quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

ele vem aí...

Ele vem aí…

Ele vem aí…
À velocidade do sol.
Já passou na Austrália.
Avançou para a China.
Falta-lhe as alturas da Índia.

Depois, a descer, passa aos Urais
E, num saltinho,
Vai palmilhar a Europa,
Mergulhando no mar.

Que será que ele traz?
Viagem astral.
Paquete gigante,
Cargueiro da História…
É sempre uma incógnita.

Pois, saibam os astros, tiranos e reis!
A vida é só uma!…


Este mundo cansado,
Carregado de medo,
Não nasceu para a fome.
Está farto de guerra.
Aposta na paz.
Só quer ser feliz…

Berlim, 31 de Dezembro de 2015
20h9m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes






quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

a estação final...



Derradeira estação…

Na infância, começou a marcha.
Tudo era longe, muito distante.
Tudo era leve e brilhante.
Era a alegria da novidade.
Só crescer para se ser grande.
Só brincar.
Era o que se queria.
No comboio em marcha.
Nem se dava fé…

Tanto apeadeiro bom.
Tanta estação de paz.
Pela encosta acima.
Em deslumbramento,
Perene,
Se iluminava o céu.
Se aprendia doutrina.
Se sucedia a escola.
Era tanto o recreio.
Se alargava a mente.

Veio a disciplina.
O ter de obedecer.
Tanta regra à volta.
Ser independente
Era a sedução constante.
Venha a liberdade.

Só faltavam as asas
Para se poder voar.
Um lugar ao sol.
Erguer um castelo
E o seu próprio reino.
Veio o sofrimento.
De batalha em batalha,
Se esqueceu a vida,
Mais uma vitória.
Mais uma derrota.
Em constante marcha.

Quando se deu por ela,
Tudo era passado.
Tanto sofrimento!
Já se vê o fim…

É madrugada deste derradeiro dia

Berlim, 31 de Dezembro de 2015
6h40m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes


terça-feira, 29 de dezembro de 2015

sofrimento...



Sofrimento…

É na hora certa do sofrimento
Que eu me encontro.
Vejo claro a dimensão exacta
De que não valho.

Tudo me escapa.
Só me resta a esperança
Da sua força.

barco sozinho...



Barco sózinho…

Bailando, sózinho,
Sem vela nem remos,
Um barco, nas águas.
Seu nome  é “estrela do mar.


Gaivota poisada,
Cansada da areia,
Seca e despida,
Na borda da terra,
Cercada de praia.

Violino sem cordas,
Calado e esquecido,
Derramando suas tristezas sobre as ondas.

Criança perdida,
Clamando pela sua mãe.

Casquinha de noz a chorar
Porque perdeu a sua alma…

Berlim, 30 de Dezembro de 2015
7h10m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes


minhas palavras...



Minhas palavras…

Não encomendo as palavras com que escrevo.
Elas me aparecem em casa.
Eu as acolho e alinho,
Segundo o fio do meu pensamento.

Escorre contínuo.
Um rio tão fundo
Que nem eu conheço.

Vem da origem.
Nascente ignota.
Foi descendo…
Descendo…
E engrossando
Com as chuvas da vida.

Nele me banho
E dele eu vivo.
Tal qual um fruto ligado à árvore.

Ouvindo “prelúdio” de Chopin

Berlim, 29 de Dezembro de 2015
17h59m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes

um ano que morre...



Um ano que morre…

Um ano que morre.
Outro que nasce.
Só o amor é que não.

Sempre as mesmas
As estrelas do céu.
A Terra girando,
Dançando em redor,
Ilumina sorrisos
Carregados de cores.

As aves voando,
Escrevem seus cantos
Raiados de sons.
Os bosques risonhos
Se vestiram de verde.
Vieram bailar.

Que lindas ceifeiras,
De saias rodadas.
Levam em molhos
O centeio doirado.

Pelas encostas dos montes,
Pastam alegres,
Bandos de ovelhas,
No meio das urzes.
Lhes oiço os chocalhos,
Parecem tambores.

Ao meio dia,
Se estendem toalhas.
É a hora da ceia.

Ouvindo Plácido Domingo

Berlim, 29 de Dezembro de 2015
10h57m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes