sábado, 30 de novembro de 2019
O dia a nascer
Dia a nascer
Grande espectáculo gratuito ao nascer de cada dia.
Suavemente, vai clareando o céu.
Deixando atrás o negrume e o silêncio da madrugada.
Quando os espíritos se banquetearam, a bel-prazer, no reino enigmático da escuridão.
Vem a aurora radiante de luz apaziguadora.
Anunciando a chegada triunfal do astro-rei.
Semeador de vida, com a prodigalidade real e soberana, que não esquece nem discrimina.
Ressurge em nosso espírito, de novo, a vontade de viver, apesar das tormentas que assolam e varrem a Terra.
Sua lei é a esperança que tudo reverdece.
Com a sensação interna e geral de que não nascemos por mero acaso.
Há uma meta que nos puxa e galvaniza...
Ouvindo Schubert
Berlim, 30 de Novembro de 2019
8h57m
Jlmg
sexta-feira, 29 de novembro de 2019
Antes que anoiteça...
Antes que anoiteça
Recolhem a casa antes que anoiteça os rebanhos, saciados dum dia de abastança.
Vida livre sobre as urzes e montados.
Sorvendo a brisa fresca e os odores da mescla de perfumes das folhas e flores.
Lhes decorre assim a vida na companhia de seus pastores e cães de guarda.
Num vaivém de vida herdada de seus pais.
Guardam nos olhos a largueza profunda dos horizontes calmos que só a natureza sabe tecer nas horas mortas.
De vez em quando caem raios vertiginosos de trovoada seca ou regada da chuva benfazeja.
O sol as seca lesto e não cobra nada.
Tudo ali é natural como o dia e a noite…
Ouvindo Schubert
Berlim, 29 de Novembro de 2019
16h4m
Jlmg
quinta-feira, 28 de novembro de 2019
Sereias do mal
Sereias do mal
Enxameiam os caminhos e barrocas da vida.
Atraem nossos desejos e desfazem nossos sonhos porque são quimeras os seus acenos.
A estabilidade assenta nos valores reais que estruturam nossos alicerces.
Oiçamos só a voz da nossa consciência.
Ela é independente e sabe o que é real e verdadeiro.
Nos avisa os perigos.
Pela sua mão chegaremos ao termo dos nossos intentos.
Foi-nos implantada no íntimo da nossa consciência.
O culminar perfeito da vontade que nos criou...
Ouvindo Schubert
Berlim, 29 de Novembro de 2019
8h37m
Jlmg
Enxameiam os caminhos e barrocas da vida.
Atraem nossos desejos e desfazem nossos sonhos porque são quimeras os seus acenos.
A estabilidade assenta nos valores reais que estruturam nossos alicerces.
Oiçamos só a voz da nossa consciência.
Ela é independente e sabe o que é real e verdadeiro.
Nos avisa os perigos.
Pela sua mão chegaremos ao termo dos nossos intentos.
Foi-nos implantada no íntimo da nossa consciência.
O culminar perfeito da vontade que nos criou...
Ouvindo Schubert
Berlim, 29 de Novembro de 2019
8h37m
Jlmg
Ao alcance de todos
Ao alcance de todos
Sonhar com um mundo melhor e, ao acordar, olhar em redor e ver como a paz reina.
Só depende de cada um de nós.
Unidos, se pode construir e engendrar a felicidade.
Queiramos o bem e dêmos o nosso contributo.
Por certo, tudo ficará melhor.
A felicidade se alimenta da paz e da fraternidade.
Não assenta na abundância e opulência.
Quanto mais simples mais perto ficaremos da leveza que nos permitirá voar...
Ouvindo Schubert
Berlim, 28 de Novembro de 2019
10h42m
Jlmg
quarta-feira, 27 de novembro de 2019
Sobrenatural
Sobrenatural
Imenso o universo das galáxias e andrómedas.
Os oceanos profundos que afundaram três partes da Terra imensa.
As grutas medonhas, escondidas no ventre terrâqueo que, parece, não servem para nada.
As montanhas que projectam arrogantes, suas cordilheiras, céu acima.
Os polos brancos que seguram hercúleos, o eixo frágil da Terra ronda e inclinada.
Vagalhões em fúria avançam sobre a Terra dócil.
Rios gigantescos unem os continentes tresmalhados e espalham seus braços pela terra infinda, alimentando os mares de água pura.
Qual é lógica que explica à humanidade esta realidade enigmática e misteriosa?...
