sexta-feira, 30 de setembro de 2016

O charme

O charme Um véu reluzente, Tecido de tule, Caindo na fronte, Ocultando negrumes, Carregados sobrolhos. Cada qual arma o seu. Com arte instintiva. Parecendo quem não. Imitando quem tem. Um fumo tão frágil. Basta uma aragem, Se rasga o véu E tudo se esvai. Assoma o real. Ressalta a verdade E se fica pior do que era... Berlim, 30 de Setembro de 2016 9h24m JLMG

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Marés vivas

Marés vivas

A lei do pêndulo
que vai e vem.
Dum lado enche,
Do outro vaza.

Uma ilusão.
O mesmo mar,
A mesma água.

É um baloiço
Que sobe e que desce
Que vem e que vai,
Preso ao chão.

Uma sinfonia intensa,
Braseira de sons,
Quadro de cores,
Bailado de cisnes,
Grinaldas de vento,
Ondas de mar.

Compasso das horas
Que chegam e passam.
Medida da vida
Que nasce e que morre...

Berlim, 29 de Setembro de 2016
10h26m

JLMG








quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Sabedoria...

Meu cântaro...

Enchi meu cântaro na fonte da Sabedoria.
De água pura e refrescante.
Tudo lava.
Benfazeja.

Indelével. Sempre à mão.
Desenlaça os nós
E desfaz os males.

Inesgotável seu poço fundo.
Tudo adoça e não congela...

Berlim, 28 de Setembro de 2016
10h5m

JLMG

Desapareçam para sempre...

Desapareçam para sempre...

Desapareçam para sempre os tontos desta Terra.
Sua existência é a para a vida em abundância e com critérios de justiça.

Abaixo a opressão dos fracos e indefesos.
Se partilhem as coisas boas que a Natureza nos dá igual e para toda a gente.

Apaguem-se as leis iníquas que só protegem os parasitas.

Haja paz e alegria. A vida é só uma.
Todos têm direito a vivê-la bem.

Não importa a cor da pele,
Muito menos a dos olhos.

O valor das coisas está no bem que elas nos podem dar.

Apaguem-se todos os focos de guerra,
Por essência, má!...

Berlim, 28 de Setembro de 2016
9h13m

ouvindo o concerto para violino de Mendelsson

JLMG

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Cheguei cansado...

Cheguei cansado...

Cheguei feliz, mesmo cansado.
Esta terra verde, bem arrumada,
Tem tudo ao sol
Para toda a gente.

Que formigueiro ordeiro
Nas auto-estradas.
Tanto camião à solta
Numa labuta acesa.

Tanto carro ligeiro
Que saíu de casa,
Sem fazer as contas.
Não há portagens!...
E a riqueza corre.
Para o bem geral.

Não encontrei stress algum
Nos rostos que vi.
É suave e leve esta vida aqui...
Afinal...é só do querer
De quem manda e pode
Que tudo depende!...

o primeiro desta nova série

Berlim, 27 de Setembro de 2016
8h54m

Jlmg



sábado, 24 de setembro de 2016

Horas luminosas de sol...

Horas luminosas de sol...

Foram radiantes e luminosas as horas de viagem
Desde Valadolid até Girona.

Um céu aberto e imenso.
Nuvens altas. Em carrossel.

Vastas terras secas com a palha já recolhida.
Se não fossem os rios Douro e Ebro,
Cujas águas são genialmente aproveitadas,
Através duma rede de canais,
Tudo seria um deserto.

Mas não!...
Há grandes zonas de campos verdes,
Bem irrigadas.
Um mar de verde em contraste a terra brava
Que suaviza os olhos de quem por aqui passa...

Girona, 24 de Setembro de 2016
18h5m

Jlmg

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Que país turbulento...

País turbulento...

Vou-me afastando de meu país turbulento.
Vou sem saudade.
Tanta confusão paira sobre ele...
Que barafunda!

Os políticos não têm jeito nenhum
Para aquilo que se propuseram fazer.
Laboram apenas em causa da sua tribo.
Cada partido é uma frente sem alma e ânimo
De levar o país para a frente.

Só importa manter a sela
E apertar os freios,
Como se o Povo fosse uma cavalgadura...

Cada quilómetro é um passo de mais sossego.

Vou chamuscado de tanto coice...

Valadolid, 23 de Setembro de 2016
17h00m

começou o Outono

Jlmg

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

o futuro distante...

O futuro distante, sorrateiramente,
Se faz presente...

Cada vez mais, o futuro distante,
Sorrateiro, num instante, se faz passado.

