terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Parecem pardais...

Parecem pardais...
Esvoaçam ideias na mente.
Parecem pardais buscando um ninho.
Lhes abro as portas e poisam tão leves.
Vêm cansadas. Querem brilhar.
As lanço ao caminho.
Mensagens de paz.
Harmonia e justiça.
Corram o mundo tão seco e carente.
Sejam sementes.
Dêem fruto. Germinem.
Cubram de verde e de pão os campos famintos.
Consolem tristezas.
Reine a paz.
Berlim, 31 de Dezembro de 2019
9h7m
Jlmg

domingo, 29 de dezembro de 2019

Lago de Tegel



Visita ao lago de Tegel

Aproveitando o sol e a calma serena de Domingo, fui-me até ao lago.
Se espraia entre orlas verdes duma mata densa de arvoredo.
Ali reina a serenidade intensa apesar dos aviões que vão e vêm.
Um bordado intrincado de farrapos de núvens retalha o céu azul.
Sobre as águas níveas se banham alegres os patos e cisnes alvos.
As esplanadas fervilham de gente que, descontraidamente, toma o seu café.
Amanhã será um novo dia de labor no fenesim nervoso de Berlim.
Não faltará muito e a noite regressa com seu negrume baço.

Berlim, 29 de Dezembro de 2019
15h13m
Jlmg




sábado, 28 de dezembro de 2019

Horas amargas


Horas amargas

Nunca mais esquecem as horas amargas da nossa vida.
A mãe ou o pai que se perde no dealbar da esperança.
Um vazio que enegrece o nosso dia-a-dia.
Não é normal.
Não se vem a este mundo para passar por esses momentos.

Um familiar ou grande amigo que se entregou aos longes da emigração, no sonho de melhor viver.
O temor de nunca mais o ver.
A doença que, de repente, avassala o nosso lar ou a família.
O professor primário que deixou de aparecer. Mesmo a cheirar a água-ardente.
Aquela menina bela da Casa da Estrada, a Antoninha, que me escreveu a letra do sermão da comunhão solene que minha memória lembra.


Pinceladas negras no quadro da nossa vida...

Berlim, 28 de Dezembro de 2019
22h50m
Jlmg

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Depois do Natal


Depois do Natal

Raios de luz incendeiam de sol os céus.
Reina a paz nas consciências reconhecidas pela luz.
Se abraçam amorosamente as vidas num clamor de fraternidade.
Sossegam todas as tormentas e tempestades.
Vai abrir-se ao mundo um novo ano.
Oxalá impere, finalmente, a justiça e a solidariedade entre os povos desta terra peregrina.

Berlim, 27 de Dezembro de 209
9h51m
Jlmg

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Noite de Natal

Noite de Natal
Noite serena e luminosa.
De alegria, paz e de saudade daqueles que já não estão.
Mesa farta de iguarias.
Um pinheiro de Natal.
Na manjedoira um presépio simples
com as figurinhas simples da Família Santa e dos pastores.
Está a Família inteira reunida.
Vieram de longe os ausentes.
A união e a harmonia.
A lareira acesa.
O calor do fogo divino.
É a noite da consoada.
O avô cansado e seu gato inseparável, dormitam no preguiceiro junto ao lar.
A avó anda feliz na sua lide.
Tem todos os seus ao pé.
A criançada gravita impaciente pela festa do abrir as prendas.
Até a cadelita irá ter a sua.
Bendita a bênão do menino Jesus, o Salvador!...
Ouvindo Schubert
Berlim, 25 de Dezembro de 2019
20h10m
JLmg

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Com açafates


Com açafates

Não importa o peso.
Com açafates alargamos nossos dons.
Fruta. Pão. Flores.
Tudo bom para dar ou para vender.
Num gesto de bem-fazer.
Cada um tem seu jeito e dom.
O que importa é criar amor.
Receber e dar.
Viver bem.
Semear felicidade.
Tornar mais leve e grata a vida.
Colorir o céu e a terra.
Com azul e verde.
Levar mais longe os frutos da minha horta e jardim.
Trazer para casa os dons que pude comprar.
Regalar os meus.
Ser quem sou e sou capaz...
Berlim, 24 de Dezembro de 2019
9h22m
Jlmg

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Almoço a três em Teresin



Almoço a três em Teresin

Depois da visita ao Guetto,
procurou-se um restaurante na aldeia ao pé.
Dentro das muralhas.
Paramos junto a um jardim.
Rodeado de casas altas, frias e sorumbáticas.
Seriam pequenas as árvores que o sombreiam.
Os mesmos caminhos do jardim, por onde se passeavam as mães e seus filhos pequenos.