Bar dos Motocas, arredores de Berlim, 27 de Novembro de 2019
14h58m
Jlmg
Tardes de Inverno
Tardes de Inverno
São negras e pesadas as horas da tarde no inverno.
Falta-lhe a luz que torna leve a respiração do ar.
Esgotam a paciência dum santo, quanto mais, dum pecador.
Os olhos se fizeram para ver as cores.
Não para as ver dormir.
Faz falta o movimento e o esvoaçar da passarada.
Estão prostrados na letargia, sem ânimo nem combustão.
As folhas caem.
Os ramos enregelados não têm uma lareira que os aqueça.
Faz falta o sol.
Se dispensava bem a lua, mesmo a cheia.
O sono zumbe sobre os nossos olhos.
Não há enxota à mão para o sacudir.
O que vale é que dura pouco esta subjugação.
A primavera carbura feroz na natureza.
Sua arma é o silêncio e a discrição.
Quando chegar a hora, irromperá triunfante sem nada cobrar.
Sempre assim foi e há-de ser.
Quem manda é o sol...
Arredores de Berlim, Bar dos Motocas,
27 de Novembro de 2019
14h11m
Jlmg
Disfarces de carnaval
Disfarces de carnaval
Correm rios apoplécticos de loucura pelas avenidas e alamedas, junto ao mar.
Noitadas cheias de carnaval.
Em estertor alucinante.
Delírios sensuais.
Fumaradas e fogueiras
Se evolam frenéticas, junto à praia.
Libertação das escravaturas todas dum ano inteiro numa noite feérica e ávida de eternidade.
Se afogam as tristezas. Aves negras que a vida traz.
Uma ilusão sem par que acontece só, ainda bem, uma vez no ano…
Ouvindo Xuefei Yang - Manhã de Carnaval by Luiz Bonfá
Berlim, 27 de Novembro de 2019
10h13m
Jlmg
O vestuário
O vestuário
Nascemos nus. Num vão de escada ou num tálamo de linho ou ouropel.
Tudo é natural na natureza.
Donde virá então esse pendor para ocultar?
Excepção real à regra universal da natureza.
Onde tudo se expõe ao sol.
À chuva e frio, não.
Terão sido só essas razões?
Ou, depois, a vaidade a germinar.
Acrescentar adorno ao menos belo,
Refrear ímpetos que brotam à flor da pele?
Como quer que fosse, eis-nos perante uma prática que vai da veste larga e pendente rodeando os corpos
ao requinte artístico da alfaiataria do bric-à-brac à la française, que Paris exporta em opulentos festivais da moda
e ao irracional desalinho das gerações modernas, saudosos da liberdade das cavernas…
Ouvindo Yuja Wang Plays Schubert and Liszt
Berlim, 27 de Novembro de 2019
9h3m
Jlmg
terça-feira, 26 de novembro de 2019
Santa penumbra...
Santa penumbra…
Passos secos.
Toques duros no chão macio em tacos
Duma igreja simples.
Uma oração breve duma alma crente.
Dúvidas de fé. A apoquentam há muito.
Nuvens negras. Densas.
Lhe encobriram a luz.
Perdida na imensidão sem paz.
Recorre ao altar
Onde o Poderoso está e mora.
Uma simples bênção.
Lha dará sem fim.
Na vida,
Vêm as horas boas.
E também as más.
Vem o desespero.
Só a consolação divina
Lhe devolve a paz.
Berlim, 26 de Novembro de 2019
17h37m
Jlmg
segunda-feira, 25 de novembro de 2019
Há-de vir o tempo…
Em que será o fraco a dar ao pobre e o pobre a dar ao rico.
Em que a fome morrerá de fome, abundante.
O horizonte será tão curto, nem dará lugar à esperança de, um dia, ser diferente.
A ganância verá seu fim e como estava errada.
Eram quimeras os sonhos de paz e solidariedade.
A natureza humana entregue a si, sem a dimensão da ética, só gera a monstruosidade do egoísmo a todo o preço.
Em que a fome morrerá de fome, abundante.
O horizonte será tão curto, nem dará lugar à esperança de, um dia, ser diferente.
A ganância verá seu fim e como estava errada.
Eram quimeras os sonhos de paz e solidariedade.
A natureza humana entregue a si, sem a dimensão da ética, só gera a monstruosidade do egoísmo a todo o preço.
Afinal, como tudo seria diferente e bom, se o homem moderno não tivesse esquecido que seu ser é corpo e alma…
Berlim, 25 de Novembro de 2019
17h22m
Jlmg
17h22m
Jlmg
Os anos que envelhecem
Os anos que envelhecem
Depois dos sessenta, encanecem as forças e as ambições pessoais.
Estalam as dobradiças nos joelhos.
Falta o ar, ao subir das escadas que
levam à porta larga da missa ou do cinema.
A memória tropeça amiúde nas brumas
do esquecimento.
As saudades medram a olhos vistos
como erva daninha.
Há quem diga que a velhice é um
estado d’alma.
Mas o comboio da vida segue
inclemente até à derradeira estação.
Vão caindo, lentamente, uma a uma, as
folhas mortas dos mesmos ramos.
Sente-se que está a chegar o fim da
romaria e a incerteza de se estar cá para o ano…
Berlim, 25 de Novembro de 2019
10h48m
Jlmg
Estuário de poesia
Estuário de poesia
Desagua em mim um estuário de poesia.
Sulcos que a magnanimidade da Natureza traçou delicadamente no cair da tarde da minha existência.
Prenda surpreendente. Brinde imerecido mas muito bem-vindo.
Um pôr-do-sol luminoso depois da batalha atribulada que tive de travar.
Um clarão que desfez todos os negrumes da luta.
Me compraz em cada dia a visita, sempre inesperada, dum poema para partilhar.
Lampejos fulgurantes que cintilam quando menos se espera.
Sensações que só a graça do divino pode explicar…
Ouvindo Schubert
Berlim, 25 de Novembro de 2019
8h52m
Jlmg
sábado, 23 de novembro de 2019
Compassos de espera
Compassos de espera
Somos arrastados pelo afã da vida. Nem
damos conta de que ela passa.
Tão passageira ela é, se precisa
fazer o esforço de a saborear passo a passo.
Preenchê-la com um constante
crescimento de todas as faculdades que a Natureza nos atribuiu é o mínimo para
que não a percamos.
Por isso, é preciso fazer pausas.
Reparar bem na beleza abundante que
nos circunda e saboreá-las é o lenitivo para as asperezas que ela apresenta.
Saborosos são os bancos de jardim que
nos convidam ao descanso e à meditação enquanto, como um rio, em paz, a vida
vai fluindo.
Ouvindo Schubert:
Impromptu No. 3 in G-Flat Major, Op. 90
Berlim, 24
deNovembro de 2019
8h28m
Jlmg
Ramos depenados
Ramos depenados
Lânguidas folhas secas,
Dos ramos depenados.
Foi o vento e foi o frio.
Pendem tão tristonhas,
Foi embora seu reinado.
Tão ufanas das alturas,
As espera o mesmo chão
Onde sofrem suas irmãs,
Como se penassem seus pecados.
Foi-se embora o Verão de sonho e o
Outono colorido.
Tão efémera é sua vida.
De que serviu tanta vaidade?
Se soubessem para o que vinham,
Mais valia a inexistência.
Mas quem manda assim não quis…
Berlim, 23 de Novembro de 2019
18h25m
Jlmg
sexta-feira, 22 de novembro de 2019
leveza do belo
Leveza do belo…
Admirável a leveza do belo reluzindo
à luz.
Onde se encontram os mundos do
material e imaterial.
E a sombra se esvai na lentidão da
penumbra.
O encanto dealbar da aurora boreal.
E o declínio sumptuoso do doce cair
da tarde.
Quando a noite reabre uma vez mais os
seus portais ao enigma dos amores.
Se alcança o ponto alto do mais
sublime.
Quer orando ao Criador ou atando os
enlaces dos seres amantes, no reino humano do divino.
Ouvindo Schubert:
Impromptu No. 3 in G-Flat Major
Berlim, 22 de Novembro de 2019
15h23m
Jlmg
quinta-feira, 21 de novembro de 2019
Casa de pedra
Casa de pedra
Senhorial. Com traços fidalgos.
Casa de pedra, vestida de hera.
Dominando a encosta murada,
Cheia de vinha.
Sustenta um clã.
Do reinado, Brasil.
Onde abundavam as árvores
Que davam patacas.
Como os tempos mudaram.
Zarparam dali, rumando à cidade.
Ficaram os rendeiros, tratando de tudo.
Hoje, ninguém fala nem lembra na fidalguia d’outrora.
Vivia do ócio. Com vestes de réis.
