quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Ano e meio depois...

Ano e meio depois...

É forte e intenso
O reencontro dum filho, ano e meio depois.
Mas mais, é o fim e partida.
A dor em vez da alegria.
A vida é assim...

Berlim, 30 de Novembro de 2016
10h19m

JLMG

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Cumeadas da serra...

Cumeadas da serra...

Trepei às cumeadas da serra,
perto das nuvens
e fiquei a bradar
como ave canora que voa
e sabe cantar.

Senti os perfumes das urzes e mato,
seu colorido brilhando,
borboletas dançando,
chascos cantando
em bicos de pé.

Sentei-me nas pedras vestidas de musgo.
Despi a camisa.
Sequei o suor.
Sorvi a aragem fresquinha que subia do mar.
Sonhei com as fadas
me contando as lendas.

Esperei que o sol,
brilhando sem fim,
caminhando sózinho,
se deitasse no mar,
cansado e feliz.

Berlim, 29 de Novembro de 2016
8h47m

ouvindo Chico Buarque e Caetano Veloso

JLMG




domingo, 27 de novembro de 2016

Madeira eterna...

Esboroar da madeira eterna...
Com pedações de troncos secos
se ajusta o esqueleto possante dum grande barco.
Com barrotes nus se aguça a quilha
e se adoçam as bordas.
Com tábuas arcadas se tapa o bojo,
da proa à popa.
A seguir os mastros, de baixo ao alto.
Se recheia o ventre e se lança ao largo.
Com o tempo, num vai e vem constante,
Tudo envelhece. A água vence.
E o barco, para sempre, pára...
Depois o vento e a chuva, o sol e o tempo.
Tudo escaqueira. A chuva leva.
E no seu fim só a fogueira...
Berlim, 27 de Novembro de 2016
15h28m
JLMG

Aurora verde...

Não é boreal esta aurora verde...

Tem laivos de seara verde esta aurora de Berlim.
Não é boreal.

Uma mancha larga e escura se oferta ao céu a despertar de luz.

Suavemente, o dia desponta com o nascer do sol.

Uma jornada mais, de labor e vida,
nesta urbe imensa, se põe em marcha.

Tomo meu barco de sonho e me abalanço ao mar...

Berlim, 28 de Novembro de 2016
7h27m

JLMG


Cargueiro gigante...

O cargueiro gigante

Ferrou-se em ferro à doca,
com unhas e dentes,
tentando levá-la.

Insano! Em vão.

Por que ele puxe,
se afunda no rio
que manda na doca.

Ali jaz dromedário.
Alapado.
Lhe enchem o bojo.
Atestam.
Sem um simples gemido.

Na hora exacta,
Desprendem-lhe as cordas.
Aceleram-lhe as máquinas.
Ateiam-lhe a hélice
E ele range e rumina com raiva
Na profundeza das águas.

Lento e pesado se desliga da doca.
Faz-se ao rio
E, navio sem velas,
Segue para o mar,
Cumprindo a rota...

Berlim, 27 de Novembro de 2016
9h18m

JLMG











sábado, 26 de novembro de 2016

Ouvir tudo...

Ouvir tudo...

Ouvir tudo, do princípio ao fim
e fingir que não.
Uma habilidade.
Quem a não tem?...

Um rosto sério,
Por dentro a rir.
Um amigo em dor,
um sorriso de irmão,
por dentro a chorar.

Sofrer sózinho,
parecendo esquecer,
se nos fazem mal,
é só para os fortes,
almas gigantes,
é marcial.

Intensamente,
viver cada dia,
como se fora o último,
um milagre real,
ao alcance de todos.
Modificaria o mundo,

Basta querer...

ouvindo Chopin

Berlim, 26 de Novembro de 2016
9h41m

JLMG

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Nevoeiro...

Nevoeiro...

Uma manta espessa de nevoeiro
esconde o céu à terra.

Fez-se o silêncio.
Se calaram todos os sonhos.

Pelas ruas desatinadas apenas as rotinas seguem cegas suas rotinas.

Já não há escaparates de oferendas,
frente aos passeios,
porque se toldaram negros todos os horizontes.

A esperança foi escorraçada a pontapé pelos temores.

