domingo, 31 de março de 2019

O esplendor das artes

O esplendor das artes

Esta faculdade que se manifesta no homem proclamando o belo nas diversas manifestações.
Onde impera a beleza e a harmonia das formas e dos tons.
É presença do divino na humanidade, obra bela do Criador.

As telas majestosas de Miguel Ângelo, Da Vinci e Rafael.
Os mármores da Pietá, do David e Vénus de Milo.
As magnas composições de Beethoven, Wagner e de Tchaikovsky.
E tantas mais.
As expressões supremas do génio humano que mais o aproximam do divino.

Berlim, 1 de Abril de 2019
8h8m

Está de sol...não é mentira...

Jlmg

A poesia

A poesia

Sopra suave, leve e serena.
Brisa da tarde.
Toalha de linho, corada ao sol.
Perfumada de vento.
Veste palavras sem rima.
Tecida de penas.
Ilumina as sombras.
Pinta quadros com sons e tons,
Raiados de cores.

Revela segredos ocultos que ficariam para sempre perdidos.
Encanto de poetas, músicos e artistas.
Alfobre na cave, de sementes com vida,
que germinam ao sol.

Linguagem de deuses que dizem e oram, sem rezas, poemas como se fossem poetas...

Ouvindo Lang Lang - concerto nº 1 de Chopin

Berlim, 31 de Março de 2019
13h15m
Jlmg

sábado, 30 de março de 2019

A vida a brincar...

A vida a brincar...

Há tempo para tudo.
É preciso dosear e alternar.
Nem sempre a vida é leve.
Varia de cor conforme os tempos.
É incerta a direcção dos ventos.
Há que manobrar bem as velas para que prossiga o barco.
Enfrentar a traição das ondas exige mestria e atenção.
Em serviço sério não se pode brincar.
Só se alcança a alegria e a felicidade com a consciência limpa e ordenada.
Corre sério riscos quem, em serviço, troca as mãos...

Berlim, 31 de Março de 2019
8h5m
( acabam de me usurpar uma hora à cama...)
Jlmg

Telhados e janelas

Telhados e janelas

Quando o sol, pálido que seja, beija os telhados e janelas,
As casas sorriem de contentes, brancas, rubras e amarelas.
Espalham alegria, como noivas, radiosas de felizes.

E, as heras preguiçosas, agarradas às paredes, estremecem de pudor, devassadas pelo sol.
Tímidas, brotam bem verdinhas, as folhitas que morriam por nascer.
E, a natureza, como noiva, cansada de esperar, refulge encantada, pensando, chegou a hora de amar.

Fechado, sózinho, no meu quarto, contemplo o despertar de mais um dia, como um preso que anseia a liberdade...

Berlim, 30 de Março de 2019
18h4m
Jlmg

sexta-feira, 29 de março de 2019

Desaires

Desaires
Passadas em falso. 
Quem as não deu.
Pareceram em vão. 
Se aprende errando 
E se erra aprendendo.
O progresso faz-se perdendo e ganhando.
Com humildade.
Quem tudo quer, num repente,
Se arrisca a tudo perder.
Quem caíu e voltou a levantar-se,
Mais perto ficou de chegar e vencer.
Desistir é próprio dos fracos.
Destes a história se cala ou lamenta.
Quem não arrosta a bravura do mar, só lavrador.
Marinheiro é que não...
Berlim, 30 de Março de 2019
6h26m
Dia nasceu com sol
Jlmg

Abraços e beijos

Abraços e beijos...

Com abraços e beijos se unem os corpos e as almas.
Desejo de paz e felicidade na vida breve e fugidia.
Espaços alucinados onde impera o irrecusável desejo de possuir para ser maior.
Impulsos veementes que descobrem nossos desejos.
Laços e enlaces que aprisionam sem prender.
As palavras mais expressivas na linguagem da amizade e do amor.
A moeda sem fronteiras com valor universal...

