma leve manta de neblina alba
tinge os telhados e as árvores
à frente de minha janela.

Não oculta. É transparente.
E, para cima, o mar imenso de nevoeiro.
Tão luzente. Escondendo o sol
e seu calor.

Tinem gelados de frio
Os peitoris e os beirais das casas.
Preferem a neve que lhes dá cor.

Das chaminés dormentes
Sobem a custo volutas de fumo branco.

Nem um só pássaro,
Mesmo um corvo negro,
Que ouse voar.

Mas, pelas ruas fora acesas,
Deslizam os carros com indiferença.
O que conta é a hora.
Essa não espera.

Sobre os passeios há vultos escuros
De tamanhos vários.

Como vão ligeiros,
Pelas mãos dos pais,
De sacola ao ombro
E na mão a bola.
O presente futuro
No raiar da aurora...

Berlim, 10 de Outubro de 2016
10h00m

JLMG



domingo, 9 de outubro de 2016

Rostos bravios, trigueiros...

Como as amoras silvestres
e urzes da serra,
há rostos bravios, trigueiros,
quase rupestres.

Irrompem luzentes
das casinhas  de telhas,
rentinhas ao chão.

Rútilas amoras de silvados bravios,
regados de sol e da chuva
que crescem à solta.

Seus olhos profundos,
brilham tão fortes,
tão doces
como favos de mel.

Raminhos às cores
e cachos de uvas
lhes pendem dos rostos,
jardas de oiro,
em rodadas de fio
lhes abraçam seus colos...

Berlim, 9 de Outubro de 2016
14h25m

JLMG

Harmonia suprema...

E do uníssono do piano e violino...

Pela batuta astuta do maestro,
uma orquestra em marcha,
na mais completa harmonia e cordialidade,
do violoncelo grave e doce,
da harpa quente,
das tubas em fúria
e do rufar ribombo dos tambores,

uma nuvem diáfana e pura
de sons distintos
enche a sala e os corações cansados
da mais profunda sensação alegre.

Como o pensou o artista ao escrever a peça,
na sua solidão etérea que só o espírito puro entende.

Que fantástica sinfonia se desprende
daquele palco aceso
onde o piano fulgurante
risca o trote pleno de graça e pundonor...

Maviosa orquestra de sonho e de harmonia
nos transporta em júbilo
por essas paragens que só em sonham se alcançam!...

ouvindo o concerto nº 1 de Tschaikowsky para piano por Sara Ott

Berlim, 9 de Outubro de 2016
10h13m

JLMG

sábado, 8 de outubro de 2016

serenatas de lua cheia

Serenatas de lua cheia
Na solitária solidão das noites claras
de lua cheia,
minha alma voa, livre pomba, pelas galáxias,
buscando a paz que falta à Terra.

Voltou em vão...

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Minha sacola primária

Minha sacola primária

De caqui amarelo,
feita pelo meu avô alfaiate,
era minha sacola com pala.

Só lá cabia o livro, a lousa e o ponteiro afiado.
E chegava.

O resto me daria a escola.

Foi neste dia de Outubro.
Minha caminhada sem fim.
Desde o aeiou
Até àquele ponto final
Cuja hora - ainda bem -
Nunca se sabe.

O senhor professor Pereira...
O Senhor o tenha em bom lugar.
Desde a primeira até à terceira.
Tanta conta e tabuada,
E nos intervalos um cigarro.
Lindas horas de recreio.

Alguns colegas já se foram.
Ninguém cá fica.
O Zé Ribeiro, o Zeca Guilherme, o Rolando
E sei lá quem mais.
Dos espalhados por esse mundo.

Alvorada dum futuro.
Tanta história.
Foi presente e é passado.
Bem distante...

Berlim, 7 de Outubro de 2016
9h59m

JLMG

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

horas de ponta

Horas de ponta

À hora marcada,
Acodem para a estrada,
Cansados, famintos,
Rumando a casa,
Os heróis do trabalho,
Açaimados,
Que ganham o pão,
Homens mulheres,
Com o suor do seu rosto.

As esplanadas, passeios e bares,
Regorgitando de gente ociosa,
Por desequilíbrio da sorte,
Fatalidade ou destino
Vêem-nos passar, indiferentes.

E chegam a casa.
Castelos de paz.
Se encontram os seus.
Acendem o lume.
Abraçam os filhos.
Vivem o sonho,
Duma vida de amor
Na força da vida,
Por vezes, com dor,
Muitas vezes alegres,
Sempre na esperança de dias melhores...

Berlim, 6 de Outubro de 2016
16h36m

JLMG











miríades deconcertos...

Miríades de concertos...

De entre as miríades de concertos
Que o piano sabe,
Aqueles dedos sábios
encontram certas as suas notas de oiro.
Com tanta arte que extasiam sempre.

Aqueles sons de sonho
Que alguém criou
Se derramam ébrios,
num delírio eterno.

Nos elevam aos céus
por horas breves.
Tanta magia se desprende deles.
Que bela arte!...

ouvindo concerto nº 2 de Rachmaninov por Kathia Buniatishvili

Berlim, 6 de Outubro de 2016
14h35m

JLMG

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Desço às minhas profundezas...

