sábado, 22 de novembro de 2014

é preciso mergulhar...

É preciso mergulhar…

É preciso romper
E mergulhar.
Bater à porta para entrar.
Descer ao fundo.
Navegar à solta.

Percorrer os escaninhos mais escuros
Onde nem a luz chega.

Ver debaixo para cima.
Juntar as pedras.
Fundar as bases.
Erguer as paredes
Com toda a firmeza.

Escalar as escarpas,
Esfolando as mãos.
Para chegar aos cumes.

Atravessar estreitos.
Novos horizontes.
Um novo sol abrindo.
Sentir o vento
A soprar bem forte.

Ver a morte, fugindo dos pés.
Alcançar a sorte,
À força dos braços.
Dar laçadas bem apertadas.
E partir subindo.

Mas nunca sózinho.
A solidão chama a tristeza
E o coração não gosta.
Sem coração batendo,
A vida cessa…

Ouvindo concerto nº 3 de Rachmaninov, ao piano, por Argerix

Berlin, 23 de Novembro de 2014
8h25m

Joaquim Luís Mendes Gomes 

a cor do chá...

A cor do chá…

Nesta varanda da Graça,
Em Lisboa,
Diviso esplêndido,
O Tejo, extenso e manso,
Parece um mar,

Espelhando o céu,
Fluindo sereno,
Rumo à foz.

Fico a vê-lo.
Sonhando.
Evocando as caravelas,
De velas ao vento,
Que por ele desceram
E se foram…
Incautas, pelo mar adentro,
Rumo ao infinito e ignoto.

Escrevendo a oiro,
as páginas
Mais gloriosas
Da nossa história.

Sinto respeito e venero,
Quase choro,
Emocionado,
Ao sentir e ver
Como os maus tempos
Tudo esfumaram
E apagaram.

Além o morro,
Onde um Cristo em pedra,
Se ergueu ao alto,
Abraçando Lisboa e Almada.

E vejo a ponte rúbia,
A enlaçar o sul e o norte.
Afinal, irmãos.

E aquela outra,
Parece perdida,
Chega cansada,
Dum lado ao outro,
Quase esquecida
Donde partiu.

E o casario ao longe,
Olhando para mim,
Mandando beijos,
De quem, frente a Lisboa,
Se sente feliz…

Ouvindo concerto nº 2 de Chopin, ao piano, por Rubinstein

Berlim, 23 de Novembro de 2014
Oh46m

Joaquim Luís Mendes Gomes



quase divinal...

Quase divinal…
Caminhar na areia molhada,
À beirinha do mar,
Ao cair da tarde,
Na hora de o sol, cansado,
Se ir deitar,
Lá ao fundo,
Junto à linha,
Onde o céu se junta à terra,
E a lua dorme
Em noite de amor.
Sentir a doçura ténue
Da brisa fresca
Que ali baila,
Em ondas brandas,
E ver voar,
Graciosas, lentas,
Asas largas,
De bandos de gaivotas.
Ver emergir de longe,
Num cortejo de paz,
Rasgando as ondas,
As quilhas fecundas
Dos barcos de pesca,
Depois da faina incessante,
Dum dia inteiro,
Fora de casa.
Assistir à descarga,
Ali mesmo,
No meio duma alegre assembleia,
Expectante,
Caixas de pinho,
A abarrotar de peixe fresco,
Ainda saltante,
E as varinas descalças,
Exibindo descontraídas,
Suas pernas robustas,
Saírem carregadas,
Praia acima,
Com açafates recheados
De peixe e água escorrente.
Ouvindo os “ Il Divo” e Bárbara Streisand
Berlin, 22 de Novembro de 2014
22h27m
Joaquim Luís Mendes Gomes

de vários dias...

