quarta-feira, 31 de julho de 2019

Ganância e vaidade

Ganância e vaidade...

Para quê  tanta ganância, inveja e vaidade?
Todos irão com os pés para frente,
de mãos a abanar, bem embalados, para a cova no chão.
Qual o sabor de acumular riqueza e poder, sabendo que, mais adiante, tudo há-de ficar?

Mais vale saborear o viver, de bem com a vida, semeando o bem onde o mal é maior.
Depois da hora final sejamos lembrados pelo bem que fizemos...

Mafra, 31 de Julho de 2019
2h59m
Jlmg

Horas felizes

Horas felizes...

Horas felizes eu vivi no dealbar da minha infância e adolescência.
Quando me cercavam de ternura e de carinho os do meu sangue e meus vizinhos.
Quando calcorreava as veredas da minha aldeia como se fosse o bosque do imaginário.
Tomava banho nú na serenidade dos regatos brandos tanques alheios.
Me regalava com a boa fruta que abundava para lá dos muros da fidalguia.
Quando corria o concelho inteiro ao pedal da bicicleta com mudanças de cubo.
Tinham sabor divino as romarias para as muitas ermidas no alto dos montes.

Depois veio a tropa e a turbulência do ultramar.
A seguir a ascenção dura na vida, à força dos meus braços e inteligência.
Quando vi nascer no meu jardim os quatro rebentos que me vão perpetuar no mundo.

Finalmente, chegou a hora de repousar saboreando a liberdade da aposentação e com saúde, enquanto o Criador deixar...

Bar "Castelão" em Mafra, 31 de Julho
8h38m
Jlmg

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Lamentações

Lamentações...

Lânguidas vozes de lamentações.
Dores escondidas esperando a cura.
Rastos de luz que as trevas levaram.
Foi-se a paz, mas ficou a esperança.
Tudo é efémero. O bem e o pior.
A tempestade passa e a bonança volta.
A esperança vence.
Aos quarenta anos de deserto sucedeu a libertação total.

Ouvindo Song to the moon / Dvorak "Rusalka" by Gautier Capuçon / Concert de Paris Tour Eiffel 14th July 2019

Mafra, 7Momentos, 29 de Julho de 2019
10h31m
Jlmg


domingo, 28 de julho de 2019

O corrimão da escada

O corrimão da escada

Faz falta um corrimão em cada degrau.
Fica mais leve o subir e seguro o descer.
Uma escada alta de pedra sem ele é um alçapão.
Assim morreu o sr. Joaquim da "Tripa", estatelado no chão...
E eu. Contei todos os degraus de pedra da escada que dava para a estrada.
Lá se foram os calções.
O que valeu,
Meu pai era alfaiate.
O resto ficou por minha conta...
A lição ficou.

Hoje, desço as escadas do primeiro andar bem agarradinho a ele e recomendo a quem cá vem.
Excepto à minha cadela que os trepa à velocidade da luz...

Mafra, 28 de Julho de 2019
20h43m
Jlmg





sábado, 27 de julho de 2019

Calçadas do Alentejo

Calçadas do Alentejo

Velhas calçadas de pedra, velhas, lambidas do tempo,
Entre casinhas baixas, brancas afitadas de azul e ocre.
Povoados cercados de pinheiros e sobreiros, perdidos na distância.
Mergulhados na paz e no silêncio.
Sempre com uma ermida pequena, no mesmo tom de branco.
Porque a fé sempre ali habitou.
As pessoas são pessoas de famílias vizinhas umas doutras.
Têm gado. Trabalham nas suas terras.
Seu relógio certo é o sol nascente e o sol-pôr.
Horas boas e outras menos.
Solidários. Os outros estão sempre presentes.
Recebem bem quem por lá passa.
Sou testemunha.
Palmilhei as calçadas de Canha.
Anos sessenta e dois...

Mafra, 27 de Julho de 2019
19h56m
Jlmg

São fugazes

Fugazes...

Momentos de glória.
Aplausos e agradecimentos.
Se evaporam.
São voláteis.
Fogos fátuos.
Quimeras.
São miragens.

Iludem.

