quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Te adoro...

Te adoro como és...

Mesmo que te transformasses numa pedra, serias preciosa.
Te guardaria num tesouro.
O poria no altar.
E, nas horas negras, te adoraria com saudade.
Te incensaria de perfumes.
Te exporia ao sol, no altar das divindades.

Largaria ao vento minhas agruras.
Serias o meu refúgio, quando chegasse a hora da solidão.

Irias comigo quando viesse a hora da eternidade.

Mafra, 28 de Fevereiro de 2019
12h32m
Jlmg


Rica prenda

Rica prenda
Uma rica prenda me deu a Natureza pelos meus sessenta.
Dum momento para o outro comecei a escrever, desenvoltamente, prosa e verso.
Como nunca. 
Antes, era tudo muito reflectido.
Tirado a ferros.
Um comboio de Cascais parado em Algés.
Foi o mote.
Peguei na pena. 
e saíu fluente.
Até ao fim. 
Emocionou-me.
Atónito.
Que se estava a passar?
Foi em dois mil.
Nunca mais parei.
Até hoje...
Bar Fradinho em Mafra, 28 de Fevereiro de 2019
10h30m
Jlmg

Fradinho de Mafra

Fradinho de Mafra

Hoje, deu-me guarida o fradinho de Mafra.
Um bar sorridente à beira do Convento.
Duas vidraças largas o iluminam.
Passam passos de gente a pé.
Carros irrequietos descem constantes pela rua.
Uma esplanada ao ar livre, aprazível, sobre a praça real o estendem.
Tenho a sensação de estar ao pé do Palácio Versalhes. Arredores de Paris.

Estão desgrenhadas as tílias velhas, de ramos altos que tudo ensombram no Verão.

As mesmas casas de quando servi a pátria, há boas dezenas de anos, na militância do convento feito quartel.

O bar "Sete Sóis" ali à frente onde eu estava quando rebentou a notícia do assassínio de Kenedy.

Tantas vezes bati minhas botas todo-o-terreno, na rua em frente,
Quando seguíamos para o calcorrear nocturno por esses terrenos ermos das redondezas.
Donde regressávamos de madrugada.
Enquanto as esplanadas borbotavam de gente livre saboreando a noite, com cervejas e cafés.

Foi o despontar da juventude que o sortilégio da vida, ignóbilmente, resguardou à minha geração...

Bar Fradinho em Mafra, 28 de Fevereiro de 2019
8h47m
Jlmg




quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Não sou marinheiro...

Não sou marinheiro

Não sou marinheiro mas vivo do mar.
Me cura seu sal.
Me adormece acordado.
Faz-me feliz.
Me põe a sonhar.

Não sou nada sem ele.
Me reviro de dor quando não o oiço bramir.
Companheiro de sempre.
Desde menino a chorar.
Minha Mãe me levava,
ao romper da manhã.

Dois mergulhos gelados
pelas mãos do banheiro.
Garantiam-me rijo
por um ano a viver.

Póvoa de Varzim, que saudades eu tenho.
Do Agosto-Verão, à beira do mar.

Aqueles rochedos medonhos,
revestidos de conchas,
Me guardam segredos,
nas vazias marés.
Mexilhões com fartura.
Nunca mais acabar.
Jantaradas de graça.
Como sabiam a sal.

Nunca fui marinheiro.
Como eu gosto do mar!...

De bico no chão

De bico no chão

Pareço um pião, rombudo,
às voltas, de bico no chão.
Ando e cirando.
Velas ao vento.
Moinho parado no alto do monte.

Não adianta clamar.
A chuva ou vem ou não vem.
Por mais que se reze.
A terra está seca.
Uma sede maluca.
Arde e não seca.

Se não fosse o passado
A dizer como é,
Morria de susto.

Às duas por três,
Rebentam os céus,
Se desfazem em água,
O chão floresce
E a vida retorna.

dia cinzento

Bar "Caracol", arredores de Mafra,
27 de Fevereiro de 2019
9h20m
Jlmg

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Doce ociosidade

Doce e alegre ociosidade

Doce e alegre ociosidade das manhãs num café acabado de abrir.
Chegam pessoas ensonadas.
Sentam à sua mesa.

Um galão quentinho.
Ou uma bica.
Um bolo de arroz.
Um regalo.
Pouco dinheiro.

O jornal do dia corre de mesa em mesa.
Quase sempre as mesmas caras às mesmas horas.

