segunda-feira, 13 de outubro de 2014

rio sem leito...

Um rio sem leito…

Nascido dum fio,
Do ventre da terra,
No alto da serra,
Começou a descer,
Feito serpente,

Ladeou obstáculos.
Pedras, entulho
E ramagens caídas.

Recebeu contente
As ofertas da chuva.
E dos regos correntes
De outras escarpas.

Cresceu em tamanho.
No peito e nas ancas.

Desceram-lhe as pernas
Bem para o fundo,
Lavrando o chão.

Sonhou com o mar
Que sabia distante.

Lançou-se a correr.

Se espraiou. Alargou.
Com a força dum rio.


Quis crescer sem parar.
Em tamanho gigante.

Espraiou-se voraz
Por vales e campos.

Esqueceu o caminho.

Aturdido,
Desfeito e sem forças,

Para sempre,
Aquele fio tão fino,
Nascido na serra,
Perdido do leito,

Morreu como rio.
Muito longe do mar.


Mafra, 13 de Outubro de 2014 19h31m
Joaquim

Luís Mendes Gomes

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