Só o sol da fé ainda brilha por dentro dos olhos amordaçados.

Há-de chegar o dia em que seus raios
rasgarão esta cortina pesada e negra
e, de novo, se verá o azul do céu...

ouvindo 2º concerto de Rachmaninov por Hélène Grimaud

Berlim, 25 de Novembro de 2016
8h39m

JLMG

Ferramentas...

Ferramentas...
Só com boas ferramentas
se constroem pontes e erguem arranha-céus.
Com as mãos se modela o barro
e se amassa o pão.
Brota dos dedos
a beleza dos poemas
e o encanto das sinfonias.
Sem remos o barco não avança.
Com a força da vontade
e a luz da inteligência
se desvendam os mistérios
e se vencem as distâncias.
Só a alavanca da justiça
e a força do amor
reinará a paz no mundo!...
Berlim, 24 de Novembro de 2016
11h7m
JLMG

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Horas do vento...

Horas do vento...

É constante e lento
o rodopiar das horas
e o fluir do tempo.

O mesmo ritmo.
Sem intervalos nem compassos.
Nunca cansa.
Nunca atrasa.
Tudo arrasta,
Nunca espera.
Tudo leva à sua frente.

Todo o longe,
De repente, se faz perto.

Inesgotável a sua fonte.

Tudo cala e tudo apaga.

Não se engana.
Sempre em frente
E não repete.
É recto o seu caminho.

Não se importa que o conte.
São exactas suas contas.
Bom vizinho.
Nunca se zanga.
Faz feliz quem o sabe aproveitar...

Berlim, 22 de Novembro de 2016
20h16m

JLMG






segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Clarão no céu...

Fulgurante clarão cobre o céu...

Fulgurante clarão que cobre o céu!
Tem a cor do sol em bola
que vai nascer,
O real diadema a faiscar,
de mais um dia em Berlim.
Nem de propósito.
Depois de tanto negrume
que nos envolvia.
Como é bom...
Pelo nosso filho que vai chegar.
Incandescente claridade
ilumina a terra
e a cobre de oiro
num abraço em fogo
que nos aquece.
Se entoem hinos de louvor à majestade que tudo rege.
Seja alegre e bem fecundo
este dia!...
Berlim, 22 de Novembro de 2016
8h00m
JLMG

domingo, 20 de novembro de 2016

Tudo começa igual...

Tudo começa igual...
Tudo começa igual ao nascer do dia,
só varia a cor e os tons.
A esperança é verde
e firme a fé.

Minha alma acorda e arde.
Sua luz é suave e colorida
apesar das tempestades.
Abro de par em par as janelas dos meus braços.
Raia forte o sol no horizonte.
São nítidas no chão as suas sombras.
Meus olhos alcançam nítido
o recorte certo do infinito.
Passo a passo, vou tecendo meus poemas,
para bem do mundo...
Berlim, 21 de Novembro de 2016
8h39m
JLMG

sábado, 19 de novembro de 2016

Simplicidade e elegância...

Simplicidade e elegância...
O porte esbelto de girafa,
se projecta ao alto,
entre a terra e o céu.
Dromedário everest carrega cargas,
a toda a hora,
desde o chão até às alturas,
como os canecos duma nora.
Elegante bailarino roda e baila,
se entrega à sua arte,
como se fosse a sua dama.
Sempre pronto e não se cansa.
Tem a força ingente dum gigante,
a graça imensa duma garça.
Nada cobra.
É humilde e não se ufana.
É o guindaste.
ouvindo Adagieto de Mahler
Berlim, 19 de Novembro de 2016
9h32m
JLMG

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Apagou-se a noite...

Apagou-se a noite...

A noite apagou-se,
mas o dia nascente
é tão cinzento e pálido.
Mais valia não despertar.

Esperar que o sol,
como um avião que sobe,
emerja e rasgue
esta cortina de nuvens espessas.

De novo brilhem as cores da terra
como as pintou a Natureza.
Seja azul o mar e o céu.
Reluzam ao sol todos os tons de cor
das vestes
desde os vales até aos altos cumes.

Se cubram de algas verdes
todas as praias.

