quarta-feira, 30 de setembro de 2015

love story...

Caravela ao longe de velas brancas…

Onde vais e o que levas,
Caravela lenta de velas brancas,

Nuvem alba e sobranceira,
Lá ao longe, sobre as ondas,
No céu de mar?

Por ti esperam, ansiosos, outros olhos, corações,
Com abraços e saudades,
Outra praias,
Outras gentes,
Outras fadas,
Novos ventos,

Terras quentes,
Com palmeiras, jagudis,
Outras cores e outros cheiros.

Lindo sonho!

Não te esqueças.
Vai falando.
Vai escrevendo.
Conta lendas.
Traz-nos prendas.
Fazem falta.
Sequiosos,
Por ti esperamos.
Não te esqueças
De voltar.

És de nós…

Ouvindo  “Love Story”, ao piano e violino

Berlin, 30 de Setembro de 2015
8h50m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes



terça-feira, 29 de setembro de 2015

hierarquia das palavras

Hierarquia  das palavras…

Muito discretas. Insinuantes.
Fazem de conta.
Se ocultam.
Parecem indiferentes.

É só aparência.

Não se misturam.
Fazem questão da sua classe.
Da sua função.


Nunca abdicam
Das suas raízes.
Fazem famílias.

Umas são nobres.
Com pergaminhos.
Fazem os nomes.
Desenham perfis
De todos os seres.

Outras obreiras.
Cheias de cores.
Pintam os corpos.
Por dentro e por fora.
Em todos os sentidos,
Nas três dimensões.

Acendem a alma,
Com fogueiras de tons,
Em chama constante.
Matizes sem conta.
Nascem e renascem,
Fugindo à morte.

E há-as com sorte,
Em liberdade total.

Vagueiam no mundo,
Significando acção.
Há-as mortais,
Se lançam e ferem.
Servem de pedras,
Defesa ou ataque.

Há-as pacatas.
Vivem serenas
E pregam a paz.

Há-as alegres,
Sorriem nos rostos.
Só gostam de festas.

Há as plangentes
Que falam os tristes.

Todas se ligam.
Todas se prendem.
Pontos e vírgulas,
Também conjunções.

Berlin, 29 de Setembro de 2015
23h42m

Jlmg


Joaquim Luís Mendes Gomes

caminhos de vida...

Os caminhos da vida…
Como são diferentes os caminhos da vida.
Para uns, são planos.
Directos. Serenos.
Sem altos nem baixos.
Um berço de oiro,
Um enxoval de linho,
Logo ao nascer.
Uma preceptora de línguas
E ensina piano.
Uma escola de dança.
Um baile de máscaras.
Um príncipe encantado,
Com rendas de terras…
A serenata de Schubert,
Na vida terrena.
Outros, nascem nuzinhos.
Sem fraldas.
Bebem dos seios,
À custa da Mãe.
Cirandam na terra.
Ao pé das formigas.
Brincando com pedras.
Fazem buracos.
Olham para o céu.
Palmilham veredas,
Descalços nos pés,
Tinindo de frio.
Aprendem as contas,
De mais e de menos.
Escrevendo nas lousas
Ponteiro de giz.
Crescem afoitos.
Olhos vivaços.
Se interessam por tudo
Que os faça crescer.
Amam a vida.
Sonham ser grandes.
Amar sem morrer…
Bar dos motocas, arredores de Berlin, 29 de Setembro de 2015
10h35m
Dia de sol
Jlmg
Joaquim Luís Mendes gomes

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

horas vivas...

Horas vivas da madrugada…

Te oiço ao longe 
Nas horas vivas e serenas da madrugada.

Ave canora. Sereia do mar. Ninfa gangética.
Me embalando meus versos,
Voando no mar.

Folhas pintadas com cores de alabastro,
Nácar das nuvens,
Tarde de Agosto.

Brindo champanhe,
Oiço o piano.
Um violino ardente
Toca suave melodias com cores.

Estou num oásis.
O deserto à volta.
Quero ficar permanente.
Escrevendo e ouvindo.
Sonhando voltar
Quando a ordem na Terra
Começar a reinar…

Ouvindo Bernardo Sasseti
Berlin, 29 de Setembro de 2015
8h38m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gome

o meu Concorde...

Meu Concorde imaginário…

Vou-me atirar ao vento no meu concorde.

Construído de raiz, nas minhas noites de confusão.

Quero ir nele e dar a volta ao mundo.

Ver o Everest branco, feito um tapete ou um lençol de inverno,
A cobrir os montes.

Ver o Mar Morto que teima em viver com sal.

Aquela China enorme emuralhada.
Que o Marco Polo atravessou.

As pirâmides gémeas, de pedras encasteladas,
Tão certinhas…não há atentados
Que as destruam.

E o Nilo enorme, carregado de crocodilos bons, refastelados ao sol,
Numa paz de mestres que não pegou.
Quero ver os Andes e aquelas cordilheiras, de tão altas, quase tectos do mundo.

Ao outro lado da Terra, onde dorme eremita, um paquiderme…
É o continente australiano.

Hei-de ir aos Pólos eternos
Onde a Terra prendeu o eixo
E segurou suas alavancas.

Quero regressar eterno para, em paz, saborear o resto da vida…

Berlin, 28 de Setembro de 2015
19h11m
 Ouvindo “Concorde” de Frank Pourcell

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

homo erectus...

Homo erectus…

Visto de perto, parece uma torre gigante.

Visto da lua…sumiu.
E do alto da torre, uma formiga de pé.

Se convenceu que é o rei.
Lá por ter dois olhos na testa.
Que sabem das horas…

Sabe falar
E contar os tostões,
Migalhas do pão
Que tem de comer
Se quer caminhar.

Aprendeu a cantar
Num dia de festa.
Ficou um fadista
E um fanfarrão.

Precisa de ajuda
Para crescer e sonhar.
E de sapatos nos pés
Para poder caminhar.
Foge do cão a ladrar.
Ataca o irmão por ser rico
E ele não ser…
Dorme na cama
Fugindo do chão.

Berlin, 28 de Setembro de 2015
1027m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

Vagabunda e fulgurante…

Vagabunda e fulgurante…



Soltou-se a lua, furtivamente,
Da galáxia
Para alcançar a Terra,
Mais ao perto, incandescente.

Lançou o alvoroço na Humanidade.


Assomou às varandas e terraços
A gente urbana aprisionada.
E pelas gentias cercanias das aldeias,
Toda a gentinha se acudiu nos descampados.

Esperando ao fresco em pé a fugitiva.
Balão de prata refulgindo de luar.

Houve gáudio.
Jorraram os corações de alegria.
Foi triunfal a tamanha visita da princesa.

Em solene majestade.
Brilhante.
Pairou nos céus e deu a volta ao mundo.

E deixou marcada para daqui a décadas
Outra visita!
Se esta velhinha Terra ainda for mundo…

Berlin, 28 de Setembro de 2015
9h5m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes


domingo, 27 de setembro de 2015

interrogação

Interrogação…

Afinal, porquê o mundo
e o que fazemos nele?

Existia há tanto, antes de nós.
Tanta pessoa igual a mim
Passou por cá.

Sentindo o calor e o frio,
A fome e a dor.

Se interrogou como eu, agora.

Uns, caminhando firmes,
Presos a crenças.
Como se fossem leis.

Outros, inseguros,
Sempre lutando.
Para sobreviverem.
Da melhor maneira.

Ao fim e ao cabo,
Todos se foram.
Só deixaram rasto.

E, ó paradoxo!...

Uma vez aqui,
Ninguém quer partir.

Tudo nos prende a este torrão.

É o saber.
É o amar.
É o prazer.

E é o medo de tudo perder,
No fim de tudo.

Quem nos pôs cá
E que quer de nós?

Que escuridão,
Sem a luz dum Sol!

Feliz quem crê
Que o Criador é Pai!...

Berlin, 27 de Setembro de 2015
17h4m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes



chegam-me de além...

Chegam-me de além…

Sem eu o pedir ou esperar,
Chegam-me de além,
Ideias em verso, com boas mensagens.

Como num pacto secreto,
Em que só eu que ganho,
Só lhes empresto a mão e os dedos
Para elas falarem.

As largo ao vento,
Em baladas de paz,
Percorrendo caminhos,
Chegando a destinos,
Só Deus é que sabe…

Mui grato recebo seus ecos.

Por eles eu sei.
Sou apenas instrumento nas mãos de Alguém.
Só isso me apraz!...