Marcha certa, inelutável.
Tudo arrasta.
Nem os milénios.
Nada escapa.

Que adianta ter,
Só para ter,
Se, chegada a hora,
Tudo fica
E a gente parte?...

Mafra, 22 de Setembro de 2016
16h47m

Jlmg

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

se eu tivesse o poder de...

Se tivesse o poder de amainar as tempestades...

O mundo seria um mar de paz,
Se eu tivesse o poder de amainar as tempestades.

Não se ouviria gritos de fome e desespero.
Porque reinaria a harmonia e a justiça.

Se extinguiria a guerra e a avareza.
Cada um seria o que desejaria ser
Conforme as forças e a sabedoria.

Daria gosto viver num mundo assim...

Mafra, 21 de Setembro de 2016
17h40m

Jlmg

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

naquele olhar...

Naquele olhar...

Havia grinaldas,
Esmeraldas azuis.
Reluziam ao sol,
Cintilavam as cores,
Rubis e safiras.

Que regalo de vê-las
Num rosto sorrindo.

Perfume de campos.
Searas de vento.
Um rio correndo.
As aves cantando.

Tão doce magia
Brotava serena
Quando passavas na estrada,
De açafate à cabeça,
e ias para a feira.

Faces rosadas.
Com blusa de arminho
E saias rodadas.

Que linda Maria
De socas nos pés.
A vida sorria
Com sonhos de amor...

Mafra, 19 de Setembro de 2016
17h22m

Jlmg


domingo, 18 de setembro de 2016

pureza e castidade...

Discutia-se e meditava-se sobre a castidade...

No pensamento e nas obras...
Castidade e pureza.
Presunção e profundidade.
Ascetismo nos impulsos bem controlados.
Mesmo o sorriso não era aceite.
Pasme-se!
Dissolvia a personalidade!...

Sobrepeliz branca, pura e alvinitente.
No ar nem uma só mosca.

Uma mesa cheia, mas travão a fundo.
A gula espreita.

Valha-nos Deus.
Era assim que se moldavam os puros.

E à volta, atrás dos muros,
Escorria a fome e os abandonados.
Era "O Barredo" em estado puro!
A Catedral ao prumo...
Assim era o Porto.
Anos sessenta.

Mafra, "setemomentos" 18 de Setembro de 2016
10h14m

Jlmg


raiou o sol...

Vou abrir minhas janelas...

Raiou o sol. Vou abrir-lhe as janelas,
de par em par.
Preciso do seu calor e sua luz.
A humidade não traz saúde.
E a escuridão esconde o mal.

Exulam os meus olhos de alegria.
Abraço a vida que me sustém.
Esconjuro para longe a tristeza de outras eras.
É quase o tempo de Natal.

Abraço as nuvens em alvoroço
Como um perdido.
Bendigo e oro pelas almas minhas que Deus levou.


Bar "setemomentos" em Mafra, 18 de Setembro de 2016
9h37m

Jlmg



quinta-feira, 15 de setembro de 2016

atracção dos corpos

Harmonia dos corpos
Suave e indelével esta harmonia
Que rege a atracção dos corpos com alma.
Milagre inefável que os olhos despertam.
Derretem distâncias. Desfazem desertos.

Oásis de esperança surgem com vida.
Saciam a sede e matam a fome.
Crescem raízes. Florescem as fontes.
Horizontes se abrem, ao perto e ao longe.
Enxovais se estendem ao sol.
Dança o berço ensonando o gaiato.
Os bracitos estendidos pedindo os colos.
Olhitos sorrindo arrasam montanhas.
Se enlaçam os corpos sedentos, famintos,
Sem horas marcadas,
Erguendo castelos de sonho.
Abraços profundos se juram amor.
Jorra a alegria nas horas da ceia.
E nas praias de Agosto, se erguem as tendas,
Brinca a família com a areia molhada.
Tão bom avançar para o mar,
De mãos dadas, o pai e a mãe
Com o filhinho suspenso…
Mafra 15 de Setembro de 2016
8h52m
Ouvindo concerto nº 1, para piano e orquestra, de Tschaikosky
Jlmg

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Panelão ao fundo...

Panela de pressão

Aqueles panelões de ferro.
Levavam um tempão a ferver.
O fumo horripilava os olhos.
Os caibros ficavam negros.

Um suplício era a cozinha.
Nos invernos em especial.