Entramos no restaurante.
Já havia comensais.

Numa das mesas havia um velhote.
Sózinho.
Avassalado pelo alzeimer inclemente.
À frente uma grande caneca de cerveja.
Os olhos reluziam-lhe
quando a levava à boca, com arrepios e tremuras, eriçados pelos braços e mãos.

No rosto vermelhusco e enrugado,
brilhavam-lhe fundos, dois olhitos azuis.
Observava, muito atento, a gente que entrava para comer.
Pareciam dizer o que lhe passava na alma:
- Nunca imaginareis o que se passou por aqui, era eu miúdo, quando o guetto regorgitava de infelizes que ali perderam a vida, à fome e torturados...

ouvindo Schubert

Berlim, 23 de Dezembro de 2019
13h38m
Jlmg





sábado, 21 de dezembro de 2019

Tardes luminosas



Tardes luminosas

Tardes luminosas.
Excepcionais da cidade de Berlim.
O céu azul. Mesclado de núvens em rama.
O ar é leve e a claridade dum mar fragrante de espuma.
Brilham os telhados e as janelas.
As árvores nuas, sarapantadas, argutas, assistem em silêncio, enregeladas.
Escorre pelas ruas um caudal de gente que procura à pressa a derradeira prenda que faltava.
Faz-me lembrar as horas da véspera de Natal do menino que nunca mais chegava...

Ouvindo Schubert

Berlim, 21 de Dezembro de 2019
14h0m

JLmg


A humanidade miserável


A humanidade miserável

Ali, naquele hediondo guetto, está espelhada a miséria de que é capaz nossa humanidade.
Reduzir a pó a dignidade humana.
Cárceres, sem pão nem água.
Para milhares de pessoas aniquiladas pela opressão de iguais.
Porque eram judeus, ciganos, gais ou diminuidos físicamente.
A sorte deles era tirada à sorte em cada dia.
- Tu para ali! A câmara de gás.
- Tu para acolá! A deportação para Hauchwitz.
Uma estrutura colossal montada à vista do mundo inteiro. Apático e indiferente.
Cinco anos de negrume infernal.
Como entender este altar de morticínio de inocentes que nasceram na hora errada...?

Ouvindo Schubert

Berlim, 21 de Dezembro de 2019
11h48m
Jlmg

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Nevoeiro de Praga




Nevoeiro de Praga

Cidade de luz, mergulhada em tule leve, branco e luminoso.
Exposta ao sol como um altar divino.
Regada por um rio brando, benigno e refrescante.
Foste talhada para receber e cativar.
Tuas cores desmaiam na virtude da harmonia e da fraternidade.
Derramas nos corações torrentes de felicidade e adoças suas existências com a luz da esperança e fé na solidariedade.
Tuas pontes abençoadas são aras onde operam todos os apóstolos.
Me dediquei a ti nestas horas felizes, inesquecíveis.
Te vou guardar para sempre na minha lembrança.

Praga, 19 de Dezembro de 2019
13h35m
Jlmg



quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Encontrei Praga



Encontrei Praga

Finalmente, encontrei Praga.
Cidade clara e luarenta, em plena luz do dia.
Cortada ao meio por um rio manso e sinuoso.
Unida por muitas pontes.
Abençoada pelos doze apóstolos.
Povoada de turistas aos magotes, boquiabertos com a beleza que ela tem.
Fotografando selfies e captando os mil e um motivos que ela oferece.
Matizes imensos coloridos a banham de cores ardentes.
O testemunho duma época áurea que a história descreveu.
Inúmeras igrejas e palácios povoam um denso e emaranhado casario,
com ruelas e avenidas bem cuidadas, voltado para a arte de receber bem.
Muitos barcos-restaurantes sediados junto às margens, servem refeições a toda a hora,
Enquanto outros deambulam engalanados pelo rio, vestindo o tempo de festa brava e luz, como nunca vi.
Cidade longínqua, cativante e sonhadora.
Vai custar-me muito a dizer-lhe adeus...
Ouvindo Schubert
Praga, 18 de Dezembro de 2019
15h32m
Jlmg

domingo, 15 de dezembro de 2019

Enxurradas de Agosto



Enxurradas de Agosto

O mês das canículas e romarias com noitadas com muita folia.
Pelos campos amareleciam de sol as lavras extensas de milho.
Os bagos das uvas ruboresciam cheios de vinho.
Os rostos trigueiros bailavam alegres pelas festadas. Viola e pandeireta.
Eram grandes os dias e as tardes.
Dava para pensar que a vida plena era uma festa.
O mar ao longe nos chamava para o baile das ondas salsas.
Mas, por arte dos demónios, se zangavam no hiper-urânio os deuses enfurecidos.
De repente, ribombavam as núvens, com dardos de trovoada.
Caíam dos céus toneladas de chuva em catarata.
Rasgavam o chão e descarnavam as entranhas da terra entumecida.
Corriam rios bravos pelas valetas.
E as encostas secas das montanhas e dos montes resvalavam em fúria endiabrada.
Parecia o fim do mundo.
Era a praga das enxurradas que destroçavam as tendas das romarias...

Berlim, 15 de Dezembro de 2019
9h18m
Jlmg

sábado, 14 de dezembro de 2019

Falácias




Falácias

É uma corrente a nossa percepção.
O que ouvimos ou nos dizem é filtrado pela nossa mente.
Cada mensagem é ponderada à luz da nossa capacidade.
Cada um ajuiza e pesa o que vem dum interlocutor com ferramenta de que dispõe.
Muitas vezes, há insinuações e duplos sentidos, falaciosos.
Não apontam para o que parece.
Há outros fitos.
Assim se ludibriam os incautos ou crédulos demais.
É preciso ter sempre um pé atrás e não embarcar no que parece...

Ouvindo Schubert

Berlim, 14 de Dezembro de 2019
19h19m
Jlmg

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Escalpelizar um bolo



Escalpelizar um bolo

De vez em quando gosto de escalpelizar um bolo.
Aquela iguaria doce,
fruto de ovos e leite
que o engenho da gula nos engendrou.
Mas, com um café ao lado.
É a dupla indissociável, para dar certo.
Com um garfinho vou-o fragmentando.
O bebo a tragos.
E me consolo.
É preciso amenizar a vida.
Suas agruras são por demais.
Um copo de bom vinho é outro que tal.
Sem eles o mundo ficaria triste e pobre...

Bar do Edecka, 13 de Dezembro de 2019
10h3m
Jlmg

Vacuidade



Vacuidade

É arrepiante a vacuidade das palestras balofas.
Muito bem lavradas, sensacionais.
Parece verem o mundo como mais ninguém vê.
Chega-se ao fim, uma desolação.
Fica-se ainda mais vazio.
Pseudo intelectualismo professoral.
Arredado da realidade deste mundo.
Acabo de ver e ouvir três insígnes figuras da berra a discorrer.
Cada a seu jeito e tema.
Pareciam deslumbrar.
Recolhido, não consigo reter em mim, nada do que estiveram a dizer com aparente sapiência.
Perdi meu tempo.
Ganhei saber que a verdade é simples e transparente...

Bar do Edcka em Berlim, 13 de Dezembro de 2019
9h9m
Jlmg

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Pára de lançar pedras



Pára de lançar pedras

Pára de lançar pedras para o caminho.
Deixa-o subir o monte.
Dá-lhe a mão.
Ele quer descobrir seu mundo.
Quer deixar o vale.
Onde não acontece nada.

Nada pior que a modorra.
Onde fenece a esperança,
Estiola e acaba a vida.

Espalha ajuda e paz.
Semeia luz e cor.
Em vez de atear o mal.
Lembra-te:
Hoje é dele a vez.
Quem sabe, amanhã, será a tua.

Quão melhor ficaria o mundo
Se todos déssemos as nossas mãos…

Berlim, 12 de Dezembro de 2019
10h58m
Jlmg







quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Piano corrido


Piano corrido...

Fogoso piano, correndo veloz,
pradarias e serras.
Encostas de cor.

Calado há muito, vivia sofrendo.
Seu fado é cantar.
Melodias mexidas e outras com paz.
Beleza sem fim, lhe sai, quando alguém o incita.
Concertos e loas,
Um encanto ouvi-las.
É a dimensão do divino às mãos do humano.
Schubert. Chopin.
Tschaikowski e outros sem fim.

Que tarde mais linda,
Ouvindo um piano corrido,
Cantando Chopin!...

Berlim, bar do Edecka, 11 de Dezembro de 2019
15h32m
Jlmg

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Renascer...




Renascer…

A chama volta a renascer das cinzas que pareciam mortas.
Basta soprar. Ruborescem as brasas.
O fogo emerge, em calor e luz.
Como o sol ressurge em cada manhã,
Convidando à vida que é um dom maravilhoso.
A não perder.
Contemplar a ebulição da terra e do céu.
Participar na conservação da natureza.
Alcançando sonhos que brotam do inconsciente.
Irresistíveis e enriquecedores da nossa curta existência.

Riscar nosso rasto com a fantasia de nossos sonhos.
Cumprir, exacto e pronto, o que nos foi inscrito pelo Maestro que rege a nossa vida.

Ouvindo Schubert

Berlim, 11 de Dezembro de 2019
8h13m
Jlmg


Ternas rotinas


Ternas rotinas

Brandos costumes de almas lavadas.
Ternas rotinas, fontes de vida e de paz.
Saudavam-se os pais e os vizinhos da frente.
Pedia-se a bênção a quem passava por nós.
Benzia-se a massa que iria para o forno.
Saudavam-se as broas
Que ficavam à mostra,
Guardadas das moscas.
Limpava-se o chão e as vidraças da casa.
Uma vez, por semana.
Abundavam flores e hortaliça na horta.
Na coorte, um reco.
Abundavam galinhas.
Ovos à farta.
Podia ser pouco mas nunca faltava.
Não havia rancor nem desejos de mal.
Era uma festa quando chegavam os avós com guloseimas na cesta.
Tudo era bom e perfeito.
Tudo era certo.
É bom relembrar...

Berlim, 10 de Dezembro de 2019
17h59m
Jlmg

Palavras perdidas


Palavras perdidas

Como folhas secas, cobrem o chão as palavras que os costumes e a moda desmaiou.
Perderam o sentido.
O tempo o matou.
Diversos os valores.
Diversas as cores que, hoje,
Vestem a vida.
Por vezes, inversas.
Se baralharam as palavras que os traduziam.
Definharam. Perdidas,
Jazem mortas no chão.
Tempos avessos. Os tempos modernos.
Modernidade estéril, utilitarista e Edonista.
Apegou-se ao estrangeiro.
Ergueu-se uma fronteira entre
Os maiores e a gente moderna.
Por isso morreram.
Não serviam para nada.

Berlim, 10 de Dezembro de 2019
13h20m

Jlmg

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Doce enlace


Doce enlace

Gavinha doce e tenra
Abraça o ramo verde.
Amadurece e prende, enlaça.
Suspende o cacho ao sol.
Faz de graça e bem
Que o bago floresça
Para dar vinho e mel.
Singela prova de como a união é fonte.
Bendita prenda que a natureza tece, da Primavera a Agosto.
Saborosa sede que enlaça as almas e sacia os corpos, derramando amor.
Chave de oiro dum divino dom
Que abre o mundo à vida.