Berlin, 27 de Setembro de 2015
15h39m

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

saturação da Europa

Saturação da Europa
Foi o palco ao centro da grande civilização.
Nos fundos helénicos,
Ao pé do Mediterrâneo,
Floresceram os filósofos
E os mestres da política.
Sócrates,
Aristóteles, Platão
Dominaram as alturas do pensamento.
Homero e Ulisses,
Se armaram de guerreiros
E cantaram suas glórias.
Na península românica,
Infestada de imperadores,
Se instalaram os arquitectos
Dos palácios e das arenas.
Os horácios e os coriácios
Afugentaram a barbárie.
Vergílio eternizou o latim
Com o fulgor da sua Eneida.
Sagrando a Europa como língua.
Vieram as invasões e as Cruzadas.
Tanto sangue se derramou.
Do chão em brasa,
Irromperam castelos e catedrais.
Se espalharam os mosteiros,
Por toda a parte.
Semeando a paz e a fertilidade.
São Bento, o seu padroeiro.
Depois, veio o Napoleão, todo poderoso
E o seu império.
Também ruiu.
E, nas universidades, brilhavam as cátedras dos pensadores.
Dos escolásticos e opositores.
E dos claustros conventuais,
se calou o gregoriano.
Perante as forças do profano.
Outra fogueira que se apagou.
E, para lá dos Pirinéus,
Germinavam fecundos,
Os cavadores e pescadores,
Seduzidos pelos mares.
Foi graças a eles
Que a velha Europa,
Saturada de tanta guerra,
Reverdeceu, se espalhando por todo o mundo…
Berlin, 27 de Setembro de 2015
10h25m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado, 26 de setembro de 2015

minha arte é o verso...

Minha arte é o verso…

Especializei-me na arte do verso,
Como pintor eu pinto e descrevo,
Sem tinta.
Uso a palavra, como se fosse um pincel.

Pinto quadros de todas cores.
Bate-lhes o sol e eles refulgem,
Dizem aos olhos o que só a mente entende
E a alma sente e não diz.

Me obrigo a escrever mesmo que o vento não sopre.

Me atiro ao mar como ele estiver.
Só volto para a terra com o barco a esbordar.

Não desarmo à primeira quando a sorte não vem.
Sou de lançar a semente e depois esperar…

Berlin, 26 de Setembro de 2015
22h31m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes


sétima pousada...

A sétima pousada
Vivo na sétima pousada
Duma rua preta. e escondida
Um beco escuro.
Com parede ao fundo.
Tem um candeeiro com lâmpada fundida.
´Só de noite lhe brilha o luar.
Venho para a varanda.
Solto meus olhos
E fico a vê-los.
Perdidos.
Andorinhas bailantes,
Nas ondas do vento,
A brisa do mar...

Berlin, 26 de Setembro de 2015
9h35m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

delírios do campo...

Delírios do campo e da urbe…
São de tule e de lã
Estas mantas de nevoeiro que Vestem as manhãs,
Na cidade e no campo.
São de paz e harmonia
Estas horas que se vive,
Num país bem governado.
Onde o pão não falta em cada mesa.
E nossos impostos desaguam inteiros no bem-estar.
Onde as escolas se mantêm abertas a toda a gente, semeando a luz nas inteligências.
Onde os hospitais são segundas casas e se curam os nossos males.
Onde há estradas boas em abundância,
Sem se pagar um só vintém.
Os autocarros e os comboios chegam certos ao seu destino.
Onde os telejornais são resumidos e só contam o essencial.
Onde se pode dormir em paz porque os ladrões que surjam recolhem logo às cadeias.
Onde se pode ir a todo lado e a toda a hora,
Desarmado e descansado…
Não é utopia!
Ainda existe…mas cada vez menos…
Berlin, 25 de Setembro de 2015
18h14m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

as trombetas soaram...

Soaram as trombetas…

Soaram as trombetas em coro.
Os panos subiram.
Um palco repleto de coros.
Trompetes e trompas.

Um estádio repleto.
Milhões de pessoas.
Queriam lembrar seu dia de glória.

Um de Dezembro.
A Restauração que chegou…

O futuro sorriu.
O céu rejubilou.
Um País com tamanho gigante,
Numa parcela pequena
Se atirou pelo mar.
Devassou oceanos.
Rodou hemisférios.
Desfraldou continentes,
Sua bandeira às cores.