Berlim, 29 de Março de 2019
8h19
Dia cinzento e frio
Jlmg

quarta-feira, 27 de março de 2019

Percalços e sobressaltos

Percalços e sobressaltos

Faz parte do caminhar o tropeçar.
Coitado do pé descalço.
Volta e meia lá sangra mais uma topada.
Depois sara.
Na vida nada é como se espera.
Muito menos como se deseja.
Há sempre contratempos.
Por mais contas que se faça,
Pode não dar certo o resultado.
Bem faz quem se previne com uma segunda solução...

Berlim, 28 de Março de 2019
7h30m - dia cinzento
Jlmg


É bom sonhar...

É bom sonhar...

Acordado ou a dormir é bom sonhar.
Ter na alma o que a terra não dá.
Poder voar sem asas.
Acender fogueiras no rigor do frio.
Ter aos pés os laços que nos prendem andar.
Saber sorrir quando a tristeza ensombra.
Cantar louvores porque chegou um amigo.
Sentir os braços quentes d'alguém querido.

Ficar dormindo a sonhar com a eternidade...

Ouvindo Khátia Buniatishvili
tocando Shubert - Khatia Buniatishvili - Schubert: Impromptu No. 3 in G-Flat Major, Op. 90, D. 899
Berlim, 27 de Março de 2019
17h41m

De São Bento à Régua...

De São Bento à Régua e ao Pinhão

Anos cinquenta.
Uma constante romaria no átrio e nos cais da estação de São Bento.
A vozearia alegre daquela gente que ia e vinha de além do Douro.
Tanto açafate. Tanta cesta de vime. Tanta maleta.
Havia de tudo. Bela hortaliça.
Ridente fruta. Até galinhas.

Gente nova. Gente antiga.
Vestes largas. Saias bordadas.
Blusas com rendas.
Lenços campestres.
Rostos sadios.
Crestados de sol.

Andavam cheios todos os vagões.
Bancos de pau. Lugares à farta.
Nem se via o chão.
Coitados dos revisores.
Cada encontrão.

E a locomotiva negra, com porte altivo,
vomitando fumo e soltando gritos,
arrancava forte e se engalfinhava no túnel.
Tantas faúlhas. Lá se ia o chique.

Vinha Valongo. Gostosa regueifa.
Vinha Caíde d'El Rei. E mais um túnel negro.

Depois era o Douro. Em majestade verde.
Corria barrento.
Barcaças negras. Pejão à frente.
Que belas encostas, socalcos longos, cheias de vinho.
Casinhas perdidas. Rodeadas de hortas.
Casas fidalgas. Jardins à frente.
À custa das uvas. Vinho do Porto.

Estâncias termais. Caldas de Aregos.
Frente a Resende.
Lindas estações. Quadros campestres.
Em azulejo azul.

Por fim a Régua. Cidade ao sol.
Um céu azul.
Ó quem me dera voltar a vê-la!...

Berlim, 27 de Março de 2019
9h33m
Jlmg


Nostalgia

Nostalgia

Na senda da vida, surgem factos bons e outros não.
Trava-se um combate permanente, no nosso íntimo, entre a ordem do bem e do mal, mascarado sempre do que convém.
Tanta vez é este que sai vitorioso.
Se instala como rei.

Nos desvia para bem longe.
Se protege de muralhas ilusórias.
Simula horizontes de felicidade que nos atraem.
Cada queda nos deixa mais confuso e enfraquecido.
A resistência diminui a cada instante.

Uma onda dolorosa de desespero e nostalgia nos afoga a existência.
Até que chega a hora em que só a ajuda esforçada do pai ou dum amigo é capaz de nos valer...

Berlim, 27 de Março de 2019
8h14m
Dia cinzento e frio
Jlmg



terça-feira, 26 de março de 2019

Suavidade

Suavidade

Doce suavidade das horas felizes.
Quando a paz reina omnipresente.
A alma levita de emoção.
O corpo é leve. Sem peso.

Apetece adormecer no paraíso.
A luz é chuva doce e refrescante.
Naturalmente a alma se volta para o infinito e ora.

Não há distância entre o presente e o passado.
Não há desejos que nos acicatem.
Saciados todos os sentidos.
Ficou-nos angélica a humanidade...

Bar dos Motocas, arredores de Berlim.
O cuco cantou há 20 m.
Às 15h.
Jlmg

Melancolia

Melancolia

Ó melancolia, aquele estado de alma, misto de saudade e sofrimento.
Quando o passado impera com boas lembranças e o futuro nos invade com núvens de tormentas.

Um compasso de espera que dá para imaginar.
Criar nas letras e nas artes.

Onde o nevoeiro e a claridade se revezam no nosso céu.
Quando os vales e as serras altaneiras se escondem envergonhadas.

Para quê tanta amplidão sepultada no silêncio?
Onde nem as aves laboriosas podem construir seus ninhos.
Tempo de nostalgia que nem as lágrimas conseguem consolar...

Berlim, 26 de Março de 2019
8h16m
Jlmg

domingo, 24 de março de 2019

A alegria

A alegria

Aquele clarão matinal de sol a nascer na nossa alma.
Ninguém sabe o que é.
Invade e alastra em ondas de satisfação e cor.
Nos mergulha num mar azul onde o céu se espelha.
Miríades de estrelas reluzem no nosso horizonte.
Arfa o nosso peito sedento e o coração bate mais acelerado.
Nossa face ruborece.
E os braços desejam abraçar quem vai ou passa a nosso lado.
Apetece correr pelos campos floridos como criança.
Um bocadinho do que será a glória celestial para quem tem a sorte de acreditar...

Berlim, 25 de Março de 2019
6h32m
O sol nasceu mas logo ficou oculto

Jlmg

sábado, 23 de março de 2019

Em majestade...

Em majestade...

Em majestade, Lisboa saíu à rua a saudar a Primavera.
Engalanada de flores, brilhando ao sol, agraciou os céus por mais um ano de beleza.
Seu perfume inebriante se espalhava abundante pelas ruas e pelas casas.

Os miúdos de calções e tranças negras fazem colares, como príncipes e princesas.

Pelos bosques e jardins, esvoaça lesto o passaredo, cantando seus cantares.
E os cisnes brancos, adejando fortes suas asas, fazem corridas, de lés-a-lés, no lago.
É o raiar da Primavera com todo o encanto que saúda nossa Lisboa...

Berlim, 24 de Março de 2019
7h40m
Jlmg

sexta-feira, 22 de março de 2019

Pequenos milagres

Pequenos milagres

É feita de pequenos nadas.
Momentos precisos.
Quando se toma um caminho e não outro,
naquela hora exacta.
Sem se saber porquê.

O futuro veio a revelar o que se passou por onde não fui.

O acaso não existe. A soberba é quem o inventa.

Tem a perfeição dum relógio este universo imenso.
Não é o acaso que o comanda.
Se move na exactidão da lei.
Não foi por acaso que eu vim ao mundo.
Me respeita um princípio e um fim.
Alguém o sabe e eu não...

Berlim, 23 de Março de 2019
7h41m
Dia luminoso de sol a abrir
Jlmg


Nem uma arca de noé...


Pequenos milagres

É feita de pequenos nadas.
Momentos precisos.
Quando se toma um caminho e não outro,
naquela hora exacta.
Sem se saber porquê.

O futuro veio a revelar o que se passou por onde não fui.

O acaso não existe. A soberba é quem o inventa.

Tem a perfeição dum relógio este universo imenso.
Não é o acaso que o comanda.
Se move na exactidão da lei.
Não foi por acaso que eu vim ao mundo.
Me respeita um princípio e um fim.
Alguém o sabe e eu não...

Berlim, 23 de Março de 2019
7h41m
Dia luminoso de sol a abrir
Jlmg






Abrir alas...

Abrir alas...

Chegou a hora de abrir alas.
Fazer frente a esta avalanche de imundície.
Campeia na comunicação e nas redes sociais.
Por todo o mundo.
Destruição de bons costumes.
Da ética humana e consistente.
Do homem digno e vertical.

Quanta subversão de valores.
A eleição do avesso. Em vez do recto.
Se escolhe o efémero. O ilusório.
O estéril.
Criou-se o paradigma da palhaçada.
Só interessa o que não vale.
Invertem-se o género e as posições.
Admite-se o inadmissível como caminho exemplar.

Se atribui ao terreno e efémero o carácter absoluto.
E, o resultado é um descomunal desatino da humanidade. 
Não sabe o que anda cá a fazer...

Berlim, 22 de Março de 2019
8h10m
Dia cinzento
Jlmg

quinta-feira, 21 de março de 2019

Rútilas violetas...

Rútilas violetas...

Banhadas de tristeza, entre rosas e jasmim,
se cobriram de azul.
Se tornaram feiticeiras à luz do sol.
Quem passava à beira do jardim, ficava fascinado.
Pareciam estrelas, de tão luzentes,
tão seráficas.
De bem longe, vinham vê-las.
Quadro belo. Tantas cores.
Que magia. Em combustão.

Não houvesse flores, de tristeza,
a breve trecho, pereceria o mundo e de dia, não haveria céu...

Bar "Os motocas" arredores de Berlim, 21 de Março de 2019
14h53m

Jmg

quarta-feira, 20 de março de 2019

Sacrifício dos inocentes...

Sacrifício dos inocentes

Macabra solução para expiação dos males que se fazem por esse mundo.
Reina o descontrole e a selvajaria.
Perdeu-se o rumo e o sentido da existência.
Se contentou com o que a existência breve e caduca lhes pode dar.
Ergueu palácios e cultivou a exploração a qualquer custo dos recursos da Natureza.
Implantou sistemas macabros de opressão dos fracos pela meia dúzia de poderosos.

A humanidade ficou cega e insensível.
E, afinal, cada vez são mais frequentes e aterradoras as catástrofes que vão surgindo por toda a parte.
E, irónicamente, parece que só os fracos e indefesos são os sacrificados!

Tem de haver algum sentido.
Mo assegura a mais simples racionalidade...

Berlim, 21 de Março de 2019
7h49m
dia molhado
Jlmg


Perceber o mar...

Perceber o mar...

É preciso perceber o mar.
É incerto nas suas reacções.
Ora manso ora furibundo.
Sem respeito à terra que o circunda.

E, se o vento o ira, se arremete à costa desalmadamente.
Abre brechas. Inunda as pradarias.
Alheio à dor e mal que ele espalha.
Cruel para com os indefesos, desfaz as casas.
Tudo derruba. Nada o prende.

Só o sol o acalma. Porque lhe apaga o vento.
Fica sereno. De cor azul.
Irreconhecível. Atrai as gentes, como se lhes quisesse bem.
E a gente esquece. A gente vai.
Ninguém percebe o mar...

Bar do Edcka em Berlim, 20 de Março de 2019
9h25m - De sol mas frio -
Jlmg

terça-feira, 19 de março de 2019

Sabor dos restos...

Sabor dos restos...

Com restos se fazem bons petiscos.
A carência aumenta o sabor da vida.
A abundância enfraquece o gosto que ela dá.
É bom experimentar quer ter e não poder e ter demais e saber dosear.

Quem vive na abundância corre o risco de desperdiçar a vida e sua riqueza.
Quem enriqueceu sem mérito nunca vai sentir o gosto que tem o que foi conquistado a pulso.

Tanta felicidade pode encher um casebre onde reina a harmonia.
Nos palácios apenas luzem os candelabros sem nunca o aquecerem...

Berlim, 19 de Março de 2019
18h52m
Jlmg

segunda-feira, 18 de março de 2019

Estou pobre...

Estou pobre...

Estou pobre. Sem água nem pão.
Não peço esmola.
Vivo sózinho. Especado no tempo.
Rogaram-me mal.
Sei lá!
Almas penadas.
Andam perdidas.
Sem esperança ao relento.
Gastaram a vida ao serviço do mal.