Aprisionam.
Não libertam.
Não saciam.
Ostentam.
São fugazes.
Tudo efémero.

Então,
O que vale?
O sólido?
O real?
Queres descobri-lo,
Fecha os olhos.
No silêncio.
Expõe-te à luz.
Ouve a voz que há em ti.
Alguém ta pôs lá.
Ela fala.
Ela dita.
Está atenta.
Sempre presente.
Aponta sempre o melhor caminho.
Faz um pacto.
É só segui-la...

ouvindo Mozart - Concerto no 23 in A major k 488 - Daniil Trifonov and the Israel Camerata Orchestra

Mafra, 27 de Julho de 2019
17h41m
Jlmg


sexta-feira, 26 de julho de 2019

Altas serras encapeladas...

Altas serras encapeladas...

Altas serras encapeladas.
Escarpas. Desfiladeiros.
Vales fundos.
Onde serpenteiam rios.
Encostas e ladeiras, pintadas a verde e ocre.
Tudo mergulhado num silêncio total e absurdo.
Quando lhes bate o vento, a chuva, escorrem regos, parecem rios.
Vem o sol. Despontam urzes, em sumptuoso colorido.
Imponente e majestosa se torna a terra.
Um quadro. Quem será o seu pintor?
Afinal, não é ela a rainha e madre natureza que, de graça, se oferece à humanidade?

Ouvindo Mendelssohn - Hebrides Overture (Fingal's Cave) (Abbado)

Mafra, 26 de Julho de 2019, 17h11m
Jlmg

Minha praia

Minha praia
Não tem areia a minha praia.
Só pedras, algas e penedias.
Suas ondas albas me embalam.
Que frescura se desprende.
Tem o perfume das maresias.
Não sei viver sem ela.
É um deserto quando me afasto.
Uma loucura boa quando volto.
É verde a minha praia, cor da esperança.
Cheira a algas e sabe a sal.
Lá ao fundo, há um castelo.
Dormem nele as gaivotas.
Depois do dia à beira-mar.
Ouvindo Dvořák - The Water Goblin
Bar Castelão em Mafra, 26 de Julho de 2019
9h11m
Jlmg

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Quero lá saber...

Quero lá saber...

O que importa é o meu cantinho bem arrumado.
Que eu esteja bem e os meus.
Cada um se arranje como bem puder.

Parece impossível. Mas é verdade.
É assim que pensa e age a maior parte da gente que anda a nosso lado.
Egoísmo total.

A idolatria da modernidade arrastou-nos para esta pobreza.
Perdeu-se o valor do humanismo.

Somos seres, por natureza, solidários, interdependentes.
Precisamos todos uns dos outros.
Cada um tem seus talentos.
E quem o tem faz muito melhor que o que o não tem.
Se forem postos ao serviço nosso e dos outros, assim se alcança a maior riqueza.
A melhor condição, instituída naturalmente, para se viver bem.
Que há de melhor que saber que na hora em que se precisa, há quem  acuda sem cobrar.

Quem se afasta desta linha fica muito mais pobre.
Não é o dinheiro que nos torna verdadeiramente ricos.

Mafra, 25 de Julho de 2019
17h20m
Jlmg

quarta-feira, 24 de julho de 2019

As sobras



As sobras

Se de cozido à portuguesa, dão uma rica roupa-velha.
Deu-ma minha avó ao almoço no dia do exame da quarta.
Gostei. Nunca mais esqueci.

Aquele sabor da couve galega.
Muito tenrinha, a saber à horta
E ao bacalhau das sobras.
Mas, o carinho dela foi o melhor de tudo.
Me deu ânimo para ficar "distinto".
Com diploma.
E fiquei.

Um dia grande. A prestação das provas na escola da Vila.
Perante professores alheios.
Uma das vitórias da minha infância.
Na casa dos pobres não havia sobras...

Mafra, 24 de Julho de 2019
10h30m
Jlmg

terça-feira, 23 de julho de 2019

A água da levada

A água da levada

É preciso repartir bem a água da levada.
Quem a dá é a natureza.
Rega campos, hortas e vinhedos.
E a que sobra vai dar ao rio.
Quem a gere são os costumes.
Venerável. É sagrada.
Todos a cumprem.
Vem dos antigos.
É bem comum.
Bem dividido.
Nem mais nem menos.
É da aldeia.