Ouvindo Schubert
Berlim, 9 de Dezembro de 2019
8h57m
Jlmg

domingo, 8 de dezembro de 2019

Igreja matriz



Igreja velhinha de pedra, lavada
Das chuvas e neves mortais,
Erguida no pé de um monte que a natureza ergueu.
Torre sineira, esguia, ostentando a cruz,
Fonte de bênçãos.
Aldeia singela, perdida, nos longes da serra,
Longe do mar.
Banhada de sol e de azul.
Terra das gentes singelas.
Vivem do pão e do vinho
Que a terra lhes dá.
Sabem de cor as horas do dia,
Banhado de sol.
Puxam a pé seus carros de bois
Com lenha seca dos montes.
Aquecem o lar e cozem o pão.
Lavram os campos com arados e raviças de aço.
Colhem e secam as ceifas nas medas e eiras ao sol.
Festejam os santos e fazem promessas,
Rogando as bênçãos,
Afastados do mundo, mas voltados para Deus

Berlim, 8 de Dezembro de 2019
9h12m

Jlmg

sábado, 7 de dezembro de 2019

Palavras perdidas



Palavras perdidas

Como folhas secas, cobrem o chão as palavras que os costumes e a moda desmaiaram.
Seu sentido se perdeu com o andar dos tempos e a modernidade.
São diversas as cores que, hoje, vestem os valores da vida.
Por vezes, inversas.
Ficaram baralhadas as palavras que os traduziam.
As novas gerações foram desconectadas do seu passado.
Ficaram aprisionadas pela modernidade estéril, utilitarista e edonista.
Refugiaram-se nos estrangeirismos e novos termos, sem lei nem roque.
Os maiores já não entendem a gente moderna.
E não há códigos que os traduzam.
Por isso, a modernidade está cheia de palavras perdidas.
Esperam a morte estendidas pelo chão.

Ouvindo Wagner
Bar dos Motocas, arredores de Berlim, 7 de Dezembro de 2019
15h7m
Jlmg

Rio da vida



Rio da vida

Titubeante, nasce franzino e dependente.
Nada tem. Recebe tudo.
Cada instante.
Vingar e ser gente é uma luta,
Um desafio.
Dia-a-dia, até chegar à foz.

Tacteando o chão.

Aprender a arte de andar de pé.
Não é fácil.
Aprender os nomes que as coisas têm.
Exprimir em verbos o que lhe vai na alma.
Tarefa ingente.

Distinguir os pais dos que são irmãos.
Entrar na luta.
Caminho longo.
Exige esforço.
Sobreviver sozinho.

Aprender errando.
Saborear a vida.
Dizer não e sim.
Seguir seu norte.

Deixar frutos.
Boa semente.
E chegar ao fim.

Respirar feliz.
Valeu a pena!...

Berlim, 7 de Dezembro de 2019
11h19m
Jlmg

Gosto

Cataratas da minha terra




Cataratas da minha terra

Que deslumbramento, ali escondido,
Entre rochosas encostas montanhosas!
Corre ao fundo, um ribeiro sinuoso.
Soluçando das cambalhotas que sofreu atrás.
Vou no encalço dele até à sua fonte
E fico espantado.
Suas águas escorrem em catadupa,
Fervendo espuma branca,
Por uma garganta funda e pedregosa,
Entre duas montanhas.    
Luta titânica da natureza,
Reclamando seu equilíbrio ancestral.
Acabou em paz tamanha refrega.
Por isso, agora, saltita alegre o ribeirito,
Regando as terras virgens de verdura fértil,
Que tudo converte em vinho e pão.

Saúdam-no festivamente, os cavadores,
De enxada em punho,
Orientando as regas até às raízes.
Quadro belo que Agosto traz.

Ouvindo Schubert
Berlim, 7 de Dezembro de 2019
9h27m
Jlmg




sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Em surdina



Em surdina

Passo pelo meio de casas na aldeia em silêncio.
Luzes acesas nas janelas.
Portas e portões cerrados nos lares.
É noite. Na hora viva da refeição.

