domingo, 18 de junho de 2017

Hera gigante...



A hera gigante…

Vi-a crescer enlaçada no caule
Dum castanheiro gigante.
Cobriu-o dos pés à cabeça
Como se fosse gibóia.

Espalhou-se nos ramos
De forma perene.
Ao cabo de anos,
Quem passava adiante,
Perguntava espantado:

- Quem é que aqui é?
Castanheiro bravio
Ou hera gigante?...

Berlim, 18 de Junho de 2017
10h28m
Jlmg


sábado, 17 de junho de 2017

Sargaço nas praias...



Sargaço nas praias…

Mesmo de longe, com o sopro do vento,
Se sente o odor do sargaço nas praias.
Apetece banhar no meio das algas.
Sentir-lhe o macio suave, zombando na pele.
Inalar o perfume, nascido nas ondas
Que a brisa difunde.

Aquele espaço etéreo,
De riqueza sem conta,
Que une, tão estreito e tão terno,
O seio da terra e os braços do mar.

Que doces lembranças daquelas manhãs
Em que chegávamos à praia,
Nevoeiro cerrado,
Tinindo de frio, mas apetecia nadar…

Berlim, 17 de Junho de 2017
10h33m
Jlmg

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Regresso...



Regresso…

Um dia, se eu puder,
Regressarei aos beirais da minha aldeia.

Oxalá encontre o Artur Mói a bater o ferro na bigorna acesa.
O alfaiate acima assobiando o tiro-liro.
O Zé Gato e sua enxada ao ombro,
A ir regar o seu campinho.

O almocreve arreando o burro
Com sua mercearia cheia e ambulante.
A sardinheira de canastra à cabeça,
Aclamando suas sardinhas.

E o Zé marchante, dependurando à porta
O porco morto.

E o abade João subindo a ladeira
A caminho de Pedra Maria.

Quem me dera jogar à bola,
Mesmo que fosse de farrapos!...

Berlim, 16 de Junho de 2017
11h01m

Jlmg



quinta-feira, 15 de junho de 2017

Em bico dos pés...

Em bico dos pés...
Todo mundo dormia.
Parti silenciosamente,
Em bico dos pés.
Não fosse acordarem
E tudo resvalaria
Num sonho que se desfaria.
Desci as escadas,
Pé-ante-pé,
E fiz-me ao caminho,
Pela calada da madrugada.
Reinava a paz.
Sabia bem contemplar
A vastidão céu.
Um painel monumental
Onde a beleza reina
Com toda sua majestade.
Tanta prata reluzindo,
Num mar profundo
Que só o sol irá esconder.
Minha alma, 
Mais uma estrela,
Navegou à vela,
Inundada de encanto,
Em busca do infinito.
De lá, enxergou a terra,
Pontinho azul,
- Ninguém supõe -
Carregadinha de tormentas.
Ninguém lá consegue viver em paz...
ouvindo Liszt
Berlim, 16 de Junho de 2017
7h39m
Jlmg

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Nem são precisas asas...



Nem são precisas asas…

Como um passarinho livre
Passeio cada manhã.
Vou tão leve e tão feliz,
Sorvendo a frescura do ar.
Olhando as folhas lá ao cimo.

 Só às vezes vejo um esquilo
Correndo de árvore em árvore,
Sem poisar os pés no chão.

Já conheço, só de ver,
Os companheiros da mesma hora.
Até as pombas, até os melros.
Cada qual no seu afã.
A todos falo de mim para mim.
Mas há um cão branco
Ainda jovem,
Um são bernardo,
Sei lá porquê,
Desata aos pulos quando me vê…

Berlim, 15 de Junho de 2017
8h30m

Jlmg

Sózinhos nacarruagem...


Sózinhos na carruagem…

O comboio de madeira apitava,
Douro acima.
Do Porto p’rá Régua,
Passava por túneis.
Largava fumo e faúlhas.
Entravam pelas janelas.

As camisas coitadas,
Que a tia brunia,
Ficavam com cinza
E ninguém as pagava.
Thucathum!...Thucathum!
Indiferente o comboio seguia.
Vinha o rio e as ramagens das árvores.
No banco em frente,
Uma moça sózinha,
Vinha do Porto,
Entrei em Caíde.
Ela, ao pé da janela.
Era bonita
E seus olhos sorriam.
E eu, de caneta na mão,
E um caderno diário,
Apontava as ideias.
Vinham a quente
Que passavam na mente.
Restou-me a lembrança.
Que será feito da moça
Que o comboio levou?...

Berlim, 14 de Junho de 2017
11h50m
Jlmg

terça-feira, 13 de junho de 2017

Acordar cedo...



Acordar cedo…

Levanta-te.
Vai ao bosque mergulhar na natureza.
Ali mora a frescura e a pureza de ar.
Tudo vive em harmonia.

Há coros de pardais
E sinfonias de beleza.
Não há faunos pelo bosque.

Bailam verdes as ramagens
Atiçadas pelo sol.
Chovem folhas como pétalas.
Há tapetes pelos caminhos.

Há esquilos tão furtivos,
Vagueando pelas copas.
Saltitam de ramo em ramo.
Que fariam se tivessem asas?

Há parques de brinquedo
E bancos verdes de jardim
Onde os minutos parecem horas.

E há um riacho em marcha,
O lago é seu destino.
Desejoso de chegar.

Trata bem esse teu corpo
Onde a alma quer morar.

Ouvindo Adágio de Albinoni e Rachmaninov

Berlim, 14 de Junho de 2017
7h43m
Jlmg