Surjam golfinhos a bailar nos rios.
Gravitem nos ares em bandos livres
todas as aves vindas de além fronteiras.

Surjam sorrisos dos rostos tristes
por mais um Inverno que nunca mais passa.

Berlim, 18 de Novembro de 2016
7h39m

JLMG


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Tudo molhado...

Tudo molhado...

Quis sentar-me a meio da caminhada.
Estava deserto o parque de brinquedos.
Só os dois pares de melros debicavam alheios ao chão molhado.

Não parei.
Foi mais curto o meu passeio.

Não chapinhei nas folhas secas.
Corria água pelos sulcos do caminho.

Estavam negros os troncos e ramos nus.

Pelos passeios largos,
de sacola às costas,
mastigando pão,
seguiam lestos,
tantos alunos.

E, às golfadas,
os autocarros vomitavam gente
que, de amarelo, iam e vinham.

Enquanto, impávidos, os corvos negros debicavam no chão,
sem saber do mundo...

Berlim, 17 de Novembro de 2016
8h41m
JLMG

Num cruzamento oculto da cidade...

Num cruzamento oculto da cidade...
Num cruzamento oculto da cidade,
onde só passam transeuntes,
há uma voz barítona que se eleva,
entoando a Ave Maria.

Um a um se vão parando a ouvir.
O chapéu no chão
recebe as ofertas
que lhe dão.
É da voz que ele vive.
Quem lha deu foi a Natureza
Como a flor de um jardim.
Também assim
o saber ver e querer ouvir...
ouvindo "Ave Maria" de Schubert
Berlim, 16 de Novembro de 2016
9h24m
JLMG

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Chapinhar nas folhas secas...

Chapinar nas folhas secas...
Me sinto outra vez miúdo.
Pela manhã me abalanço a uma caminhada.
Aqui, há bosques frondosos,
entre os prédios dos residentes.
Se acabou o reinado das folhas verdes.
Veio o Outono e os seus mistérios fulgurosos.
Cada árvore era uma floreira.
De pouca dura.
Em pouco tempo, uma a uma,
foram caindo ao chão.
Agora é um mar de folhedo seco.
O calcorreio com passadas breves,
espalhando-as esbaforidas.
Caíu-lhes a geada fria
e elas gemem.
Dá-lhes brando o sol
e faíscam em fogo fátuo...
Berlim, 14 de Novembro de 2016
10h53m
JLMG

Olho este amanhecer..

Olho este amanhecer...

Mais um amanhecer gelado e luminoso neste dia de Novembro em Berlim.
Está azul o céu, alto e imenso.
Nimbado por um véu de luz.

A cidade acorda do sono recolhida.
As janelas negras, uma a uma,
se iluminam.
Por dentro, eu vejo vultos lentos
que caminham e se aprestam.

É a hora do trabalho imperdoável que os espera.

A pouco e pouco, as ruas se vão enchendo de transeuntes.
Carros, vultos, ainda dormentes.
Seus escapes são narinas fumegantes.
É o choque insofismável,
entre o gelo e o calor.

E, eu, recolhido neste aconchego,
me acantono à mesa
E me vou brindando
com milagrosos travos negros de café,
enquanto escrevo...

Berlim, 14 de Novembro de 2016
8h53m

JLMG



sábado, 12 de novembro de 2016

Espanejo as minhas asas...

Espanejo as minhas asas...

Na candura deste sol nascente,
espanejo minhas asas
e revejo ao fundo as fragas e as campinas verdes
onde corre um rio.

Banho minha alma em chama
na imensidão deste mar azul.

Saboreio as ondas que meu corpo banham
E entoo loas ao meu Criador.

Como é suave a vida sem as tempestades.
Como seria bela a terra
se nela houvesse paz...

Berlim, 13 de Novembro de 2016
8h8m

JLMG

Meu veleiro imaginário...

Meu veleiro...

Tomei o meu veleiro imaginário
e me abalancei ao mar da poesia.

Fiz-me ao largo,
até ver de longe a terra.

Uma orla verde e negra a borda,
sinuosa e branda.

Daqui de longe, ninguém adivinha o que vai nela.