Mafra, 23 de Julho de 2019
18h16m
Jlmg

Respirar...

Respirar

Nossa tábua de salvação em cada instante.
Mergulhados no mar da existência,
O ar nos banha e irriga com o fogo da  vida.
Um complexo mecanismo para que nos mantenhamos de pé e caminhantes.
Fecunda o nosso sangue e o converte em energia.
A luz presente que ilumina  a nossa existência.
A escuridão da morte sobrevive no momento em que ele desaparece definitivamente.

Curvem-se perante ele todas as majestades da terra.
Venerem-no como a fonte santa onde todos bebemos a razão de ser um ser quem somos, com alma e vida.

Mafra, 23 de Julho de 2019,
9h23m
JLmg

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Bailando à sorte...

Bailando à sorte

Atei uma corda ao princípio e ao fim do mundo e pus-me a bailar no tempo.
Ao ritmo certo e cadência das marés vivas.
Meu balanço é longo. Vai da estrela polar ao cruzeiro do sul.
Vejo a terra, ronda e azul, a deslizar dormente pelo céu sem fim.
Abraço o sol como um planeta à sorte.
Mergulho pacífico no mar da serenidade.
Fico a flutuar perdido como um nauta vivo.
Meu sonho é a esperança na eternidade...

Mafra, 22 de Julho de 2019
15h35m
Jlmg

Veleidades...

Veleidades...

Frutos dum sonho, ficamos carentes de sonhos.
Por isso, sonhamos.
O que temos e não temos.
Insaciáveis.
Já não chega o que há.
A ilusão nos seduz.
Sofremos.
Se tarda ou não vem.
Quanto mais longe pior.
Gastamos o presente com a incerteza dum futuro.
Um apelo em nós, ninguém sabe donde vem.
E, depois, ainda não é o que se quer.
Por certo que há melhor...

Bar "Castelão" em Mafra, 22 de Julho de 2019
11h14m
Jlmg

domingo, 21 de julho de 2019

Brincando com as palavras...

Brincar com as palavras:

Foi-se a foice...
Foi-se a foice para o centeio e a cana doce. Trouxe a trouxa bem entrouxada sobre do dorso da alimária. Partiu-se ao meio e repartiu-se: A das canas, para o moinho e saíu açucar. À do centeio, tirou-se as espigas e pôs-se ao sol. Ensacou-se depois de secos. O resto foi prò o moleiro. Passado pouco, Saíu farinha que depois deu pão.
Bar 7 Momentos, 21 de Julho de 2019 10h51m Jlmg

sábado, 20 de julho de 2019

Ajuda...

A ajuda...
É nobre e exigente a arte de ajudar.
Adequada a cada caso.
Nunca como se quer ou apetece.
Não se pode diminuir quem precisa do nosso auxílio.
Hoje, sou eu por ti.
Um dia, será o inverso.
Porque ninguém é auto-suficiente.
Hoje, estou bem.
Amanhã, poderei não estar.
Quanto mais tenho ou sou, maior é a obrigação de ajudar.
Só tenho direito ao essencial.
Esse é inviolável.
O resto é secundário.
Seu valor, onde for mais útil.
A reciprocidade não faz parte do ajudar.
Muito menos se pode comerciar.
Não tem cotação na bolsa e em nenhum lado.
Porque ajudar assenta na igualdade e na solidariedade de quem nasceu igual.
Mafra, 20 de Julho de 2019
18h27m
Jlmg

A voz...

A voz...

Nossa voz é impetuosa.
Vibra oculta e incontrolada.
Reagindo aos seres que nos circundam.
São eles que no-la modulam e regem como maestros.
Sua afinação foi trabalho de muita dedicação.
Entre sorrisos e olhares ternos.
Se tornou vibrante e musculada.
Tem o timbre das canas verdes quando o vento silva.
Poisa nos sons com os pés descalços.
Solta palavras com sua mensagem.
Se diverte em ondas sonoras de harmonia.
Entoando o sentimento que vai na alma.
Chama cada ser vizinho pelo seu nome.
Diz sim e não segundo a vontade.
Ouca se envergonha e tosse...