Abundância imerecida que o vento levou.
Nem os muros ficaram.
A burguesia moderna, ávida de porte,
Sacrificaram os palácios ao deus do dinheiro…
Berlim, 21 de Novembro de 2019
15h31m
Jlmg
Crueldade da fome
Crueldade da fome
A vida tem fome de pão.
A morte morre com fome de vida.
O homem está preso à vida com medo da
morte.
Por isso, arrosta o trabalho com dor.
Estafa-se e sofre.
Vive mesmo a sofrer.
Um duelo insano entre a vida e a morte.
Só o tempo o vence morrendo.
Berlim, 21 de Novembro de 2019
13h36m
Jlmg
quarta-feira, 20 de novembro de 2019
Partilha
Partilha
Dividir o que é meu.
Usar o que necessito.
Do resto, oferecer aos outros que precisem.
Tudo que temos e ganhamos foi-nos dado.
Mesmo o que é fruto do esforço e do suor.
Não sou dono e senhor da minha existência.
É-no-la dada a cada instante por Alguém que nos supera infinitamente.
E nos chamou à vida.
Por isso, repartir o que nos sobra, para além do útil e necessário, sem prejudicar alguém à nossa conta, é o justo.
De contrário, se estará a apropriar do que não nos foi dado só para nós…
Berlim, 21 de Novembro de 2019
8h17m
Jlmg
terça-feira, 19 de novembro de 2019
Abram clareiras
Abram clareiras!...
Faça-se silêncio. Vai
passar o concerto para piano e orquestra, nº 3 de Rachmaninov.
Vai arrasar todo o
passado de harmonia e exaltação.
Chegam ao céu seus
trinados comoventes.
Derretem os corações
empedernidos seus acordes vigorosos.
Descem vagabundos seus
andamentos como corcéis pela serra abaixo até ao rio.
Como vagas enfurecidas
sobre a praia, cavalgam os dedos da pianista transfigurada.
O piano se transforma
num vulcão efervescente de sons arrepiantes.
Receia mesmo não resistir
ao que lhe pede a artista galvanizada por uma melodia incandescente nunca
ouvida.
Que duelo aterrador
entre um piano tão sentido com os ademanes duma orquestra titubeante!
Ficou para a história a
vitória retumbante do piano preto de cauda aberta pelas mãos divinas da
pianista.
Ouvindo Rachmaninoff:
Piano Concerto No. 3 - Anna Fedorova –
Berlin, 19 de Novembro
de 2019
19h54m
Jlmg
segunda-feira, 18 de novembro de 2019
Ao cair da tarde
Ao cair da tarde
Batem à janela.
É amarela a farda.
Vem cheio o alforge.
- É o recoveiro!
Traz uma encomenda.
Abro a porta.
Prazenteiro avança, de caneta na mão.
-Só um autógrafo!
Uma cartinha de avião.
Bordada às cores.
Vem do outro mundo.
Sem remetente.
Abro-a a custo.
Cuidado para não rasgar o escrito.
Dobrado em quatro.
Letra redonda.
Uma amiga do passado.
Ao dealbar da vida.
A força do destino.
Cada um para seu lado.
Se lembrou de mim.
O que diz, não se deve revelar…
Berlim, 18 de Novembro de 2019
19h3m
Jlmg
O aguadeiro
O aguadeiro
Lá vem ele ao longe.
Vem afoito.
O aguadeiro e seu burrico.
Traz água fresca e pura.
Vem da fonte da natureza.
Chega à porta.
-Ó da casa!
Faz sol em barda.
A sede mata!
- P’ra mim uma bilha, se puder ser.
-O burrico agradece.
Ficou mais leve.
Lá vai à estrada.
Toque-laroque.
P’ra mais um monte.
Fica distante.
A vida custa.
Lá vai ele.
Caminho fora.
Há sobreiros.
Pinheiros mansos.
Fazem a fresca.
Como sabe bem.
Toque-toque.
Patas no chão.
É sempre andar.
-Quem quer água fresca?
É o Alentejo com seu encanto…
Berlim, 18 de Novembro de 2019
18h37m
Jlmg
O encanto da vitória
O encanto da vitória
Vencer é conseguir alcançar o bom.
Sempre e em todo lugar.
Aprender com as falhas.
Da próxima será melhor.
Tem seu preço.
O esforço que faz doer o corpo.
Não a alma, onde se guardam todas as vitórias.