- Ó Pai! Aquilo é um instantinho...
- exclamava a minha irmã, já dona de casa,
na falta da Mãe.
- Onde a viste?
- Na tia Aurora. O tio Tónio lha trouxe.
Põe-se tudo dentro. Fecha-se bem. Passados uns minutos, começa a chiar a carapuça em cima.
Depois, parece um comboio a deitar fumo branco. Com toda a força. Até a tampa descer. Vai-se ver e tudo está cozido...Que maravilha!

- Vamos ver isso. - respondeu sereno o Pai.

Dias depois, ali estava uma em casa.

Nunca mais houve fumo. E o panelão arrumou-se ao fundo...


Mafra, 14 de Setembro de 2016
8h38m

Jlmg

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Melro na gaiola

Melro na gaiola
Pareço um melro na gaiola,
Tentando forçar a porta,
Em busca da liberdade.
Nela, não me vem a sapiência
Que faz cantar poemas
Na cadência que eu desejo.
Ninguém num cárcere se sente capaz
De elevar a voz
Ou de ouvir a poesia.
Só com paz e em plena liberdade
Se expande a alma rumo ao bom e belo
Que a vida dá...
Mafra, 13 de Setembro de 2016
19h29m
Jlmg

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Morada do descontentamento

Morada do descontentamento

Minha quinta é murada.
Ninguém lá entra.
Como um castelo.

Lá ao fundo, bem oculta,
Há uma casota em pedra negra.
Quem nela mora só
É  o descontentamento.

Um eremita. Presidiário.
Quase enfermo.

Tudo mais é verde.
Com flores à solta
E folhedo ao vento.


Mafra, 12 de Setembro de 2016
9h7m

Jlmg

domingo, 11 de setembro de 2016

Faltam-me pedras para minha calçada...


Faltam-me pedras...

Faltam-me pedras para a minha calçada.
Queria estreá-la nas festas das vindimas.
Vou cobri-la de poemas em castelo,
Com palavras tão enfeitadas
E perfume de rosmaninho.

Depois um tapete de flores.
Tão colorido que até vai doer
Passar por ele, mesmo descalço,
Enquanto a noite não cair.

Tão bela ficou minha calçada
Que me perco a olhar para ela...

Mafra, 11 de Setembro de 2016
19h56m

Jlmg

Eremitério

Eremitério

Não hei-de viver num eremitério.
Quero viver livre no mundo.
Deambular, subindo e descendo.
Fugir do perigo.
Cruzar as ruas.

Olhar os frontispícios das cidades vivas.
Evitar as multas.
Mergulhar no mar.
Sentir a brisa.
E o sabor do iodo.

E, só no fim,
Me reduzir a cinza...

Mafra, 11 de Setembro de 2016
9h18m

Jlmg

Sem Vós...

Sem Vós...

Sem Vós, não quero partir.
Prefiro ficar.
A vida é bela demais para perder.
Vivê-la sózinho não tem sentido.
Nem quero pensar no horror
Da hora da morte.
Só não seria se a vida tivesse sido um horror.

Convosco em nós tudo a ganhar.
Do princípio ao fim...

Mafra, 11 de Setembro de 2016
8h16m

Jlmg

sábado, 10 de setembro de 2016

Relógio de pêndulo

Relógio de pêndulo sem corda

Aquele relógio de pêndulo antigo,
No alto, parou.
Tem história.
Vem da bisavó.
Um cavalinho deitado
O guarda.

Nunca mais lhe deram corda.
Seu rosto esbelto,
Sem canto,
Calado.
Não fala.
Apenas decora.

Mafra, 10 de Setembro de 2016
16h17m

Jlmg

Meu quintal esquadrinhado

O meu quintal esquadrinhado

Esquadrinhei o meu quintal,
Depois de arado.
Como se fosse uma folha quadriculada.
Não fiz muretes.
Apenas linhas e espaços livres.

Semeei e plantei lá de tudo.
Alhos e cebolas.
Alfaces e rabanetes.
Feijão verde.
Couves galegas.
Até melancias.

No fim, tudo ficou igual.
Nem eu sabia onde ficara tudo.
Ao calor do sol,
Não passou muito,
Do chão surgia,
Como formigas ,
Amedrontadas,
Uns pontinhos verdes,
Sem grandes diferenças.

E, mais um pouco,
Surgiram as formas nítidas
Do que cada um era.

Digo-vos:
- Como ficou lindo o meu quintal.
Sem barreiras, em campo livre!...

Mafra, 10 de Setembro de 2016
9h9m

JLmg

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Correria louca

Correria louca
Me lanço ao vento em correria louca,
Vou no encalço de mlhas horas passadas.
O tempo as leva inexorável.
Para trás.
Cada presente se tornou passado
Em marcha discreta e leve.