Prefiro penar, sem eira nem beira.
A consciência está limpa.
Durmo tão bem.
Vivo sonhando.
À espera do dia.
Que volte a viver.
Saboreando o momento.
Como se fosse o último.
Minha pena escrevendo sobre as penas passadas,
Meus olhos sedentos,
Com fogo e paixão...

Berlim, 18 de Março de 2019
13h32m
Jlmg


domingo, 17 de março de 2019

Os cais de Lisboa

Os cais de Lisboa

Debruçados sobre o Tejo, são portas de entrada e de saída das gentes de Lisboa.
Sorumbáticas, se entranham nos barcos que vão e vêm.
Se saciam da frescura e da brisa fresca que ondula sobre as ondas.
Belos rastos de espuma branca são os leques caprichosos onde gaivotas endiabradas se surpreendem com pescado.

Grossas amarras prendem com toda a força à terra as embarcações servas.
Sempre prontas e submissas a unirem as duas margens irmãs.

E aqueles onde possantes, altos guindastes, gesticulando força, enchem ou esvaziam porões das mercadorias da troca útil que vão e vêm de outras paragens.

E dos paquetes gigantes que atracam rentes, cheios de gente loira e amarelada, curiosos de novidades.

Belos espaços, amplos, onde fervilham a vida e os encontros em permanente ebulição...

Ouvindo Carlos Paredes

Céu cinzento e pardo
Berlim, 17 de Março de 2019
8h3m
Jlmg

sábado, 16 de março de 2019

Separações...

Separações...

Cortar laços, ligações.
Desunir o que estava preso.
Soltar maus enlaces.
Por erro ou infortúnio.

Repor no lugar o que ficou fora.
Trazer para si aquele espaço que um dia se perdeu de nós.
É um acto positivo.

Há que dá-lo. Sem ficar em dívida com ninguém.
É preciso élan.
Obtido em nós ou por ajuda.

Só assim se volta a ter a paz que, um dia, ficou perdida.

Berlim, 16 de Março de 2019
19h55m

Dia chuvoso
Jlmg

sexta-feira, 15 de março de 2019

Sinédoques e metonímias

As mesmas ondas...

Pairam no ar as mesmas sonoras deste bar de Mafra.
Lembranças esquecidas dos anos quarenta, cinquenta.

Cinzentas na sua cor. Fingidas de amor inexistente.
Quando a aparência era a rainha e a verdade jazia adormecida.
Era o cantar dolente da telefonia e da TVê incipiente.

Foi preciso a agitação das guerras para sacudir o pó das melodias.
Desventrar a realidade em toadas cruas,
Apelando às consciências.

Depois, tudo descambou em ruídos e ritmos desconexos, sobre os palcos.
Onde as multidões se laburdeiam de secura e aridês.
É o reinado da guitarra eléctrica e das baterias desordenadas.
Onde pululam cantores de vozes esganiçadas e os gestos de heróis que nunca foram à guerra.

Bar Castelão em Mafra, 15 de Março de 2019
8h22m
Dia de sol e bom tempo para voar
Jlmg

As mesmas ondas sonoras...

As mesmas ondas sonoras...

Pairam no ar as mesmas sonoras deste bar de Mafra.
Lembranças esquecidas dos anos quarenta, cincoenta.

Cinzentas na sua cor. Fingidas de amor inexistente.
Quando a aparência era a rainha e a verdade jazia adormecida.
Era o cantar dolente da telefonia e da TVê incipiente.

Foi preciso a agitação das guerras para sacudir o pó das melodias.
Desventrar a realidade em toadas cruas,
Apelando às consciências.

Depois, tudo descambou em ruídos e ritmos desconexos, sobre os palcos.
Onde as multidões se laburdeiam de secura e aridês.
É o reinado da guitarra eléctrica e das baterias desordenadas.
Onde pululam cantores de vozes esganiçadas e os gestos de heróis que nunca foram à guerra.

Bar Castelão em Mafra, 15 de Março de 2019
8h22m
Dia de sol e bom tempo para voar
Jlmg

quinta-feira, 14 de março de 2019

Incrível que pareça...