    Fim da trovoada…
    Trovões medonhos de meter medo.
    Clarões e raios de Estontecer.
    Chuvadas torrenciais
    De aluvião.
    Calçadas de granito desventradas.
    Telhados desfolhados ao vento
    Em desvario.
    Árvores de grande porte,
    Despedaçadas.
    Rios a correrem loucos
    Pelas margens fora.
    Nem santa bárbara.
    Nem são jerónimo
    Me valia.
    Só uma terna ave-maria
    Rezada
    À Senhora da Esperança.
    Me trouxe de novo
    A paz e a esperança
    Na manhã de cada dia.
    De novo um céu azul.
    Umas pequenas nuvens
    Esbeltas quais bailarinas.
    E uma doce neblina
    Cobrindo a montanha.
    É o que resta
    Daquela ingente
    E estranha trovoada…
    Berlin, 18 de Novembro de 2014
    9h53m
    Joaquim Luís Mendes Gomes
    GostoGosto ·  · 
    O rio da história…
    A história é um rio.
    Longo.
    Ninguém conhece onde ela nasce,
    Muito menos onde é a foz.
    Tem cascatas. Cachoeiras.
    Afluentes e confluentes.
    Muitos meandros.
    Ora largos.
    Quase mares.
    Ora estreitos.
    Quase laços.
    Não tem margens.
    Nem tem leito.
    Ela banha todo o mundo.
    Povoados.
    Espaços ermos.
    Florestas.
    Por desertos.
    Sempre a descer.
    Não volta atrás.
    Inundações.
    Convulsões.
    Muitas vagas.
    Muita tormenta.
    Tem lezírias.
    Planuras.
    A perder de vista.
    Muitas barragens.
    Dinastias.
    Histórias de sangue.
    Muitas guerras.
    Muitas derrotas.
    Muita luz.
    Muitas vitórias.
    E qual o fim?
    Só no fim,
    Se irá saber…
    O termómetro continua a descer…
    Berlim, 18 de Novembro de 2014
    7h49m
    Joaquim Luís Mendes Gomes

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    Tranquilidade das águas…
    Gosto de sair à rua
    E sentir minha alma calma.
    Sem uma névoa ou sombra negra.
    Tudo certinho.
    De nada dever.
    Nem pró corpo,
    Nem para o ser.
    Sentir a paz
    De quem não fez mal.
    A ninguém ou a mim.
    E o conforto
    De quem ajudou.
    Naquela hora exacta
    Em que foi preciso.
    Sei que não sou anjo.
    E sou de barro.
    Mas se sanar meus erros,
    Reparando a dor,
    E pedir desculpa,
    Posso caminhar de pé
    E cabeça erguida.
    Viver tranquilo
    Amando a vida.
    Berlin, 17 de Novembro de 2014
    22h30m
    Joaquim Luís Mendes Gomes
    GostoGosto ·  · 
    A derrocada…
    Era uma parede grossa,
    Toda em pedra.
    Secular...
    Que nasceu torta.
    Inclinada.

    Que o computador engoliu.
    Reluzem as cores
    Das últimas folhas,
    De tons amarelos
    Que teimam em ficar.
    Resistindo à morte.
    Pelo chão, regeladas,
    Dormem as outras
    Que não conseguiram.
    Há corvos cinzentos,
    De bico comprido,
    Picando os vermes.
    Pelos passeios,
    Fumegam narinas,
    De corpos opacos.
    Reluzem-lhes os olhos,
    Nas covas do rosto.
    Só os narizes,
    Sem vestes,
    Arrostam vermelhos,
    O frio gelado.
    Bicicletas a pedal,
    Traçam caminho,
    Pelo meio das folhas.
    E as mãos enluvadas,
    Agarram os braços
    Fazendo força aos pedais.
    Cá dentro, no bar,
    Sentados à mesa,
    Há gente madura
    Que queima seu ócio
    E toma café.
    Enquanto eu repito
    A terceira versão
    Deste amanhecer luminoso.
    Oxalá seja, de vez…
    Berlin, 17 de Novembro de 2014
    17h5m
    ( já no quentinho de casa…)
    Joaquim Luís Mendes Gomes
    GostoGosto ·  · 
    Amanheceu luminoso…
    Pela terceira vez eu escrevo
    Que amanheceu luminoso.
    E fiz duas versões,...
    Ver mais
    GostoGosto ·  · 
    Já não posso mais…
    Há um momento em que tudo rebenta.
    Nossa força finita
    Se acaba.
    Se ninguém a alimenta.
    Abandona o corpo e a alma
    E tudo se estatela no chão.
    Que adianta a avareza
    De ter ou ganhar
    Este mundo e o outro.
    Se na hora do fim
    Tudo cá fica…
    Sossega teu corpo.
    Trata-o bem.
    Não esqueças que o alimento da alma
    Está no bem que tu fazes.
    E se ela está bem,
    Tudo sorri.
    À volta de ti.
    Enche teu peito...
    Sorri.
    Beija e abraça quem passa.
    Quem vai ou quem vem.
    E te estende a mão de irmão.
    Ninguém é tão forte
    Ou tão rico
    Que nunca precise de ajuda.
    Mesmo dum pobre
    Ou dum fraco.
    Quando menos se espera…
    Berlim, 17 de Novembro de 2014,
    1h13m
    Joaquim Luís Mendes Gomes
    GostoGosto ·  ·