Encanesceu meu corpo.
Minhas energias se corroeram vãs.
Se gastaram nas pedras minhas solas duras.
Cada vez me afasto mais da fonte donde parti.
É pesada a insegurança e incerteza.
Porque minha vontade era ficar aqui para sempre.
Vendo no céu só as nuvens deslizando inquietas.
Mas que adiantam os meus lamentos?
Sou só um relógio de corda parca.
Um dia pára...
Mafra, 9 de Setembro de 2016
11h33m
ouvindo a 5ª sinfonia de Beethoven
Jlmg

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Oração para crentes e não só...

Oração para crentes e não só...
Meu Deus, creio em Vós.
Sois o meu Senhor e o meu Pai.
Sou vosso filho porque assim quisestes.
Estai presente em mim.
Dai-me a paz.
Sem Vós a vida não tem mais fim.
Ajudai-me resolver meus problemas
E resolvei-me os que não sou capaz.
Amen.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Sub-consciente apocalíptico

Sub-consciente apocalíptico...

Vem a noite.
Adormeço.
O sub-consciente se apodera de meu cérebro.

E um mundo apoplético se escancara à minha volta.
É o caos e reino da desordem.
Não ha lei.
Se avolumam as distâncias.
Chegam de toda a parte, hordas de piratas sanguinários.

É o estertor da morte que se aproxima sem defesas.

Tudo se passa na terra calma onde nasci.
Com gente em vultos que me viram a crescer.

Se fosse real,
Mais valeria a morte...

Mafra, 8 de Setembro de 2016
7h50m

Jlmg

Magno mistério

Magnos mistérios

Há tanto ainda por descobrir
Nesta caminhada, aparentemente, sem sentido.
As razões verdadeiras de tanta inclemência
Que a natureza tem por nós.

Num repente, nos deixa nús, a arder no fogo do desespero.
Os nossos bens nos rouba atiçando-lhes o fogo do inferno.

O mar insano, avança voraz e destemido
pelas terras dentro, sem poupar viv'alma,
Tudo sepulta na destruição infame.

Chovem dos céus que até eram azuis,
Vagas de chuva desenfreadas,
Enxurrando os vales e as encostas.


Não há promessas nem clamores,
Por mais inflamados,
Que os sustenham.

Que impotência!
Tamanha maldade!
Grande mistério!...

Mafra, 7 de Setembro de 2016
9h52m

Jlmg




terça-feira, 6 de setembro de 2016

Quando retnem as cordas duma viola

Quando retinem as cordas duma viola...
Como o sol que se abre doce na linha do além.
Como a fonte oculta donde vem esta água pura e cristalina.
Como a brisa fresca que sopra o mar e nos afaga a alma.
Como a praia à tardinha naquela hora calma do mar deitar.

Assim estas cordas vibram nos dedos geniais de Paco.
Entoando sons doirados refulgindo ao sol.
Que suave encanto este repicar sonoro
Quase nos faz chorar.
Ouvindo Paco de Lúcia ( filho duma portuguesa algarvia)
Mafra, 6 de Setembro de 2016
8h49m
Jlmg

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

O não crente

O não crente

Não consigo imaginar
Que haja alguém
Que não creia
Em Algo, transcendente a nós,
Que tudo comanda.
O princípio e fim de tudo.

Já que nós de nosso,
Nada temos nem podemos.
E tudo queremos.
Até sensação de amar
E ser amado.

Que absurda a vida seria,
Se não tivesse um sentido,
Positivo, único e universal.

Preferível nunca tê-la.
Se com a morte certa,
Fosse o termo final e absoluto.

Para mim é claro e imperativo
Que assim seja...

Mafra, 5 de Setembro de 2016
8h23m

Jlmg

domingo, 4 de setembro de 2016

Serenamente...

Serenamente...

Serenamente tudo vai chegando ao fim.
Aqueles momentos duros de ascensão difícil,
Redundaram numa vitória doce.
Aquelas noites de calafrios,
Que o Inverno negro traz,
Como desaguaram num mar de luz.

Foram graves as ameaças
Que a insegurança fez
E a paz levou.

Agora, só lembro tudo,
Como quem sua viagem acaba.
Cá dentro, muito grato
Por tudo ter corrido bem...

ouvindo Diamond em September morn

Mafra, 4 de Setembro de 2016
18h13m

Jlmg


sábado, 3 de setembro de 2016

Porque são diferentes os olhos?

Porque são diferentes os olhos?...

Porque são diferentes os olhos
Se as lágrimas quentes
São iguais?

