os meus recortes...
tenho uma gaveta cheia de recortes.
fui-os guardando,
desde a infância.
dos jornais diários
da oficina.
uns lembram a guerra
da Alemanha nazi contra a Europa.
grandes batalhas.
invasão polaca.
ocupação de Paris.
subjugação de Itália.
bombardeios de Londres.
ameaça à Ibéria...
um terror em marcha.
de fazer tremer...
peregrinações a Fátima.
pelo milagre divino.
procissões de velas.
Portugal rezando...
e o futebol em grão,
lá ia medrando.
nomes sonantes.
do Porto e Benfica.
da volta a Portugal,
do Fernando Moreira.
naufrágios da Póvoa e Peniche...
o pavor do mar.
as inaugurações do regime,
só para inglês ver...
Lezírias do Tejo.
as mini-colónias agrícolas de Pegões...
a barragem do Zêzere.
o magno estádio do Jamor
e sua auto-estrada minorca...
a tenebrosa guerra de Espanha,
entre povos irmãos,
mesmo aqui ao lado...
da invasão da Índia...
e da guerra de África.
aquele Cais de Alcântara,
se banhando em lágrimas.
a fervilhar de lenços...
barcos partindo.
barcos chegando.
as prisões da Pide...
e o Tarrafal-Peniche enchendo.
os rumores da revolta.
o assalto ao Santa Maria...
o ranger das Caldas.
e, por fim, o raiar de Abril...
um arraial em festa.
tantas esperanças...
de liberdade.
tão negra miragem...
uma descolonização mortal.
o desconjuntar da Pátria...
a invasão vermelha.
felizmente abortada.
a entrada eufórica
pela Europa dentro.
de todos, foi o pior desastre.
arrasou a história.
nos tornou escravos...
Berlin, 19 de Fevereiro de 2015
19h49m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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