segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Mandarim das larvas

Mandarim das larvas


No reino das borboletas,
o Mandarim-Geral
fez constar e determinou:

- No dia Xis,
Magna assembleia das larvas.
Presença obrigatória.

Ordem de trabalhos:
Uma decisão suprema.
A tomar na hora.

Chegou o dia.
De todos os cantos,
assomou à sede,
num cortejo lento e infindo,
a totalidade das larvas
de borboletas que havia no mundo.

Se encheu a sala.
Se encerraram as portas.

Na hora exacta,
subiu ao palco,
todo imponente,
o Mandarim.

Soaram palmas.

Tomou a palavra.

- Minhas senhoras!

Chegou a hora final
De decidir quem somos.

De pequeninos ovos,
nascidos há pouco,
sem sermos ouvidos,
viramos larvas,
uns feios vermes.

Não sei por que artes,
mui de repente,
nos vemos belas,
com lindas asas,
quais flores,
esvoaçando ao vento.

Que lindas cores!
Fadas-rainhas.

Eis senão quando,
ao fim dum dia,
sem darmos conta,
Ó ignomínia.
a vida acaba!...

A nós compete
decidir que queremos.

- Se ganhar o contra,
Nem larvas seremos.
Morreremos ovos.

Se não...

Fez-se silêncio.

- Alguém quer falar?

Trémula,
Uma vozita ao fundo, disse:

- Mais vale borboleta às cores,
Por um só dia
Que larva informe por toda a vida!

Votação.

Quem vota contra?
Se ergueu em peso a assembleia.

Naquele momento exacto,
Se abriram as portas
E se toldaram os céus de borboletas...

Tapada de Mafra, 15 de Agosto de 2016
19h32m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes












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