Saem serenas as notas lânguidas dum piano triste.
Parecem chorar tempos de saudade.
Pingam gotas de melodia entristecida.
Condizem com a tristeza que me afecta a alma.
Meu pensamento paira em horas de meu passado.
Quando, em minha casa, de vez, se apagou a chama que dava cor e vida à vida.
Era ela a luz que nos dava calor à alma.
O seio donde nascêramos irmãos num lar onde reinava a paz e a harmonia…

Berlim, 6 de Dezembro de 2019
14h44m
Jlmg



Ermida branquinha




Ermida branquinha

Ermida branquinha, no alto do monte, caiada de branco e azul,
Te vejo de longe, casinha pequena, onde mora o patrono, ao pé do Senhor.
Acudimos a ti, nas horas perdidas, pedindo ajuda.
O caminho da vida tem pedras e cardos, magoam os pés.
Fazem sangrar.

Estais pertinho dos céus onde mora o Poder.
Não dão para nada as forças que temos.
Somadas às vossas dão para sobrar.

Derramai sobre nós, cansados da luta, o arrimo do céu.
Pouco que seja, dá para gente e para dar.

Ermida branquinha, das festas de Agosto, raiadas de sol.
Para o ano que vem,
Haja o que houver, te vou visitar.

Berlim, 6 de Dezembro de 2019
10h34m
Jlmg




quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Inconformados


Inconformados

Cuidar da forma de ser e de vestir.
Quem não gosta de agradar?
Mudar de veste para enriquecer nossa presença, sem dar nas vistas.
A sobriedade condena a ostentação.
A imodéstia é negativa e mascara o que se é ou que se tem.
Pureza e transparência são os requisitos indispensáveis da verdade.
A verdade e a tolerância são o reino da paz e harmonia.
Cada um tem suas notas específicas, seu carácter.
Por isso cada um é como é e a natureza o talhou.
A diversidade é lei e o princípio da beleza que enforma o nosso mundo.

Berlim, 5 de Dezembro de 2019
9h8m
Jlmg





quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Quem eu sou?




Quem eu sou?...

Bem pouco é o que sei de mim.
O que de mim eu penso não é o que pensa o outro.
Saber que pensam, de quantos mais, melhor.
De agora e sempre.
Confrontá-los com o que eu julgo.
Tanta surpresa faz.
Tanto claro e escuro que bateria errado.
Tanto errado certo e tanto certo avesso.

Não é bom juiz quem só se ouve a si.
Só se vê o valor quando se lhe sente a falta.
O que custou a ter mais querido fica.

O que é bem para mim pode não ser para o outro.
E, mesmo assim, para saber quem sou, só depois de morto…

Berlim, 4 de Dezembro de 2019
17h41m
Jlmg










Verbos soltos

Verbos soltos
Conjugo verbos à solta sem complemento à vista.
Transito acções directas em consoantes breves.
Mastigo frases livres como de rapina as aves.
Me alimento sóbrio das preposições que sobram.
Derivo as letras como fonemas átonos.
Dou cambalhotas loucas a declinar poemas.
Minha sintaxe é limpa porque não serve as regras.
Tenho o pensamento exdrúxulo como se fosse um Drácula.
Detesto os fraques e a água benta impura.
Sou tão puritano como um eremita pobre.
Minha capa é solta como se eu fosse monge.
Só uso sandálias para fugir dos calos.
Sou avesso à arte como o diabo à cruz.
Ainda espero um dia voltar a ser quem era…
Berlim, 4 de Dezembro de 2019
10h17m
Jlmg

Nem com Wagner...



Nem com Wagner…


Em vão pedi aos ventos e às ondas do mar duas letras de poesia.
Sedento, orei aos deuses e às ninfas.
Supliquei em preces, chovessem versos ou sistemas.
Baladas doces, ternurentas.
Meu deserto tem sede de oásis.
Me assusta o gelo polar ártico.
As cavernas escuras e os degredos.

Queria voar à solta, sentir a brisa fresca das manhãs de Agosto.
Ouvir ladainhas e promessas sãs.
Inocente refrigério das lamúrias.
Voltar de novo à terra da esperança e da alegria.
Desfraldar a paz com bandeiras do bem-fazer.
Viver de amoras e mel silvestre.
Regar minha alma com o ar puro das florestas.
Adormecer em paz ao tom das Avé-Marias.

Ouvindo Wagner

Berlim, 4 de Dezembro de 2019
8h55m
Jlmg