sábado, 1 de novembro de 2014

minh'alma ingrata...

Minh’alma ingrata
Se evadiu de noite.
Fugiu no vento.
Deixou meu corpo.
Estendido morto.
Sem dó nem piedade.
Serviu-se dele.
Enquanto serviu.
Fê-lo sofrer em chama,
Para ela viver.
Fez dele um barco,
À força,
No mar da vida.
Queimou-lhe as forças todas,
Até à exaustão.
Para flutuar vogando.
Bebeu-lhe do sangue,
Até à última gota
Para se matar da sede.
Inclemente,
Abrigou-se nele.
Fê-lo marchar,
Ao sol e à chuva.
Para se manter enxuta.
Indiferente,
Para seu bem,
Fê-lo sofrer,
Horas sem fim,
Sem curar saber
Se era seu bem.
Impávida,
Se serviu,
Como se fosse máquina.
E tanto exigiu…
Que ele morreu.
Nem na hora da morte,
Lhe estendeu a mão…
Ouvindo Hélène Grimaud, ao piano, concerto nº 2 de Rachmaninov
Mafra, 1 de Novembro de 2014
21h57m
Joaquim Luís Mendes Gomes

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