O bancário. Muito aprumado.
Como um doutor.
A bica à pressa.
O balcão não espera.

A oculista. Tanto verniz e baton nos beiços.
Cruzando as pernas.
P'ra inglês ver?

A aposentada, de cabelos brancos.
Trabalhou já tanto.
Tanta patroa.
Bem merece a pausa.

O doutor do centro.
Muito acarinhado.
Sabe de todos.
Todas as mesas o querem.

E ao balcão, o dono sorri.
A campainha toca.
A nota fica.
É o que importa.

No ar, o mesmo disco.
Mais uma volta ao mundo.

E eu. Um afortunado.
Com a internet à frente.
Linda invenção,
Com tudo à mão.

Bar Castelão, 26 de Fevereiro de 2019
10h7m
Jlmg





Tristezas e alegrias

Tristezas e alegrias

Fazem parte de sua história, tristezas e alegrias.
Lisboa nasceu dum feliz encontro e ousadia.
Seduzido pela beleza, assentou arraiais aqui Ulisses, há muitos séculos.

Misto de saudade, audácia e de sonho.
Deixou o Mediterrâneo tacanho e lançou-se ao mundo.
Com vontade de regressar. Prometera.

Chegado ao oceano imenso, virou para o norte.
Sempre rente à costa.
Logrou um rio largo de que não sabia o nome.
Avançou nele.
Duas margens sumptuosas.
Quando o viu alargar demais, receou ir dar ao mar.
Atracou e subiu a colina.
Que haveria de se chamar a Mouraria.

E, desarmado, ali se instalou com a comitiva.
Tão afáveis as gentes que vieram saudá-los que nunca mais tiveram coragem de se ir embora.
Excepto, Ulisses.
Para cumprir o juramento de amor à sua esposa. Penélope.
Assim nasceu Lisboa que deu ao rio o lido nome que ainda mantém.

Ouvindo Carlos Paredes

Bar Castelão em Mafra, 26 de Fevereiro de 2019
8h40m
Jlmg


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Sob os beirais


Sob os beirais...

Sob os beirais dormem as andorinhas de Lisboa.
Chegaram cansadas. Uma viagem de longe.
Cheias de saudade.
Aqui perduram toda a Primavera.
Fazem os ninhos e neles nascem novos seres.
Lei da tradição e natureza.

Alegram as tardes e manhãs, quando o sol reina ao alto do céu azul.
Fazem bandos. Sobrevoam os telhados, em formações de orquestra.
Graciosas. Semeiam alegria sobre os olhos cansados de quem as vê.
Simpáticas companheiras. Já fazem parte da cidade.
Quando tardam, é só porque apanharam tempestade no caminho.

Ouvindo Carlos Paredes

Bar "O caracol" arredores de Mafra, 25 de Fevereiro de 2019
Dia de sol
JLmg

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Nem guetos nem ilhas

Nem guetos nem ilhas

Não há guetos nem ilhas nos bairros de Lisboa.
Há casas, pobres e palácios, com o traço digno da justiça.
Cada um vai aonde pode.
A lei é a liberdade, com o respeito do que não é seu.
A felicidade dá-se e cresce sem opulência.
Tem dimensões divinas.
Na proporção inversa do que é grande.

Dum punhado de casas e dum castelo, com o tempo,
Lisboa tornou-se a capital dum império.

Bar "setemomentos" em Mafra,
24 de Fevereiro de 2019
9h2m
Jlmg

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Poesia com pedras

Poesia com pedras

Contemplo uma catedral e leio boquiaberto, um poema épico, de arcos e arquivoltas.
Abóbodas e colunas gigantescas
Implantadas sobre naves.
Altares doirados. Sumptuosos.
Púlpitos altos, enroscados como serpentes.
Escadórios e balaustradas, resistentes.
Pia baptismal, para o rei e para a plebe.
Duas torres imponentes onde os sinos cantam alto as suas loas.
E, ao centro, um jardim de verde, por onde os monges solitários meditavam as suas rezas.

Mafra, 23 de Fevereiro de 2019
11h20m
Jlmg

Tardes de Lisboa

Tardes de Lisboa

Fervilhando de gente, nas praças e nas  ruas.
Calmas passeatas, vendo as vitrinas e armazéns.
Esplanadas coloridas, onde servem os cafés e se lêem os jornais.
Alamedas sombreadas com arvoredo secular.
Corridas desenfreadas de táxis para o aeroporto.
Autocarros e eléctricos pendulares que visitam Lisboa inteira.
Doces banhos de maresia nas bordas do rio Tejo.
Que encanto ir de comboio até Cascais sempre à beira rio.
Tantos miradouros que nos dão o céu na terra.
E, lá no alto, de atalaia, o Castelo altaneiro, afugentando de Lisboa as feras e os piratas.

