domingo, 30 de abril de 2017

Arquitectura dos espaços



A arquitectura dos espaços

A tracinhos milimétricos
Se esboçam os croquis
De palácios e catedrais.

Nem sempre foi assim.
Na China antiga,
Grande muralha
E nas pirâmides dos Faraós.

Já não, os poderosos diques da Holanda
E do delta do Nilo,
Os canais.

Só o Vesúvio, espalhando lava,
Desfez em cacos a arquitectura de Pompeia
E se quedou calado
Até aos dias do presente.

E o decano Eifel
Que teve a feliz ideia
De erguer bem alto
Aquela torre esbelta,
Chamariz p’ró mundo,
Dos encantos de Paris.

E Dubai, com tantos dólares,
Ajardinou o deserto
E se construiu no mar!...

Ouvindo acordes de guitarra

Berlim, 1 de Maio de 2017
7h45m
Jlmg








Carro de fogo



Um carro de fogo

Espelhado no céu,
Um carro de fogo,
Esparzindo luz e calor,
Avança em vertigem
Até à linha do horizonte.

Se esbatem com luz
As copas ainda negras das árvores
E as linhas quebradas dos telhados.

Mais uns momentos
E uma bola gigantesca assoma
Numa festa viva
Que irá durar o dia inteiro.

Foi sempre assim, desde os tempos imemoriais,
Mesmo quando uma manta espessa,
Ensopada d’água,
O tolda e cega.

Agora, a terra acorda e exulta,
Mergulhada em vida,
Este mar imenso
Que a todos banha…

Berlim, 1 de Maio de 2017
5h50m
Jlmg

Um pedaço de pão



Um pedaço de pão

A riqueza dum pedaço de broa,
Côdea e miolo,
Farinha de milho ou de trigo,
Moída no rio,
Tisnada no forno.

Tem a bênção de Deus.
Regada de chuva
E raiada de sol.
O suor do labor,
Vertido na terra.

Benditas as mãos
Da mãe que o amassou
E lhe somou o fermento.
Bendito o forno,
Alimentado a lenha.

Naquelas horas de espera,
Um milagre se deu:

Dum monte de massa,
Pastosa e molhada,
Meia dúzia de broas,
O alimento da casa…

Berlim, 30 de Abril de 2017
19h33m
Jlmg







Sinto e sei...

Sinto e sei que escrevo melhor do que falo

Quando estou a escrever,
Só cuido em ver o bico da pena.
Quando estou a falar,
Me disperso a ver
O que pensam de mim.

O pensamento se atrasa
E as palavras não vêm.
Seca a fonte,
Fico confuso
E a lareira se apaga.

Cada um é como é.
Não somos iguais.
Cada um, o seu jeito
E forma de ser.
Nada a fazer.

Seria pobre o jardim
Se só tivesse a cor
Da mesma flor…

Berlim, 30 de Abril de 2017
17h51m
jlmg


Não sou magnata



Não sou magnata

Não sou magnata
Nem uso gravata.
Ando a pé pelos caminhos de terra.
Não carrego dinheiro de sobra.
Conto os tostões até à última gota.

Só assim sou feliz.
Não me privo de nada
Que seja preciso.
Sou um entre muitos,
Sem brilho diferente.

Saboreio o presente
Sem cuidar do futuro.
Sempre presente
Quando oiço meu nome.
Dou amizade,
Se ma pedem à porta.
Aprecio os amigos
Que gostam de mim.

Que um dia o meu rasto
Seja tão limpo
E fale de mim…

Berlim, 30 de Abril de 2017
17h18m
Jlmg

sábado, 29 de abril de 2017

A caixinha de plástico branca



O mistério da caixinha aberta de plástico

Todas as manhãs, quando vou caminhar,
Há uma lambreta usada,
Estacionada no passeio.

Ali passa a noite,
Porque o dia é para viajar o dono.
Tem um mistério.
Sobre seu banco está uma caixa aberta,
Sempre a mesma,
De plástico branco.

É irrisório. Mas alguma razão há.
Qual?
Talvez um dia encontre o turco
E lhe pergunte por gestos,
Que turco não sei.
Quando souber, direi…

Ouvindo excerto da sinfonia nº 5 de Mahler

Berlim, 30 de Abril de 2017
7h51m
Jlmg