Incrível que pareça...

Bem terrena, mas tem as marcas da eternidade.
Sua alma é perene e imortal.
Sua descendência se perde nos confins dos tempos.
Semeou pelo mundo a luz da cruz e da fraternidade.
Afrontou os mares, arriscando a própria vida.
Seu falar ficou espalhado por toda a parte.
Cada sítio tem seu matiz, mas dá para entender.
Deixou pedaços de história que orgulham a nós e a eles.
De longe, nos bendizem e respeitam com toda a verdade.
Afinal, valeu a pena desafiar o desconhecido por todo o bem que por lá deixou...

Mafra, 14 de Março de 2019
10h19m - dia de sol com vento
Jlmg

quarta-feira, 13 de março de 2019

Lisboa eterna

Lisboa eterna

Com raízes milenares,
Desabrochou à beira-rio e beira-mar.
Fez-se jovem. Mulher de vida.
Atirou-se à luta com certeza de vencer.
Germinou. Deu muitos frutos.
Hoje é rica. Tem um reino.
Será rainha até morrer.

Encanta e prende quem a visita.
Como fada ou feiticeira.
Tem na alma um canto, dolente e terno.
Só a guitarra entende. 

Ai de quem nela nasce,
Longe ou perto,
Fica preso até morrer.

Bar Caracol, arredores de Mafra, 13 de Março de 2019
8h30m
Dia frio de sol
Jlmg


terça-feira, 12 de março de 2019

Rebelião da juventude

Rebelião da juventude

Quem decifra o porquê da rebelião?
A juventude hodierna veste fora da moda tradicional.
Vestes largas. Sem aprumo.
Cabeleiras fartas.
Com carrapito atrás ou no alto da cabeça.
Barbas abandonadas à sua sorte de crescer.
Martirizam a sua pele com tatuagens pardas.
Com matizes negros.

Não se misturam às mesas dos habituais.
Mas se apoiam no balcão, mastigando bolos e gulodices.

Fazem guetos. Onde só há lugar para eles.

Que quer dizer toda esta irreverência contra os pais,
Se, no real, não passam de uns dependentes?
Quem falhou? Nós ou eles?...

Bar Castelão, 12 de Março de 2019
9h41m
Jlmg

segunda-feira, 11 de março de 2019

Uma história de Lisboa

Uma história de Lisboa

Reza a lenda que Lisboa, cansada do lugar, quis conhecer o mundo.
Tomou uma caravela e fez-se ao mar.
Pediu ao vento a levasse a um sítio mais bonito que Lisboa.

Ao cabo de muitos dias e noites sempre a andar, cada vez mais longe, e nada aparecia.

Arrependida, jurou que nunca mais.
Pediu aos deuses que o vento a fizesse voltar para trás.

Felizmente, nenhuma tempestade ainda a tinha atacado.
Mas, cada vez mais frio e cinzento o mar.
Enregelada e em desespero, a caravela se viu incapaz de avançar.
Cada vez mais gelo.
Virara a norte...

De novo, suplicou aos deuses:
- A fizesse voltar ao Tejo.
Tudo fora uma ilusão.
Oxalá viesse muito sol e derretesse o gelo.

Quando tudo parecia perdido, o milagre deu-se.
O dia clareou com sol. Em pouco tempo, a caravela desncalhou e começou a flutuar.
Os ventos mudaram de rumo.
Cansada pôs-se a dormir.
Rezando e sonhando.

Quando acordou, viu que deixara o mar e subia o Tejo.

Depois soube que a sua gente, preocupada, fizera uma procissão à Senhora dos Navegantes, imprecando lhes trouxesse a sua rainha...

Mafra, 11 de Março de 2019
16h32m
Jlmg





sábado, 9 de março de 2019

Almas penadas

Almas penadas

Fazem pena aqueles bandos de almas penadas que sobrevoam Lisboa de madrugada.
Sem guarida no além, pedem asilo.
Insistentemente.
Ninguém atende.

Desapareceram os seus corpos, são só pó e terra.
Reincarnar não é mais possível.
Têm de se conformar à sua sorte.

