quinta-feira, 31 de maio de 2018

Tarde de Maio...

Tarde de Maio

Sorri de sol esta tarde de Maio, em Mafra.
Pedaços de nuvens, barcaças bojudas,
Pairam paradas e brilham, parecem de lã.

O céu é azul. Um oceano sem fim e sem ondas, parece dormir.

Reluzem as pedras do muro centenário, à volta da Mata.

E, os cavalos pacatos, derreados para o chão, rapam a erva verdinha que já conhecem de cor.

Mafra, 31 de Maio de 2018
20h48m
Jlmg

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Os sinais da vida...

Os sinais da vida
Como o rio, desde a nascente, lá nos altos cumes, vem traçando o leito pela terra avante,
conforme sua textura,
deixando marcas da sua passagem,
também a vida que nos alimenta a alma e também o corpo, nos dá a forma e vai deixando sulcos, de variado risco.
Tão diferentes, na sucessiva idade.
É agreste e constante nossa adaptação ao meio.
Complicada a aprendizagem.
Desde o comunicar com os outros.
A linguagem que expressa o pensamento.
O caminhar pelo chão, com equilíbrio,
para não caír.
O agasalhar do corpo contra o rigor do tempo.
A sobrevivência contra a fome e sede.
Tratar das feridas que sempre vão surgindo.
Todo um saber complexo e sempre em aprendizagem.
Procurando o bom e afastando o mau.
Toda uma arte que nos vai moldando.
Cada um a sua, sempre em mutação.
Por conveniência e pelo ter de ser.
Sacrificando do nosso, em favor dos outros, para também o merecer, na medida justa, quando for preciso.
Para cada um o seu saber viver.
É assim o nosso rio.
Desde a nascente à foz...
Mafra, 31 de Maio de 2018
7h31m
Jlmg

Os trapos...


Os trapos…

São pedaços de seres que foram vivos.
Luziram nas roupas.
Foram festivos.
O sol e a chuva os desmaiou.
Exangues se despediram do resto e morreram.
A tesoura os ceifou.
Jazem esquecidos no fundo do baú.

Pode ser que venha a tecedeira e os leve na saca.
Entrançados, a golpes da lançadeira, o tear, por magia,
tem o dom de lhes dar outra vida.
Numa manta. Num tapete.
Ou carpete, quem sabe.
Suavizando o inverno.
Ao calor da lareira.

Não deitem fora os trapos,
Ainda podem servir…

Mafra, 30 de Maio de 2018
Jlmg


Tenda de poesia...

Tenda da poesia

Um poeta armou sua tenda de poesia na praça pública.
Ligou o altifalante e, em voz alta, começou a ler.

Num instante, a praça ficou um mar de pássaros. O ouviam atentos, embevecidos.
Decorando letras para os seus cantares.

Quando acabou, levantaram voo em núvem.

E um fenómeno nunca visto aconteceu.

Como se duma orquestra, uma melodia maviosa e bela se desprendia daquela núvem, em bailado livre.

Embevecida a aldeia acudiu à praça para ouvir.

Ali ficou.
Quem assistiu nunca mais esqueceu.
Sem saber se foi real ou sonho...

Bar "Caracol" em Mafra, 30 de Maio de 2018
10h8m
Jlmg

Tivesse voz a borboleta...


Se a borboleta tivesse voz…

Seria assim o cantar duma borboleta se a natureza lhe desse voz.
Límpida. Suave e transparente.
Luzente ao sol.
Encantadora das papoilas num prado verde.

Poisava leve como uma bailarina sobre as pétalas coloridas dos jardins.
Descreveria arcos de graciosidade quase divinos.
Extasiaria as majestades com suas vénias reverentes.
Abriria o caminho atapetado de flores, com desenho de barcos caravelas.
Jovial.
Enganaria a própria sombra só por brincadeira.
Levaria o dia inteiro na folia doce de seduzir quem passa.

Teria a beleza agreste duma pradaria naquele radioso quadro da Primavera.
Seria, enfim, o sol de Agosto…

Ouvindo Dulce Pontes na sua bela canção do Mar

Mafra, 30 de Maio de 2018
8h50m
Jlmg



terça-feira, 29 de maio de 2018

Tudo ficaria negro...

Tudo seria negro...

Tudo seria negro se escrevesse nesta hora.
Está toldado o céu. Sopra frio o vento.
Irritantes cançonetas se desprendem da telefonia do café.
Temos de gramar. O remédio seria sair.
Meter gazóleo a um preço bruto chateia à brava.
Ora chove ora faz sol.
O Verão está aí. Parece Fevereiro.
O que valeu foi a torrada com pouca manteiga e um café duplo...
Amanhã haja mais.

Café Castelão em Mafra, 29 de Maio de 2018
8h22m
Jlmg

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Como os tempos mudaram...

Como os tempos mudaram...

Não há muito.
Elas passavam na rua. Vinham à janela. Olhavam e pareciam indiferentes.
Os insistiam sorrindo. Os rapazes iam e vinham.
Por dentro tão tristes.
Parecia tempo perdido.

Se conseguiam um sorriso,
o mundo se abria de esperanças.
- parece que gosta de mim.
Ela fechava a janela. E ficava espreitando por trás da cortina.

Ele se ia. Até ao próximo Domingo
ou no adro da igreja, depois da missinha.

Hoje, são elas que insistem, insistem.
Se desfazem em sorrisos,
fingindo ser boas.
Tocam nos ombros. Focam os olhos.
Coladas.
Se oferecem gostosas.
Nunca desistem.
Ai de quem péga...
Nunca mais largam.