A paz e a tranquilidade, o motor do nosso viver, só se ganham à força dos nossos braços.
Que sabor teria a vida se tudo nos fosse ofertado?
Não tem preço a alegria que nos dá um diploma.
A simples carta de conduzir.
Ou o duma licenciatura em qualquer ramo do saber.
Chegar à meta à frente e olhar de pé o pelotão que ainda vem subindo…
Ouvindo Músicas Clássicas Lindas
Berlim, 18 de Novembro de 2019
10h14m
Jlmg
domingo, 17 de novembro de 2019
Desde o céu alentejano
Desde o céu alentejano
Alcanço o céu desde o chão alentejano.
Não tem fim.
Não há nuvens nem neblinas.
Só a luz.
Conto as estrelas, uma a uma.
As constelações gerais.
Enxergo a lua e suas sombras.
Mares imensos.
Montanhas vãs.
Veredas densas.
Colinas desertas.
Só lhes avulta a saudade.
Fontanários secos.
Nunca mais choveu.
Terras virgens onde o verde se tentou
mas não pegou.
Dá vontade de cavalgá-las.
Se lá houvesse erva verde.
Não há comboios.
Porque nunca ali houve estações de
ferro.
Que falta à lua que a terra tem?
Que vontade de ir à lua, terra livre.
Não é de ninguém…
Berlim, 17 de Novembro de 2019
12h36m
Jlmg
sábado, 16 de novembro de 2019
O corvo negro
O corvo negro
Sobre o alto daquele prédio em frente, está poisado um corvo negro.
Astuto. Atento a tudo.
Na sua vida.
Eu aqui a vê-lo.
Nada de mim ele sabe. Nem sequer se existo.
E eu dele. Senão que ele ali está.
Domina o mundo. Voa livre e poisa onde quer.
Pega e vai.
Que ideia fará de nós, mortais?
Caminhamos lentos sobre terra firme.
uns latagões.
Não imagina como vão cheios pelo ar acima aqueles passarões gigantes, tão estranhos.
Não batem as asas e, num instante, desaparecem no infinito dos céus.
Ainda lá está o corvo negro. Sua cabeça não pára.
Afinal, é o mesmo de ontem…
Berlim, 17 de Novembro de 2019
8h37m
Jlmg
Casas enjeitadas
Casas enjeitadas
No fundo da freguesia, construíram três
casas novas.
Eram do dono da agência funerária.
Pô-las à renda.
Ninguém lhes pegou para viver.
Um preconceito de quem acredita nas
almas do outro mundo.
Como se os seus corpos não tivessem direito
a um digno enterro.
Há quem diga que andam por lá.
Nas noites de lua cheia.
Ali ficaram ao deus-dará.
Está traçado o seu destino.
Tudo à volta virou um eremitério.
Nem seus herdeiros quiseram saber
delas.
São as casas do zé-diabo.
Nenhum bom exorcista se atreveu ainda
a correr com ele…
Berlim, 16 de Novembro de 2019
19h13m
Jlmg
Bocados de mim
Bocados de mim
Vagueiam pelo espaço pedaços de mim.
Em núvens perdidos, procuram um poiso onde
querem ficar.
Ideias e temas, poemas com formas.
Folhas pensantes.
Temas de sonhos.
Bordados com alma.
Pérolas luzentes. Raiadas a fogo.
Estrelas cadentes, sem rasto no céu.
Vieram a mim, de Quem me criou.
Não me pertencem. Não podem ficar...
Berlim, 16 de Novembro de 2019
17h30m
Jlmg
Brincando com as formas
Brincando com as formas
Pega dum seixo cravado no chão,
Crava-lhe os olhos, procurando bem fundo, sua alma imortal.
Define-lhe o busto.
A cabeça e o tronco.
Alisa-lhe as faces.
Desenha-lhe os olhos.
O sobrolho suave.
Rasga-lhe a boca, de lábios carnudos.
Esboçando um sorriso.
Lhe alonga o nariz, um nada adunco.
Sugere-lhe os cabelos escorrendo para os ombros.
As orelhas espreitando ariscas.
Alonga-lhe o colo.
Lhe lembra Adónis.
Prende-lhe uns braços roliços que terminam nas mãos.
Atribui-lhe uns dedos com minúcia de arte.
Parece um artista atento, frente a um piano.
Só falta a canção…
Ouvindo Pyotr Tchaikovsky - Swan Lake
Berlim, 16 de Novembro de 2019
11h40m
Jlmg
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