Cada um tem sua cor e tom.
Mas cada olhar tem seu brilho,
Como sai do coração.

Todos carecem de adormecer
Para sossegar.
Enquanto se acendem dentro
Os da alma que nunca dorme
Mas, de dia, os faz chorar.

Inquietos, sempre atentos,
São luzeiros de chama acesa,
A guiarem nossos passos
E nos dizem quem nos quer bem.

Mafra, 3 de Setembro de 2016
21h08m

ouvindo "Scherazades" de Rimzky Korsakov

Jlmg

Já há pintor

Já há pintor...
Em Setembro quente,
O vinhedo amadurece.
E o pintor se espalha
Pelos cachos verdes.

A garotada atenta
Sabia de cor
Onde aparecia mais cedo.
Que bem sabiam
Aqueles bagos gordos,
Eram os primeiros,
Com sabor divino!
A seguir, seria a vez dos figos.
Tudo era furtivo.
Tudo de graça.
Com sabor a mel.
Mafra, 3 de Setembro de 2016
10h14m
Jlmg

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Lista de Scindler

Lista de Schindler

Bem-aventurados os que foram salvos do Holocausto.
Mantenhamos acesa a chama
Que nos faz lembrar os desventurados.

Choremos o desvario de que foi e é capaz
Esta nossa Humanidade.

Que fase negra foi esta da nossa História.

Não há povo que se julgue incapaz de igual...

Mafra, 2 de Setembro de 2016
19h41m

ouvindo "A lista de Schindler" por Daniel Hope em violino

Jlmg

Os cenários de cada dia

Os cenários de cada dia

Cada dia se monta um cenário novo
Diante de nossos olhos.
Tudo de novo,
Do palco ao fundo e cortinados.

É deslumbrante o céu com nuvens brancas,
Voando leves.
Montanhas de cumes brancos
Escorrendo verde.

E os vales tapados duma poalha nívea.

Tudo num movimento silencioso e lento,
Se vai mudando.

O sol nasce já dominando rei.
Semeando luz.
Tingindo a cores um quadro belo.
Imenso e rico.

Vê-se um rio sussurando ao fundo.
Beijando aldeias e seus campos,
Forjas do pão.

Sobem rebanhos pela encosta alta,
Em declive ao longe.

Dos telhados rubros se evolam golfadas de de fumo em chama.

Pelas barrocas e pelos caminhos,
Cirandam os carros de boi
De fueiros em riste,
Para encher de feno.

Pelos campos há lavradores curvados
E lavradeiras de foice em punho,
Fazendo erva aos montes.

Trinam os sinos a cada hora
Pelas aldeias fora.
Doseando o tempo às mãos cheias.

Dos longes vêm os silvos das fábricas
Chamando obreiros.

Pelas veredas que levam à escola,
Correm meninos de sacola às costas.
Mesmo assim, jogam o pião.

Se abrem janelas, de par em par.
Para que o sol entre
E abençoe os lares.

E o passaredo que não vai à escola,
Gastam seu dia em voos loucos.

Assim, de graça,
Mais um dia passa...

Mafra, 2 de Setembro de 2016
8h52m

ouvindo " Claire de Lune"

Jlmg

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Tinjo-me de negro

Tinjo-me de negro...

Fico invisível.
Tinjo-me de negro
E mergulho na escuridão.

Fico a observar esta magna assistência anónima
Que vai passando atarefada,
Na luta extrema da sobrevivência.
Nenhum ideal.
Não lhe resta nada para viver
Como gostava.

Que engrenagem fosca e estéril
A espreme
Sem deitar nada.
Que sujeição.

Quando chegar o fim,
Se perguntarão:
Afinal, para quê viver?

Mafra, 1 de Setembro de 2016
19h17m

Jlmg

Basta atravessar o mar

Basta atravessar o mar...

Se a praia está ruim,
Com ondas e ventos ferozes,
Basta atravessar o mar
Chegaremos de novo à praia,
Sem ondas e o sol a brilhar.

Porquê teimar em esperar,
Perdendo tempo da vida
Supondo que amanhã irá melhorar.
O dia passado passou e não volta.
Só o presente é que conta
E deve ter cor e calor.

Migram as aves em bando,
Em busca de outras paragens.
Os peixes sobem os rios
Deixando para trás os seus mares.

Vagueiam,
Parecem perdidos os povos,
Com fome de paz e de pão.
Arriscando a vida,
A única riqueza que têm.

Porque parar é morrer
E ficar é morrer devagar...

Mafra, 1 de Setembro de 2016
15h28m

Jlmg