Bar, 7 Momentos, 20 de Julho de 2019
10h57m
Jlmg



sexta-feira, 19 de julho de 2019

Instabilidade...

Instabilidade...
Há o estado. Líquido. Gasoso e o da instabilidade.
É neste em que mergulhamos desde o berço.
O desequilíbrio é sua ameaça permanente.
Socorremo-nos de auxiliares para não cairmos:
As mãos dos pais e nossos vizinhos.
A atenção constante que toda a gente próxima nos dedicava.
Até atingirmos nossa independência.
A amizade dos bons companheiros e amigos a juvenude.
Mesmo assim, houve o brilho dos bons exemplos da gente boa que nos rodeou.
A solidez impecável de nossos avós que nos queriam como ninguém.
Até que, passamos nós a ser o apoio sempre presente, dos nossos filhos.
E, no declinar dos anos, com o enfraquecimento das nossas forças, é à bengala que vamos pedir a derradeira ajuda para os passos fraquejantes...
Mafra, 19 de Julho de 2019
16h36m
Jlmg

Papel almaço

Papel almaço
Minhas provas em papel almaço.
O arrematar da escola primária.
Um acontecimento importante para quem nascera havia 10 anos.
Nunca mais esquece.
Uma vitória pública da nossa capacidade para enfrentar o futuro 
e a bagagem para vencer na vida.
As regras da língua com que nos entendemos.
O domínio dos números para dimensionar bem as medidas e quantidades.
A visão global do ambiente em que nos movemos.
A nossa Terra e os astros que, de longe, nos acompanham.
O pedaço dela que nos tocou da História.
Os heróis sem nome que a construiram.
O que tem de bom e belo.
Mar e rios. Campos e serras.
As vias férreas que eram as veias onde corria o sangue da riqueza.
E, sobretudo, os valores morais da natureza humana organizada em sociedade.
O alicerce sólido do que somos hoje...
Mafra, Bar 7 Momentos, 19 de Julho de 2019
9h46m
Jlmg

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Campo verde de milho

Campo verde de milho
Campo verde de milho, vasto e crescido.
Pendões salientes dançam sorrindo ao vento.
Prometem encher repletas as arcas de grão.
Ninguém liga.
É natural.
Brota fartura da terra, por obra do sol, da chuva e da bênção de Deus.
Planta que vive e que morre, fonte de pão.
Um doce milagre à vista dos olhos.
Brota fartura da terra, por obra do sol, da chuva e da bênção de Deus
Porque será? Quem o pensou?
Dá que pensar...
Bar "Caracol" 18 de Julho de 2019
10h51m
Jlmg

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Mercado das sombras

Mercado das sombras

Secas, morrem as sombras, esquecidas, sem sol.
Se infiltram no chão.
Como sementes, germinam e luzem à luz.
Escravas, rondam as árvores vestidas de verde.
Submissas, seguem as passadas dos donos que vão para o mercado.
Vizinhas do nada e da ausência.
Tristonhas, se escondem nas sombras com inveja de cor.
Seu fado, apenas: ser sombra...

Mafra, 17 de Julho de 2019
15h45m
Jlmg

Lapidar as palavras

Lapidar as palavras

Pedras agrestes, cheias de arestas,
Buriladas a escopro e martelo, se tornam suaves, dóceis amêndoas de Páscoa.

Palavras pomposas, sem alma,
se tornam ôcas, vazias, frias, geladas.
Palavras humildes, veladas, sem sombras,
se tornam caixinhas que guardam verdades.

Palavras com peso, graníticas, eternas, valem tesouros.

Com todas se escrevem as prosas e versos, com histórias de sonho.