Foram corridas das suas terras.
Onde deixaram rasto de maleficência.
Foram avaras e exploradoras de indefesos.
Deixaram palácios e muitas terras.
Metem pena pelo abandono.
Nem o Estado as quer.
Só as corujas e as bruxas...

Bar Caracol, arredores de Mafra, 9 de Março de 2019

Dia, para já, de sol

Jlmg

sexta-feira, 8 de março de 2019

Mágoas de Lisboa

Mágoas de Lisboa

Para as águas do Tejo escorrem as mágoas de Lisboa.
Foram tantas ao longo da sua história milenar.
Jazem afogadas no fundo do rio verde.

São despojos que o tempo nunca acaba.
E que as gentes de Lisboa nunca esquece.
Sua história está gravada na sua alma, profundamente.
São fonte de solidariedade fraternal.
E a corrente que prende a oiro a sucessão longa das gerações.
Impossível para os lisboetas ver o manso fluir do rio sem as evocar.

Ouvindo Carlos Paredes

Bar Castelão, 8 de Março de 2019
8h54m
está de sol mas com grandes nuvens
Jlmg

quinta-feira, 7 de março de 2019

Sereias do Tejo

Sereias do Tejo

Enamoradas da beleza, andam noctívagas, bandos de sereias,
entoando versos e loas, pelo encanto deste rio.

Enfeitiçadas, pela calma e pela paz,
nas noites albas de luar.
Dormem acantonadas, durante o dia, nas muralhas do Castelo.
Algumas se escapam, durante a noite. Não resistem ao encanto do fado e da guitarra.
Se embriagam de vinho e dizem tudo o que lhes vai na alma.
Se arrependem depois, mas sem remédio, quando acordam. Já é tarde...

Ouvindo Carlos Paredes

Bar "O Fradinho" em Mafra, 7 de Março de 2019
9h19m
Dia de sol, tímido
Jlmg

quarta-feira, 6 de março de 2019

Cadeira partida...

Uma cadeira partida

A vida é cara demais para nos sentarmos numa cadeira partida.
Quem passa a vida a correr só para ver crescer a sua conta no banco
e não a vive com equilíbrio, arrisca-se a chegar ao fim e não viver.

O valor da vida não se mede por milhões.
Ter só o necessário e disfrutar a paz e a liberdade de ir ver o mar,
ser capaz de assinalar o aniversário seu e de cada filho, com uma prenda simples mas apropriada,
poder tratar sua saúde quando preciso, recorrendo aos serviços que a sociedade deve manter,

poder fomentar o desenvolvimento total de cada filho e vê-lo crescer,
dar um passeio a qualquer hora pelo seu lugar sem o risco de ser assaltado,

Tudo isto e muito mais tem mais valor que um bom carro, uma boa casa, espampanantes
que ficam cá quando nos chegar a hora...

Mafra, 6 de Março de 2019
7h 7m
Jlmg



E, agora?...

E agora?...

E, agora? Chove lá fora e ela não vem.
Está longa a espera.
Aspiro escrever. Nada aparece.
Um bulício na mente.
Tanta procura, em vão.
Apetece parar.

Se não fosse o passado,
quando o mesmo ocorreu,
de repente, o céu se abre
e tudo volta ao que era.

O tempo não pára.
Leva e traz.
Tira e dá.

Só se sabe o que vem
Quando ele chegou.

Bar Caracol, arredores de Mafra, 6 de Março de 2019
9h7m
Jlmg

terça-feira, 5 de março de 2019

Os cantos do mundo

Os cantos do mundo

Corri os cantos do mundo em busca de poesia.
Tudo seco e arrasado.
Um deserto.

Onde os prados de boninas e as serras vestidas de urzes, em majestade?
E as planuras extensas, loiras, com o pão de oiro a fermentar?

Já não há rios. Dos mais pequenos.
Corriam alegres como gamos, pelas ladeiras.