O desassossego de tanta gente
em buliçosas correrias,
de manhã à noite.
Buscando o dinheiro e o poder
a qualquer preço,
é o seu lema,
como se a vida ali fosse eterna.

Prefiro a paz deste mar de calma
onde posso admirar o céu com suas estrelas,
a partir do convés deste meu veleiro imaginário...

Berlim, 12 de Novembro de 2016
16h9m

JLMG

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Uma estrada longa...

Estrada longa atravessa África...
Uma estrada longa atravessa África,
Vai do norte ao sul.
Talhada a faca.
Corta a direito,
Deserto fora.
Desce a savana.
Sobe a serra.

Agora, um vale.
Depois um rio.
Tem a cor da terra.
Umas vezes, negra
Outras, é barro.
Ora sózinha.
Ora é aldeia.
Com tanta cubata.
Entre florestas,
Salta o equador.
Passa a planície.
Divisando a praia.
O Klimmanjaro ao alto,
A tremer de neve.
Tão serenamente,
Como um rio longo,
Vai desaguar no mar...
Berlim, 11 de Novembro de 2016
11h16m
JLMG

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Cada dia...

Cada dia tem sua farda...

Cada dia a sua farda.
Umas vezes negra,
Outras fulgurante.

Varia o fardo.
Umas leve outras pesado.

É do sol a culpa
Que os fabrica.
Segundo um critério
Que não tem regra.
Parece ao calhas.

Que importa à gente
Fazer as contas,
Se quem as soma,
Tudo baralha
E não dá conta.

Foi sempre assim.
Ele não engana.
Tantas vezes, triste,
As mais, contente.
É o que vale...

Berlim, 11 de Novembro de 2016
8h34m

JLMG




quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Paralizado...

Sinto-me paralizado...

O inesperado e indesejável aconteceu.
Não é o "palhaço" igual ao nome,
que me amedronta.

É aquela força cega e medonha que o catapultou.

Uma hecatombe em marcha. Irreversível.
Vai arrasar o mundo.

Sinto-me uma folha de Outono
Que vai cair no chão.


Berlim, 9 de Novembro de 2016
9h30m

JLMG

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Na praça fria...

Sacode as cordas da sua viola...

Como um gamo endiabrado
sacode as cordas da sua viola
e se desfaz em diabruras.

Esparzem os seus estilhaços
pelas vidraças embaciadas da multidão.

O sol lhes bate e inunda de alegria
as nossas horas de calmaria.

Bastam centelhas dos seus acordes
e a fogueira acende.

Tudo refulge e baila
nesta praça fria.

ouvindo a viola  de Joaquim Rodrigo

Berlim, 8 de Novembro de 2016
10h14m

JLMG

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

As cegonhas

Gosto das cegonhas...
Quem não gosta delas?
Como são belas, graciosas,
de asas largas,
a navegar no ar como se fossem caravelas.

Na hora certa, se vão e voltam
das suas paragens.
Como são valentes, corajosas,
estas obreiras.
Independentes.
Não sobranceiras.
Juntam-se à gente,
pelas estradas,
sem estorvar.
Sorriem dos postes.
Com suas crias.
São bem pacíficas.
Ganham a vida
pelas lezírias.
Não se guerreiam,
Vivem em paz.
Berlim, 7 de Novembro de 2016
8h49m
JLMG

O exaustor do fumo...

O exaustor do fumo...

O progresso inventou o exaustor do fumo.
Antes, era só o sibilar do vento e as chaminés.

De atmosfera pura ficavam as cozinhas.
Só as traves negras se não corria o vento.
Era o nevoeiro denso.
Inundava a casa.
Fazia chorar os olhos.

Só de porta aberta se alcançava ver.

Ó suavidade doce, meu amanhecer...

Berlim, 7 de Novembro de 2016
10h59m

JLMG

domingo, 6 de novembro de 2016

Laivos de sol

Laivos de sol...

Com laivos de sol
E uma floresta,
numa tarde de Outono,
se pinta uma paisagem de sonho.

Sinfonia de tons,
Do amarelo ao grenã.
Chuva de sombras.
Uma brisa suave.
Cascatas de folhas,
em constante borbulhar.