Desço às minhas profundezas...

Fuji das banalidades da superfície,
Onde o ar parou
e desci às profundezas de mim,
no encalço das sensações mais genuínas.

Não quero esta paz sem luta do dia a dia.
Quero arrostar os ventos e as intempéries.
É no desespero que se sobe às alturas
E se vêem mais perto as nossas reminiscências.

Ficar ao meio é cair na desilusão.
Só trepando ou descendo se atingem os extremos
Onde tudo começa ou tudo acaba.

Só arriscando se poderá alcançar o sabor da vitória...

Berlim, 5 de Outubro de 2016
22h40m

ouvindo o concerto nº 3 de Rachmaninov por Anna Fedorova

JLMG

Quinto dia de Outubro

Quinto dia de Outubro

Tímido, apagado,
Nublado em cinza,
Se revelou assustado
Este dia de Outubro.

Sai-lhe a terreiro,
Reclamando pelo sol.

Respondeu prazenteiro.

Esgotado de luz,
Passou mal a noite,
Que viria mais tarde.

Fiquei a aguardar.
Só pelas onze horas,
Rasgando as nuvens
Ele surgiu cabisbaixo.

Não vem para ficar
Como queria...

Berlim, 5 de Outubro de 2016
11h49m

JLMG




terça-feira, 4 de outubro de 2016

Quarto dia de Outubro

Quarto dia de Outubro
Todos os ingredientes de Outono.
Um sol fresco.
Uma aragem atrevida sacode as folhas.
Renitentes, elas vão tombando
E pintam o chão de amarelos.
No mar azul dum céu extenso,
Deslizam serenas as nuvens
Como se fossem caravelas.
As roupas leves foram guardadas.
Os agasalhos espesso saem à rua,
Enchem as praças,
Defendendo os corpos das ameaças.
Berlim, 4 de Outubro de 2016
8h57m
JLMG

Dromedários...

Faço dromedários...

Faço dromedários com rabiscos
Nas falésias dos desertos.
Me lanço à sorte nas vertentes dos promontórios.

E, pelas madrugadas de ventania,
Eu sopro lendas em cataratas.

Minhas brasas eu incendeio ao frio.
Me calo aceso para ouvir as vozes do meu silêncio.

É atroz morrer-se jovem, na flor da idade.
Mas ninguém aceita a morte,
Mesm que o tempo pareça uma eternidade.

Berlim, 4 de Outubro de 2016
11h27m

JLMG

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Terceiro dia de Outubro

Terceiro dia de Outubro

Nasceu radioso este dia de Outono.
Azul o céu.
Um rodapé de nuvens florescentes de sol,
Encimando as copas esverdeadas do arvoredo.

A frescura do ar atiçando a pele.
Que bom passear pelas veredas dos bosques.
Ver os pardais debicando no chão.
O melro atrevido, de bico amarelo,
Saltita e não foge da gente.

Um jovem casal passeia o filhinho no parque,
Brincando com ele...

Berlim, 3 de Outubro de 2016
11h40m

JLMG

domingo, 2 de outubro de 2016

Segundo dia de Outubro

Segundo dia de Outubro

Nasceu com sol
Este segundo dia de Outubro.
O mês das colheitas
E da abertura das escolas.

Quando a Natureza imponente
Se veste de tons,
Raiados de cores.

Do chão amarelo
Da palha cortada,
Saem as espigas
Para as eiras ao sol.

Das ramadas em pé,
Carregadas de uvas,
Saem os cestos
Que enchem as dornas
E regam de vinho
As canadas das mesas.

O mês da abundância
E da bênção gratuita,
Caída dos céus
Que abastecem de paz
As almas das gentes...

Berlim, 2 de Outubro de 2016
10h11m

JLMG

sábado, 1 de outubro de 2016

Amizades

Escolho as amizades
Como quem escolhe sementes.

Semeio-as em mim.
Até criarem raiz.
Cultivo-as atento
E bem dentro.

Podo-lhe os ramos,
Bem presos ao tronco.

Vejo-as crescer.
Florir.
Saboreio-lhe os frutos.
Meu bom alimento.

Berlim, 1 de Outubro de 2016
21h16m

JLMG

Minhas horas breves...

Me sinto um não pintor que quer escrever

Vejo os tons e as cores.
Sei das formas.
Me falta o elo à alma
Que me acenda a luz.

Passam ideias diante de mim.
Vão esbaforidas, em debandada.
Minhas mãos não as alcançam.
E elas se vão.

Mas espero bem.
Chegará a hora.
Serena e clara.
De, como andorinhas,
Voltarem a poisar
No meu beiral.

As receberei feliz.
Cuidarei delas.
Um bom pastor.
Ficarei a vê-las
Em combinações alegres,
Descrevendo ideias,
Com tão lindas formas,
Minhas horas breves
Em que sou senhor...

Berlim, 1 de Outubro de 2016
12h29m

JLMG