Ouvindo Carlos Paredes
Bar Castelão em Mafra, 23 de Fevereiro de 2019
9h5m
JLmg


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Desilusões

Desilusões

Tantas ilusões vivi ao longo da vida.
Uma a uma se foram desfazendo.
Deixando rastos de sofrimento.

Crenças que me foram presentes,
mal alicerçadas.
Umas, vindas de fora.
Outras, de minha construção.
Depressa desmoronando, deixando-me no vazio.

Acalentei sonhos que nunca realizei.
Falta de meios.
Inalcançáveis.

Cometi erros.
Só dei por eles depois.

Agora, sei:
Foi com elas que amadureci e, por via delas sou como sou...

Mafra, 22 de Fevereiro de 2019
20h15m
Jlmg

Somos iguais

Parecemos diferentes

Parecemos diferentes mas somos iguais.
Os mesmos medos.
Os mesmos anseios.
O amor pela vida.
Receio da morte.

Nos custa sofrer.
Nos alegra a saúde.
Damos tudo por ela.
Não gostamos de perder.
Vingança à derrota.

Esperança na sorte.
Navegamos na fé.
Olhamos o alto.
Fugimos do chão.

Por mais voltas que dermos,
Buscamos um rumo,
No sul ou no norte.

Se fingem diferentes,
Despindo ou vestindo.
Mostrando, escondendo.
No fundo, iguais.

Café Setemomentos em Mafra, 22 de Fevereiro de 2019
9h24m
Jlmg


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Suaves manhãs


Suaves manhãs

Suaves manhãs de Lisboa.
Quando desperta a vida em jorros de luz.
Se abrem as janelas sorvendo a brisa.
Se regam as flores em cada varanda.
Esvoaçam em bandos as andorinhas e pombas.

Correm nas ruas os carros. Levam as gentes para o trabalho.
Em passadas ligeiras, batem os tacões das damas apressadas.
A caminho do seu ofício.

Autocarros e eléctricos, abarrotados de gente e penduras nos lados, abastecem as escolas e as praças da gente que se renova.

Abrem-se as portadas das igrejas da cristandade religiosa e praticante.
Se ouvem ardinas e as floristas com açafates, desejosos por esgotarem depressa seus produtos.

É a hora em que, inexorável, a sequência do dia-a-dia se repete em todo o mundo.

Bar Castelão, 20 de Fevereiro de 2019,
9h13m
Jlmg

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Despedida de Lisboa

Despedida de Lisboa

Caía a tarde. Cansada, voltava a casa a gente laboriosa.
Os barcos cacilheiros, ronceiros como sempre, iam e vinham sem parar.
As gaivotas enervadas esvoaçavam sobre o rio.

O cais de Alcântara está cheio.
Havia lágrimas. Corações em dor.
Esvoaçavam lenços.

E o Vapor já fumegava há muito.
De repente, um turbilhão de espuma, à ré, arrancava a mole, com toda a força.
A despegando de terra, sem dor nem ror.

Na balaustrada havia gestos, por dentro, de dor, ensanguentados.
Era a rapaziada em multidão que partia, uns para sempre e muitos não.

Foram facadas rasgadas no peito da gente boa e crédula.
Até a vida ofertando no altar da Pátria...

Volvidas décadas, como mudar dos ventos.
De que valeu? Ficou tudo bem pior.

Ouvindo Carlos Paredes

Mafra, Café Castelão, 18 de Fevereiro de 2019
9h44m
Jlmg

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Memórias de Lisboa

Memórias de Lisboa

Infinitas as memórias de Lisboa.
Vêm da antiguidade.
Quando a Terra dava os primeiros passos.
Quando os povos, na ânsia do melhor,
percorriam a pé e a mar,
o mundo inteiro.

Cansados do emaranhado da península helénica,
atravessaram o Mediterrâneo, de lés a lés,
e vieram dar à barra do rio Tejo.

Resolveram entrar.
Quando viram que o rio já não era rio,
tiveram medo de se perder, como na Grécia.
Aportaram onde agora é Lisboa.

Subiram a encosta e viram como eram belas as suas vistas e muito afáveis as suas gentes.
Por aqui ficaram e criaram raízes.
Corre nas veias o seu sangue.
É deles este sentimento, alegre e triste,
que hoje chamam saudade.

Ouvindo Carlos Paredes

Mafra, Café Castelão, 17 de Fevereiro de 2019
9h16m
Jlmg


sábado, 16 de fevereiro de 2019

De Berlim a Lisboa


De Berlim a Lisboa

De Berlim a Lisboa pelo caminho mais curto.
Vim sobre as núvens, contemplando a terra, serras e montanhas.
Estradas e veredas.
Na real dimensão.

Vendo o mar imenso e seus recortes junto à terra.
Vencendo a distância em três horas e não três dias.

Vim para o sol e para a luz azul.
Matar saudades deste torrão donde nasci.
Ouvir falar e perceber.
Saborear seus gostos.
Sentir o perfume da Primavera que se anuncia, em combustão latente.

Vai ser um repente.
Eu sei. Mas é preciso.
O reclamam com força os de cá de dentro...

Mafra, Café Castelão, 16 de Fevereiro de 2019
8h55m
Jlmg

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Dia dos namorados

Dia dos namorados

Espalhados nos bancos dos jardins da cidade, se abraçam e beijam, encantados de amor.
Se encontraram há pouco, ao fim duma busca sem par, duas metades em um,
que querem sonhar.

Respiram esperança.
Se juram amar, nas tempestades da vida, haja o que houver.

Homem, mulher, sonhando a par.
Como será o menino ou menina, deles
há-de nascer?...

Dia dos namorados
Berlim, 14 de Fevereiro de 2019
17h27m
Jlmg

Verão de Lisboa

Verão de Lisboa

Suaves tardes de Verão, ao pé do rio Tejo.
Regadas da brisa fresca que o mar lhe sopra sem parar.
Esplanadas ensolaradas e o doce abrigo dos chapéus.
Ver os barcos baloiçando à cadência das marés.
E as gaivotas saciadas, especadas sobre as pedras, esperando a hora de pescar.
Sentir as horas em lume brando e não dar fé.
E, nos bancos à sombra, namoram calados, com sonhos de amor.

Berlim, 14 de Fevereiro de 2019
Jlmg




Cada qual na sua órbita

Cada qual na sua órbita
Somos, na Terra, corredores de fundo.
Cada qual na sua órbita.
À velocidade do seu querer.
À volta do mesmo centro.
Caminhamos para o mesmo fim.
Comungamos os mesmos anseios.
Por mais roupagens em que os ocultemos.
Amar e ser amados.
Atravessamos os mesmos riscos.
Umas vezes, vencemos.
Outras, perdemos.
Nossa luta.
É o normal.
O que importa é nunca perder a esperança.
Não ferir ninguém
E dar a mão a quem precise.
Assim, chegaremos ao fim e venceremos.
Berlim, 13 de Fevereiro de 2019
15h52m
Jlmg

Subterrâneo da consciência

Subterrâneo da consciência
Alfobre permanente e inextinguível. 
É uma peça de origem.
Dele germinam insondáveis, os arroubos místicos e os desejos mais insaciáveis de perfeição e de justiça.
Não fossem o peso e a atracção das nossas tendências, de origem enigmática,
seriam rectos os nossos passos.
Seria clara e tranquila nossa existência.
Como seria saudável o inevitável convívio do dia a dia…
Berlim, 12 de Fevereiro de 2019
9h29m
Jlmg

O Cristo da minha igreja

O Cristo da minha Igreja
Igreja onde fui baptizado.
Há dezenas de anos.
Onde fui crescendo ao colo de minha mãe.
E aprendi a Ave-Maria.
Num altar de lado, havia uma cruz muito alta.
Em madeira grossa.
Com Cristo ensanguentado.
Rosto de dor.
Olhar de súplica.
Abandonado por todos.
Até seu Pai.
E, perguntei:
- Porque foi?
- Para nos salvar…
- Salvar de quem?
- Quando cresceres, irás saber.
Nunca mais esqueci.
Por onde andei.
Corri meio mundo.
Presente em mim.
Me acompanhou.
O lembro bem.
Nos salvou da morte…
Berlim, 12 de Fevereiro de 2019
16h39m
Jlmg

Chuvas de Lisboa

Chuvas de Lisboa
Escorrem pelas ruas as águas de Inverno.
Saíram do armário as gabardinas e, sorumbáticos, caminham pelos passeios os guarda-chuvas.
Adeus aos sapatos de tacão alto.
É a altura das solas espessas e dos cachecóis.
Chegou, de vez, o frio e a chuva grossa.
Desertas as esplanadas, ficam a abarrotar de gente os cafés, saboreando suas bicas.
Pendem molhadas as cortinas de plástico sobre os escaparates de revistas e jornais.
Pelos jardins esperam, sozinhos, todos os bancos, pelas horas de sombra seca.
Escorrem cheios dos telhados os beirais e algerozes
E, desvairadas, fazem rios as valetas.
Inconformados com tanta água, só se ouvem lamentos e suspiros pelo chegar da Primavera.
Ouvindo Cantiga do Maio - Carlos Paredes
Berlim, 13 de Fevereiro de 2019
9h9m
Jlmg

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

As Igrejas de Lisboa

As Igrejas de Lisboa

Abundam. Pombalinas.
Sumptuosas.
Fachadas majestáticas.
Torres altaneiras.
Muitos arcos e rosáceas.
Vitrais às cores.

Uma Lisboa religiosa.
Com sentido certo.
Erguida para as alturas.
Sem regatear os custos.

Portas abertas.
Entra quem quer.
Se sai melhor.
A solução está lá.
Dá gosto ver.
Da multidão,
Em recolhimento,
Saem desvios.

E, aos Domingos,
Quem passa na rua,
Sente o incenso.
Lisboa ora.

Por isso, alegre.
Ela vai bem.
Chora e ri.
É-lhe abundante a luz do sol...

Berlim, 11 de Fevereiro de 2019
10h2m
Jlmg


Para quê lamentar?...

Para quê lamentar?...

Quando a sorte se ausenta, não há nada a fazer.
Esperar que regresse.
O tempo é ondulatório.
Se sobe e se desce.
Não rectilíneo.

O bom e o mal vêm à vez.
É a nossa condição.
Chorar e sorrir. Duas faces.
O mesmo rosto.

A noite e o dia.
O claro e o escuro.

A falta que faz,
O que vale
Se vê bem quando não há.
O que é demais perde o valor.

Quando se é novo não dá gosto viver.
O gosto da vida só vem quando ela está para acabar.

 Beautiful Soundtracks | Relaxing Piano - Amélie

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Doloroso...

É doloroso...

É doloroso ver derrubar uma árvore imponente que não fez mal a ninguém.
Cravam-lhe a moto-serra na base e ela se despenha irreversível, desfeita no chão.
Nunca mais terá seus ramos baloiçantes, resistindo ao vento e tempestade.

Como um cadáver inocente vê seu fim.
Para quê crescer tanto.
Uma vida pujante.
Um tronco tão possante.
De repente, reduzido à pobreza da lenha pobre que vai arder em chama.
Ó terrível drama da existência.
Nem as árvores lhe escapam...

Ouvindo Schindler's List - John Williams (Violin & Piano)

Palácio de Cristal

O Palácio de Cristal
Vasto espaço romântico, de sombra e de verdura, no seio da cidade, voltado para o Douro.
Árvores sumptuosas o ensombram de mistério.
Um lago verde e extenso onde abundam cisnes brancos.
Sinuosos caminhos de terra chã recomendam seus destinos.
Tantos bancos repousantes onde o sonho se evola.
Espaço onde o tempo esquece todas as agruras.
Nele cirandei e meditei, tantas vezes na minha folga das quartas-feiras.
Quando meu ideal eram as alturas inacessíveis duma vida consagrada.
Berlim, 10 de Fevereiro de 2019
19h4m
Jlmg

As portas de Lisboa

As portas de Lisboa

Palácio encantado, na margem do Tejo,
Voltado para o sul,
Tem suas portas sempre abertas
onde passa todo o mundo.

Sua chave é a amizade fraterna de quem gosta de receber.
Serve à mesa o que de melhor tem a quem a visita.

É grátis o seu sol e céu azul.
Seu falar é a liberdade.
Tem a voz da brisa-mar e seu tom de alfacinha.
Um livro doirado de memórias que a história lhe escreveu.
São lendárias suas lembranças.
As festeja solenemente em cada ano como modo de não esquecer.

Ouvindo Fantasia Verdes Anos (Carlos Paredes/Pedro Caldeira Cabral)

Berlim, 10 de Fevereiro de 2019
9h30m
Jlmg

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Escadórios de granito

Escadórios de granito

Amplos escadórios de granito que nos elevam cá de baixo ao santuário.
Cada degrau é um convite e um passo, em linha recta, para as alturas.

O derradeiro nos reserva uma surpresa.
Nos deslumbra.
Poder alcançar ao longe e em redor.
Ver a real dimensão pequena das coisas que nos cercam e nos afogam.
Como a um condor,
Se dá libertação do espírito,
Pairando alto.

E, depois, vem a consagração ao sagrado que o templo cultua.
É outro mundo.

Quem, depois o desce, não volta o mesmo...

Berlim, 9 de Fevereiro de 2019
20h46m
Jlmg



Lapinhos de carvão

Lapinhos de carvão

Não jogues fora o lápis pequenino de carvão.
Afinal se consumiu para te acompanhar na arte de escrever.
Linha longa ele escreveu em rabiscos sinuosos.
Com vontade de dizer o que te ia na alma.
Desde o local e a data que puseste na primeira linha do teu caderno.
Até ao teu nome que ele respeitou.
O seu a seu dono.
E nada cobrou.

Sofreu golpes de navalha fina.
Para riscar melhor.
Se despojou de ser.
Como o sol que se vai deitar.

Agora, quase chora da pequenês.
Só não espera que o deites fora.

Berlim, 9 de Fevereiro de 2019
20h13m
Jlmg

Trindades de Lisboa

Trindades de Lisboa

Três vezes ao dia, soam as trindades nos sinos de Lisboa.
São Ave-Marias  das suas gentes pelas almas do passado.
Pedidos de clemência e muita paz à Divindade.
Assim lhes pede a tradição de séculos de cristandade.

Enquanto, laboriosa a sua gente se devota ao trabalho.
São hinos de louvor a Deus pelas belezas que ela tem.
Um rio manso e largo que a afaga.
Um mar imenso que a abraça e encanta.
Um céu azul que o sol abundante ilumina todo o ano.
Um ar tão leve e puro que as almas vivifica, apesar das tremendas combustões que o incendeiam.

Só peço a Deus nunca a soberba cega da modernidade as consiga fazer calar...

ouvindo Cantar Paredes_Mariana Abrunheiro, Pedro Carneiro e Ruben Alves

Berlim, 9 de Fevereiro de 2019
9h4m
Jlmg






quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Terraços de Lisboa

Terraços de Lisboa

Espaços sobranceiros em pontos estratégicos de Lisboa.
Onde é vasta a extensão,
se mira tudo ao fundo e alcança o mar.

No Castelo, na Graça e tantos mais.

Em que a alma, serena e leve, se eleva aos céus e volta à terra.
Se brinda à vida em liberdade.
E o tempo corre lento, sem magoar.

Onde, pela tardinha,
se mira o sol, a mergulhar no mar, cansado de mais um dia.

Onde os poetas, de pena em chama, talham versos, embriagados.
E as sereias, pela madrugada,
em doce encanto,
se banqueteiam de amor e de luar.

Por eles passo em via-sacra, enquanto me brilhar, de graça, a luz da vida.

Berlim, 8 de Fevereiro de 2019
8h47m
Jlmg






Porto, cidade do norte

O Porto do Norte

O Porto de eléctricos e troleys, acorrentados ao chão, trespassando frenéticos, iam da Ponte à Foz, pela borda do rio e à Senhora da Hora.

Boavista rotunda e Senhora da Pedra.
Matosinhos além. Ermesinde e Valongo.
Muralhas de gente que iam e vinham.
Como se fossem da casa.

Pilar imponente. Sentinela da ponte.
Gaia encantada, mirando o Porto.
Alegre e contente.
Sabia de cor o que se passava lá dentro.
Saudava os comboios.
Do norte e do sul.

Regada de vinho com barcos rabelos.
Repleta de adegas, fornalhas de fogo.
Aquecem quem vem e quem sai.

Acorda bem cedo com os toques de sino.
Se despede do sol quando mergulha no mar.
Porto e Gaia, cidades vizinhas.
Às vezes irmãs.

Berlim, 7 de Fevereiro de 2019
9h44m
Jlmg


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Nevoeiro em Lisboa

Nevoeiro em Lisboa

Uma manta espessa cobre o rosto de Lisboa.
O sol adormeceu e se esqueceu de nascer.
As gaivotas apardaladas não enxergam um metro à sua frente.

Roncam as sirenes. Ninguém atravessa o rio.
As ruas entupidas fecham suas portas ao movimento.
Uma paralisia assustadora paira sobre as colinas.
Ninguém sabe se o Castelo ainda lá está.
Os lampiões das avenidas parecem pirilampos.
Os eléctricos colaram-se aos trilhos com medo de avançar.

Já há quem suplique ao Criador que o sol apareça e ponha fim a este inferno de apagão.

Ouvindo Madredeus - O Pastor

Berlim, 7 de Fevereiro de 2019
8h28m
Jlmg

O Porto e o Douro

Pintado às cores, o Porto e o Douro,
Exposto ao sol,
Sorriem a quem chega ou passa na ponte.
Luzem barcaças carregadas de vinho.
Sobem o rio rumo ao Pejão,
Barcos sem velas,
Buscando carvão.

Cantam varinas na ribeira das naus.
Apregoam sardinha,
Fresquinha do mar.
Sobre as bancadas molhadas,
Zumbem as vespas.

As esplanadas à fresca,
Rebentam de cheias e servem café.

Por uma moeda,
Os putos traquinas
Mergulham no rio,
Arriscando a vida.

Os barcos rabelos,
Amarrados ao cais,
Abanam os mastros,
Querendo nadar.

De vestes à toa e óculos de sol,
Palmilham as ruas,
Buscando lembranças,
Os turistas de férias.

Empregados de mesa,
De bandeja na mão,
Entram e saem,
Sem mãos a medir,
Servem as mesas,
Cerveja e café.

Que horas tão doces,
À beira do rio.
Na Ribeira do Porto,
Tão perto do mar.

Berlim, 6 de Fevereiro de 2019
9h54m
Jlmg


terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Galhardia de Lisboa

Galhardia de Lisboa

Nobre e bem vestida, desce a rua, pelas manhãs, abrindo as portas ao comércio.
Cantando fado como Amália, a Severa e Marceneiro.
Desfiando preces ao Altíssimo, boa filha, grata e muito devota.

Poisa terna seu olhar sobre o Tejo meigo.
Trepa ao Castelo, verde, ufana de seu passado glorioso.

Desgrenhada, se penteia e pinta ao sol, como dama palaciana e muito honrada.
Avenida acima, sobe à Estrela, confessa seus pecados e reza uma Ave-Maria pelas almas penadas da sua gente.

E, pela tardinha, ao sol pôr, vai aos campanários entoar Trindades pelos seus filhos, desejando-lhes boa-noite...

Ouvindo guitarras - Dead Combo - Esse Olhar Que Era Só Teu

Berlim, 6 de Fevereiro de 2019
7h31m
Jlmg

Galhardia de Lisboa

Galhardia de Lisboa

Nobre e bem vestida, desce a rua, pelas manhãs, abrindo as portas ao comércio.
Cantando fado como Amália, a Severa e Marceneiro.
Desfiando preces ao Altíssimo, boa filha, grata e muito devota.

Poisa terna seu olhar sobre o Tejo meigo.
Trepa ao Castelo, verde, ufana de seu passado glorioso.

Desgrenhada, se penteia e pinta ao sol, como dama palaciana e muito honrada.
Avenida acima, sobe à Estrela, confessa seus pecados e reza uma Ave-Maria pelas almas penadas da sua gente.

E, pela tardinha, ao sol pôr, vai aos campanários entoar Trindades pelos seus filhos, desejando-lhes boa-noite...

Ouvindo guitarras - Dead Combo - Esse Olhar Que Era Só Teu

Berlim, 6 de Fevereiro de 2019
7h31m
Jlmg

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Passear por Lisboa


Privilégio quase divino poder deambular por Lisboa em doce liberdade.
Haurir a frescura da sua brisa, agridoce,
Que lhe vem do mar pelo Tejo acima.
Saborear o azul do céu, como não se vê noutro lugar.
Passear na Baixa, desde o Rossio até ao rio.
Aquelas ruas a fervilharem de restaurantes onde o bacalhau com grão é rei.
Trepar o elevador do Chiado e alcançar ao longe o desfraldar do Alentejo.
Mirar o Castelo no seu esplendor, um açafate carregado de verdura.
Vaguear sobre o casario de telha rubra, como se fosse um condor em majestade.
Poisar na Sé da mouraria e agradecer a Deus por tanta beleza.
Tomar um ronceiro cacilheiro e poder mirar Lisboa da outra banda, como é bela, de Belém até à Gare do Oriente.

Ouvindo Concierto de Aranjuez - II. Adagio - Pablo Sáinz Villegas – LIVE
Berlim, 5 de Fevereiro de 2019
6h5m
Jlmg

Almejo na vida

Almejo na vida...

Almejo na vida enxergar a beleza e sabê-la contar.
Em palavras singelas com todas as cores.
Ideias solenes, estrelas de luz.
Horizonte com sol.
Nascendo e morrendo, no seio do mar.

Queria deixar uma herança tão rica,
fosse repasto.
Fosse alimento gostoso.
No rigor dos invernos,
Nas secas que houver.

Com sabedoria,
abrir os caminhos.
Semear a harmonia
e morrer a sonhar.

Quem me dera,
um dia, no Além,
onde estiver,
saber que na terra,
há alguém que fica mais rico
quando me lê.

Ouvindo o programa brasileiro -  Prelúdio - 2ª Eliminatória - 20/10/2013

Bar dos Motocas, 4 de Fevereiro de 2019
17h1m
Jlmg









Gravilha pelo chão

Gravilha pelo chão


Um homem sózinho, ignoro-lhe o nome,
de balde na mão, semeia gravilha pró meio do chão, tingido de gelo.
Trabalho sem preço a bem das pessoas.
Sorrio para ele.
Agradece, sorrindo.
Chegam mais carros.
Saem velhotes, de bengala na mão.
Todo o respeito é pouco.
Parque dum super.
Em dia de sol.
Vencido da neve.
As narinas fumegam.
Em passadas seguras,
avançam os pés.
Fico a vê-lo,
semeando o bem...
Ouvindo Comptine d'Un Autre Été - Yann Tiersen (Violin and Piano)
Berlim, no Edecka, 4 de Fevereiro de 2019
11h41m
Jlmg

domingo, 3 de fevereiro de 2019

Entardecer de Lisboa

Entardecer de Lisboa

Subo ao Castelo para o entardecer de Lisboa.
Pairo como um condor sobre os céus de fogo a esmaecer que cobrem o casario para o descanso da madrugada.

O Tejo é uma avenida larga e refulgente onde vagueiam os cacilheiros, lado a lado e repoisam quedas as embarcações.
Ao fundo, Almada e a colina amuralhada, de costa a pique e o Cristo-Rei a abençoá-la e a ponte em ferro rubro.

De Cacilhas até Montijo ao longe, faíscam as janelas e se alcandoram ao alto, as rubras chaminés das fábricas.
Rentinha às águas, uma ponte se espalha por muitos kilómetros, dum lado ao outro, a perder de vista.

Chega-me, desde o mar distante, um halo a brisa verde que me consola.

A pouco e pouco, vão desmaiando as cores de aguarela da cidade e uma manta leve de silêncio a prepara para o sossego da madrugada.

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 4 de Fevereiro de 2019
8h22m
Jlmg




Buscando as saudades

Buscando as saudades
Vagueio triste pelas ruas de Lisboa, matando as saudades.
Que secura. Que deserto.
Até as fontes perenes que lá havia.
Estão vazios os bancos e os lagos dos jardins.
Não há pombas nem andorinhas.
Cresceram de cimento os prédios em altura.
Rebentam de serviços pelas costuras.
O povo engravatado entra e já não sai.
Vai à cave. Come uma sanduíche a correr e volta no elevador.
Ao fim do dia, desce à cave a buscar seu carro e volta a casa pela noitinha.
Giram táxis apressados a caminho do aeroporto.
Em matilhas andam carros fumarentos pelas ruas.
Zarparam para os arredores, enchendo os magastores, as lojas de comércio.
O ar é quente. O céu azul.
Pelos passeios e pelos largos, apenas se vêm desgarrados, embriagados de ilusões, os magotes de turistas.
Onde aquelas horas leves de lazer.
O convívio descuidado das pessoas, 
tagarelando pelas esplanadas ou lendo as últimas dos jornais?...
Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 3 de Fevereiro de 2019
9h25m
Jlmg

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Será desta, afinal?

Será desta, afinal?...


Uma noite inteira a batalhar.
Quis lembrar-me dum nome.
Esteve bem presente em mim.
Outrora.
Quanto mais o procurava mais ele fugia.

Adormeci desfalecido.
Formou-se um sonho no céu.
Um nome se desfraldou, como uma bandeira ao vento.
Sorria luzente.
Li-o. Era ele. O tal foragido.
Renitente à minha vontade.
Pediu-me para não dizer a ninguém...
Vou cumprir.
Ouvindo Comptine d'Un Autre Été- Die fabelhafte Welt der Amélie Piano
Berlim, 2 de Fevereiro de 2019
8h41m
Jlmg