Um regalo para os olhos.
Um repasto para a alma.
Nesta tarde de Novembro,
com a neve a anunciar...

depois dos "motocas"

Berlim, 6 de Novembro de 2016
14h36m

JLMG

JLMG

sábado, 5 de novembro de 2016

Melodia dum piano e duma orquestra...

Melodia dum piano e duma orquestra...

Deixo-me embalar pela doce melodia do concerto.
Oiço um piano que me encanta.
Abstraio das agruras deste mundo.

Chego aos cumes da divindade.
Minha alma plana leve
Sobre a brisa verde da primavera.

Escorrem as vertentes em torrentes Abundantes.
Me inundam de alegria.

É a hora exacta em que me oiço e alcanço,
Aqui na terra,
A paz suave da eternidade...

ouvindo Beethoven com Hélène Grimaud e uma orquestra, concerto nº 4

Berlim, 5 de Novembro de 2016
9h38m

JLMG

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Minhas trouxas...

Minhas trouxas…
Empilhei as minhas trouxas e parti ao mundo.
Não quero ficar no mesmo sítio onde nasci.
Quero abrangê-lo.
Outras gentes. Outras culturas.
Além das serras, além dos mares.

O espaço donde vem o sol.
E aquele onde se põe.
Ver as cores da Natureza,
Conforme as terras
E os seus odores.
Contemplar flores
E as cores que têm.
Os frutos e seus sabores.
O falar das gentes, na própria fonte.
Ver os rastos dos tempos passados.
Por esse mundo.
Sentir a experiência única
De me ver de longe.
Regressar cansado,
Mas enriquecido,
Ao meu tugúrio.
Só assim, eu serei feliz…
Berlim, 4 de Novembro de 2016
10h21m
JLMG

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Canalhas solitários..

Calem-se todos os canalhas solitários...

Murchem de vergonha como folhas
todos os escalafrários que abundam.

Donde emergiram, se fomos nós, seus pais e avós,
que os parimos?

Onde buscaram eles a genealogia da ignomínia com que vivem,
se nós cumprimos sempre nosso dever?

Deitaram abaixo todos os robles do nosso império de honra,
com a maior desfaçatez.

Se alimentam de sangue e de suor dos outros, incapazes de qualquer acção.

Desçam depressa aos calabouços negros
e lá permaneçam até ao fim.

Fiquemos sós e os nossos mais lídimos valores reais.

Retomemos a nossa senda donde fomos escorraçados.

Se vire de vez esta página suja da nossa história!...

Berlim, 2 de Novembro de 2016
14h39m

JLMG

Quero lá saber...

Quero lá saber…

Se chove ou neva, quero lá saber.
O que importa é viver.
Ser-se feliz…o mais que se puder.
Uma hora triste
É nuvem que passa.
Depois virá a alegria
Ao nascer do sol.
Vejam as flores
Como são alegres.
Vivem do perfume
Que nos inebria
E lhes aviva as cores.
Ouve o passarinho
Como canta belo,
Mesmo na gaiola.
Como é bom viver.
Como é linda e fresca
Aquela cascata de água
A jorrar da serra.
E a seara verde a bailar ao vento
A crescer ao sol.
Esperando o oiro loiro
Que a há-de adornar….
Quero lá saber se lá fora chove.

Ouvindo Susan Boyle
Berlim, 2 de Novembro de 2016
JLMG

Palácio real...

Sou arquitecto…

Concebi um palácio
No seio dum bosque,
Junto de um lago.
Desenhei o projecto.
Comprei um penedo.
Chamei os pedreiros.
O desfizeram em pedaços.
Cavaram os caboucos.
Na geometria exacta.
Cascalho no fundo.
E duma hora para a outra,
Começou a crescer.
Um escadório à frente.
Chega-lhe às portas.
Rasguei-lhe as janelas.
Ovais.
Abertas ao sol.
Uma refulgente rosácea
Adorna-lhe a fronte.
Suspendi-lhe o telhado
Com um lindo jardim.
Depois do final,
Convidei os amigos,
Chamei uma orquestra.
Ofereci um banquete
Regado de vinho.
Senti-me um rei.
Arquitecto real…

Berlim, 2 de Novembro de 2016
11h38m
Ouvindo Ave Maria de Schubert
JLMG