Mafra, 17 de Julho de 2019
13h21m
Jlmg

Pequeno-almoço


Pequeno-almoço

Primeira estação à sombra na caminhada de mais um dia.
No calor da família.
Onde se traçam todos os caminhos da existência.
Para muitos, com a bênção indispensável do Criador.
Para outros, só oásis e castelo de sonhos e de progresso.
São diversos seus ocasos.
O da esperança e crença na eternidade sem mais limites.
O outro, da paragem última sem mais volta.
O fim duma existência sem mais sentido que vir ao mundo para morrer...

Ouvindo Brahms Violin Concerto in D major Op.77, Itzhak Perlman
Bar 7Momentos, Mafra, 17 de Julho de 2019
11h8m
Jlmg

terça-feira, 16 de julho de 2019

Palavras à solta

Palavras à solta

Solto palavras ao vento.
Folhas de Outono que o tempo secou.
Buscam ideias. Perdidas que sejam.
Fazem famílias. Enchem castelos e moinhos de sonhos.
Pedaços caiados de velas cansadas do mar.
Arcos voltaicos esparzindo fagulhas.
Pedrinhas macias. Ternos beijinhos na borda das praias.

Pétalas às cores que caem do céu.
Tecendo tapetes.
Cobrem caminhos.
Só esperam andores.

Asas de cisnes que esvoaçam no lago,
raiadas de sol.
Gotas de orvalho carregadas da luz que o vento soprar.
Cantos e rezas em versos de amor...

Bar "Castelão" em Mafra, 16 de Julho de 2019
9h58m
Jlmg

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Um pedaço de sombra

Um pedaço de sombra...

Um pedaço de sombra e de verde.
Um espaço sem sede, com água abundante.
Pode haver o deserto à volta.
Mesmo sem chuva,
A vida não morre.

Com pouco se vive.
Com pouco se morre.
Nunca falte a paz e a fé.
Porque Deus nunca falta...

Mafra, 15 de Julho de 2019
18h3m
Jlmg

domingo, 14 de julho de 2019

Finura duma pessoa

Finura duma pessoa

Não é pelas vénias e ademanes que se mede a finura duma pessoa.
Nem pelo custo do perfume que ela põe.
Não está nos fraques nem nos chapéus.
Se não for simples e transparente;
Se for rebuscada sua maneira de falar;
Se largos e exuberantes forem os seus gestos para imporem suas ideias ou opiniões por mais mesquinhas;
Quem se contenta apenas com as palmas que vai ouvir à custa de se gabar ou engrandecer;
Quem mede por si os outros quando chega a hora de os venerar;

Deve mudar de caminho porque a finura não habita lá...

Ouvindo Itzhak Perlman - Themes from "Schindler's List"

Mafra, 14 de Julho de 2019
17h27m
Jlmg

Inconveniências...

Inconveniências...
Gestos e atitudes inconvenientes.
Ditos. Tantas formas.
É uma fraqueza que ataca qualquer de nós.
Refrear os ímpetos exige domínio de si próprio.
Somos movidos por tendências nossas e ancestrais. Estão-nos no sangue.
O egoísmo ou o egocentrismo é o pendor difícil de domar.
Somos inconvenientes com nossos próximos.
Com os de fora.
Movemos-lhe guerra.
Com medo que nos destronem.
Pomo-nos ares de sabichões.
Só largamos charadas.
O rídiculo tinge nossos actos.
Por mais letrados que sejamos.
Então, os ricalhaços.
Os que têm o rei na barriga são insolentes.
Só eles contam. Os outros não...
Ouvindo uja Wang Plays Schubert and Liszt
Dia cinzento
Bar Castelão em Mafra, 14 de Julho de 2019 ( faz séculos que foi a "Tomada da Bastilha2 bem sangrenta...)
Jlmg

sábado, 13 de julho de 2019

Todos temos...

Todos temos...

Quando e donde menos se espera, surge uma pessoa na nossa vida para nos fazer bem.
Não foram muitas. Mas vieram nos momentos cruciais.
E, porquê?

Não caminhamos sós.
Há Alguém que vai a nosso lado, atento e nunca falha.
Não podendo intervir directamente, serve-se d'álguém que o faça em seu nome.

É bom sabermos disso...

Mafra, 13 de Julho de 2019
13h54m
Jlmg

Reflexões minhas

Reflexões minhas
Já avancei na idade, mais do que esperava.
Subi onde posso ver ao longe,
o passado e o presente.
Uma sensação de engano.
Sobre as razões da vida.
Lutar para a vencer é ilusório.
Nos apetrechamos com os melhores utensílios.
Por bom preço.
Apostamos neles a maior parte das nossas forças.
Convencidos de que, depois, se vai saborear os frutos das nossas penas.
Acumula-se riqueza e sabedoria.
Entra-se na reforma, quando se tem, e, depois duma euforia de vitória, nos quedamos desarmados com a perda das nossas forças.
O dia a dia torna-se uma caminhada célere para o fim.
Afinal, para quê o nosso castelo de ilusões?
Pensávamos que era só nosso.
Se esvai, e nada detém essa sujeição.
Felizmente, cedo cheguei à conclusão de devia apostar no que vem depois do fim.
Ainda bem...
Ouvindo a mejor música de piano y violin triste relajante y romantica
Mafra, 13 de Julho de 2019
12h43m
Jlmg

Susceptibilidades

Susceptibilidades
Por mim falo. Somos muito instáveis no gerir das afeições.
A gente apega-se a quem nos presta atenção.
Mesmo só, às vezes.
Mas, se há uma falha leve, a sirene toca:
-Olha ele! Passou e não disse nada.
E, nós fazemos igual.
Somos assim.
Na vida real ou virtual.
Flutuamos em pouca água.
Uma atenção na hora.
Uma boa crítica, a favor ou não,
Não é só um gesto.
É uma dívida. Há que pagá-la.
O comércio é livre e aberto.
Quem recebe fica a dever.
Bar "Caracol" arredores de Mafra,
13 de Julho de 2019
10h3m
Dia cinzento
Jlmg

sexta-feira, 12 de julho de 2019

Rachmaninov

Rachmaninov
Oiço de novo Rachmaninov, sem cansar. Concerto nº 3.
Fogoso. Supremo.
Enquanto lá fora, um passarito debica o chão. Até parece ao mesmo ritmo.
É a harmonia da natureza.
Envolvidos na mesma energia.
Passam por nós as suas ondas.
Por vezes dolente. Quase em pranto. Outras sentido. Outras raivoso de revolta.
Estrebucham suas notas. Em espasmos quase incontidos.
Que se passaria no espírito do autor ao conceber este poema?
A pianista jovem, bem adestrada, vê-se aflita para o segurar.
O piano range desensofrido.
O matraquear dos dedos sobre as teclas faz-se quase invisível.
Nem todos os bons pianistas conseguem arrostar este concerto.
Arrepiante. Quase uma hora de forno aceso.
Nos arrasa de emoção...
Ouvindo Yuja Wang plays Rachmaninov's Piano Concerto No. 3
Bar 7Momentos, arredores de Mafra,
12 de Julho de 2019
11h11m
Já choveu
Jlmg

quinta-feira, 11 de julho de 2019

A minha bica

A minha bica

Parei na minha bica.
Estava seca de poucas horas.
Fora longa a caminhada.
Só um trago de água fresca e pura me podia matar a sede.
Fiquei triste.
Mal habituado, sofri.
Humilhado,
Tive de recorrer à água da poça em pedra onde não batia o sol.
Como um pardal.
Que mais sou eu?
O que importa é matar a sede.

Regressei.
Pelo caminho fui-me lembrando das ricas tardes de soalheira que, meninos da escola, íamos com a Professora até à fonte "Gira-Boa" em cortejo alegre, numa mata verde muito densa.
Nunca mais esqueci...

Ouvindo Yuja Wang: Bartók Piano Concerto No. 1
Mafra, fim da tarde, 11 de Julho de 2019
Jlmg






quarta-feira, 10 de julho de 2019

Gentes da minha infância

Gentes da minha infância
Rostos viris, tisnados das tineiras sem fim.
Pele seca e enrugada pelo trabalho duro, sol a sol.
Mãos calejadas pelos cabos das enxadas preparando a terra para as sementeiras.
Vozes grossas e roufenhas pelos garrafões de vinho que esgotavam para matar a sede da estiagem.
Troncos fortes e robustos, arqueados pelas muitas horas a cavar.
Outrotanto para as suas companheiras e amantes, que os seguiam lado a lado e ainda tinham as lidas todas lá da casa à sua conta .
Gente heróica e submissa para quem a missa de Domingo era sagrada.
Para quem as férias eram uma ofensa à sua sina de trabalhar para poder viver...
Assim eram as gentes da minha infância.
Mafra, 10 de Julho de 2019
16h16m
Jlmg

Na minha rua...

Na minha rua...
Na minha rua, pela manhãzinha, há pouco movimento.
Há quem faça caminhadas.
Sós ou com seus canitos.
Um a um se ouvem os estores correrem.
Para a luz entrar.
Pelos fios dos telefones se vêem poisados passaritos, cantarolando as melodias que lhes deu a Natureza.
É hora de júbilo.
Um novo dia começa.
A vida é curta.
Há que a aproveitar.
Na cozinha, o leite já ferve e cheira a café.
Doce rotina de cada dia.
Que a paz nos vai permitindo.
Um a um, vão saindo os carros das garagens.
Para a luta do pão de cada dia.
A miudagem vai para a escola de sacola às costas.
O sol avança céu acima, quando o há.
As ramagens e sebes dos jardins se agitam com a brisa mansa que vem do mar.
Cada um vai para o seu percurso.
Se acendem os computadores.
Se registam os pensamentos que vêm à mente
E se dá larga à preciosa liberdade...
Mafra, 10 de Julho de 2019
8h19m - dia cinzento
Jlmg

terça-feira, 9 de julho de 2019

Rostos tristes, macerados...

Rostos tristes, macerados...

Todos os horizontes se lhes rasgaram.
Às mãos negras dos algozes,
Estão destinados.
Esperam-nos os campos de concentração.
Erradicados serão deste mundo.
Sem direito a viver.
Porque não são mesma raça ou adoram Javé.

Como gado, vão a esmo. Enchem vagões.
Ninguém lhes vale.
É o fim depois da morte.
Cruel.
Nunca desceu tão baixo a Humanidade...

Ouvindo SCHINDLER'S LIST" IN THE LARGEST EUROPEAN SYNAGOGUE: XAVER VARNUS & CSONGOR KOROSSY-KHAYLL

Bar 7Momentos, arredores de Mafra,
9 de Julho de 2019
8h22m
Jlmg


segunda-feira, 8 de julho de 2019

Efémeras...

Efémeras...

Efémeras são as palmas que elogiam um concerto.
Efémero é o aplauso a um livro que se publica.
Os parabéns à defesa brilhante duma tese.
O doutoramento que fez correr tanto sofrimento.
A corrida a pé que se ganhou à conta de tanta dor.
Tudo é efémero e olvidável.

O que dura é a amizade do amigo de infância.
Essa nunca morre.
Mesmo que a morte os separe para sempre.
Ainda hoje não adormeço sem rezar uma Avé-Maria pela alma do Zé Ribeiro, o meu companheiro de todas as horas e traquinices
Que me esperava ansiosamente sempre que eu voltava de férias do seminário...

Mafra, 8 de Julho de 2019
20h41m
Jlmg

domingo, 7 de julho de 2019

Com lágrimas...

r a dor.
Em versos tão sentidos, vigorosos.
Numa melodia temerosa, nunca ouvida.
Compassos e compassos infindáveis,
Ondas, vagalhões.
Desespero. Agonia.
Frases soltas.
Convulsões.
O ribombar da trovoada.
Parecia o fim do mundo.
Não chegavam as notas do piano.
Queria mais.
De vez em quando, serenava.
Mas não.
Outra vez a turbulência. A revolta.
Hão-de aprender.
Não se faz isto a um menino, acabado de nascer.
Cansado, adormeceu.
Refeito,
Sentiu-se de novo feliz.
Nunca mais tal lhe aconteceu...

Ouvindo Yuja Wang plays Rachmaninov's Piano Concerto No. 3

Mafra, 7 de Julho de 2019
20h49m
Jlmg