segunda-feira, 21 de setembro de 2015

o comboio da minha aldeia...

O comboio da minha aldeia…

Deixou de passar à minha aldeia o comboio de Caíde que, num instante, me levava ao Porto e rio Douro.

Fumegava de contente.
E rugia lá da Longra.
Bebia água de hora a hora,
Quer de Inverno quer de Verão.

Tinha faróis amarelos.
Rasgavam o nevoeiro.
Alumiavam a escuridão.
Thunca thum!...Thuca thum!...

Era belo. Carregava a vida.
Fazia estrondo.
Era manso e sossegado.

Era classista.
Uma carruagem de primeira.
Com balaústres finos
e assentos de damasco.
Só para os ricos e poderosos.

Tinha a segunda.
Os bancos de madeira envernizada.
Eram duros.
Cheiravam bem.
Eram de pinho.

E na terceira,
Havia galinhas engaioladas.
E cestas de vime
Com dúzias de ovos.
Iam para feira.

Eram a única fonte monetária.
Para o bacalhau e o azeite.
As couves saíam da horta…

O comboio sempre à hora…
Que ia e vinha.
Gente diferente…
Era uma festa em cada dia.

Tudo se foi…
Até as linhas.
E eram de aço.

Berlin, 21 de Setembro de 2015
9h25m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes


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