Andam tristes as crianças. Perderam aquele viço travesso que lhes dava a natureza.
Agora, é só jogos virtuais nas tabletes. Queimam tempo e nada ensinam.
Vivem alheios à Natureza
Que tudo ensina e tudo dá.
Na ignorância.

Recebem tudo feito e embalado. No supermercado.

Como germina uma semente e nasce uma flor?

Ninguém repara no nascer do sol.
E o pôr não tem ninguém a despedir-se...

Bar Castelão, em Mafra, 5 de Março de 2019
9h50m
dia cinzento e molhado
Jlmg



segunda-feira, 4 de março de 2019

Gestos fraternais

Gestos fraternais

São fraternais os gestos de Lisboa.
Quando acolhe e abre as portas a quem vem vê-la.
Se embeleza e se prepara. Como rainha no seu palácio.
Sorridente vem à rua. Se passeia pelos seus bairros, servindo de cicerone.
Entoa fados de encantar nas noites pela madrugada.
E, ao amanhecer, é bonito ouvir espalhados pelas esquinas, os pregões sonoros dos ardinas e das floristas, vendendo flores e jornais.
Enquanto os sinos, nas torres das igrejas, soltam badaladas chamando seus fiéis à oração.

E, pelas horas do meio-dia, saem pressurosos e famintos os funcionários dos postos de trabalho, debicando um pratinho de dobrada e uma bica ao balcão.

Tudo decorre em paz e harmonia com o rei sol a reinar no céu.

Bar Caracol, arredores de Mafra, 4 de Março de 2019
8h23m
Dia cinzento, sem chuva
Jlmg

domingo, 3 de março de 2019

As maldições...

As maldições...

Benditas terras de Lisboa abençoada.
Onde o sol vem luminoso em cada dia,
Pintando de azul de mar o céu e de verde os jardins que a embelezam.

Chovem graças abundantes nos telhados de seus bairros.
Da Graça à Madragoa.

São de paz as suas ruas e miradouros.
Têm a marca da inocência os carinhos das suas gentes quando abrem suas portas.

Dizem que há hostes permanentes de anjos bons a gravitar ao seu redor, afugentando-lhe as maldições.

Bar Fradinho no centro de Mafra, 3 de Março de 2019
8h34m
Jlmg

sábado, 2 de março de 2019

Neste torrão nasci

Neste torrão eu nasci

Neste torrão eu nasci,
Aqui vim ao mundo,
Terras do Norte,
À beira do mar.

Ressumando verdura,
Colorido no Outono,
Garrido na Primavera.
Terra de arribação.
Das aves insatisfeitas
Com os contratempos
Donde vêm.

Aqui arribam milhentas vezes.
Se sentem felizes como no céu.

Me lembro bem da primeira vez
Que eu desci à capital.
Depois duma noite sempre a rolar.
Do deslumbramento ao ver o Tejo,
Rio largo e manso.
Da suavidade das colinas onde se desdobrava em bairros o vasto casario.

Como uma ave arribei.
Ali fiquei bem acolhido.
Ali edifiquei a minha vida,
No dealbar da mocidade.
Recebi a luz da minha escola
E o saber da solidariedade.

A ela volto quando posso,
Donde vivo por fatalidade...

Dia cinzento

Bar Castelão, em Mafra, 2 de Março de 2019
8h31m
Jlmg

sexta-feira, 1 de março de 2019

Os jacarandás de Lisboa

Os jacarandás de Lisboa

Arribaram de outras paragens.
Se infiltraram para sempre neste chão de sol.
E, na primavera, se vestiram floridos com cor viva e radiosa.
De fazer inveja a todos os jardins.

As gentes os acarinharam.
Em poucos anos eram os reis das avenidas.
Hoje, são o ex-libris da Lisboa florida e engalanada.
Bordejam de longe o Tejo.
Alegram as praças principais.
Semeiam paz e alegria aos transeuntes.

Deixam saudade quando o Outono chega e lhes apaga o seu sorrir.

Ouvindo Carlos Paredes

Bar Caracol, arredores de Mafra, 1 de Março de 2019
8h28m
Jlmg