As trevas…
Do reino largo e imenso das trevas,
Tudo surgiu.
Até o tempo.
Este comboio pesado e fugidio que nos
transporta.
Incessante e sem paragens.
Os passageiros entram.
Insensíveis.
A carruagem que lhes couber por
sorte.
Uns em primeira.
Na terceira, em desconforto.
A maior parte.
Por desertos e barrancos.
Por vales verdes e variados.
Furando serras. Túneis longos.
Vai apitando de hora a hora.
E deita fumo.
Gera vórtices de violento vento.
Faz tornados.
Sismos na terra.
Lança jactos para a estratoesfera.
Aglutina a vida por grandes camadas.
Florestas.
Grandes bosques.
Muitas colinas.
E manadas livres
Com seres sensíveis.
Complexos.
Uns menos
E outros mais.
Há-os inteligentes.
Muito capazes.
Tanto ao torto
Como ao direito.
Por vezes, heróis.
Outras,
Uns mafarricos.
Pior que feras.
Os irracionais.
Sem lei nem roque.
Sempre iguais,
No come e dorme.
E nas brumas escuras,
Há os espíritos.
O que fazem.
Ninguém o sabe.
Pairam no céu
E sobre as águas.
Essas moles sem fim,
Cobertas de ondas.
Tudo envolvem.
Um domínio profundo,
Vasto e cavernoso.
Onde impera o silêncio.
E não há caminhos.
Só cardumes de seres sem asas.
Se locomovem.
E, lá nos píncaros,
Uma tela negra.
Abobadada.
Com muitos pontos.
Incandescentes.
Uns cintilam
Outros dardejam.
E mandam luz.
Que rompe as trevas
E forja o tempo.
Ó que mistério!...
Mafra, 6 de Outubro de 2014
2h3m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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