Bar Castelão em Mafra,
28 de Maio de 2018
8h40m
Jlmg

domingo, 27 de maio de 2018

No reino da fantasia...

No reino da fantasia...
Desembaracei-me de todos os liames possíveis que me prendiam…
Joguei fora as cordas que atavam o meu ser.
Desafiei o tempo para um duelo de vida ou morte.
Peguei meu escudo e fiz-me a ele.
Como um corcel esbaforido que se vê à solta.
Atravessei o estreito das Termópilas.
Subi ao pináculo do templo da fantasia. 
Desatei à toa como um preso encarcerado que se escapuliu.
Soçobrei a serra que se opõe ao sol da minha manhã.
Recebi a ajuda dum caminheiro desiludido que recuperou o gosto de viver, quando me viu.
Agora, cada dia, me banqueteio à mesa da fraternidade com quem aparecer.
Minha vida é um privilégio da fantasia.
Sou rei sem reino.
Devasso todos os mistérios da criação,
Sem perder a esperança de, um dia, voltar à liberdade…
Ouvindo Scheherazade, de Rimsky-Korsakow,

Os caracóis ...

Os caracóis...
Não simpatizo com estes bichos.
Apesar de inofensivos.
Metidos consigo próprios,
lá seguem o seu caminho.
Nem bom dia nem boa tarde.
Carregam a casa às costas.
Tartarugas.

Respiram do mesmo ar.
Consomem do mesmo sol.
Deslizam em silêncio.
Nenhum contributo dão.
Não têm culpa.
Assim nasceram.
Há quem goste deles, de certo jeito.
Eu, não...
Bar Castelão 27 de Maio de 2018
9h18m
Jlmg

sábado, 26 de maio de 2018

Bom senso...

Bom senso…
Entre o doce e o ácido mora o bom senso.
Gosta das encostas abrigadas e soalheiras.
Se abriga do sol nas tardes de Verão.
Deita-se com as galinhas e chama por tu ao sono.
Pensa duas vezes antes de sorrir.
Faz-se caro.
Nunca responde à primeira se o chamam.
Não gosta de ser o último nem o primeiro.
Lava sempre a fruta antes de a comer.
Nunca gasta o último tostão. Prefere esperar que venha o segundo.
Nunca adormece sem rezar ao Criador.
E, se se esquece, agradece o acordar…
Ouvindo o barítono Kaufmann
Mafra, 26 de Maio de 2018
20h42m
Jlmg

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Paz da consciência...


Preciosa a paz da consciência…

Quem não experimentou já aquela paz de consciência,
em que nada se sente,
porque tudo o que somos, fomos, pensámos e fizemos foi certo e exacto.
Nem mais nem menos.

Ninguém, de ao pé e de longe, tem razão de queixa quanto ao que de nós esperava.

Ninguém julgámos, com falsos juízos, censuras indevidas ou traiçoeiras.

Retivemos na mão só o que a nós coube receber.
Partilhámos com quem, ao pé, se mostrou interessado em receber.

Admitimos naturalmente os outros com seu modo de ser.

Como é bom adormecer em paz…

Mafra, 26 de Maio de 2018
7h39m
Jlmg




Hora dos tons castanhos...


Hora dos tons castanhos…

O sol deixou de reinar no céu.
Toldado de nuvens cinza, o céu ostenta laivos de claridade na orla, junto à terra.

Uma mantilha ténue de tons castanhos cobre a copa do arvoredo e o pasto da terra negra.

Os cavalos dão as derradeiras mastigadelas na erva seca.

Mais um pouco e será o negrume.

Amanhã, se verá…

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Este sol da manhã...

Este sol da manhã…
Brindou-nos este sol da manhã,
Com pézinhos de lã, 
Com seus raios de luz.
Tudo ficou doutra cor.
As copas das árvores derramam sombra no chão.
Os prados reluzem brandindo humidade.
As ruas secaram.
A lama das bermas enrugou tolhida de medo.
Pairam quietas as nuvens no céu, a ver no que dá.
Os cavalos preferem a palha seca à erva molhada.
Os chinelos da praia de olhos despertos já me fizeram sinal.
Vou esperar para ver como diz o freguês.
Assim, com este sol,
Já apetece sonhar…
Mafra, 25 de Maio de 2018
7h37m
Jlmg

Baldrocas do tempo...

Baldrocas do tempo
O azul do sol trocou-se pelo fosco céu molhado.
A terra enregelou de fria.
É preciso soprar da alma a chama da alegria.
Sumiu a expansão do olhar.
Apetece ficar por casa na doce calma do recolhimento.
Enquanto o sol e o mar, em paz, se reconciliam.
Fazem falta as gargalhadas coloridas das flores.
E a folia incessante da chilreada.
Ao menos, fujam para bem longe 
As infames tentações dos incendiários. 
E que o sol, quando voltar, nos benza 
com sua inextinguível vontade de viver...
Bar Castelão em Mafra, 24 de Maio de 2018
9h37m
Jlmg

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Asas do tempo...

Asas do tempo...

Batem velozes as asas do tempo,
batidas do sol e do vento.
Navio gigante, com velas.
Sulca e galopa sobre as ondas do mar.
Seu rasto se perde.
Só olha em frente.
Não cansa o cavalo a trote.
Selvagem. Agreste.
Vergastas o tangem.
Às vezes, espuma. Arfa sem ar.

O clima o toma. Não desanima.
Umas vezes, vai cheio.
Parece afundar.
Seu dorso empina.
Sua cauda abana e balança.
Ginete e corcel.

Quem dera, um dia, ele páre cansado
e não volte a andar...

ouvindo " sinfonia fantástica" de Berlioz

Mafra, 23 de Maio de 2018
19h12m
Jlmg