Desfizeram-se lendas.
De Adamastores.

E a Terra ignota
Ridente e irmã,
Nas palmas das mãos.

A si o deveram.
Povo heróico.
De alma potente.

Nada vos resiste,
Se vontade tiveres.

A hora de novo chegou
De seres imortal!...

Ouvindo “Filândia” de Sibelius

Berlin, 25 de Setembro de 2015
9h47m

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

cai suave a noite...

Cai suave a noite…

Lentamente, este salão nobre e feérico, cheio de luz,
Vai sombreando.
Se esfumam as copas das árvores.
Das casas as chaminés se ocultam na bruma e se vão.

E os telhados perdem as telhas de cor.
De cinzentas passam a negras.

Cintilam as janelas com os candeeiros.
Nas ruas, sorriem os carros, mostrando faróis.

E os autocarros passam ufanos com as cadeiras repletas.
De gente cansada.

Há feixes de luzes nos écran das têvês que trespassam os vidros.

Chegam os cheiros das cozinhas a arder.
Há arroz na panela e caldo a ferver.

Assim se passam as horas de paz e de calma,
Antes doutro dia nascer.

Berlin, 24 de Setembro de 2015
21h9m
ouvindo Love Story
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

afinal...

Afinal, basta tão pouco…

Para que servem montanhas de dinheiro no bolso ou no banco,
Se uma lufada ligeira de vento
Deita por terra os castelos,
Enche de negro a vida de dor…

Que interessa ganhar ou perder
Se falta a liberdade de ser…

São leves as asas que nos fazem voar.

A ganância e a avareza são fardos pesados, cheios de nada.

Berlin, 24 de Setembro de 2015
8h15m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes



À hora das Trindades...

À HORA DAS TRINDADES…

Ao cair da tarde,
À hora do lusco-fusco,
Caíam as sete badaladas sonoras,
Ditando o fim das canseiras.

Recolhia-se o milho da eira.
O gado, regalado do pasto,
Descia suave as encostas
E vinha pela mão dos criados,
Para as cortes à volta do aido.

E as andorinhas em bando,
Voavam rasteiras à estrada.

Cansados das lavras dos campos,
Secando o rosto suado,
Batendo os tamancos no chão,
Vinham da jorna sem fim,
Os servos da gleba,
Pensando na malga de caldo.

Depois da segunda rodada das sete,
Era o sino do meio
Que, em pancadas singelas,
Desfiava a oração das Trindades.

Tudo parava na aldeia.
Toda a gente rezava.
Agradecendo as bênçãos do dia,
Ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo,
Como sempre fizeram os avós…

Berlin, 23 de Setembro de 2015
19h55m

Jlmg

Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 22 de setembro de 2015

pregando meus versos



Pregando meus versos…

Vou pelo mundo pregando.
Tocando a lira.
Lendo nos céus,
As pautas de estrelas,
Que o Criador nos escreveu.

Chovem os sons
Em lufadas de vento.
Convidando à paz.

Sobem da Terra,
Cinzenta e cansada,
Lamentos com lágrimas,
De dor e de sangue.
Nesta hora da história.

Um duelo feroz,
Entre o bem e o mal,

- Ó ignomínia maior!...

Em nome de Alá.

Desça outra vez o Messias.
Traga os azorragues do templo
E corra, de novo, com eles…

Ouvindo Debussy, claire de lune,

Berlin, 23 de Setembro de 2015
8h52m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes


farol das rosas

Farol das rosas…

No ponto alto e extremo da terra,
Coberta de verde da erva,
Escarpada a pique,
Levantaram um farol,
Formoso e altivo,
Voltado para o mar.

Foi uma festa
Quando começou a rodar.

As gentes em volta vieram em cortejo,
Com flores à cabeça,
Açafates de vime.
Estralejaram foguetes.
A banda de música.
Houve um repasto,
Petiscos e vinho.

As moças dançaram travessas,
Com saias rodadas
E mostraram as pernas.

Até o prior,
De rosto risonho e festivo,
Batina comprida,
Dançou uma volta
Como se fosse um rapaz.

Só arredaram o pé,
Na madrugada da noite,
Quando os feixes de luz,
Inundavam o mar
Como se houvesse luar…

Farol das Rosas
Assim se chamou.

Ouvindo Paco de Lúcia

Berlin, 23 de Setembro de 2015
7h30m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes