segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Despedida de Lisboa

Despedida de Lisboa

Caía a tarde. Cansada, voltava a casa a gente laboriosa.
Os barcos cacilheiros, ronceiros como sempre, iam e vinham sem parar.
As gaivotas enervadas esvoaçavam sobre o rio.

O cais de Alcântara está cheio.
Havia lágrimas. Corações em dor.
Esvoaçavam lenços.

E o Vapor já fumegava há muito.
De repente, um turbilhão de espuma, à ré, arrancava a mole, com toda a força.
A despegando de terra, sem dor nem ror.

Na balaustrada havia gestos, por dentro, de dor, ensanguentados.
Era a rapaziada em multidão que partia, uns para sempre e muitos não.

Foram facadas rasgadas no peito da gente boa e crédula.
Até a vida ofertando no altar da Pátria...

Volvidas décadas, como mudar dos ventos.
De que valeu? Ficou tudo bem pior.

Ouvindo Carlos Paredes

Mafra, Café Castelão, 18 de Fevereiro de 2019
9h44m
Jlmg

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