Minh’alma ingrata
Se evadiu de noite.
Se evadiu de noite.
Fugiu no vento.
Deixou meu corpo.
Estendido morto.
Sem dó nem piedade.
Deixou meu corpo.
Estendido morto.
Sem dó nem piedade.
Serviu-se dele.
Enquanto serviu.
Enquanto serviu.
Fê-lo sofrer em chama,
Para ela viver.
Para ela viver.
Fez dele um barco,
À força,
No mar da vida.
À força,
No mar da vida.
Queimou-lhe as forças todas,
Até à exaustão.
Para flutuar vogando.
Até à exaustão.
Para flutuar vogando.
Bebeu-lhe do sangue,
Até à última gota
Para se matar da sede.
Até à última gota
Para se matar da sede.
Inclemente,
Abrigou-se nele.
Abrigou-se nele.
Fê-lo marchar,
Ao sol e à chuva.
Para se manter enxuta.
Ao sol e à chuva.
Para se manter enxuta.
Indiferente,
Para seu bem,
Para seu bem,
Fê-lo sofrer,
Horas sem fim,
Horas sem fim,
Sem curar saber
Se era seu bem.
Se era seu bem.
Impávida,
Se serviu,
Como se fosse máquina.
Se serviu,
Como se fosse máquina.
E tanto exigiu…
Que ele morreu.
Que ele morreu.
Nem na hora da morte,
Lhe estendeu a mão…
Lhe estendeu a mão…
Ouvindo Hélène Grimaud, ao piano, concerto nº 2 de Rachmaninov
Mafra, 1 de Novembro de 2014
21h57m
Joaquim Luís Mendes Gomes
21h57m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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